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História da educação no Vale do Paraíba Paulista: Temas, objetos e fontes
História da educação no Vale do Paraíba Paulista: Temas, objetos e fontes
História da educação no Vale do Paraíba Paulista: Temas, objetos e fontes
E-book366 páginas4 horas

História da educação no Vale do Paraíba Paulista: Temas, objetos e fontes

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Sobre este e-book

Esta obra oferece resultados de teses, dissertações e pesquisas que trabalharam a dinâmica histórico-educacional de diversas cidades valeparaibanas, focalizando processos escolares em instituições públicas e privadas e problematizando eventos que extrapolaram os intramuros dos estabelecimentos de ensino entre os anos de 1870 a 1980.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento4 de ago. de 2014
ISBN9788581484525
História da educação no Vale do Paraíba Paulista: Temas, objetos e fontes

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    Pré-visualização do livro

    História da educação no Vale do Paraíba Paulista - Mauro Castilho Gonçalves

    Mauro Castilho Gonçalves e Cesar Augusto Eugenio (orgs.)

    História da educação no Vale do Paraíba Paulista

    Temas, objetos e fontes

    Copyright © 2013 by Paco Editorial

    Direitos desta edição reservados à Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor.

    Coordenação Editorial: Kátia Ayache

    Revisão: Nara Dias

    Capa e Diagramação: Matheus de Alexandro

    Edição em Versão Impressa: 2013

    Edição em Versão Digital: 2013

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    Conselho Editorial

    Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)

    Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)

    Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)

    Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)

    Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)

    Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)

    Paco Editorial

    Av. Carlos Salles Block, 658

    Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21

    Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100

    Telefones: 55 11 4521.6315 | 2449-0740 (fax) | 3446-6516

    atendimento@editorialpaco.com.br

    www.pacoeditorial.com.br

    Sumário

    Folha de Rosto

    Créditos da Obra

    Prefácio: As Múltiplas Faces da História e a Perspectiva Regional - Wenceslau Gonçalves Neto

    Capítulo 1: Educação Feminina no Século XIX em Pindamonhangaba: Um Desafio Civilizador? - Gislene Alves

    1. Maior Mal: Falta de instrução

    2. Educação Feminina e Os Caminhos da Família

    3. Educação e Emancipação Feminina

    Referências

    Capítulo 2: O Colégio Americano de Taubaté e o Conflito entre Catálogos e Protestantes - Christiane Grace Guimarães da Silva

    1. Os Primeiros Conflitos

    2. O Protestantismo e a República em Perigo

    3. O Acirramento das críticas ao colégio

    4. O Fechamento do Colégio Americano

    Referências

    Capítulo 3: Entre Romarias e Procissões: A Educação em Aparecida (1893-1928) - Cesar Augusto Eugenio

    1. A Educação em Aparecida

    Considerações Finais

    Referências

    Capítulo 4: Dai-me Almas e Ficai com o Resto - As Práticas Escolares do Gymnasio São Joaquim de Lorena, para Formação do Bom Cristão e do Honesto Cidadão (1902 - 1928) - Davi Coura Borges

    1. A Cidade de Lorena e os Salesianos

    2. Contexto Religioso, Político e Educacional da Vinda dos Salesianos Para o Brasil

    3. O Cotidiano Escolar do Gymnasio São Joaquim

    4. A Sala de Aula e o Currículo Escolar do Gymnasio São Joaquim

    5. Premiações e Castigos no Gymnasio São Joaquim

    Considerações Finais

    Referências

    Capítulo 5: História e Memória da Escola Complementar de Guaratinguetá (1906-1913) - Debora Maria Nogueira Corbage

    1. O Período Republicano e a Educação

    2. O Currículo e os Primeiros Professores

    3. Outros Lugares da Memória

    Considerações Finais

    Referências

    Capítulo 6: Semanas Monteiro Lobato: A Perpetuação do Mito na Memória Coletiva da Cidade de Taubaté - Lucilene Rezende Alcanfor

