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Educação Popular em Debate
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E-book339 páginas4 horas

Educação Popular em Debate

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Sobre este e-book

Este livro é resultado do I Fórum de Estudos Leituras de Paulo Freire: Educação Popular em Debate, realizado em Manaus no mês de abril de 2016. Com financiamento da CAPES e UEA, o fórum deu continuidade ao trabalho de várias instituições de ensino superior no Brasil, tendo a obra de Paulo Freire como fonte inspiradora. Desde a sua criação em 1999, os fóruns buscam articular os saberes acadêmicos com os saberes oriundos de diferentes práticas sociais. Para além das instituições universitárias, o fórum se articula com escolas, movimentos sociais, ONGs, associações populares e entidades que, de alguma forma, comungam com a utopia de uma sociedade mais justa para todas as pessoas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de dez. de 2017
ISBN9788546208111
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    Pré-visualização do livro

    Educação Popular em Debate - Rita de Cassia Fraga Machado

    FINAL

    PREFÁCIO

    Danilo Romeu Streck

    Primeiras palavras: leituras de Paulo Freire no Norte

    Há quase duas décadas, um ano após a morte de Paulo Freire, realizava-se na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) o congresso com o tema Paulo Freire: ética, utopia e educação¹. Um grupo de educadores(as) e pesquisadores(as) que participavam do congresso reuniu-se em um dos auditórios da universidade para avaliar a possibilidade de fazer das leituras de Paulo Freire uma atividade permanente, propiciando o encontro regular de profissionais e estudantes que têm em Paulo Freire uma referência para seu trabalho ou que pretendem exercitar o diálogo com suas ideias. Uma carta circular do colega Balduíno Andreola havia lançado o desafio de unir-nos com nossas semelhanças e diferenças em estudos, como ele sabiamente alerta, sem criar capelinhas ou clubinhos de Paulo Freire. Foi assim que surgiu o primeiro Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire, que desde então se realiza a cada ano de forma itinerante no Sul do Brasil.

    Alguns princípios foram se consolidando ao longo destes anos. Dentre eles, talvez o mais marcante seja que os protagonistas principais são os participantes, cada qual contribuindo – como requisito para a inscrição – com alguma leitura que pode ser apresentada em diferentes linguagens: tanto pode ser um clássico texto escrito quanto um vídeo ou uma montagem fotográfica. Embora pensado como um fórum que enseja a participação de movimentos sociais, professores de todos os níveis de ensino, educadores populares e estudantes, entre outros interessados no legado de Paulo Freire, manteve-se a universidade como lugar de realização dos fóruns. Consideramos importante que as universidades, como agências de formação de educadores e educadoras, abrissem espaço em suas agendas para esta leitura que nem sempre encontra acolhida – ou a encontra de forma superficial – nas salas de aula.

    Assim, é com imensa alegria que vejo surgir na outra extremidade deste país-continente um fórum com características semelhantes, acrescentando no Norte as Leituras de Paulo Freire. A identificação da região geográfica nos faz lembrar da contextualidade e da historicidade de tudo que pensamos e produzimos. Aprendemos que Sul e Norte, Leste e Oeste são muito mais do que pontos cardeais; demarcam fronteiras de lugares onde nos formamos como seres humanos que paradoxalmente se reconhecem como iguais porque são diferentes. Assim como as leituras no Norte, também as do Sul são realizadas na provisoriedade e na consciência da parcialidade que, como aprendemos com Paulo Freire, encontra no diálogo amoroso e exigente a forma de transcender os relativismos intelectuais, éticos e políticos.

