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Ética nos negócios: Construir uma vida, não apenas ganhar a vida
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Ética nos negócios: Construir uma vida, não apenas ganhar a vida
E-book429 páginas6 horas

Ética nos negócios: Construir uma vida, não apenas ganhar a vida

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Sobre este e-book

Esta obra mostra que ética, negócios e Cristianismo não só podem, como devem, caminhar juntos. "Ganhar a vida" - tarefa que consome grande parte do tempo e dos talentos das pessoas - deve significar mais que apenas ganhar dinheiro; precisa ser visto como um empreendimento significativo no caminho da maturidade moral e de uma visão mais ampla de um mundo melhor e mais justo. O autor - executivo com passagens por grandes empresas, professor universitário e católico praticante - une a experiência da sala de aula à do local de trabalho com valores cristãos, para dar à ética um sopro de ar renovado, autêntico e incisivo, sem o jargão e o verniz eufemístico que com tanta frequência acompanha a literatura de negócios. A intenção do autor é ajudar o leitor a entender que os dois polos - ética e negócios - encontram sua coerência na pessoa humana. O negócio precisa ser considerado, antes de tudo, atividade humana básica que tem lugar dentro da comunidade humana maior. Os negócios são uma ciência humana, muitas vezes, reduzida a uma ciência empírica que limitam os negócios a um conjunto de procedimentos irracionais que produzirão lucros, se seguidos servilmente. Nessa ótica, a ética humana se torna uma lista do que fazer e do que não fazer para percorrer a fórmula de negócios em direção ao sucesso. Na melhor das hipóteses, acaba sendo um código de ética promulgado pela administração e apresentado a todos. Entretanto, se os negócios são, de fato, uma ciência humana, então a ética dos negócios é mais complexa e precisa lidar com a série completa de valores, motivos e propósitos. Este livro examina as várias dimensões que tornam uma empresa mais ou menos moral. Nenhuma empresa é completamente moral ou imoral. Os elementos básicos da moralidade aplicam se tanto às organizações "com fins lucrativos" como às "sem fins lucrativos", tanto a empresas pequenas como a grandes corporações.
IdiomaPortuguês
EditoraPaulinas
Data de lançamento30 de ago. de 2012
ISBN9788535632712
Ética nos negócios: Construir uma vida, não apenas ganhar a vida

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    Ética nos negócios - Gene Ahner

    Gene Ahner

    ÉTICA NOS NEGÓCIOS

    Construir uma vida, não apenas ganhar a vida

    www.paulinas.org.br

    editora@paulinas.com.br

    Para minha esposa, Nancy.

    Para nossos filhos, Mark e Lisa.

    Para nossos netos, Nia, Imani, Rosey.

    Eles dão um sentido mais pleno e significativo

    para a expressão construir uma vida.

    Introdução

    Recentemente, quando me perguntaram quanto tempo levei para escrever este livro, respondi sem hesitar que a vida toda.

    Há uns quarenta anos comecei minha carreira profissional lecionando as disciplinas abstratas e um tanto esotéricas de filosofia e teologia para estudantes universitários e graduados. Embora lecionar fosse bastante satisfatório, sentia uma necessidade pessoal de afastar-me do mundo acadêmico e entrar no mundo real. Haveria um jeito melhor para isso do que entrar no mundo de negócios? Existe alguma coisa mais real que os negócios?

    Durante os últimos vinte e oito anos essa decisão me levou a passar de administrador de pessoal a diretor de recursos humanos, a funcionário graduado de uma corporação pública, a secretário corporativo de um conselho de administração – e a voltar a ser professor de estudantes universitários e pós-graduados! O círculo está completo, só que mais parece uma espiral. Embora os negócios tratem mesmo do específico e do concreto, tratam também de propósito e sentido. Foi isso que me trouxe de volta à filosofia, à ética e, por fim, à teologia.

    Aqui existe uma tensão que costuma ser atenuada quando nos concentramos totalmente em um extremo ou em outro – ou negócios ou ética. Quando contava a alguém que estava escrevendo um livro de negócios e ética, quase sempre recebia como resposta uma risada ou um comentário irreverente a respeito de oxímoros.

