Por que estudar Filosofia?
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Sobre este e-book
João de Fernandes Teixeira
João de Fernandes Teixeira é um dos pioneiros da filosofia da mente no Brasil. Bacharel em filosofia pela USP e mestre em filosofia da ciência pela UNICAMP é também PhD pela University of Essex, na Inglaterra. Fez pós-doutorado nos Estados Unidos, sob orientação de Daniel Dennett. Foi colaborador do Instituto de Estudos Avançados da USP e lecionou em várias universidades brasileiras como a UNESP, a UFSCar e a PUC-SP. Publicou 14 livros na área de filosofia da mente e ciência cognitiva. Mantém a página Filosofia da Mente no Brasil no Facebook.
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Por que estudar Filosofia? - João de Fernandes Teixeira
Agradecimentos
À minha ex-aluna e amiga Suely Molina, pelas sugestões.
Ao meu ex-aluno e amigo professor André Rehbein Sathler Guimarães, pelas críticas sempre construtivas.
Ao meu amigo professor Gustavo Leal-Toledo,
que generosamente leu
e comentou a primeira versão deste livro.
A Paula Felix Palma, pela revisão cuidadosa do texto.
À minha esposa Malu.
Pode um asno ser trágico? – Sucumbir sob um fardo
que não se pode levar nem deitar fora?... É o caso do filósofo.
Friedrich Nietzsche
– Professor, por que existe o mundo e não apenas o nada?
– Se existisse apenas o nada,
vocês continuariam reclamando do mesmo jeito.
Sidney Morgenbesser, em resposta a um de seus alunos
de Filosofia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos
Prefácio
A filosofia está morta. É com esta afirmação direta e arrasadora que Stephen Hawking, um dos maiores cientistas contemporâneos, inicia um de seus livros mais famosos, O Grande Projeto. Será que a filosofia acabou mesmo? E se acabou, por que isso aconteceu?
Neste livro, examino essas questões e discuto por que ainda vale a pena estudar filosofia. Embora tenha sido escrito, inicialmente, para estudantes de Filosofia, procurei tornar sua linguagem acessível para o público geral. Como afirmou o célebre filósofo espanhol Ortega y Gasset: a clareza é a cortesia do filósofo
.
A filosofia sempre teve uma aura de inutilidade. Um provérbio italiano muito conhecido afirma: A filosofia é uma coisa com a qual ou sem a qual tudo permanece igual
. Este é um dos piores preconceitos que confundem a percepção social da filosofia. Outro, talvez ainda pior, é a figura estereotipada do filósofo como o homem desligado do mundo
, que passa seu tempo viajando na maionese
.
Certamente, a filosofia não tem uma utilidade imediata, como obturar um dente que dói ou obter um habeas corpus para um cliente preso por desviar dinheiro público. Mas isso não quer dizer que ela não sirva para nada.
No século XX, a filosofia perdeu espaço para o marketing político e para as religiões tradicionais que ressurgiram vigorosamente e ocupam cada vez mais o espaço público. Elas se apresentam como alternativas às frustrações de uma tecnologia, que não cumpriu suas promessas libertadoras, e às decepções políticas, tanto as das democracias liberais como as do socialismo. O convencimento, por meio da propaganda política, da mídia religiosa e científica, se tornou uma tarefa prioritária em relação à busca pelo conhecimento. Se a filosofia não interessa, é porque a verdade também já não interessa mais. Mas por que será que, apesar de tantas forças opostas, a filosofia ainda fascina algumas pessoas?
A filosofia não é mais um porto seguro, mas não é, tampouco, um continente de ideias esquecidas que merece ser visitado apenas por curiosidade. Muitas pessoas supõem que a ciência e a tecnologia, especialmente a física e a neurociência, engolirão a filosofia nas próximas décadas, sem saberem que, ao defender esse ponto de vista, estão implicitamente apoiando uma posição filosófica discutível. Certamente, muitas questões da filosofia contemporânea passaram a ser discutidas pelas ciências. Mas há outras, no campo da ética, da política e da religião, cuja discussão ainda engatinha e para as quais a ciência não tem, até agora, fornecido nenhuma solução.
