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História & Turismo Cultural
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História & Turismo Cultural

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Sobre este e-book

"A possibilidade de integração interdisciplinar na produção do entendimento das culturas exige um esforço reflexivo para que não se produzam teorias e conceitos que reforcem a dicotomia entre vivência e legado histórico. O patrimônio é vivo e é necessário adiantar que é impossível colocá-lo na prateleira expositiva de nossa memória, como a colecionar lembranças curiosas, a despeito de esse procedimento ser mais fácil e usual. Material ou imaterial, as construções culturais são parte de um uníssono de experiências históricas, vivificadas de forma integrada, portanto, dinâmicas no tempo. Esse dinamismo é, ao mesmo tempo, diacrônico e sincrônico, e, assim, a construção de um modelo de interpretação do passado e a transformação desse modelo em atrativo turístico devem considerar e dignificar a vivência presente como parte de um todo cultural."
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de jun. de 2013
ISBN9788582172131
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    História & Turismo Cultural - José Newton Coelho Meneses

    HISTÓRIA & ... REFLEXÕES

    José Newton Coelho Meneses

    História & Turismo Cultural

    1ª edição

    Aos meus alunos que me levam a pensar questões de

    interface entre o percurso do historiador,

    a construção/preservação da memória

    histórica e a atividade turística e me encorajaram, sem

    o saber, a escrever essas reflexões.

    Agradecimentos

    Há pessoas a quem se está sempre agradecido, posto que fazem parte da nossa vivência cotidiana e nos estimulam a viver, a pensar e a nos inquietar com questões variadas e com objetos que passam pelo nosso caminho. Há outras tantas que, eventualmente, nos agridem salutarmente com propostas intelectuais ousadas e nos fazem crer em uma capacidade que duvidamos ter. Quero agradecer a ambos os grupos : aos amigos cotidianos que não devo enumerar por precaução justiceira e por serem um pouco menos responsáveis por este texto ; aos agressores de meus sentidos intelectuais com quem divido concordâncias e divergências – ambas, muitas vezes, em conflito –, além de pactuarem comigo, também, essa falta de paz motivadora de atos discursivos corajosos, como o texto que se apresenta neste livro.

    A esse séquito de culpados que se elencam na turma segunda quero manifestar honras e responsabilidades. Obrigaram-me a publicizar escritos de difícil fatura, posto que fundamentado em tema paralelo ao meu métier analítico de formação, embora, em grande porção, substrato central de reflexões freqüentes. Com artimanhas sugestivas e explícitas pressões, me convenceram a tornar públicas idéias que a língua solta insanamente oraliza. Não quero responsabilizá-los pelo conteúdo do que aqui se apresenta, mas, insisto, pelo incentivo à sua exposição.

    E quem são eles, os culpados ? Os primeiros da lista são meus alunos (os que eu entendo e também aqueles a quem não chego a compreender bem) que, na sala de aula e fora dela, me estimulam a exercitar a integração de métodos interdisciplinares e a tentar facilitar as coisas vendo similitudes em fazeres intelectuais distintos. Futuros professores e pesquisadores da história e planejadores e promotores de atrativos turísticos carregam culpas e dividem responsabilidades que nem sabem, a quem agradeço a divisão desse peso. Eduardo França Paiva, sabendo das minhas reflexões e até de alguns escritos, juntamente com a Carla Anastasia (culpada, também, por compromissos amplos que assumi com a interpretação histórica), me convidaram para este texto e, querendo ou não, devem ser agradecidos e, ao menos, penalizados pelo espaço que a escrita ocupa. Alguns interlocutores constantes, como James William Goodwin Júnior, Astréia Soares, Maria Eliza de Campos Souza, Márcia Mascarenhas, Marcelino Morais, Beth Mota, Sandra Souto, Marcelo Steffens, Regina Martins, Hilton Serejo, Andrei Isnardis, Maria Júlia Vale, Francisco Cosentino, tornaram as discussões ­acadêmicas em seqüentes momentos de papo prazeroso e amizade cúmplice. James, de forma freqüente, participou comigo de inúmeras viagens turismo-históricas, quando o debate com os alunos foi enriquecedor e comprometido com a idéia interdisciplinar. A todos eles sou agradecido e devoto carinho e respeitoso afeto.

    Amigos à parte – culpados os últimos, isentos de culpas os primeiros (que não ousei nomear) –, vamos ao trabalho/texto que aqui se expõe para reflexões provocativas e análises críticas !

