Felicidade e Vida Autêntica: Pensando a Felicidade no Século XXI
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Felicidade e Vida Autêntica - Almeida Júnior
final
Apresentação
Você é feliz?
Quando paramos para refletir sobre esta simples pergunta percebemos que, muitas vezes, pode ser difícil respondê-la. Em geral, as pessoas dizem: neste momento, sim, ou neste momento, não.
O objetivo deste livro é demonstrar que a felicidade não está sujeita ao momento ou às circunstâncias, como os sentimentos de alegria, tristeza, medo, euforia e outros. Quando se aprende a diferenciar a felicidade dos sentimentos que experimentamos, pode-se manter um estado perene, chamado pelos filósofos de tranquilidade da alma.
Desde a Antiguidade, filósofos como Aristóteles dizem que o principal objetivo da vida de todo ser humano é ser feliz e, mesmo muito tempo depois, Michel Montaigne concorda com este princípio: todos querem a felicidade.
Navegar é preciso, viver não é preciso
, disse o general romano Pompeu. Esta frase significa, sob determinado ponto de vista, viver não é como a arte de navegar, pois esta é calculável e previsível. Portanto, é preciso saber navegar pelas águas da vida, com seus momentos de calmaria e de turbulência; aproveitar os bons ventos da fortuna e conduzir, prudentemente, a nave quando a maré for contrária. A felicidade é, portanto, resultado de um aprendizado do mundo e de si mesmo.
Diante destas dificuldades, compreende-se o fato de existirem tantos estudos de filósofos e psicólogos sobre a felicidade. Há mais de mil títulos de livros que dão conselhos sobre como ser feliz, mudando hábitos, pensamentos, meditando, etc.
Outra tentativa de ajudar as pessoas a serem felizes são os medicamentos antidepressivos, uma das formas mais rentáveis da busca da felicidade. A dependência química e os efeitos colaterais demonstram que, este caminho, pode ser um paliativo, por vezes de grande utilidade, mas não é, de modo algum, uma solução.
O consumo de drogas ilícitas é, por sua vez, igualmente uma tentativa de se alcançar a felicidade. Seja por meio das que acalmam, das que excitam ou, ainda, daquelas que adormecem a consciência e aliviam os sofrimentos por alguns instantes. Contudo, os efeitos colaterais demonstram que este, em hipótese alguma, é um dos caminhos aconselháveis.
Enfim, deve-se desfazer a confusão inicial que dificulta toda a compreensão sobre a felicidade. Muitos dizem que é possível desfrutar a felicidade
, aumentar a felicidade
. Ora, tais expressões fazem sentido? Desfruta-se do prazer, aumenta-se a alegria, o entusiasmo, a motivação, mas a felicidade não é idêntica a estes sentimentos. Por outro lado, se as coisas vão mal, há tristeza, abatimento, desmotivação, mas o desejo de ser feliz não desaparece por causa destes sentimentos.
O que é a felicidade, então? É o modo de ser no mundo, uma disposição da alma. Desejamos a felicidade e todas as nossas ações tendem para este objetivo. É preciso, porém, saber conduzir-se neste mundo turbulento de uma sociedade industrial, urbana, do trabalho e do consumo.
Espero que este livro seja útil para que o leitor possa refletir sobre a felicidade.
CAPÍTULO 1
O que é a felicidade
Todo ser humano deseja ser feliz, ninguém deseja a infelicidade. O impulso para a felicidade é inato, trata-se de uma parte da natureza humana que a cultura não pode alterar.
Como nosso objetivo é compreender o que é a felicidade, temos que observar que felicidade não é sinônimo de alegria, nem de outros sentimentos semelhantes. Consideremos o quadro abaixo, no qual há duas colunas de sentimentos opostos. Normalmente, associa-se a felicidade ao primeiro e a infelicidade ao segundo grupo.
Nosso objetivo, neste livro, é demonstrar que a felicidade independe destes sentimentos ou sensações. Os filósofos consideraram que a essência da felicidade é a moderação ou caminho do meio, justa medida ou ainda equilíbrio. Contudo, como alcançar este equilíbrio ou moderação? Não se trata de viver em um constante estado intermediário entre a alegria e a tristeza ou entre a esperança e o desespero. Ao longo da vida, passamos pelos sentimentos das duas colunas e a felicidade não pode depender desta constante variação das circunstâncias.
Na imprensa é fácil encontrar referências ao tema da felicidade, pois são frequentemente publicadas novas pesquisas que pretendem desvendar os mitos da felicidade, com receitas e sugestões para ser feliz. Inclusive, há um índice de Felicidade Interna Bruta, criado no Butão, e que teve estudos no mundo inteiro.
No Brasil, já foram realizadas algumas pesquisas, mas todos partem do mesmo princípio: a felicidade é o resultado de acontecimentos, das ações ou do lugar em que estamos. Estas concepções apenas reforçam o estereótipo: a felicidade existe quando tudo vai bem, a infelicidade quando tudo vai mal. Acreditamos que podemos contribuir, com este livro, para a superação desta ideia equivocada sobre a felicidade. Destacamos, contudo, as sempre lúcidas palavras do papa Francisco sobre a felicidade, bem como a dos monges budistas, frequentemente consultados sobre o tema.
Modo de ser no mundo
Todo ser humano deseja ser feliz, ninguém deseja a infelicidade. O impulso para a felicidade é inato, trata-se de uma parte da natureza humana que a cultura não pode alterar.
Dissemos que a felicidade é o nosso modo de ser no mundo: ela não se confunde com a alegria, que é apenas o resultado de um desejo realizado. Quando o desejo não se realiza, há tristeza e não infelicidade. Separar, portanto, felicidade de alegria e infelicidade de tristeza é fundamental para aproveitar bem a vida.
O psicólogo americano Daniel Gilbert criou a teoria da felicidade natural e da felicidade artificial que repete essa confusão e, consequentemente, seus problemas. Ele afirma que quando algo acontece conforme desejávamos, ficamos felizes por, no máximo, três meses. Ora, isto não é felicidade, é alegria. Por outro lado, quando acontece algo que não desejávamos ou o que desejávamos não acontece, ficamos infelizes. Novamente: isto não é infelicidade, é apenas tristeza.
Sua teoria, porém, apresenta uma ideia bem interessante: a nossa capacidade de produzir felicidade artificialmente. Quando um acontecimento é ruim, podemos simular situações nas quais este mesmo acontecimento passa a ser bom. Tal concepção é engenhosa e não deixa de estar correta, seu problema, porém, é o domínio do pensamento materialista, pois para ele, encontrar esperança ou saída para as dificuldades é uma solução artificial, que, no entanto, pode ter bons efeitos psicológicos.