    Por sua natureza, um negócio trata dos detalhes, da luta cotidiana para fazer uma coisa muito específica com um grupo de pessoas que talvez mal se conheçam, para um cliente que talvez esteja longe e que tenha pelo menos alguma ideia do que quer, e por uma quantia determinada. É confuso, cheio de aproximações, quando não verdadeiros erros, e crivado de ambiguidades e de todo tipo de motivos variados. O problema surge quando se considera que o negócio é apenas isso. Nesse caso, negócios são apenas negócios, movidos pelas forças do mercado, pela concorrência e pela lucratividade do resultado líquido.

    Por outro lado, tipos acadêmicos, quer sejam filósofos, quer teólogos, quer moralistas, tendem a manter distância das operações internas dos negócios precisamente por elas serem tão confusas, tão ambíguas e, para a maioria dos acadêmicos, muito distantes de seus interesses. O resultado são muitos pronunciamentos genéricos que podem ser verdade, mas não exercem impacto nas operações concretas de negócios. O próprio Cristianismo sai-se muito melhor quando se pronuncia sobre generalidades do que ao orientar sobre aspectos específicos. Nesse caso há muita conversa fiada sobre justiça e paz, igualdade e imparcialidade e princípios morais elevados.

    Minha intenção é ajudar o leitor a entender que os dois polos encontram sua coerência no ser humano. Para fazer isso, o negócio precisa ser considerado, antes de tudo, atividade básica que tem lugar dentro da comunidade humana maior. Como atividade humana, ele é – por esse fato – atividade moral que se espalha por tudo o que o negócio faz, a tal ponto que, para ser bem-sucedido, com o decorrer do tempo o negócio precisa ser ético. Se isso lhe parece um tema, você tem razão. Você o ouvirá com frequência e espero que, no final do livro, chegue à mesma conclusão. Os negócios são uma ciência humana que sofre por ser reduzida a uma ciência empírica. Como ciência empírica, estão limitados a um conjunto de procedimentos irracionais que, se seguidos servilmente, produzirão lucros. Nessa versão, a ética humana se torna uma lista do que fazer e do que não fazer para percorrer a fórmula de negócios em direção ao sucesso. Na melhor das hipóteses, acaba sendo um código de ética promulgado pela administração e orgulhosamente apresentado a todos. Há livros mais que suficientes para seguir esse tipo de abordagem.

    Entretanto, se os negócios são, de fato, uma ciência humana, então a ética dos negócios é mais premente e mais complexa. Nesta versão a ética precisa lidar com a série completa de valores, motivos e propósitos à medida que são expostos em todos os processos e práticas de gestão da comunidade de negócios. Por essa razão é preciso abordar todas as dinâmicas que contribuem para o sucesso dos negócios. Com o decorrer do tempo, os benefícios devem ser mais compensadores. Não vamos dar uma "fórmula (ou slogan) para o sucesso nem um conjunto de princípios a ser seguidos pelos executivos. Este livro não vai tentar dar o modelo de uma empresa moral ideal – coisa que só pode frustrar um negócio real em operação. Vamos examinar todas as várias dimensões que tornam uma empresa mais ou menos moral. A verdade é que sob este aspecto os negócios só podem melhorar ou piorar. Nenhuma empresa é completamente moral ou imoral, nenhum negócio fica absolutamente parado. Os elementos básicos da moralidade, conforme examinados aqui, aplicam-se tanto às organizações com fins lucrativos como às sem fins lucrativos", tanto a empresas pequenas como a grandes corporações. O que almejamos alcançar neste trabalho é uma nova percepção e uma nova linguagem de discurso público que nos permita levantar a questão de viver bem dentro da estrutura de ganhar a vida, linguagem que não seja nem simplória, nem maçante, nem antiquada.