    O livro organizado por Rita de Cássia Fraga Machado e por Amanda Motta Castro se insere, portanto, na já grande corrente de iniciativas que trabalham para reinventar a pedagogia crítica e a Educação Popular tendo Paulo Freire como parceiro principal. Este fato não é acidental nem de menor importância nesses tempos em que carecemos não apenas de melhores metodologias, mas sobretudo de novas visões de presente e de futuro para nossas sociedades. Henry Giroux,² um dos amigos e parceiros norte-americanos de Paulo Freire, em recente livro fala da poderosa máquina de desimaginação que entorpece a capacidade de pensamento crítico nos Estados Unidos, com efeitos perversos para os já despossuídos e oprimidos. Não é muito diferente em outras partes do mundo. A pedagogia freiriana, como mais uma vez se vê neste livro, coloca-se como um antídoto a essa máquina, produzindo os inéditos viáveis que desafiam as situações-limite e introduzem outras histórias e outras narrativas.

    Neste livro, a leitora e o leitor encontrarão experiências de diversas áreas de trabalho e regiões refletidas à luz da pedagogia de Paulo Freire. Do início ao fim, a teoria está na prática e esta, naquela. Esse jeito de fazer pedagogia talvez seja a forma mais produtiva de alongar o legado de Paulo Freire para o tempo no qual vivemos. Além disso, o registro da organização do Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire no Norte poderá inspirar e orientar a criação de outros fóruns que se unem nas marchas pela educação em sociedades justas e promotoras da dignidade de cada pessoa.

    Notas

    1. Originou-se neste congresso o livro homônimo, editado pela Editora Vozes, que já se encontra na décima edição.

    2. Giroux, Henry A. The violence of organized forgetting: thinking beyond America’s disimagination machine. San Francisco: City Lights Books, 2014.

    APRESENTAÇÃO

    Fragmentos de memórias do I fórum de leituras de Paulo Freire da Região Norte

    Rita de Cássia Fraga Machado

    Amanda Motta Castro

    A programação: culturas, movimentos e a Amazônia

    Neste texto, pretendemos fazer uma reflexão sobre o trabalho que realizamos para construir esse processo de fórum. Nenhuma de nós é historiadora, mas entendemos que a partir de nossos arquivos pessoais podemos sistematizar essa experiência tão importante para a Região Norte do país. Isso se deve tanto a nossas perspectivas teóricas, que tendem a valorizar o papel do sujeito na história como, também, à maior disposição na construção do I Fórum de Leituras de Paulo Freire, que aconteceu em Manaus.

    Nesse sentido, temos como objeto de estudo a construção da memória de um fórum que teve como objetivo partilha de experiência daqueles e daquelas que ali conviveram de diferentes regiões do país e de diferentes becos das Amazônia¹. Assim, entendemos que a memória tem como característica a fragmentação e a história também, ou seja, o passado não pode ser representado como um todo e de forma definitiva.

    Os tempos dos lugares são esse momento preciso em que um imenso capital que vivíamos na intimidade de uma memória desaparece para viver apenas sob o olhar de uma história reconstituída ...Os lugares de memória são, antes de mais nada, restos. A forma extrema em que subsiste uma consciência comemorativa numa história que a convoca, pois a ignora. É a desritualização de nosso mundo que fez aparecer a noção...Museus, arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários, tratados, averbações, monumentos, santuários, associações, são os remanescentes testemunhos de uma outra era, ilusões de eternidade. Daí o aspecto nostálgico desses emprendimentos de piedade, patéticos e glaciais. São rituais de uma sociedade sem ritual...signos de reconhecimento e de pertença de grupo numa sociedade tende a reconhecer tão-somente indivíduos iguais e idênticos. (Nora, 1996, p. 12)

    A ideia, a temática e a ação: nosso Norte é o Norte!

    Este texto tem como objetivo principal contar a experiência de fundação do I Fórum de Leituras Paulo Freire da Região Norte do Brasil. O fórum ocorreu em Manaus na Universidade do Estado do Amazonas – UEA, em maio de 2016. Esse evento contou com docentes, estudantes, pesquisadores, pesquisadoras, movimentos sociais e comunidade. Nunca antes realizado no Norte do país, o fórum marca o início deste trabalho na Região Norte. Inicialmente pensado para ser um evento pequeno, tomou proporções grandes, com mais de 400 pessoas inscritas em 9 eixos temáticos. Aqui registramos um pouco da memória deste processo que levou a Manaus pessoas de todas as cinco regiões do Brasil.