    1. As Semanas Monteiro Lobato

    2. A Imprensa de Taubáté e as Semanas Monteiro Lobato

    3. A Participação dos Colégios Nas Semanas: A Importância Sobre a Vida de Lobato, Para Além das Questões Políticas e Ideológicas

    Considerações Finais

    Referências

    Capítulo 7: Escola Normal Livre Nossa Senhora do Bom Conselho: No Coração da Cidade, Um Projeto Católico para a Formação de Professoras (1954-1969) - Mauro Castilho Gonçalves

    Referências

    Capítulo 8: A Proposta Educacional da Faculdade Salesiana de Lorena para o Ensino Superior: Histórico e Análise no Contexto das Relações entre Igreja, Estado e Sociedade (1952-1972) - Francisco Sodero Toledo

    Introdução

    1. Universidade e Sociedade

    2. O Corpus Teórico

    3. As Fontes de Estudo

    4. Os Resultados

    Considerações Finais

    Referências

    Capítulo 9: Ditadura Militar e Educação: Uma Análise do Centro Cívico Escolar (1971 – 1986) - Karina Clécia da Silva Guilherme

    1. Procedimentos Metodológicos

    2. Descrição das Fontes Primárias

    2.1 Fontes Escritas

    2.2 Fontes Orais

    3.Os Referenciais Teóricos e os Procedimentos de Análise

    4. O Centro Cívico Escolar e o Código de Honra do Aluno

    5. Chapas e Eleições Algumas Considerações

    6. Competições e Atividades de Lazer e Cultura

    Considerações Finais

    Referências

    Sobre os Autores

    Final

    Prefácio

    As Múltiplas Faces da História e a Perspectiva Regional

    Um dos campos da ciência que mais nos surpreende é o da História. Estimulados pela busca de respostas seguras e coerentes a respeito de nossa trajetória no mundo, condição para nossa adaptação e sobrevivência, precisamos gerar registros conscientes das experiências testadas em tempos anteriores que nos permitam dar novos saltos. Ou pelo menos que nos possibilitem compreender como nossos antepassados enfrentaram e superaram desafios – ou foram pelos mesmos derrotados. Mas nem todos os registros atendem a essas expectativas. A mídia, por exemplo, muitas vezes tenta oferecer explicações na forma de releases ou com opiniões pré-formatadas, que servem mais para a alienação do que para a consciência da realidade. As interpretações históricas, no entanto, cumprem o papel de nos indicar os caminhos para a compreensão dos fatos em sua completa dimensão, ainda que marcados por olhares individuais ou filtrados por teorias generalizadoras. A cada discussão histórica, nossa forma de ver o entorno se altera, nossas concepções de passado e nossa própria história pessoal são colocadas em cheque, fazendo-nos refletir sobre as ações desenvolvidas, sobre os ensinamentos que passamos aos nossos alunos e, claro, também sobre as perspectivas tanto individuais como coletivas que vislumbramos e pelas quais lutamos. É o desafio de compreender o mundo à nossa volta para podermos agir sobre o mesmo. E isso não pode ser feito apenas com os dados do momento, mas, necessariamente, com a conjugação de passado e presente. Daí o nosso interesse e o retorno constante aos tempos passados, por meio desse campo do conhecimento a que nos acostumamos a chamar de História.

    Mas não nos esqueçamos: a História é, antes de tudo, uma caixa de surpresas.