    O que, então, podemos, na realidade, esperar? Se o leitor ainda não está moralmente convertido no sentido de que passou de mera satisfação egocêntrica a certa orientação básica para o valor ou o que vale a pena, então será preciso algo muito mais pessoal do que ler um livro. Se, por outro lado, o leitor já tem um senso de responsabilidade pessoal em um mundo maior que ele, então não é a ética dos negócios simplesmente um caso de bom senso? Salvo o fato de não ser o bom senso tão comum, há o fato de ser a vida moral ela mesma uma viagem. Ou continuamos a crescer na solicitude por um mundo cada vez maior, ou vemos nosso mundo se contraindo em círculos cada vez menores até que ele gire somente ao redor de nós mesmos e, talvez, de nossos parentes próximos. A moralidade nunca é estacionária, pois expressa a orientação de nossa identidade pessoal. Estar cada vez mais consciente das amplas implicações de ganhar a vida – algo que absorve grande parte de nosso tempo e talento – é em si uma façanha significativa no caminho para a maturidade.

    Afinal de contas, qual é, exatamente, a importância dessa preocupação com ética e negócio? É apenas notícia de manchete como resultado de alguns escândalos corporativos muito divulgados? Ao contrário, arrisco-me a dizer que a ética está no centro de nossas preocupações com o século XXI. Reitero o que Rushworth Kidder¹ disse de modo tão impressionante quando concluiu suas entrevistas com alguns líderes proeminentes de nosso tempo. Seis pontos foram considerados fundamentais para o futuro programa de ação de nosso mundo:

    • ameaça nuclear;

    • degradação ambiental;

    • explosão populacional;

    • hiato da economia Norte-Sul entre os mundos desenvolvido e em desenvolvimento;

    • necessidade de reforma educacional;

    • colapso da moralidade.

    De fato, a ética não é mero luxo; é fundamental para nossa sobrevivência. Se isso lhe parece alarmista, aqui está algo para refletir: pela primeira vez na história humana somos capazes, por meio da ciência, da tecnologia e dos negócios, de criar o tipo de mundo em que queremos viver. Então, a questão de quem somos e o que queremos não é fundamental?

    Quero agradecer a Bill Burrows, diretor executivo da Editora Orbis Books, por apoiar-me durante este trabalho. Quando me sugeriu pela primeira vez escrever este livro, relutei bastante. Desde então, ajudou-me a chegar a um ponto em que me sinto grato pela oportunidade. Ele é uma combinação de ser meu aluno, meu mestre e meu amigo.

    Há outros que contribuíram de várias maneiras para este livro ser publicado. Para começar, há muitos colegas de negócios com quem trabalhei durante anos. São as pessoas que não especularam a respeito da ética nos negócios, mas viveram-na nas decisões diárias que tinham de tomar no desempenho de seu trabalho. Pela vida que levavam, mostraram-me que muitas pessoas nos negócios importam-se em fazer o bem, e fazê-lo corretamente. São muito mais numerosos do que os outros. Segundo, são meus alunos. Quando me convidaram para lecionar Ética nos Negócios no programa de mestrado em Ciências Humanas da Universidade Dominicana, não tinha certeza de como ia fazer isso. Houve um pouco de tentativa e erro, mas eles me incentivaram e continuaram a fazer perguntas e transmitir suas experiências. Não creio que tivesse concordado em escrever o livro se eles não ratificassem e concordassem com o modo de estudarmos o assunto. Foi o padrão básico seguido neste livro. Terceiro, há um grupo menor que preciso agradecer citando-lhe os nomes: Tom Bishop, Jack Boberg, Ed Carlson, John Dickman, Paul Knitter e Ed Tennant. Alguns foram colegas de negócios; todos são amigos. Ajudaram-me capítulo por capítulo com apoio pessoal, com a confirmação de que eu estava no caminho certo e com críticas. Por último, e muito importante, meu mais profundo apreço vai para Nancy, minha mulher. Ela não só aguentou minhas esquisitices durante a redação como tomou um texto incipiente e incompleto, organizou-o, conferiu os dados e transformou tudo em um livro.

