Gêneros textuais em foco
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Gêneros textuais em foco - NEIVA MARIA MACHADO SOARES
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores
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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM
APRESENTAÇÃO
Estudos em linguística, nos últimos anos, têm procurado explicitar os usos que são feitos da linguagem para veicular discursos, ou seja, formas de ver e expressar o mundo, bem como as experiências a partir de uma perspectiva específica (FAIRCLOUGH, 1995a, p. 135). Dessa forma, a análise de gêneros textuais associados a diferentes contextos de produção e consumo de textos tem contribuído para explicitação do modo em que o uso da linguagem é socialmente construído em conexão com um tipo particular de atividade social¹. Dentre os diversos contextos particulares que oportunizam essa análise, tomou-se a mídia, em virtude de sua linguagem ser usada em uma situação social de comunicação, tendo um papel vital na difusão das mudanças sociais. Definiu-se o gênero editorial para análise devido ao seu caráter opinativo (MELO, 1994/2003, p. 59), que tem por objetivo atuar sobre o devir dos leitores, levando-os a agir numa dada direção, apresentando, portanto, características do discurso exortativo (LONGACRE, 1992, p. 100-1). Assim, os editoriais oferecem material de análise sobre a produção da mídia, com suas visões particulares de mundo e seu poder de persuasão. Este trabalho pretende contribuir para estudos na área da linguagem, pois investiga a organização do gênero editorial e suas estratégias retóricas, por meio do uso de marcadores metadiscursivos adotados pelos editorialistas de três instituições: A Razão, Zero Hora e Folha de São Paulo. A análise revela que certos artifícios linguísticos contribuem para o processo de persuasão. Dentre eles, os comandos que caracterizam um discurso exortativo, as marcas de validade e de atitude que dão expressão à força persuasiva do gênero. O diferencial, entre os contextos analisados, está na utilização enfática da modalidade deôntica e marcas de atitude, por Zero Hora; maior incidência da modalidade epistêmica, pela Folha de São Paulo; uso significativo da personalização sintética, por A Razão. Cada um desses fatores releva a posição discursiva de cada instituição e o uso da linguagem na persuasão.
Este livro nasceu há alguns anos de minha dissertação de mestrado intitulada: Análise do processo persuasivo no gênero editorial, sob a orientação valiosa da professora pós-doutora Désirée Motta-Roth, na Universidade Federal de Santa Maria.
Depois de muito trabalhar com as temáticas apresentadas nessa dissertação, achei que, ainda, era hora de apresentá-la, por perceber que suas considerações, tanto teóricas como analíticas, continuam vigendo em muitos livros, manuais didáticos e de redação. Se perguntada – Por que a escolha do gênero editorial? –, responderia que este texto, um pouco relegado no contexto jornalístico, até mesmo pelos leitores, pode se tornar uma ótima ferramenta de ensino, tanto em termos de constituição organizacional de um gênero como da função que um discurso, como de um editorial, pode exercer no contexto jornalístico e também da sociedade. Esse gênero apresenta uma estrutura argumentativa sólida, em muitos casos, rica em recursos linguísticos que muito têm a revelar sobre seus produtores e o discurso por eles construído. De tal modo, espero que esta produção possa conduzir um diálogo próspero com o mundo da linguagem quanto às nuances argumentativas e discursivas.
Sumário
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
NO CAMPO TEÓRICO – DISCURSO, GÊNERO, TEXTO
1.1 Análise de discurso crítica
1.2 Discurso
1.3 Contexto
1.3.1 Contextos de situação e suas respectivas metafunções da linguagem
1.4 Texto
1.4.1 Textualidade
1.4.1.1 Coesão
1.4.1.2 Coerência
1.5 Elementos metadiscursivos na sinalização textual e retórica
1.5.1 Marcadores da estrutura textual
1.5.1.1 Marcadores retóricos
1.5.1.1.1 Marcadores de validade
1.5.1.1.2 Marcas de atitude
1.6 Gênero
1.6.1 Gênero na visão de Bakhtin
1.6.2 Gênero na visão de Fairclough
1.7 Gênero e discurso jornalístico
1.8 Gênero editorial – da argumentação à exortação/persuasão
CAPÍTULO 2
CONHECENDO O GÊNERO EDITORIAL – ANÁLISES
2.1 Produção de editoriais: contexto
2.1.1 Modo ou ‘como é o texto do editorial’
2.1.2 Relações ou ‘quem faz o editorial’
2.1.3 Campo ou ‘de que trata o editorial’
2.2 O objetivo comunicativo do gênero editorial jornalístico
2.3 Estrutura argumentativa dos editoriais: texto
2.3.1 Movimento 1 – uso da autoridade e da credibilidade do editorialista
2.3.2 Movimento 2 – apresentação da situação e/ ou problema
2.3.3 Movimento 3 – utilização de comandos e sugestões
2.3.4 Movimento 4 – sinalização dos resultados desejáveis ou não desejáveis
2.4 Recursos metadiscursivos de construção da retórica exortativa: discurso
2.4.1 Marcadores de validade
2.4.1.1 Modalidade deôntica
2.4.1.2 Modalidade epistêmica
2.4.2 Marcadores de atitude
2.4.3 Conectores textuais
2.5 Substantivos anafóricos
2.6 Pronome pessoal ‘nós’
CAPÍTULO 3
ANÁLISES MACRO E MICROESTRUTURAL – CONSIDERAÇÕES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os estudos em Análise de Discurso Crítica têm focalizado a relação que se estabelece entre a linguagem e o meio no qual ela é produzida. Levando em conta essa perspectiva, pesquisadores têm buscado explicitar os diferentes usos da linguagem para veicular discursos
, ou seja, formas de ver e expressar o mundo, bem como as experiências a partir de uma perspectiva específica (FAIRCLOUGH, 1995a, p. 135).
