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Nômade: Uma aventura no espaço
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Nômade: Uma aventura no espaço
E-book166 páginas1 hora

Nômade: Uma aventura no espaço

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Sobre este e-book

E se o mundo que você conhece, de repente, parasse de funcionar? Tudo se tornasse estranho, imprevisível? Essa é a situação em que um grupo de jovens tripulantes da nave espacial Nômade se vê lançado durante uma aventura que deveria ser perfeitamente segura – um faz de conta elaborado para prepará-los para o destino final de sua longa viagem pelo espaço. De uma hora para outra, a linha entre simulação e realidade se quebra, e o que era brincadeira se converte em algo terrivelmente sério. Ou será essa apenas mais uma camada do jogo? Para Peleu, Helena e seus amigos, a resposta só aparecerá depois de uma jornada que os forçará a conhecer seu mundo, sua nave, de uma forma muito mais profunda do que jamais haviam imaginado.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jul. de 2017
ISBN9788562018244
Nômade: Uma aventura no espaço

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    Nômade - Carlos Orsi Martinho

    autor

    [ Capítulo 1 ]

    A caçada

    Peleu, da tribo dos argivos, persegue o javali já há meia hora. É uma tarefa tensa e cansativa – de arbusto em arbusto, de árvore em árvore, esconderijo em esconderijo, sempre contra o vento para que o animal não sinta seu cheiro, sempre pisando macio para que as folhas e os gravetos não estalem sob os pés, sempre atento para não perder a fera de vista, para não deixar cair a lança com ponta de pedra, sua única arma além da trombeta de concha que traz amarrada ao cinto.

    O javali, uma fera coberta de pelos escuros – tão eriçados que mais parecem espinhos –, tem olhos de um vermelho profundo e volta e meia solta sequências de roncos altíssimos, que, no início, faziam os pássaros da floresta fugirem em revoada. Agora, não mais: as aves parecem acostumadas. Só Peleu se importa com os roncos.

    Quando vê a cor dos olhos do animal, o caçador também vê as presas amareladas e retorcidas. Ao mesmo tempo em que sente um arrepio de medo, o jovem imagina se elas não dariam um bom par de pontas para uma lança, ou talvez duas facas novas.

    Com quase um metro e meio na altura dos ombros, este é o maior javali que Peleu já viu. O pensamento faz o jovem sorrir: afinal, quantos javalis ele já viu antes? Vários, se levar em consideração as caçadas virtuais na Casa de Jogos. Mas aqueles javalis eram apenas pontos de luz projetados por equipamento eletrônico, este aqui é real.

    Não que seja fácil perceber a diferença. Na última meia hora, o argivo precisou de muita concentração e disciplina para não se deixar levar, para não embarcar na caçada como se fosse apenas mais um jogo. Esta floresta é real, este javali é real.

    O suor que insiste em escorrer da testa, carregando um pouco da tinta de camuflagem que cobre o rosto, ajuda o rapaz a se lembrar disto: a tinta arde nos olhos. Peleu nunca sentiu os olhos arderem nos jogos.

    O javali sai da floresta e se dirige, pela grama baixa, para a beira do rio. Peleu corre até uma árvore na orla da mata e, depois de amarrar a lança às costas, começa a subir, apressado. Não se trata de uma árvore muito alta, ela tem galhos fortes já bem perto do chão. A escalada é fácil e rápida.

    Do alto da árvore, Peleu vê o javali correr pela margem do rio, o focinho baixo, farejando, cavoucando a areia com as presas e os cascos, um pouco ali, um pouco aqui.

    Finalmente, o animal para e se põe a cavar com entusiasmo. O argivo, deitado sobre o galho mais alto da árvore ainda capaz de lhe suportar o peso, sorri. Retira a concha do cinto, coloca-a junto à boca, apontando a outra extremidade na direção do javali, e assopra.

    A trombeta não produz nenhum som audível, ao menos não para o ouvido humano. Tudo o que Peleu sente é uma leve vibração na ponta dos dedos que seguram a concha.

    A reação do javali, porém, é extraordinária: ergue as orelhas, a cabeça, abre a boca – parece que vai gritar, mas não grita –, eriça ainda mais os pelos. E sai correndo, como se sua vida dependesse disso.

    Assim que o javali foge, Peleu desce da árvore e corre até o buraco que a fera tinha escavado na margem do rio. Retirando um pouco mais de areia do lugar, o jovem caçador encontra o que estava procurando: a colônia de fungos que, uma vez extraída, limpa e cozida, será o prato principal do jantar desta noite. A colônia subterrânea é grande e penetra fundo no solo. Ele se pergunta onde estará Autólico, seu companheiro de caçada, pois, sozinho, demorará demais para extrair o suficiente para todo o grupo que os aguarda no acampamento.

    O grito de dor do javali faz o argivo erguer a cabeça e olhar para frente. Ali, a pouco mais de cem metros, o caçador vê a fera caída, com uma lança cravada no flanco. Segurando a lança, sorrindo em triunfo, está seu colega Autólico.