    Quando um livro está terminado? Quando ficamos cansados de revisá-lo! Estou bem consciente da imperfeição deste trabalho, o que se deve, em parte, à minha incapacidade de entender completamente alguns dos pontos envolvidos e, em parte, ao fato de ainda ser preciso pôr em prática muitos desses pontos em nosso tempo. Minha esperança é ter sido capaz de identificar os fatores significativos e indicar direções gerais para a solução. Incluí também exercícios e leituras adicionais no final dos capítulos a fim de que todos possam contribuir com suas ideias e experiências para a tarefa de entender o papel de uma economia de mercado em nosso mundo. Embora eu tenha me concentrado em fazer as apresentações para aprendizado em grupo, creio que o livro também pode ser lido individualmente. O importante é todos progredirmos com uma visão mais clara do tremendo desafio e da oportunidade que todos compartilhamos para levar nosso mundo para mais perto de seu pleno potencial.

    1. Uma economia de livre mercado. A solução ou o problema?

    A moralidade que se acredita capaz de prescindir do

    conhecimento técnico de direito econômico não é

    moralidade, mas moralismo [...]

    A abordagem científica que se acredita capaz de lograr seu

    intento sem um etos entende mal a realidade do ser humano.

    Atualmente, precisamos de um maior entendimento

    especializado da economia, mas também de um maior etos,

    para que o entendimento especializado da economia possa

    conduzir ao serviço das metas corretas.

    Cardeal Joseph Ratzinger

    (Papa Bento XVI)

    A questão

    Talvez nada crie maior resposta emocional extremista do que termos tais como capitalismo, grandes negócios, corporações, economia global. A extensão das opiniões segue ao longo de extremos semelhantes. Há muito conflito e confusão. Considere as indicações a seguir.

    • Com a queda do comunismo, uma forma de economia de mercado continua a ser a única alternativa viável.

    • Uma economia de mercado é o melhor meio de criar prosperidade e tirar da pobreza o maior número de pessoas.

    • O centro da economia de mercado, Europa Ocidental e Estados Unidos, está cambaleando sob o peso de escândalos corporativos e cinismo a respeito de como os mercados são verdadeiramente livres.

    • A Índia e a China, seguindo as iniciativas do Japão, de Taiwan e da Coreia, estão demonstrando como uma economia de mercado pode efetivamente criar prosperidade. Ao mesmo tempo, elas também são testemunhas da estratificação social, do desalojamento de famílias e do colapso cultural.

    • Na África, as corporações colhem os recursos naturais, mas enriquecem apenas uma pequena porcentagem da população (geralmente os líderes políticos).

    • Uma economia de livre mercado é apenas um disfarce para os ricos ficarem mais ricos à custa dos pobres.

    • A globalização está exportando os bons empregos do Ocidente para quem deseja trabalhar por salários inferiores à média.

    • A investida implacável das forças de mercado impessoais põe fim aos valores culturais humanos.

    • Uma economia de mercado cria empregos e carreiras profissionais que levam em conta um futuro fora do alcance do ciclo de agricultura de subsistência que se autoperpetua.

    • Uma economia de mercado cria a riqueza que é necessária para melhorar a educação e a saúde, bem como proporcionar a base necessária para uma sociedade livre.

    • As corporações têm mais recursos do que algumas nações e assim têm o poder de praticamente escravizar suas populações.

    • Uma economia de livre mercado leva a um materialismo que se apropria da alma da religião.

    Alguns pontos ficam continuamente mais claros. A questão de uma economia de mercado não é secundária. Formula questões que são fundamentais para nosso futuro. O assunto não se limita a uma parte de nosso mundo. Afeta todas as pessoas, todas as nações e todas as partes do globo. Hoje ninguém vive completamente fora de uma economia de mercado global. A questão é carregada de alto grau de emoção, precisamente porque toca o centro de nossas vidas. As opiniões quanto à natureza e ao impacto de uma economia de mercado são incoerentemente polarizadas e ao que parece baseiam-se mais no caráter pessoal do que na reflexão ponderada. Há necessidade de encontrar um entendimento que comece a tornar compreensíveis algumas das reações automáticas aos efeitos concretos de uma economia de mercado.

