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Cinema falado
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E-book356 páginas4 horas

Cinema falado

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Sobre este e-book

Com o formato de entrevistas, o livro apresenta a trajetória artística de doze cineastas que nasceram no Ceará, mas que fizeram de diferentes lugares e referências seus universos cinematográficos. Ao longo de cada conversa, o entrevistado faz um balanço da sua trajetória e discute melhor seus temas e métodos, com pontos de autocrítica e perspectivas dos mais recentes e próximos projetos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de jul. de 2018
ISBN9788567333410
Cinema falado

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    Cinema falado - Émerson Maranhão

    Copyright ©2018 by Émerson Maranhão


    EDITORA DEMÓCRITO DUMMAR

    Presidente | Luciana Dummar

    Editora Executiva | Regina Ribeiro

    Editor Adjunto | Humberto Pinheiro

    Editor Assistente | Marina Solon

    Editor de Design | Amaurício Cortez

    Projeto Gráfico e Editoração | Amaurício Cortez e Miquéias Mesquita

    Revisão | Patrícia Rabelo

    Fotos | Julio Caesar

    Foto Wolney Oliveira | Divulgação

    Catalogação na Fonte | Leandra Felix da Cruz - CRB-7/6135

    Produção do eBook | Amaurício Cortez

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


    M26c

         Maranhão, Émerson

              Cinema falado / Émerson Maranhão. - 1. ed. - Fortaleza [CE] : Dummar, 2018.

              336 p. : il. ; 21 cm.

              Inclui índice

              ISBN 978-85-67333-41-0

              1. Maranhão, Émerson - Entrevistas. 2. Cinema - História. I. Título.

     18-50105      CDD: 791.43

                          CD: 791


    Sumário

    Apresentação

    Prefácio

    Introdução

    Allan Deberton

    Armando Praça

    Glauber Filho

    Guto Parente

    Halder Gomes

    Karim Aïnouz

    Luciana Vieira

    Marcio Câmara

    Pedro Rocha

    Petrus Cariry

    Roberta Marques

    Wolney Oliveira

    O autor

    Apresentação

    A mais nova, Luciana Vieira, nasceu nos anos 90. Isso torna senhores Alan Deberton, Guto Parente e Pedro Rocha, nascidos nos anos 80. Há os mais velhos, dos anos 60, nascidos antes da ditadura, como Wolney Oliveira; outros, no meio daquela coivara de fogo, como Karim Aïnouz, Márcio Câmara, Roberta Marques e Halder Gomes. Naqueles terríveis anos 70, nasceram mais três: Armando Praça, Petrus Cariry e Glauber Filho.

    Vieram da capital, e também de Aracati, Russas, Maranguape, adotados por Senador Pompeu... Vieram do centro da Terra, e terminaram por se encontrar no centro do mundo: Fortaleza.

    Talvez alguns tenham circulado pela velha Gentilândia, assistindo a Laranja Mecânica e a Hair na concha acústica, com bolotas pretas e tarjas da censura. Mas de repente, impunemente, se juntaram ali no Instituto Dragão do Mar, onde se deu também parte de suas formações, lá pelos fins dos 90 e início dos 00, quando muitos começam a falar seu cinema, embora possamos esticar algumas estreias à primeira década dos 2000, tão sonhados prósperos quanto anunciava o nome do velho bairro operário, em forma de taça, com o sonho de uma Fortaleza às praias do futuro.

    Daqueles 2000, vendo o céu clarear, é minha relação com elas&eles, especialmente com Émerson Maranhão, parceiro e anfitrião deste Cinema falado, quando pude trocar experiências de olhar e formação em cinema. Mas eu pergunto a você: de qual cinema estamos falando? Do cinema-de-autor-terror-horror-humor-cabeça? O cinema-invisível-do-ceará-o-mesmo-do-brasil? Deste samba no escuro? O cinema de suas necessidades e precariedades, e o das altas produções? Sim a todas as perguntas.

    É para voltar sempre a falar desse grito contido, de todo esse amor reprimido, desse cinema silenciado, marcado no rosto pela navalha do mais novo golpe, da mais nova coivara, no aqui-agora, tempo de o galo insistir em cantar, onde passado-presente-futuro nos entrecruzam, nos entre-intra-fuzilam. Desse cinema falando de lado, ameaçado se tornar mais calado que falado: o cinema político, engajado, denunciador, feito por e para mulheres, por e para negros, por e para todos os gêneros, por e para excluídos, para e por todos nós. Um cinema falando de frente, um cinema de diálogos.