    [ Capítulo 2 ]

    Mosquitos

    Cara a cara com Autólico, diante da carcaça do javali morto, Peleu se dá conta de que não tem o que dizer, situação embaraçosa para o suposto líder da caçada. Está bravo, quase enfurecido, e tem vontade de gritar – mas não sabe bem por quê. Indignação, porque Autólico desrespeitou o combinado e se expôs a um risco desnecessário? Inveja, porque o companheiro foi corajoso o bastante para enfrentar a fera?

    É a dúvida que mantém Peleu calado, contido. Isso e o fato de que ele realmente não conhece Autólico. É para isso, afinal, que servem os acampamentos: para que os jovens das diferentes tribos que vivem na nave Nômade possam se conhecer e aprender a trabalhar juntos. É assim há gerações, e Peleu se pergunta se sempre foi tão difícil.

    Sorrindo, ainda com as mãos segurando a lança cravada na fera, numa espécie de pose, Autólico decide quebrar o silêncio. Ele é pelo menos cinco centímetros mais alto que Peleu e tem o corpo de quem passou muito mais tempo no ginásio do que na Casa de Jogos.

    – Não é ótimo? – pergunta o dardânio, indicando com o olhar o javali morto.

    Estimulado pela pergunta, Peleu responde:

    – Não.

    O outro não para de sorrir, mas seus olhos se estreitam. As mãos deixam a lança e Autólico faz um rápido exercício de alongamento, esticando os braços acima da cabeça, entrelaçando os dedos e pressionando as palmas das mãos para fora. Ombros estalam. Músculos saltam.

    – O que foi que aconteceu? – Peleu decide que é melhor saber de todos os fatos antes de começar a distribuir críticas. – A fera atacou você?

    – Oh, não! Eu espreitava na floresta, acompanhando você de longe, como a gente havia combinado, quando vi o javali correr. Ele passou perto de onde eu estava, meio de costas para mim… Não deu para resistir. Corri, gritando, com a lança apontada… Foi um golpe só! O bicho rolou pelo chão na primeira, e eu rolei por cima! Foi fantástico!

    – Não foi, não.

    – E posso saber por quê?

    – Porque não era preciso – explica o argivo, tentando soar o mais calmo possível. – Porque nós estávamos atrás de fungos, não de javalis. Porque é um desperdício.

    – Desperdício?

    – Este acampamento deve durar ainda mais alguns meses. Além disso, o javali poderia nos levar a outras colônias de fungos.

    – Não precisamos mais de fungos. Podemos comer a fera!

    – A carne vai estragar.

    – Perséfone pode dar um jeito.

    O nome da garota dardânia faz Peleu sorrir. Irmã de Autólico, na divisão de tarefas do acampamento, havia sido encarregada de recolher e preparar as plantas da área que tivessem uso medicinal. Haveria alguma com propriedades de conservante? Talvez. Mas o argivo não está disposto a ceder tão fácil:

    – Faz ideia de quanto esse bicho pesa? Quem vai carregar esse peso morto de volta ao acampamento? Você?

    – Pode apostar!

    E, de fato, Autólico ergue o javali e o coloca sobre os ombros, sem aparentar muito esforço ou dificuldade.

    – Vamos? – convida. – Daqui a pouco os urubus vão querer disputar a fera conosco.

    Uma vez dentro da floresta os urubus não são mais problema, já que as copas das árvores mantêm os grandes pássaros de fora. Mas o cheiro do javali morto, do sangue da fera misturado ao suor de Autólico, começa a atrair outras criaturas, que vivem nos galhos e em meio à grama.

    E mosquitos, às dezenas.

    A floresta ocupa um dos módulos da Nômade, e reproduz, da melhor maneira possível, o ambiente que deve existir no planeta ao qual a astronave se dirige – segundo observações feitas por sondas robóticas e telescópios. O fato de uma estrutura artificial conter uma selva completa, com feras, rios, colinas e insetos não surpreende Peleu, embora ele certamente preferisse que os projetistas da grande obra tivessem deixado os mosquitos e as taturanas de fora.

    Todos os membros vivos das três tribos de Nômade – argivos, do módulo Argos; dardânios, do modulo Dárdano; e árcades, do módulo Arcádia – nasceram e cresceram dentro de Nômade. A ideia de que certas coisas são mais normais na superfície de um planeta do que dentro de uma astronave é algo que conhecem graças às aulas de História, não pela experiência.

    A viagem da Nômade teve início há duzentos anos, e deve durar pelo menos mais dez: o planeta de onde vieram, a Terra, é pouco mais que uma lembrança distante, embora a astronave ainda dependa da longínqua estrela Sol para obter energia.

    É pensando em como deve ser difícil viver num mundo onde mosquitos e formigas são livres para ir aonde quiserem, pensamento com que se ocupa enquanto agita a lança e a trombeta de concha para debandar a nuvem

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