    A escolha da temática partiu dos apontamentos realizados na primeira reunião realizada na Universidade do Estado do Pará (Uepa) em 2015/1. O grande questionamento foi: Por que não temos um fórum de leituras freirianas a partir da Região Norte do país?. Ainda então se apontou questões que poderiam ajudar a compreender esta realidade: a escola pública em descompasso com a realidade das classes populares na Amazônia, educação do campo, das águas e da floresta, cultura do silenciamento das mulheres ribeirinhas, educação de adultos, educação na Amazônia, Universidade, etc. A partir destas palavras levantadas, foram propostos os eixos que estariam em diálogo com Paulo Freire.

    Acreditar que a alegria, a amorosidade e o reconhecimento do(a) outro(a) permeiam a atividade educativa e são imprescindíveis para o desenvolvimento de uma práxis contextualizada, dialógico-reflexiva e humanizadora implica, necessariamente, intencionalidade, diretividade, rigorosidade, compromisso, competência e seriedade no trabalho docente que é desenvolvido com as classes populares na escola pública; todos conceitos e categorias presentes na obra de Paulo Freire. Trata-se de uma relação de responsabilidades e de reciprocidades, em que cada sujeito faz a sua parte para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma emancipatória, com seriedade e alegria.

    Diante disso, o I Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire na Região Norte teve como objetivo oportunizar um espaço de aprofundamento, reflexão crítica e (con)vivência, a partir do diálogo com diferentes pesquisas, experiências educativas e pedagógicas vivenciadas com as classes populares na escola pública ou em movimentos e organizações sociais, tendo como base a perspectiva freiriana de que o ato de educar pode ser alegre, sem perder a seriedade e comprometimento necessários para uma educação crítica e libertadora, a serviço da (re)humanização de homens e mulheres da Região Norte. Pretendeu-se o intercâmbio das experiências nos diferentes estados do Brasil. Mas pretendeu-se também a experiência própria de conseguirmos realizar um trabalho e uma leitura específica daqueles e daquelas que historicamente tiveram e viveram às margens dos rios e da floresta. Por isso, o nosso Norte é o Norte!

    é emocionante estar aqui hoje, ver tanta gente reunida em torno da obra de Paulo Freire e das temáticas que atingem a Amazônia Brasileira. (Participante do Fórum)

    Neste sentido, a organização do I Fórum da Região Norte se fundamentou no tema: Educação Popular em debate. Para tanto, orientou-se pelos princípios gerais de que aprender com a pedagogia de Freire é um dos saberes da Educação Popular e busca operacionalizar os seguintes conceitos: conhecimento, diálogo, esperança, educação libertadora e trabalho coletivo. O processo de construção do mesmo pode ser desenhado desta forma:

    Imagem 1: Processo de Construção do Fórum (Metodologia)

    Fonte: Elaboração das autoras.

    Entendíamos a necessidade de criar espaços que promovam o debate e a continuidade dos estudos sobre questões que envolvem a pedagogia de Freire na relação com a especificidade da Região Norte. O objetivo principal foi aprofundar as temáticas centrais já debatidas em fóruns realizados em alguns estados do Brasil e fortalecer os vínculos entre as pessoas e as organizações que desenvolvem trabalhos, estudos, pesquisas e mobilizações segundo a perspectiva freiriana na região.