    Cada novo olhar reserva-nos uma série de perspectivas diferenciadas, destacando fatos antes desprezados, realçando documentos considerados irrelevantes, colocando em relevo detalhes nunca percebidos, formando proposições lógicas que permitem encaixar peças de um quebra-cabeça que anteriormente parecia completamente sem sentido. E o conjunto, pela condução experiente de quem se acostumou a circular por esses meandros da História, é apresentado de forma consistente e muitas vezes surpreendente, permitindo-nos compreender a aventura humana em espaços e épocas diferentes, embora nos reconheçamos em todos, já que a racionalidade que ali está presente é a mesma com que lidamos no nosso cotidiano. Apenas o tempo ou o espaço nos distanciam, mas isso se apequena com o envolvimento interpretativo que nos encanta pela pena do historiador. Viajamos no tempo e no espaço e nos envolvemos com personagens, paisagens, temáticas e objetos, ainda que nunca possamos compreendê-los ou dominá-los plenamente. Ou nos desencantamos em vista de novas evidências ou explicações apresentadas pela História, que não se firma nunca sobre verdades absolutas. A História tem dessas coisas: atrai, envolve, seduz, mas é fugidia, esperta e sempre nos escapa por entre os dedos, colocando-nos repetidamente em seu encalço, embora já saibamos que nunca iremos tê-la em nosso poder ou controlar sua capacidade de transmutar-se e apresentar-se sob novos formatos.

    É essa capacidade multiforme, essa possibilidade de surgir constantemente com algo novo que permite avanços na compreensão da realidade, que torna a prática da história um exercício ininterrupto e uma atividade que nunca se completa. Mas que nos encanta e nos prende em torno de narrativas, discussões de conceitos, estabelecimento de categorias, conjuntos teóricos, interpretações que se opõem, que se completam, que se interpenetram ou que se esvaem. É nesse universo que habita o historiador na busca do melhor ângulo para poder descrever o mundo que vê pelas lentes do tempo e que repassa a seus contemporâneos.

    A história também se destaca pela variedade de formas como seu conhecimento é recortado: por períodos, temáticas, gêneros, campos específicos, perspectivas políticas, documentação, etc. São muitas facetas, mas todas voltadas para o entendimento do agir humano ao longo do tempo. Nenhuma mais ou menos importante, todas plenas de densidade interpretativa.

    É nesse cenário que se insere a presente obra, voltada para a análise regional, com destaque para uma parte do imenso território brasileiro: o Vale do Paraíba paulista. A obra mostra as singularidades e o seu potencial contributivo deste território para a compreensão de uma possível dimensão nacional. Mas novos recortes são ainda sobrepostos, como a temática da educação que, em sua perspectiva histórica, guia o olhar dos autores e acaba por prender nossa atenção. E ainda o tempo, com o foco das pesquisas concentrando-se, grosso modo, entre a década de 1870 e a de 1980, cobrindo mais de um século da história da educação brasileira. Outros vieses poderiam ser indicados, como o enfoque teórico, o privilegiamento de categorias de análise, etc., mas são apenas escolhas por meio das quais os autores procuram posicionar-se frente ao objeto e envolver o leitor.

    O mais interessante a destacar é a coerência da obra que, apesar da variedade de temáticas, tempos, categorias, documentação, etc., utilizados não perde de vista o objetivo comum, que é a busca da compreensão do todo pelo olhar localizado, o entendimento da história da educação brasileira pela lupa do Vale do Paraíba, a junção do passado e do presente, permitindo-nos quase perceber a educação em movimento.

    Tomando como referência a sequência temporal, que foi utilizada para a entronização dos capítulos, temos um conjunto extremamente interessante de textos que permite ao leitor acompanhar o processo de institucionalização da educação no contexto valeparaibano, bem como as transformações sociopolíticas e econômicas da região, em sua interação com o estado de São Paulo e com o país.

    O trabalho de Gislene Alves, Educação feminina no século XIX em Pindamonhangaba: um desafio civilizador?, concentra-se na segunda metade do Oitocentos. A autora estuda documentação principalmente das décadas de 1870 e 1880, buscando compreender como o município buscava adaptar-se ao discurso do moderno, então predominante, e como ocorreram a institucionalização da educação feminina e as formas de envolvimento da mulher nessa nova realidade.

    Christiane Grace Guimarães da Silva, em O Colégio Americano de Taubaté e o conflito entre católicos e protestantes, aborda o Colégio Americano, instalado em Taubaté em 1890, que foi tema de intensos debates na imprensa taubateana, colocando em oposição aqueles que acreditavam ser o colégio símbolo de uma nova postura religiosa, política e pedagógica dos valores modernos da jovem República brasileira e os representantes da Igreja Católica, que viam na instituição uma ameaça às bases católicas da cidade, especialmente por ser usada como um símbolo de renovação e modernidade.