    Este Cinema falado nunca será um apesar de. Nunca será só um lugar de fala. Mas sempre um lugar de luta, ora, tenha a fineza: nada de falou-tá falado. Aqui tem discussão. Sim.

    Isabela Cribari. Cineasta e psicanalista.

    PREFÁCIO

    O jornal O POVO, 90 anos, e sua Fundação Demócrito Rocha têm grande folha de serviços prestados ao cinema cearense e brasileiro. Além do criterioso Troféu Samburá, entregue anualmente no Cine Ceará, maior e mais longevo festival de cinema do Estado, o grande matutino associou seu nome à publicação de importante série de livros. Dois deles, notáveis: Orson Welles no Ceará e Benjamin Abrahão, ambos de Firmino Holanda. Não podemos, nem devemos, esquecer que foi uma produtora cearense, a Aba Film, da família Albuquerque, que produziu o seminal Lampião, o Rei do Cangaço (1936), dirigido pelo mascate libanês, o ousado Benjamin Abrahão.

    Agora, a grife O POVO-Editora Demócrito Dummar nos oferece outro livro de leitura obrigatória: Cinema Falado, coletânea de 12 longas e substantivas entrevistas conduzidas pelo jornalista e realizador audiovisual Émerson Maranhão, alagoano de nascimento e cearense por vontade e adoção. Impossível pensar no jornal O POVO, sem referenciar Émerson, profissional atento e apaixonado por seu ofício, quadro qualificado para as reportagens escritas e/ou filmadas do Vida & Arte. Tanto que hoje comanda a produção de vasto material audiovisual disponível no segmento digital do importante grupo jornalístico.

    O principal acerto do livro está na escolha dos 12 entrevistados. Émerson pautou-se pelo pluralismo. Foram chamados para a conversa realizadores de projetos estéticos diversos, de idades variadas, de formações distintas e de causas em fina sintonia com nosso tempo. Todos os entrevistados têm a mesma origem geográfica. Nasceram no Ceará e ao estado seguiram ligados, mesmo que tenham se transformado em cidadãos do mundo, caso

    de Karim Aïnouz.

    Estão impressas no livro Cinema Falado (homenagem, também, ao único longa-metragem de Caetano Veloso, ex-crítico de cinema e hoje compositor e cantor iluminados) as falas de duas realizadoras: Roberta Marques, do instigante Rânia, ficção que encontrou vitrine em festivais internacionais e brasileiros, e Luciana Vieira, com história fincada no núcleo criativo Reinvenções do Cinema de Gênero. Ambas com sensibilidade para o feminino, prática saudável numa arte, o cinema, marcada no mundo inteiro pela hegemonia masculina.

    Cinema Falado nos sintoniza (e enriquece) com projetos de realizadores voltados à experimentação estética como Guto Parente, que de 2008 a 2016 integrou o Coletivo Alumbramento, responsável pelo seminal Estrada para Ythaca. Sem esquecer diretores de projetos com evidente desejo de dialogar com grandes plateias, caso de Halder Gomes, recordista de público do cinema cearense (quase 3 milhões de brasileiros assistiram aos longas-metragens Cine Holliúdy, O Shaolin do Sertão e Os Parças).

    Outra contribuição cearense ao cinema comercial brasileiro marca presença no livro: a do filme espírita (de recorte kardecista), representado nestas conversas por Glauber Filho, co-diretor de Bezerra de Menezes (parceria com Joe Pimentel) e As Mães de Chico Xavier (com Halder Gomes).

    Karim Aïnouz , filho de mãe cearense e pai argelino, é sem dúvida o nome de maior prestígio internacional do grupo entrevistado por Émerson. Seus filmes Madame Satã e O Céu de Suely causaram funda impressão. Praia do Futuro esteve na disputa pelo Urso de Ouro, láurea máxima do Festival de Berlim. Seu mais recente longa-metragem, o documentário Aeroporto Central, nasceu como projeto internacional.

    O documentário foi a escola especial de dois dos entrevistados do livro: Wolney Oliveira e Márcio Câmara. Wolney, que dirige o CineCeará e realizou o ótimo Os Últimos Cangaceiros, integrou a primeira turma de alunos da Escola Internacional de Cinema e TV, de San Antonio de los Baños, nos arredores de Havana. Registre-se, aqui, que o livro de Émerson dá o devido destaque às escolas de cinema na formação da maioria, senão de todos, os entrevistados. Além da instituição criada por Gabriel García Márquez e Fernando Birri, em Cuba, destacam-se os cursos de Cinema da Universidade Federal do Ceará e da Unifor, o Instituto Dragão do Mar, de forte lembrança, o Laboratório de Audiovisual da Escola Porto Iracema das Artes e a Escola do Audiovisual de Fortaleza-Vila das Artes.