    Metodologia de construção do fórum: eixos de diálogo e círculo de cultura

    Os eixos temáticos visaram ao diálogo entre os participantes do fórum no sentido de ampliar as reflexões e leituras de Paulo Freire. O diálogo é:

    O diálogo é o encontro entre os homens, mediatizados pelo mundo, para designá-lo. Se ao dizer suas palavras, ao chamar ao mundo, os homens o transformam, o diálogo impõe-se como o caminho pelo qual os homens encontram seu significado enquanto homens; o diálogo é, pois, uma necessidade existencial. (Freire, 1980, p. 42)

    Os eixos interligaram-se ao conceito de Tema Gerador, assim, esta metodologia amplia as discussões e as elaborações de conhecimento de forma coletiva através dos eixos de reflexão. O Tema Gerador é uma etapa do processo metodológico de Paulo Freire iniciada na década de 1950, quando surgiu sua teoria do conhecimento que é enriquecido a partir de sua prática. De forma indisciplinar, os saberes se entrelaçam em busca de uma leitura crítica da realidade, de maneira que os mediadores dos eixos pudessem seguir a perspectiva freiriana.

    Círculo de Cultura², porque vai muito além do aprendizado individual de saber ler e escrever que, inicialmente, pôde produzir. Faz-se a leitura do mundo – as suas normas, as suas concretudes e os seus afetos. No Círculo de Cultura, aprendem-se e se ensinam modos próprios, novos, solidários, coletivos, populares, de pensar e de agir diante do mundo. E todos juntos aprenderão, de fase em fase, de palavra em palavra, de linguagens em linguagens que aquilo que constroem pelo trabalho é uma outra maneira de fazer cultura. E é, exatamente, esse trabalho coletivo que os faz mulheres, homens, sujeitos, seres de história, palavras e ideias que são chaves, também, no pensamento freiriano.

    O Círculo de Cultura visa promover o processo de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita e se realiza no interior do debate sobre questões centrais do cotidiano, como trabalho, cidadania, alimentação, saúde, organização das pessoas, liberdade, felicidade, valores éticos, política, oprimido, economia, direitos sociais, religiosidade, cultura, entre outros.

    essa forma de participação não tive em espaço acadêmico, foi riquíssimo poder falar a partir da experiência vivida da gente. (Participante do fórum)

    O seu conteúdo tematiza conhecimentos sistematizados e questões referentes à prática social para o exercício da cidadania, na perspectiva da participação política, buscando soluções para problemas do mundo do trabalho e da vida.

    Por esta razão, Freire critica o que ele mesmo denomina de educação bancária e antidialógica, prática muito comum no ensino de qualquer matéria. Nesta concepção, o professor(a) é detentor do conhecimento, e deposita uma certa quantidade de conhecimentos nos alunos, que, por sua vez, absorvem passivamente. O autor caracteriza tal prática através de dez propriedades, a saber:

    (a) O educador é o que educa; os educandos, os que são educados; (b) o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; (c) o educador é o que pensa; os educandos, os pensados; (d) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que a escutam docilmente; (e) o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; (f) o educador é o que opta e prescreve a sua opção; os educandos, os que seguem a prescrição; (g) o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam, na atuação do educador; (h) o educador escolhe o conteúdo programático;

    os educandos, jamais são ouvidos nesta escolha, acomodam-se a ele; (i) o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional, que se opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele; (j) o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos. (Freire, 1987, p. 34)

    Portanto, os eixos foram pensados para valorizar o conhecimento dos participantes numa prática dialógica.

    Imagem 2: Processo de elaboração dos eixos de diálogo: os Círculos de Cultura

    Fonte: Elaboração das autoras.

    Os Círculos de Cultura foram realizados em salas separadas e coordenadas por um moderador(a), representante de uma Universidade Colaboradora. Houve também a presença de um sistematizador(a) (professores, militantes, estudantes), que fez o papel de debatedor e de um relator a ser escolhido entre os participantes. Neste sentido,

    [...] o educador já não é o que apensa educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem junto e em que os argumentos de autoridade já, não valem. (Freire, 1987, p. 39)

    Após os Círculos de Cultura, houve a assembleia final do fórum, uma plenária final para a relatoria das propostas de cada grupo e o encerramento com a apresentação das ações de seguimento apresentando a instituição sede, o II Fórum de Leituras do Fórum da Região Norte.