    O alvo deste livro é, então, alcançar um entendimento da natureza de uma economia de mercado, de como os negócios funcionam, o que os impulsiona, que tipo de resultado é possível almejar e quais são suas limitações. Não pode haver nenhuma tentativa séria de fazer teologia em uma perspectiva global sem lidar com o fato que uma economia de livre mercado desempenha um papel fundamental em qualquer perspectiva global. Só por essa razão já valeria a pena o esforço para aprofundar nosso entendimento da verdadeira dinâmica de uma economia de mercado.

    Opções morais

    Muita gente, creio eu, quer fazer o que é certo. À medida que entramos na idade adulta, procuramos ser pessoas decentes e responsáveis, e levar a sério nossa palavra e nossos compromissos. Procuramos ser justos e honestos. Amamos os que estão perto de nós, somos atenciosos com os que encontramos casualmente e mantemos um respeito básico por todos. Tudo isso funciona razoavelmente bem no plano de nossas vidas e atividades pessoais. Mas como levamos esse senso básico de decência para os mundos maiores do trabalho e dos negócios?

    Se somos religiosos, voltamo-nos para as Sagradas Escrituras e encontramos padrões razoavelmente bem definidos de modo de vida pessoal moral. Mas o que acontece quando passamos de nossos mundos pessoais para aquele mundo imensamente maior de negócios e interdependências globais, onde nossa conduta envolve não só nós mesmos, nossas famílias e nossos amigos, mas também toda a raça humana?

    Um dos choques culturais que recebi quando voltei a lecionar depois de vinte anos no mundo dos negócios envolveu a avaliação dos negócios em si. Aqui estavam estudantes adultos com famílias e empregos em tempo integral que vinham a cursos noturnos para obter o diploma de bacharel ou o grau de mestrado à custa de considerável sacrifício pessoal a fim de progredir em suas carreiras profissionais de negócios. Os negócios, eles me asseguraram, são inconsistentes, extremamente suspeitos e, de modo geral, imorais. Como, então, perguntei-lhes, dedicavam-lhes tanto tempo, talento e energia? Além disso, por que empenhavam tantos esforços com estudos adicionais a fim de mergulhar mais profundamente no mundo dos negócios? As respostas foram muito diretas: queremos ganhar mais dinheiro! Ali estavam respostas sinceras de pessoas que eram adultos ativos, responsáveis, com um senso moral acima da média. Como conciliavam os negócios e o senso moral do que é certo e errado? Com o passar dos anos, reconheci quatro respostas gerais a essa pergunta.

    Preciso ganhar a vida

    É a primeira e a mais comum das respostas. É também a mais irrefletida. Declara o óbvio, mas não vai mais longe. A base racional é mais ou menos assim: os negócios são o que são, imorais ou amorais, mas preciso de um emprego para pagar as contas, prover a mim mesmo e minha família, conforme o caso. Os negócios são necessários para fornecer-me o dinheiro que preciso para manter-me vivo, ser um pai responsável, um vizinho prestativo, um honesto membro da sociedade. Em outras palavras: meu salário permite-me ser moral e responsável no restante da minha vida, obrigação que levo muito a sério. Entretanto, isso ainda me faz concluir que a ocupação da maior parte de meu tempo, talento e energia é imoral, ou por cooperação, ou por associação. Que fazer para justificar ou redimir tanto mal? O fim realmente justifica os meios? Outra versão dessa posição é continuar fazendo o que é necessário agora, mas com a intenção de ser mais ético e responsável depois de estabelecer-se. Essa é uma explicação específica dos jovens profissionais que se estão firmando em uma carreira.²

    Procuro ser moral em meu trabalho

    Este segundo modelo reconhece abertamente a imoralidade que domina a atividade de negócios, mas reage procurando ser moral na conduta pessoal nos negócios. A empresa pode ser corrupta, mas eu sou honesto e justo no que faço no trabalho. Minha mesa ou meu departamento é limpo, não importa que outra coisa esteja acontecendo. Procuro fincar uma pequena ilha de moralidade em meu canto da corporação. Entretanto, esta postura também desiste da imagem maior. A moralidade refugia-se totalmente na moralidade pessoal. Mas é isso realmente possível? Minha moralidade pessoal não é sempre forçada a interagir com as operações maiores da empresa? Na melhor das hipóteses, a moralidade está sempre sitiada e comprometida, enquanto o indivíduo está de modo consistente em uma situação em que é impossível beneficiar-se.