A filosofia tem contra si o fato de ter se tornado uma carreira universitária. A partir da segunda metade do século XX, os filósofos tiveram de se tornar professores universitários para sobreviver. Com isso, a filosofia ficou confinada a clubes de comentaristas profissionais, nos quais pouco se pensa e pouco se privilegia o retorno às tradições ou a reescrever as filosofias do passado.
Uma das reações a esse isolamento e ao discurso denso e esotérico dos filósofos profissionais foi o aparecimento dos filósofos midiáticos, que muitas vezes, apesar de limitados a comentários óbvios na televisão e na grande imprensa, conseguem cativar o público. Infelizmente, esses filósofos midiáticos, algemados pela exigência da simplificação, aumentam o risco de que as questões centrais e os temas da filosofia sejam apresentados de forma distorcida e, por isso, mal popularizados.
Acredito que uma das melhores formas de reabilitar a filosofia é rir dela, ou seja, salpicar seu discurso enfadonho com anedotas. Aprendi isso em um curso que fiz com o filósofo americano Willard van Orman Quine, nos Estados Unidos. Na época, ele era um homem de 93 anos, frágil como Gandhi, mas com uma lucidez extraordinária. Como estava surdo, carregava um aparelho auditivo que rodeava uma de suas orelhas alongadas, típicas dos idosos, e ria disso.
Será que a filosofia vai acabar? Apesar de vivermos em uma época na qual a reflexão não é bem-vinda e na qual prevalecem fundamentalismos religiosos e políticos, não acredito que a filosofia desaparecerá tão cedo. O que distingue os cientistas, os políticos e os sacerdotes dos filósofos é que eles não podem rir da ciência, da política ou da religião. É o riso que nos torna momentaneamente hereges, desafiando as autoridades e os preconceitos. Enquanto os filósofos puderem rir da própria filosofia, isso será suficiente para que ela continue a existir.
Capítulo 1
Nem mapa, nem território
O que é filosofia? Do que ela trata? Por que estudá-la?
Essas são questões inevitáveis com as quais se deparam os estudantes de Filosofia em alguma etapa de sua formação. São perguntas instigantes, e a falta de uma resposta para elas, como para qualquer problema filosófico, frequentemente frustra quem se dedica ao estudo dessa disciplina que, em alguns momentos, pode se tornar árida e desafiadora.
Pessoas que nunca tiveram contato com a filosofia também costumam fazer essas perguntas a estudantes e professores de Filosofia. Algumas são motivadas por uma curiosidade autêntica, outras, que não são inteiramente leigas, as fazem em um tom debochado e até humilhante, apostando na grande dificuldade envolvida em responder a elas. Para muitas pessoas, a filosofia tem a aparência de um castelo de cartas que precisa se equilibrar no ar, sem nenhum apoio e que pode desmoronar ao mais leve toque. É difícil conceber um saber que tem de produzir a si mesmo, pois não parte nem de dados experimentais, como ocorre nas ciências, nem de postulados, como na matemática ou na geometria.
A filosofia não torna ninguém milionário. Melhor sorte podem ter empresários ou artistas. Talvez por isso haja poucos profissionais dedicados à filosofia no mundo. Estima-se, atualmente, que sejam em torno de 25 mil. Desse total, quase metade reside nos Estados Unidos, o que contraria o preconceito habitual de que a reflexão é incompatível com uma cultura que privilegia a tecnologia, despreza o ócio e encoraja uma atitude pragmática diante da vida.
Uma resposta para esse paradoxo é alegar que o que esses filósofos fazem não é filosofia. Ou, talvez, não seja boa filosofia, pois a temática que eles discutem se afasta da tradição histórica do pensamento,