    Márcio Câmara, técnico de som dos mais qualificados e requisitados, dirigiu documentários importantes como Rua Escadinha 162 (2002). Do Outro Lado do Atlântico, seu primeiro longa documental (realizado em parceria com Daniele Ellery), revelou a vida cotidiana de estudantes africanos que chegaram à cearense Redenção (primeira cidade brasileira

    a libertar escravos) para estudar em universidade criada para adensar laços afro-brasileiros.

    Um longa documental serviu, também, para revelar Pedro Rocha, o caçula do grupo de entrevistados por Émerson Maranhão. Vindo de coletivo de mídia livre, o Nigéria, ele dirigiu o sólido Corpo Delito (2018), lançado em cinemas de muitas capitais brasileiras.

    Dois jovens realizadores – os criativos Armando Praça e Allan Deberton – só agora chegam ao longa-metragem. Como brilharam no formato curto, suas estreias de longa duração são muito aguardadas. Armando nos chega com Greta Garbo, com Marco Nanini no elenco, e Deberton prepara o enigmático Pacarrete.

    Émerson Maranhão, ao construir seu livro, partiu de rigoroso dispositivo: conversar, durante uma hora, com diretores cearenses que discorreriam sobre suas trajetórias profissionais, processos criativos, relações com o Cinema, influências e diálogos. A necessidade da presença física – documentada em som e imagem, de forma que, em futuro próximo, possa dar origem a um documentário e a uma série de TV – deixou de fora desta coletânea dois nomes de grande importância na história e no presente do cinema cearense: o experiente Rosemberg Cariry e o jovem Leonardo Mouramateus.

    Cariry é o mais longevo e atuante dos realizadores cearenses, diretor de documentários como O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto (1986) e Patativa do Assaré – Ave Poesia (2007) e de ficções como Corisco & Dadá (1996) e Os Pobres Diabos (2017). Um curso de doutorado em Portugal impediu sua participação. Mesmo caso de Mouramateus, radicado em Lisboa, onde segue sua inquieta trajetória e realizou seu primeiro longa (Antonio Um Dois Três, 2017).

    Como o cineasta e diretor de fotografia Petrus Cariry está no centro de uma das conversas deste livro, a família cinematográfica dos Cariry (que inclui, ainda, a produtora, atriz e realizadora Bárbara Cariry) está muito bem representada. Afinal, Petrus mostrou, desde sua estreia no longa-metragem com o potente O Grão, que é um criador sintonizado com seu tempo, sem voltar as costas aos que o antecederam. Feliz soma de tradição e renovação.

    Em tempos de intolerância, nada melhor que desfrutar de um livro pluralista e generoso como Cinema Falado. Boa leitura.

    Maria do Rosário Caetano. Jornalista e pesquisadora de cinema.(*)

    (*) Integra a equipe da Revista de Cinema. Em 1997, publicou o livro Cinema Latino-Americano - Entrevistas e Filmes. Participou da equipe de pesquisadores da Enciclopédia do Cinema Brasileiro (1997). Para a Coleção Aplauso, escreveu os livros João Batista de Andrade - Alguma Solidão e Muitas Histórias (2003), Fernando Meirelles-Biografia Prematura (2005) e Marlene França – Do Sertão da Bahia ao Clã Matarazzo (2010). Escreveu o livro-álbum Festival de Brasília 40 Anos (2007). Organizou os livros Cangaço, o Nordestino Cinema Brasileiro (2006), ABD Trinta Anos – Mais Que Uma Entidade, um Estado de Espírito (2007), DOCTV – Operação de Rede (2012) e Paulo Emilio Salles Gomes – O Homem Que Amava o Cinema e Nós Que o Amávamos Tanto (2012). É membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e participou de dois livros organizados pela entidade: 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016) e 100 Documentários Essenciais (2017).

    introdução

    Cinema Falado, o livro, nasce do encontro de dois desejos. O primeiro é descobrir o que move o fazer de alguns dos principais cineastas cearenses e em plena atividade neste século. Como o cinema chegou em suas vidas? Quais seus processos de criação? Quais as suas maiores referências estéticas? Com quais cinematografias seu trabalho estabelece diálogo? Eram, e são, muitas as perguntas. Todas na busca por traduzir autores e obras tão inquietos e relevantes na produção audiovisual nacional e internacional.