    Não fazemos nada ilegal

    Uma terceira posição ataca o problema reconhecendo que empresas operam no domínio público e desse modo são consideradas responsáveis perante o mundo maior por leis e regulamentos. Observando a lei, cumpre-se a responsabilidade moral. De fato, a ética dos negócios torna-se equivalente a ficar longe de encrenca. Por isso um grande número de advogados, funcionários do departamento de relações públicas e o pessoal de recursos humanos dedicam-se a manter a corporação longe de encrenca. Todo dilema é tratado como questão legal. Torna-se questão de administração de risco. Assim como as empresas compram seguro para deficiência de produtos e acidente no trabalho, do mesmo modo os valores e a conduta legal da corporação tornam-se meios para proteger a empresa de riscos legais, financeiros, ou de publicidade adversa. Tal posição pelo menos reconhece a verdadeira necessidade de prestação de contas da organização como tal, proporcionando principalmente uma base para cooperação com outras dimensões da ordem social. Entretanto, ela tende a fazer isso mantendo ao mínimo essa prestação de contas. Que precisamos fazer para evitar problemas? Até onde podemos ir? De modo mais fundamental, esta posição presume que a moralidade é realmente uma coisa extrínseca às preocupações importantes dos negócios em si. O único recurso é resguardá-los legalmente, de modo que o mal possa ser contido. Baseados nisso, os líderes de negócios não têm mais do que um interesse passageiro na ética, pois ela está fora das verdadeiras preocupações dos negócios.

    O governo precisa regulamentar os negócios

    É claramente sabido que, por sua natureza, os negócios são suspeitos e fonte de grande parte do que está errado com o mundo. Somente um poder maior consegue manter os negócios sob controle e estabelecer limites para a sempre crescente ganância da corporação que devora qualquer coisa que esteja em seu caminho – recursos naturais, pessoas, comunidades, nações. E esse poder mais forte (e mais ético?) é o governo. Tal solução, já se vê, baseia-se na suposição de que, de algum modo, por natureza, os negócios são imorais e o governo é moral – premissa que dificilmente resiste a um exame minucioso! Mais terá de ser dito sobre a relação entre os negócios e o governo em seções posteriores deste livro.

    O problema fundamental com cada um desses modelos é que eles posicionam a ética fora dos negócios. Na suposição de que os negócios em si são imorais, ou amorais – na melhor das hipóteses –, a ética só tem uma relação secundária com o que os negócios realmente fazem. Basicamente, então, a única resposta moral é alguma forma de refreamento. Os negócios devem ser contidos: 1) não os deixando espalhar-se por outros aspectos de minha vida; 2) mantendo minha atividade pessoal de negócios honesta; ou 3) cercando-os de leis e regulamentos.

    Essa imagem dos negócios tem consequências importantes para a corporação e também para o indivíduo. Para a corporação, significa que a organização tende a tornar-se despersonalizada. As empresas são simplesmente ficções legais definidas por lei e governadas por abstrações econômicas, tais como mercados globais, retorno sobre o investimento e o resultado líquido. Entretanto, o fato é que não existe essa coisa de corporação multinacional. Há apenas General Motors, Intel, Abbott Labs, Sony, IBM, Unilever, Exxon, Citicorp, Philips, Toyota etc. Em outras palavras: são pessoas de carne e osso organizadas para fazer alguma coisa acontecer. São milhares de empresas e milhões de pessoas que tomam bilhões de decisões e fazem outro tanto de escolhas todos os dias. Muitos são pessoas decentes, nem heróis, nem monstros. Não são forças sem personalidade. São pessoas e relacionamentos. Somente pessoas tomam decisões e fazem escolhas. Somente pessoas são morais ou imorais. Quando se perde isso de vista, forças em movimento e realidades da economia passam a ser os fatores determinantes. Então, a moralidade é rebaixada à posição legal com todos os seus efeitos devastadores e exasperantes.