    Esta foi a metodologia que os Círculos de Cultura adotaram:

    Imagem 3: Metodologia dos Círculos de Cultura

    Fonte: Elaboração das autoras.

    O I Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire do Norte foi um evento que deu continuidade ao trabalho de várias instituições de ensino superior no Brasil inteiro, tendo a obra do autor Paulo Freire como fonte inspiradora para desenvolver uma educação de qualidade e socialmente comprometida com a transformação social.

    Desde sua criação, em 1999, após a morte de Paulo Freire os fóruns buscam articular os saberes acadêmicos com os saberes oriundos de diferentes práticas sociais. Para tanto, têm aperfeiçoado os pontos de contato do diálogo entre as experiências de Educação Popular, em diferentes contextos. Para além das Instituições Universitárias, o Fórum Paulo Freire se articula com as escolas, os Movimentos Sociais, ONGs, Associações Populares e entidades que, de alguma forma, comungam com a utopia de uma sociedade mais justa para todos e digna de se viver.

    Fórum Paulo Freire: movimento brasileiro

    Os eixos tiveram a proposta de construção coletiva de todo o Brasil. O I Fórum Paulo Freire teve nove eixos coordenados por docentes de Norte a Sul do Brasil, os eixos foram assim distribuídos:

    · PAULO FREIRE e Educação do Campo, das Águas e

    da Floresta;

    · PAULO FREIRE e a Escola Pública Popular na Amazônia;

    · PAULO FREIRE e Cultura e Arte Popular;

    · PAULO FREIRE e Educação Popular;

    · PAULO FREIRE e Movimentos Sociais;  

    · PAULO FREIRE e Feminismos;

    · PAULO FREIRE e Educação de Jovens e Adultos;

    · PAULO FREIRE e a Universidade;

    · PAULO FREIRE e Teologia da Libertação.  

    Inicialmente, o fórum Paulo Freire foi pensando como um evento pequeno, entretanto, no caminho ele se tornou grande e com a participação de quatrocentas pessoas de todas as cinco regiões do Brasil e não somente do Norte.

    Para não concluir: contribuições e continuidade...

    Imagem 4: Fórum Paulo Freire: último dia assembleia geral

    Fonte: Amanda Motta Castro.

    O fórum oportunizou um espaço privilegiado de socialização de conhecimentos e saberes, de interação e interlocução entre professores da educação básica, pesquisadores, acadêmicos e integrantes de movimentos sociais, na perspectiva de uma práxis mais qualificada do trabalho educativo na dimensão popular. Das 400 inscrições, 132 foram de professores(as) da educação básica do estado do Amazonas.

    Desse modo, foi possível socializar experiências, manifestações artísticas/culturais, estudos e pesquisas elaboradas a partir da análise de experiências reconhecidas como potencializadoras de aprendizagens e de conhecimento no campo da Educação Popular.

    O I Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire foi organizado e planejado como uma oportunidade de reflexão e discussão sobre temáticas relevantes no campo da Educação Popular freiriana, bem como para oferecer diferentes espaços de socialização de produções intelectuais, de trabalhos de pesquisas, de relato de experiências, de vivências, painéis, oficinas, vídeos, danças, poesias, performance e teatro.

    Referências

    FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

    ______. Conscientização: teoria e prática da libertação – uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3. ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1980.

    NORA, P. Entre Memória e História: a problemática dos lugares. Projeto História, n. 10, dez. 1996.

    Notas

    1. Expressão cunhada pelas pessoas da Amazônia para se referir ao termo lugares.

    2. Educador pernambucano que se notabilizou no mundo inteiro, a partir de seus escritos no campo da alfabetização de adultos, como a Pedagogia do oprimido, sendo criador de um método de alfabetização denominado Círculo de Cultura – Paulo Freire.