    O segundo desejo é quase uma consequência do primeiro. Ao começar a pensar em quais cineastas poderiam participar do projeto deu-se a constatação inevitável: o cinema realizado a partir do Ceará vive hoje um de seus momentos mais ricos. Arrisco até a dizer que este é seu ápice. Ao longo das duas décadas em que me dedico a acompanhar essa produção, ora como jornalista especializado ora como realizador audiovisual, nunca houve tamanha pluralidade de gerações no set, linguagens e propostas cinematográficas.

    Traçar um grande painel desta produção contemporânea, revelando seu caráter mulitifacetado, passou a ser a segunda intenção do livro, que o leitor agora tem em mãos. Para dar conta de tal tarefa, optei inicialmente por um recorte que abrangesse o maior número possível de matizes. A partir dessa premissa, estabeleci alguns critérios na escolha dos convidados. O primeiro deles é sua origem geográfica. Além de partilhar do mesmo ofício, todos os entrevistados são nascidos no Ceará, ainda que boa parte esteja espalhada pelo mundo.

    E este é um aspecto a ser ressaltado. Cinema Falado não se debruça sobre a realização audiovisual feita no Ceará e sim sobre esta produção que é realizada a partir do Ceará, como já havia apontado. O que explica algumas ausências entre os entrevistados. Mas também revela certo cosmopolitismo dessa obra em conjunto. Já o segundo critério foi a realização de pelo menos um longa-metragem no currículo do cineasta.

    A partir da junção destes três aspectos (geográfico, curricular e de representação de geração/escola) deu-se a escolha dos convidados. E este recorte, em momento nenhum, pretende ser indicativo de qualidade. Seria ingênuo acreditar que não ficaram de fora nomes importantes. Sim, mas também estou certo da expressão e relevância dos que entraram. Impossível seria ter todos, apesar de secretamente o desejar.

    As entrevistas ocorreram entre novembro de 2017 e março de 2018. Foram cinco meses de prazerosas conversas sobre cinema. E como todas as conversas, umas duraram mais que outras, alguns temas renderam mais aqui, outros ali. Em comum a todas, a vontade de revelar o cinema de cada um.

    Ao final, estou certo de que, nas próximas páginas, o caro leitor encontrará um belo panorama desta produção cinematográfica. Que passeia por muitos estilos, que é polifônica e polissêmica. Ou seja, por ser tantas é única.

    Eu não poderia deixar de agradecer à minha editora, Regina Ribeiro, pelo extremo cuidado com o projeto deste livro.

    E, por óbvio, aos cineastas participantes. Allan, Armando, Glauber, Guto, Halder, Karim, Luciana, Márcio, Pedro, Petrus, Roberta e Wolney, meu muitíssimo obrigado pela confiança em meu trabalho, pela disponibilidade e pela entrega nas entrevistas.

    A Demi, Fatinha, Guabs, Mari, Mourão, Quinder e Thowa, pilares de afeto e segurança, imprescindíveis para que este livro se concretizasse.

    E ao clã dos Maranhão. Seu Irineu, dona Avany, Iris e Niny, amores atávicos e atemporais, que nunca duvidaram que fosse possível, antes mesmo de eu suspeitar que seria.

    PERFIL

    Produtor, diretor e roteirista, formado em Cinema na Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Dirigiu os premiados Doce de Coco (2010), O Melhor Amigo (2013) e Os Olhos de Arthur (2016), que juntos participaram de mais de 100 festivais nacionais e internacionais e conquistaram 45 prêmios. Em 2015, produziu o primeiro musical da Broadway no Ceará, Avenida Q (Avenue Q). Desde 2013, produz o projeto Broadway Brasil, em parceria com a Broadway Dreams Foundation (EUA). Em 2015, produziu o longa documentário Do Outro Lado do Atlântico, de Márcio Câmara e Daniele Ellery, contemplado no SPCINE. Em 2017, produziu para a EBC a série de TV Lana & Carol, de Samuel Brasileiro e Natalia Maia; o longa Se Arrependimento Matasse, de Lília Moema; produziu e escreveu as letras do espetáculo A Hora da Estrela – O Musical, baseado na obra de Clarice Lispector. Atualmente, produz seu primeiro longa como diretor, Pacarrete, e desenvolve os longas O Melhor Amigo, Doce de Coco, Meire Love e a série de TV Salão 190.