    Para o indivíduo, o posicionamento da ética às margens dos negócios também tem efeitos devastadores. Subentende que a ética na verdade pouco ou nada tem a ver com negócios bem-sucedidos. Presume que os negócios são por natureza imorais, gananciosos, desprezíveis, implacáveis. Entretanto, ao mesmo tempo, em toda parte, as pessoas são consumidas pelo trabalho. Famílias com duas rendas, computadores, internet, telefones celulares, semanas de trabalho de sete dias por vinte e quatro horas, tudo conspira para exigir mais tempo e dedicação ao mundo dos negócios. Se os negócios são realmente imorais, então como reconciliamos ganhar a vida com levar uma vida moral e consequentemente humana? Se o que toma a maior parte de nosso tempo, energia e talento é corrupto, como o meio de viver humano não é relegado ao segundo plano de nossa vida? Ou, ainda mais impressionante: como é possível não nos tornarmos aquilo a que nos entregamos tão completamente? Todos tendemos a tornar-nos aquilo com que nos associamos. Se os negócios são tão desgastantes quanto se tornaram, acreditamos de verdade que não somos moldados por essa realidade? Muitas de nossas horas mais criativas e nossos mais intensos compromissos ocorrem no trabalho. Acreditamos realmente que eles não vão exercer uma influência substancial em quem somos e no que fazemos? Esses são os problemas que enfrentamos. Longe de desaparecerem, estão ficando mais críticos à medida que as realidades da economia se tornam mais dominantes na definição de nossa existência.

    Se você pudesse saber só uma única coisa a respeito de uma pessoa, que é que quereria saber?

    Tente isto pela importância. Imagine-se em uma sala de bate-papo na internet, onde só possa saber uma única coisa a respeito da pessoa com quem você se comunica. Lembre-se, você não vê a pessoa e não tem ideia de qual lugar do mundo ela vive. Qual seria a coisa que lhe daria a melhor compreensão daquela pessoa – gênero, nacionalidade, estado civil, religião, raça, grau de instrução, idade, vizinhança etc.? Veja se o que alguém faz para viver não é a mais definidora. Cada vez mais a profissão ou ocupação de alguém dá a melhor perspectiva singular da identidade dessa pessoa. É provável que saber se alguém é assistente social, médico, agricultor, montador, contador público, gerente, ou encanador, revele mais sobre essa pessoa que conhecer-lhe a raça, o sexo ou a religião. A sociedade moderna está, para o que der e vier, delineada em termos econômicos. Períodos diferentes da história tendem a ser identificados por sua característica predominante, por exemplo: a Era da Religião, a Era da Razão. Creio que nossa época atual deve ser definida como a Era da Economia ou a Era dos Negócios. Trata-se de dinheiro, imbecil, resume grande parte de nossa análise de situações.

    Ao mesmo tempo, talvez nunca tenhamos sido mais cínicos a respeito dos negócios. As opiniões vão de um conglomerado de comportamento ganancioso a moralmente, uma terra de ninguém, governada por leis de mercado impessoais (por isso que amorais). Como diz a pilhéria: Qual é o contrário de errado? Resposta: Pobre. Você pode testar seu quociente de cinismo valendo-se do quadro 1.

    Entretanto já deve estar evidente que a ética dos negócios é mais do que apenas bom senso e boa vontade. Dizer que alguém é moral e por isso sabe como ser ético nos negócios, ou é imoral e não há nada que os negócios possam fazer a respeito, é esquivar-se do problema. James Rest, especialista em ética profissional, afirma que presumir que qualquer pessoa de bom caráter geral pode, aos 20 anos de idade, agir eticamente em situações profissionais, é tão válido quanto presumir que qualquer pessoa coerente pode, aos 20 anos de idade, atuar como advogado sem ter estudos especiais.³ Assim como os mundos da medicina, do direito e da contabilidade, o mundo dos negócios tem dinâmicas e estruturas específicas que precisam ser entendidas para que a ética tenha alguma relevância interna e não seja apenas um tipo de restrição externa para a imoralidade desenfreada. As declaração de Treviño e Nelson acrescentam uma confirmação ainda mais pessimista:

    Quadro 1

    A pesquisa descobriu que, quanto ao raciocínio moral, estudantes que estavam se especializando em negócios classificavam-se abaixo dos que estavam se especializando em filosofia, ciências políticas, direito, medicina e odontologia. Também se descobriu que alunos de administração de empresas e os que almejam uma carreira profissional em negócios têm maior probabilidade de trapacear (colar em testes, plagiar etc.) do que os alunos de outros cursos ou os voltados para outras carreiras profissionais.

