O Ensino de História Local nos Anos Iniciais: Reflexões sobre a História Ensinada

De Elaine Aparecida Mayer

Esta obra dedica-se ao estudo do ensino e da aprendizagem da História Local nos anos iniciais no município de Ponta Grossa, no Paraná. Por meio da abordagem de um diagnóstico sobre o tema, com base em questionários respondidos por professoras dos anos iniciais do município, buscamos traçar a trajetória e a importância de um material paradidático sobre a História Local, A Princesa das Crianças, sua participação entre os materiais mencionados na atualidade pelas professoras e a projeção das características de novos materiais e processos didáticos que podem ser considerados na atualidade para o aperfeiçoamento do ensino da História Local no município. Os objetivos da pesquisa concentram-se em levantar dados que retratem um pouco da realidade do ensino de História Local na atualidade do município de Ponta Grossa e suas possíveis carências e potencialidades, na visão das professoras, para contribuir na criação de novos materiais didáticos para este fim. Nesse contexto, em meio aos conteúdos sugeridos para a disciplina de História nos anos iniciais, encontram-se aqueles que tratam especificamente da História Local e é sobre esse recorte que a presente pesquisa se debruça e apresenta questionamentos sobre a forma como tal temática vem sendo trabalhada nesse segmento.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 6 de fev. de 2024
• ISBN: 9786525054735

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INTRODUÇÃO

Antigamente os Campos Gerais eram uma imensidão de pastagens naturais salpicadas de capões cheinhos de pinheiros. Naquele tempo não era como hoje, não havia grandes plantações, nem cercas, nem boas estradas ou pontes, tudo ainda era muito selvagem. As pessoas moravam nas fazendas que eram grandes e ficavam muito longe uma das outras.

(MEISTER; PEDROSO, 1989)

Era fazendo uso dessas palavras, descritas na obra A Princesa das Crianças (1989), das professoras Maria de Lourdes Pedroso e Maria Stella Meister, que iniciávamos a aula de História sobre a fundação de Ponta Grossa, com a turma da antiga 2ª série do ensino fundamental, em meados da década de 1990. Mesmo tentando fazer com que as crianças entendessem o que eram capões, usando apenas quadro e giz e uma representação não muito fiel ou tentando fazê-los imaginar o quão distante era este antigamente, esmerávamo-nos muito para dar uma boa aula de História e a Princesa das Crianças (doravante apenas Princesa) sempre nos salvava.

O título dado à obra em questão já remetia à importância dela no contexto histórico paranaense. Era uma alusão à geografia local e ao prestígio da cidade de Ponta Grossa, que era tida como a Princesa dos Campos Gerais.

Extraíamos de suas poucas páginas todo o conhecimento que nem sempre nos era apresentado nas aulas de didática da História nos cursos de Magistério. Limitávamo-nos a compreender o que seus textos nos traziam como fontes da história de nossa cidade. Sentíamo-nos protegidas pela Princesa, pois, sem ela, não existiria uma aula de História que contemplasse aspectos históricos e geográficos de nossa comunidade.

De certa forma, a Princesa nos acomodou, fazíamos cópias de suas páginas e colávamos nos cadernos dos alunos para ter certeza de que eles não esqueceriam que estas terras já foram caminho de tropeiros e que a catedral foi erguida no local mais alto da cidade, graças às duas pombinhas que ali pousaram.

Quem não conhece a lenda das pombinhas? Ah! Essas famosas pombinhas... Soltas por fazendeiros que moravam na região dos Campos Gerais e que discutiam qual era o melhor lugar para ser o centro da nova freguesia, elevada a essa categoria em 15 de setembro de 1823. Reza a lenda que as tais pombinhas pousaram em uma grande figueira que ficava numa colina e ali, então, foi construída a Matriz de Santana (MEISTER; PEDROSO, 1989).

Graças a essa lenda, a história da fundação de Ponta Grossa, para a maioria dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, fica restrita ao caminho dos tropeiros, que de fato existiu, e ao pouso das célebres pombinhas, que ficou fossilizado no imaginário ponta-grossense.

Sabemos, como historiadores, o quanto mitos e lendas fazem parte da construção da identidade de um povo e que esse tipo de narração serve, muitas vezes, para explicar algum acontecimento histórico. De acordo com o Dicionário do Folclore Brasileiro, [...] lendas podem ser episódios sentimentais ou heroicos transmitidos e conservados na tradição oral de um povo e localizada num tempo e espaço (CASCUDO, 2001, p.