    O capítulo Entre romarias e procissões: a educação em Aparecida (1893-1928), de Cesar Augusto Eugenio, responsável pela organização da coletânea, produzido a partir das reflexões de sua dissertação de mestrado, focaliza o nascimento da escola, sobretudo da escola pública no município de Aparecida, sua trajetória até à condição de Grupo Escolar e analisa, ainda, suas relações com a Igreja Católica, no processo de formação da gleba urbana aparecidense.

    Davi Coura Borges, em ‘Dai-me almas e ficai com o resto’ – as práticas escolares do Gymnasio São Joaquim de Lorena, para a formação do bom cristão e do honesto cidadão (1902-1928), estuda as práticas escolares do internato salesiano de Lorena, o Gymnasio São Joaquim, utilizando-se de fontes escritas e iconográficas, para mostrar quais eram e como eram praticadas as atividades para a formação do jovem salesiano, ou seja, o bom cristão e o honesto cidadão.

    Em História e memória da Escola Complementar de Guaratinguetá (1906-1913), Debora Maria Nogueira Corbage trata de uma investigação sobre a memória produzida sobre a Escola Complementar de Guaratinguetá, instituição fundamentalmente ligada à formação das elites locais no período estudado, bem como a história de sua implantação e às transformações sociais e culturais da cidade nos primeiros anos do período republicano.

    O texto de Lucilene Rezende Alcanfor, Semanas Monteiro Lobato: a perpetuação do Mito na memória coletiva da cidade de Taubaté, aborda a criação das Semanas Monteiro Lobato, festividades iniciadas em abril de 1953 na cidade de Taubaté, partindo da análise das programações que objetivavam a construção de uma memória coletiva em torno da figura de Monteiro Lobato, de conjecturar um desejo de tornar público o acontecimento, edificando a cidade de Taubaté como perpetuadora dessa memória e do mito, portanto, de difusão de uma determinada versão da história, o que passa a ser objeto de questionamento e investigação.

    Mauro Castilho Gonçalves, idealizador e também organizador desta coletânea, em Escola Normal Livre Nossa Senhora do Bom Conselho: no coração da cidade, um projeto católico para a formação de professoras (1954-1969), examina a gênese e a institucionalização da Escola Normal Livre Nossa Senhora do Bom Conselho de Taubaté, considerando os aspectos históricos, culturais e ideológicos inerentes ao contexto e às transformações que marcaram a cidade na década de 1950.

    Francisco Sodero Toledo, com o capítulo A Proposta Educacional da Faculdade Salesiana de Lorena para o Ensino Superior: Histórico e Análise no Contexto das Relações entre Igreja, Estado e Sociedade (1952-1972), tem como objeto de estudo o ensino superior no Brasil, buscando compreender histórica e socialmente a instituição universitária brasileira: sua origem, seus problemas, perspectivas, o seu significado no interior de um estado da Federação.

    Por último, Karina Clécia da Silva Guilherme apresenta o texto Ditadura Militar e educação: uma análise do Centro Cívico Escolar (1971 – 1986), no qual analisa a implantação e o funcionamento dos Centros Cívicos Escolares criados durante o período da Ditadura Militar. Esses órgãos funcionavam nas escolas de 1º e 2º graus e foram concebidos com o objetivo de dirigir as atividades de moral e civismo desenvolvidas pelas instituições escolares.

    Finalmente, cabe ressaltar a importância de História da Educação no Vale do Paraíba paulista: temas, objetos e fontes como contribuição para o campo da História da Educação. A obra reflete a pujança da área e a disseminação da preocupação com a compreensão do processo de formação e transformação do sistema educacional brasileiro, tomando como referência principal um período crucial de nossa história: a República e as tentativas de se colocar em prática as ambições e proposições republicanas de modernização da sociedade brasileira.