    FILMOGRAFIA

    Curtas-metragens

    Doce de Coco (CE, 2010)

    O Melhor Amigo (2013)

    Os Olhos de Arthur (2016)

    Longas-metragens

    Do Outro Lado do Atlântico (como produtor executivo/2015)

    Se Arrependimento Matasse (como produtor executivo/2018)

    Pacarrete (em pré-produção)

    Como o cinema entrou na sua vida?

    Eu morava em Russas, no interior do Ceará. Lembro que, nos finais de semana, de vez em quando, a minha mãe me levava ao Cine 5 de Julho, que era um cinema do bairro, hoje é uma padaria. E lá eu tive o primeiro contato com a tela grande. Mas, paralelo a isso, era frequente, ao chegar da escola, depois do dever de casa, assistir à Sessão da Tarde, que eu acho que acabou sendo uma escola para mim. Os Goonies, ET... todos esses filmes que marcaram a minha geração, eu assistia vidrado na televisão! Eu brincava fazendo uma câmera com caixa de sapato. A minha brincadeira, em vez de jogar bola ou jogar bila, era sair por aí filmando. Na escola onde eu estudava, que era uma escola de freiras, tinha uma irmã que tinha uma câmera, uma Panasonic VHS. Na época, era uma câmera superpotente. Eu pedi para ela, para filmar as coisas da escola, dizendo que sabia mexer, mas eu não sabia. Aí, tive acesso à câmera e comecei a ser o videomaker oficial da escola. Nos trabalhos de Literatura, tinha que fazer apresentações, e eu sempre sugeria fazer filminhos, por exemplo, dos livros que a gente precisava ler. Eu acho que isso foi o meu começo com o cinema, porque eu gostava de estar envolvido com a imagem.

    Isso com qual idade?

    Uns 12, 13 anos.

    Mas a sua primeira formação foi em Ciências Contábeis, não é isso?

    Eu sempre quis fazer Cinema. Sabia que existia faculdade disso, mas não no Ceará. Quando fui chegando ao segundo ano do segundo grau, na época, entrei em contato com todas as faculdades daqui do Ceará, para saber da possibilidade de existir um curso de Cinema. Imediatamente disseram que não tinha perfil, nem iria existir esse curso. E aí eu parti para a possibilidade de ter que fazer fora. Mas isso era um sonho bastante distante. Antes disso, fiz Ciências Contábeis, porque eu me dava bem com Matemática e Física. Então, foi uma formação que eu tive, mas sempre com o sonho de fazer Cinema. E eu pensava muito além, pensava em fazer Cinema nos Estados Unidos (risos)... Aí, eu fiz vestibular para Economia, para tentar ganhar dinheiro e poder um dia fazer Cinema. Só que, no meio desse caminho todo, eu desisti, pois sabia que era um caminho que ia me levar para outro lugar, para outra profissão. Aí, assim que me formei em Contabilidade, eu tentei vestibular para Cinema e passei, para estudar na Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi quando eu tive o primeiro contato de fato com o cinema.

    Como é que você tomou essa decisão de ir para o Rio de Janeiro?

    Eu me vi infeliz. De fato, não estava gostando da ideia de levar o curso de Contábeis como carreira. Eu me vi frustrado. Sabia que, se deixasse para o futuro, eu nunca iria fazer. Então, tive essa ação de me inscrever (no vestibular). Minha família, a priori, foi contra, depois, obviamente, deu todo o suporte, porque achava que eu estava louco em sair do interior do Ceará para estudar Cinema numa cidade perigosa que é o Rio, pelo menos é como a gente conhece pela TV, e também ir morar sozinho. Nunca tinha saído de casa. Então, foi uma coisa que mexeu bastante comigo sair de casa para lutar pelos meus sonhos. E lá, no Rio, o que eu tentei foi aproveitar da melhor forma a faculdade. Tanto que eu passava o dia todo estudando. Fiz a maior quantidade de disciplinas que eu podia fazer. Fazia disciplinas de manhã, de tarde e de noite, e consegui me formar em três anos, quando a média do curso era cinco. Me formei em três anos com a carga horária muito maior que a obrigatória. A obrigatória acho que era 2.800 horas, e eu fiz 3.100. Depois de formado, eu tive a sorte de fazer um curta, o Doce de Coco, e colocar em prática muitas coisas que na faculdade a gente não consegue pôr por questões estruturais, como falta de equipamentos. Foi um filme que tornou possível um contato mais próximo com esses profissionais de renome do cinema. E foi um processo de finalização profissional, fiz em 35 milímetros, e isso permitiu que fosse uma escola para mim, no sentido de ter uma produção organizada e de fazer num formato que até então era um formato padrão de se fazer cinema, numa escola mais clássica.