    Algumas ideias de vocação freiriana e alguns princípios para pensar uma educação destinada a formar pessoas para a vida social ao invés de apenas instrumentalizar indivíduos para o mercado

    Carlos Rodrigues Brandão

    Primeira: Tornar o saber e a criação do saber como o valor fundador da experiência humana

    Criar saberes, conhecimentos, valores, reconstruir saberes não é em nós, pessoas humanas, algo instrumental posto a serviço de. Não é algo utilitário, para o uso de qualquer tipo de experiência situada aquém ou além da comunicação de sentidos, de significados, de sensibilidades e de partilha de sociabilidades. Isto é: de interações autônomas e significativas entre atores culturais voltados à construção de cenários de vida e de momentos de diálogos fecundos entre a pessoa e ela mesma, entre pessoas que se ensinem e aprendam e entre as pessoas humanas e os seus símbolos, os seus mundos.

    Atenção! A ideia que estou sugerindo aqui está bem distante de um neo-iluminismo e, mais ainda, de qualquer neo-cientificismo. O saber é o que nós somos. Somos o saber que criamos e somos a experiência de partilharmos o saber a cada momento de nossas vidas. De uma múltipla maneira, sempre frágil, inacabada, imperfeita, aperfeiçoável, irreversível, crescente e a cada momento passível de ser mais integrada e mais complexa¹, saber, criar saberes, partilhar saberes e aprender a saber é o que nos torna o que somos: seres humanos.

    Assim sendo, não aprendemos e compreendemos alguma coisa quando a incorporamos de maneira habilitada, memorizada e acumulativa em nossa inteligência. Não aprendemos algo nem mesmo quando apenas integramos um novo saber e as suas novas vivências no todo de nosso ser, entre a mente e a sensibilidade. Aprendemos e, então, compreendemos algo novo, quando nos incorporamos ao círculo vivo da existência interativa dessa compreensão. Não sou o saber que eu sei e nem possuo o conhecimento que aprendi. Sou o saber que me faculta ingressar na interação dos que sabem comigo e, cada um à sua maneira, aprenderam e aprendem ainda a saber como eu ou à minha diferença. Conheço não o que sei, mas aquilo que me abre o entrar em diálogo com os outros conhecedores ou buscadores, como eu, de um mesmo ou de um diverso novo saber.

    Por isso quero insistir na ideia de que não aprendemos para, pois cada momento de presente realiza de maneira plena a razão de ser de seu próprio aprendizado. Aprendemos em. E somos humanos e podemos sempre construir sobre esta base a realização da cidadania, porque podemos estar sempre aprendendo. Não é o sermos racionais o que nos dá a identidade essencial de nós mesmos como uma espécie de seres vivos e como indivíduos da espécie humana. É a incompletude pessoal e universal desta própria racionalidade. É o sermos os seres vivos sempre complexa e imperfeitamente racionais. É, portanto, o estarmos de maneira contínua e ascendente devotados ao trabalho de aprender e de reaprender, como um exercício sem-fim da realização de nosso próprio destino. Em algum poema Holderlin diz: Lei do destino: que todos se aprendam.

    Como um gesto original da espécie viva de quem somos, a finalidade do aprendizado não se reduz a qualquer tipo de atividade instrumental situada fora desta vocação primeira: aprender. Assim, aprender para o trabalho, capacitar-se para exercer alguma função produtiva, treinar-se ou instruir-se para lograr um ofício no mundo dos negócios, são as razões secundárias na vocação humana de aprender. O trabalho sobre a natureza, instrumental e utilitário, sobretudo quando imposto e tornado uma obrigação rotineira, não é, nem em seus processos sociais, nem nos seus produtos econômicos, a vocação fundadora da experiência humana no mundo. No mundo e na escola. Ele é um ofício necessário, essencial mesmo. Mas não vem a ser a razão do viver a vida cotidiana de cada ser humano. E nem o motivo da história que construímos a cada dia através do trabalho de criar, mas, antes dele e durante ele, através do trabalho de saber.

    Em uma outra direção, podemos pensar que somos seres convocados a aprender conhecimentos realizados por

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