    Neste tipo de ambiente, o dilema de construir uma vida e não apenas ganhar a vida só pode intensificar-se. Como dissemos, a ética torna-se ainda mais importante à medida que entendemos que nossa identidade pessoal é resultado de nossa existência moral. Em sua obra monumental a respeito da formação da identidade moderna, Charles Taylor resume a questão sucintamente quando diz:

    Saber quem você é significa estar orientado no espaço moral, espaço no qual surgem perguntas sobre o que é bom ou mau, o que vale a pena fazer e o que não vale, o que faz sentido e é importante para você e o que é insignificante e secundário [...] Só somos nós mesmos à medida em que nos movemos em determinado espaço de questões, que buscamos e encontramos uma orientação para o bem.

    Somos destinados a uma identidade fragmentada, se não esquizofrênica, se a maior parte de nosso tempo, talento e energia é absorvida por uma atividade que é, na melhor das hipóteses, suspeita, se não totalmente imoral.

    O propósito dos negócios

    Outra complicação para nossa questão origina-se do fato de a corporação ter-se transformado na imagem predominante dos negócios. Por definição, a corporação é uma entidade legal, não uma pessoa. Como, então, pode uma corporação ser responsável, já que responsabilidade, ou moralidade, é um atributo distintamente humano? Essa noção da amoralidade da corporação tem uma longa história, que foi expressa de modo muito pitoresco na pergunta: como se pode esperar que uma corporação tenha consciência quando ela não tem alma para ser condenada ao inferno nem corpo para receber pontapés? Tal noção da corporação como entidade obviamente artificial e intangível torna-a inadequada para castigo ou obrigatoriedade moral de prestar contas. Como as corporações são apenas pessoas artificiais, o raciocínio é que elas só podem ter responsabilidades artificiais, melhor entendidas como obrigações legais. Precisamos lembrar-nos de que a forma corporativa de negócios é fenômeno um tanto recente e só passou a ser usada extensivamente para os negócios na Inglaterra no fim do século XIX. O tamanho e a influência das corporações de hoje ultrapassam qualquer coisa remotamente imaginável pelos proponentes iniciais do que se pode chamar de doutrina da ficção corporativa, a qual subentende que a corporação não é objeto apropriado para avaliação moral. É apenas instrumento de comércio. Na verdade as primeiras corporações foram iniciadas na Inglaterra, sob licenças régias, para desenvolver o comércio exterior e as colônias em outras partes do mundo. Assim, eram meros instrumentos neutros de comércio, extensões do direito de propriedade de seus acionistas. De certa forma, essa ambiguidade ainda está no centro de duas concepções atuais e divergentes da corporação e, indiretamente, dos negócios em geral.

    A primeira concepção, considerada clássica, é quase sempre associada com o economista Milton Friedman, ganhador do Prêmio Nobel [1976]. O propósito primordial e talvez único de uma corporação é maximizar os lucros para os acionistas.⁷ Seus principais argumentos são duplos. Primeiro, os acionistas são os donos da corporação, por isso os lucros corporativos lhes pertencem. Segundo, os acionistas têm um relacionamento com a corporação diferente do de todos os outros participantes. Os outros participantes têm algum tipo de contrato: os funcionários recebem salários; os clientes recebem produtos; a comunidade recebe impostos. Depois de todos receberem o que foi contratado, o restante é o que se chama lucro e vai acertadamente para os acionistas/donos. Do mesmo modo, se o negócio fracassa, os acionistas perdem tudo. É outro tipo de compromisso. É como a relação da galinha e do porco com um desjejum de presunto e ovos –

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