    Apesar de morar no Rio de Janeiro, você volta para Russas, para fazer seu primeiro curta no interior...

    Na verdade, naquela época, Russas nunca saiu de mim. Qualquer oportunidade, eu estava de volta lá. Passava as minhas férias, que eram três meses no final e começo de ano, mais as férias do meio do ano, totalmente em Russas. Agora vou fazer o (longa) Pacarrete lá, mas já naquela época eu aproveitei minhas férias para fazer um documentário na cidade, que na verdade serviu como estudo. Em termos proporcionais, eu acho que, mesmo morando no Rio, eu tinha mais acesso a Russas do que eu tenho hoje, porque eu vou com muito menos frequência. E é lá, exatamente, onde eu quis que fossem as locações do meu primeiro filme.

    Um professor de Roteiro (da UFF), Tunico Amâncio, falou que era importante que nós voltássemos às nossas origens e que fôssemos reais com a nossa história, com o que realmente importava para a gente, porque ele estava cansado de ver filmes dentro do mesmo set, a maioria das cenas em quarto de hotel, com questões de relação. E aí ele sugeriu que a gente ousasse mais na profundidade do texto, da história, do que realmente faz a gente ir para um lugar além. A ideia do Doce de Coco foi isso. Foi sobre essa experiência bem recente de ter saído de casa, para estudar Cinema no Rio, longe da família e dos amigos. O filme é sobre isso, é sobre êxodo. Você sair de um lugar para tentar algo melhor. E para mim era importante fazer em Russas e, principalmente, com uma equipe local, uma equipe que, assim como eu, também estivesse começando. Era importante para mim ter essas duas coisas: estar em contato com quem já era profissional, que tinha larga experiência e pudesse me auxiliar, e também crescer junto com pessoas que são da cidade e estariam tendo a oportunidade de fazer o primeiro filme, como é o caso da Débora Ingrid, que era a protagonista e fez o papel da Diana.

    O que foi que mais te impressionou quando você começou a estudar Cinema?

    Me impressionou o fato de que não iria ser fácil. Quando eu fui para a UFF, eu tinha uma sensação de que o Rio era uma potência máxima de cinema, porque até então os filmes que a gente via de cinema brasileiro eram produzidos no Rio ou em São Paulo. Aí, quando eu fui estudar lá, sabia que eu ia ter possibilidade de ter o melhor acesso a essa formação, ainda mais que a UFF é uma escola de cinema bastante tradicional, junto com a USP e a UNB são as três escolas de cinema mais antigas do Brasil. O que me deixou em estado de alerta foi perceber que iria depender muito mais de mim, fazer com que eu trabalhasse com o cinema mesmo. Eu precisava ir além do que estava conhecendo, das pessoas com quem estava tendo contato na faculdade. Precisava exigir mais de mim, no sentido de buscar mais e de tentar mais, de ousar, enfim, de persistir. Foi essa a minha filosofia para conseguir fazer meu primeiro filme, e tentado fazer da minha melhor forma, porque sempre foi minha meta. Saber que ali era a oportunidade, de fato, de mostrar para as pessoas e para mim mesmo que tudo que eu fiz não foi em vão. Não foi em vão ter desistido da primeira faculdade, ter saído de casa, estar lutando contra isso tudo... Eu estou falando de 2006, 2007, quando o perfil de cinema era bem diferente de hoje. Não existia Fundo Setorial, a política para o audiovisual não era tão democrática como é hoje. Então, era uma estrada muito longa a se percorrer. E eu estava disposto, só que eu sabia que era difícil.

    Seus três curtas-metragens de ficção (Doce de Coco, O Melhor Amigo e Os Olhos de Arthur) têm como protagonistas pessoas que estão à margem. Assim como acontece também com o seu primeiro longa (Pacarrete, em pré-produção). Por quê? Esta opção em olhar para a margem é consciente? A que ela se deve?

    Eu acho que é tudo tão difícil... Eu acho que as pessoas que trabalham com arte, de uma forma geral, não só com cinema, todo dia precisam matar um leão para se mostrar capazes, para se mostrar potentes, para se manterem criativas e conseguirem fazer o que desejam. Quando se faz um filme, quando você tem a oportunidade de juntar equipe e recursos para fazer uma obra, para mim é importante que

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