    Temos certeza que o livro ensejará debates e será gerador de novos estudos sobre a realidade histórico-educacional brasileira.

    Uberlândia, junho de 2013.

    Wenceslau Gonçalves Neto

    Professor da Universidade de Uberaba (Uniube). Integra o Núcleo de Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação (Nephe) da UFU. Foi presidente da Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) de 2009 a 2013.

    Capítulo 1

    Educação Feminina no Século XIX em Pindamonhangaba: Um Desafio Civilizador?

    ¹

    Gislene Alves

    Na segunda metade do século XIX, Pindamonhangaba, município do Vale do Paraíba paulista, possuía como atividade econômica central a produção do café. Assim como algumas cidades da região, adaptava-se a um modelo de sociedade pautado no discurso do moderno (Marshall, 1996). Nesse processo e nas representações aí construídas, a pesquisa em tela tem como objetivo a análise da institucionalização da educação feminina, ao mesmo tempo em que investiga como se deu o processo de apropriação e reação por parte das mulheres desse ideal difundido no período.

    Na composição e mapeamento de fontes primárias, tarefas exigidas pelo curso de Demografia Histórica², foram localizadas escrituras de compra e venda de escravos no 1º e 2o Cartórios de Notas de Pindamonhangaba. As alforrias passadas por proprietárias me despertaram atenção, o que me instigou a compreender os motivos pelos quais eram concedidas as Cartas de Liberdades e conhecer o cotidiano e as experiências dessas mulheres. No intuito de reencontrá-las realizando seus negócios, ainda no 1o e 2o Cartórios, foram arroladas algumas Escrituras de Compra e Venda de Imóveis e Procurações.

    Além da documentação cartorial, foram examinadas outras fontes conexas, tais como a imprensa. Nesta conjuntura Pindamonhangaba possuía cerca de 16 periódicos, em grande parte aqui analisados³.

    Foram selecionados os seguintes jornais, conforme quadro abaixo:

    Fonte: Autor

    A imprensa foi muito utilizada nesta pesquisa. Por essa fonte, foi possível perceber os discursos sobre a cidade, seus problemas, o acesso ou não à escolarização das mulheres, dentre outros elementos⁴. Além dos jornais, foi analisada a documentação oficial, como o Código de Posturas do ano de 1876, localizado no Arquivo Municipal de Pindamonhangaba e Atestados de Óbitos e Atas da Câmara.

    Relatos de viajantes muito têm contribuído para o enriquecimento da produção historiográfica brasileira, formando uma discussão instigante, afinal a percepção do visitante estranho está mais aguçada por suas experiências anteriores (Leite, 1993, p. 19). Neste sentido, outra fonte utilizada foram os relatos de viagem de Zaluar (1975) por Pindamonhangaba. Os escritos da memorialista Maria Paes de Barros, cuja obra foi recentemente reeditava, auxiliou-nos com informações da vida cotidiana, da filha de um dos grandes nomes da aristocracia imperial paulistana de meados do século XIX (Barros, 1998, capa). O trabalho de Newton Lacerda César, História de Pindamonhangaba de 1800-1889, colaborou com informações e notas sobre o município em tela. Vale informar que, em função das inúmeras transferências da Biblioteca Municipal da cidade, parte importante do acervo se perdeu.

    O texto que apresentamos centra-se na questão educacional como um meio para se chegar à almejada sociedade moderna. Procurou-se refletir sobre como a educação era vista e colocada para a sociedade. O modelo de progresso encontrava-se centrado na educação, por sua vez, esta era tema de discussões cotidianas, que colocaram em pauta os trabalhos pedagógicos desenvolvidos nas escolas pindamonhangabenses, bem como as dificuldades ocasionadas pela falta de acesso deste benefício social. Considerava-se que o maior mal de uma sociedade era a falta de instrução gratuita e bem dirigida (Tribuna do Norte, 11/06/1882, p. 2).