Nesse sentido, percebe-se a dualidade entre linguagem e sociedade, na medida em que uma tem influência sobre a outra, pois se recorre ao sistema da língua para expressarem-se relações sociais entre as pessoas, ao mesmo tempo em que se constituem essas relações sociais por meio das variadas formas em que a linguagem pode se manifestar. Partindo dessa constatação, procurou-se um contexto que oportunizasse analisar como a linguagem é utilizada para estabelecer relações bidirecionais entre as pessoas. Com esse intuito chegou-se à mídia, uma vez que a linguagem da mídia é utilizada numa situação social de comunicação, com papel relevante na difusão das relações e mudanças sociais e culturais. Por outro lado, atualmente o domínio da mídia é muito amplo, pois inclui televisão, jornal, revistas, rádio, internet etc. Dentre esses, tomou-se o jornal como objeto de estudo, por ele englobar um variado conjunto de textos associados a tipos específicos de informação, conteúdo, forma e objetivos comunicativos: publicidade, notícias policiais, notas sociais, editoriais. O objetivo de cada um desses gêneros estabelece sugere uma forma específica de comunicação com o leitor. Percebendo que a temática gêneros poderia ser um rico material de análise, optou-se por analisar aquele que demonstrasse, de forma mais explícita, marcas de persuasão, nesse caso, o editorial. Esse gênero congrega elementos que são importantes, quando se deseja conhecer um pouco mais sobre linguagem e como argumentos são construídos com o intuito de persuadir o leitor.
Esse gênero tem por função apresentar a posição de cada jornal sobre assuntos que estão em voga no noticiário do momento, tendo por objetivo cooptar leitores para que creiam naquelas posições adotadas. O estudo do gênero editorial pode ser relevante, na medida em que a análise dos recursos empregados por editorialistas para persuadir o leitor, pode trazer para a sala de aula uma discussão mais crítica sobre os discursos veiculados pela mídia, servindo de ponto de referência para a produção e leitura mais eficientes de textos pelos alunos.
O estudo de gêneros da mídia, tanto escrita como televisionada, vem recebendo atenção de pesquisadores por meio de pesquisas que se dedicam a estudar e divulgar as formas pelas quais os meios de comunicação produzem suas informações e com que finalidade são veiculadas.
Especificamente no caso de editoriais jornalísticos, podem-se destacar os seguintes estudos: na USP, a tese que toma o editorial como um texto dissertativo, buscando reconhecer nesse texto os seus procedimentos de persuasão (KRIEGER, 1990); na UFSC, a pesquisa que se destina a abordar as semelhanças entre os editoriais de diferentes instituições (SILVA, 1992); na UFSM, a pesquisa que objetiva apontar algumas regularidades, em termos de formação ideológica, formação discursiva e condições de produção que constituem o discurso de editorialistas (AYRES, 1996); e, na UFSC, a tese de Heberle (1997), que investiga aspectos textuais e contextuais nos editoriais de revistas femininas inglesas e algumas brasileiras.²
O interesse que o tema ‘mídia impressa’ desperta é tratado por Fairclough em seu livro Media discourse (1995b, p. 2). O autor destaca a importância do desenvolvimento de estudos que focalizem os textos da mídia enquanto materialidade dos discursos que são produzidos para retratar o modo como a sociedade se organiza. Nesse sentido, a mídia e, mais especificamente, os editoriais são instrumentos que merecem ser estudados por pesquisadores devido à sua importância como meio de manifestação de posições e opiniões formuladas na sociedade.
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