    A falta de instrução tornou-se para Pindamonhangaba um problema social, pois era a partir dela que se dava a construção de uma proposta moral. Além disto, havia a diferenciação dada no processo de socialização/educação de meninos e meninas, em que as construções do masculino e feminino foram nitidamente realçadas, no desejo de estabelecer padrões e funções sociais.

    À mulher cabia perceber o seu lugar por natureza: o lar, onde exercia seus dons natos: virtuosa esposa, boa mãe, dedicada à família e amplamente companheira, disposta a ceder seu prazer para o bem-estar dos seus. Os caminhos da família e da nação dependiam da esmerada educação dada às mulheres.

    Alguns viam na educação feminina superior uma oportunidade de emancipação, o que reforça que as mulheres estariam em desvantagens em relação aos homens, aceitavam a ideia de que uma educação deveria ser dentro dos limites da honrosa missão: zeladora do lar. Neste sentido, a educação foi o mecanismo utilizado para interpretações que colocavam as mulheres afastadas dos assuntos políticos e públicos, ligando-as ao ambiente familiar. Salientava-se que as mulheres eram imprescindíveis na formação do caráter e na solidez moral das crianças, futuros cidadãos.

    1. Maior Mal: Falta de instrução

    O impacto da modernidade deveria se expandir a todos os âmbitos sociais. Nessa cruzada as elites protagonizaram o processo, posicionando-se como capacitada para a tarefa, veiculando papéis, códigos, posturas e normatizações.

    A educação era apregoada como um dos instrumentos para se obter a desejada civilização, já que era através dela que se procurava excluir e incluir, determinar regras, se tornando essencial para a construção do Estado Brasileiro (Mattos, s/d, p.1).

    Em busca da modernidade almejada, acreditava-se que alguns privilegiados deveriam conduzir a maioria. Coube aos letrados a missão, realizada por meio de jornais e periódicos, dentre outros mecanismos. Como grande parte da sociedade pindamonhangabense era iletrada, o objetivo era envolver os que tinham acesso à leitura e que poderiam difundir as novas ideias. Os periódicos retratavam as preocupações com o ensino, com destaque à ilustração, única capaz de conduzir a sociedade à civilização.

    A prospera cidade de Pindamonhangaba, disperta a attenção o viajor que admira a sociabilidade altamente desenvolvida, e a luz prodigamente difundida pela população.

    A instrucção - este luseiro que guia o nauta, na tempestuosa navegação pelo immenso oceano do tempo ao porto de salvação, é a bandeira immaculada que abriga á sua sombra os habitantes daquella cidade. (O Diário do Norte, 31/06/1877, p. 1)

    Desde a visita de Zaluar (1975), a cidade já apresentava escolas públicas e privadas, direcionadas para instrução feminina e masculina. No entanto, a educação se fazia por diferentes canais e formas: preceptores particulares (Marques, 2002), aulas oferecidas regularmente na casa dos professores, institutos leigos e religiosos e institutos femininos e masculinos: Aqui há uma escola pública de instrução primária para meninos, frequentada por vinte alunos, e outra do sexo feminino, por sessenta educandas. Além destas, há uma cadeira de latim e francês, frequentada por doze alunos (Zaluar, 1975, p. 94).

    Em 1874, o total da população era de 13.913, dos quais 2.182 eram alfabetizados. Neste período, a cidade já contava com quatro escolas públicas e duas particulares, três internatos, sendo um para meninos e dois para meninas (Pindamonhangabense, 21/06/1874, p. 4).

    A ideia de que com a instrução um povo atingiria o progresso se expande em Pindamonhangaba: são as festas de educação as que devem attrair as sympathias e efficaz concurso de todos aquelles que se interessão deveras pela propagação do ensino, que quer dizer- progresso e civilização (Tribuna do Norte, 01/10/1882, p. 2).

    Teria a instituição escolar a missão de preparar os homens e mulheres, lapidá-los e torná-los agentes civilizadores para a sociedade. As instituições educacionais deviam cuidar da moralidade e civilidade, no desígnio de garantirem o reinado da família (Tribuna do Norte, 05/06/1874, p. 2) e, desta maneira, elevarem

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