    Introdução

    O texto que se apresenta a seguir é fruto do gosto pelo percurso da interpretação histórica e de uma coragem leiga. Por um lado, no entanto, não é um texto inescrupuloso e não tem, por outro, a pretensão de ditar procedimentos metodológicos que possam servir a estudiosos da História ou do Turismo. Esse tipo de reflexão costuma ter qualidades advindas de uma certa ingenuidade amadorística que, como no caso das apreciações infantis, podem representar insights a que pessoas mais envolvidas com os instrumentos e conceitos refletidos darão tratamento intelectual mais profundo. Penso regularmente sobre a interpretação histórica e a construção da memória identitária e, por pensar nisso, sou estimulado a refletir sobre o uso turístico dado às interpretações dos historiadores e ao legado histórico socialmente determinado e preservado pela memória coletiva, que se chama comumente de patrimônio cultural.

    O convívio com estudantes do curso de Turismo e as discussões sobre o objeto do Turismo dito histórico-cultural me levaram a ver uma proximidade metodológica entre o tratamento que as duas áreas de saber dão ao objeto histórico : ambas definem um evento no passado, buscam apreendê-lo, o interpretam e publicizam a interpretação. Esta última, para o historiador, é produto de reflexão intelectual que é o fundamento intrínseco do seu fazer intelectual. Para o turismólogo, ela é a base de um produto que deve ser comercializado amplamente, configurando um objetivo econômico explícito.

    Meu ofício é de historiador, e a crítica ao ofício que, antecipemos, é tipicamente interdisciplinar me estimula e me possibilita a observação dos usos da História ou das interpretações do passado, inclusive, e principalmente, as realizadas pela atividade planejadora do turismo. É nesse espaço de pensar a comercialização de uma interpretação do passado identitário de grupos sociais que se localizam o fundamento, a justificativa e o objeto desse texto. O seu substrato é a vivência de experiências próprias e de discussões que povoam a interlocução interdisciplinar provocada pela atividade docente em dois cursos que tratam da questão (História e Turismo). Este texto, dessa forma, elege como objeto central uma reflexão de caráter metodológico, elegendo instrumentos e estratégias de disciplinas distintas – História e Turismo – para pensá-los em ação integrada. Nessa abordagem específica, ele se distingue de tantos outros que têm abordado a questão da interpretação do patrimônio para a ação do turismo.

    Procurei eleger alguns pontos que considero importantes para a reflexão inicial de quem pensa a questão. Existem outros tantos. E são tão importantes quanto os aqui tratados. Apenas considero que a proposta apresentada a seguir opta por conceitos e instrumentos metodológicos que, no momento, me sensibilizam e me estimulam a pensar sobre o futuro. Dessa forma, opto por refletir fundamentalmente sobre a idéia de patrimônio, ou de legado histórico, e formas de interpretá-lo ; o papel dessa interpretação para a sociedade contemporânea ; a monumentalização e a musealização da vivência cotidiana frente à produção massiva de atrativos turísticos e, por fim, uma crítica às políticas de apreensão, interpretação, documentação, preservação e informação acerca do patrimônio histórico.

    O desenvolvimento do Turismo Cultural, a conscientização do patrimônio histórico-cultural como recurso de desenvolvimento social e a exigência de rigor metodológico na interpretação da construção cultural passada implicam em novas formas de ação na gestão desses valores, exigindo articulação interdisciplinar entre diferentes atores do processo de planejamento e gestão do setor. Historiadores e turismólogos, assim, comungam de espaços fronteiriços e de interdisciplinaridade no atendimento de uma demanda por consumo de serviços e produtos que configuram bens culturais a serem apreendidos, documentados, preservados e comunicados.

    O turismo passa por um momento histórico em que, a despeito de ser um dos poucos setores da economia com possibilidades ainda ampliadas de crescimento, se vê em uma encruzilhada definidora de rumos bem distintos : ou se apresenta como uma proposta econômica de inclusão social e, assim, contribui para novas perspectivas de valorização da vida, do consumo de produtos culturais e de distribuição de renda, ou, por outro lado, alia-se a uma economia que exclui parcelas imensas da população da participação na produção e, dessa forma, opta por uma proposta de consumo de massa que pouco se preocupa com a sustentabilidade da produção econômica. É triste observarmos cidades onde o chamado Turismo Histórico exclui a comunidade, que preservou e guardou o bem histórico, do usufruto de sua apreensão e das perspectivas de melhoria da qualidade de vida a partir da comercialização sustentável desse bem patrimonial. É possível e estimulante pensar em um planejamento diferente, em uma percepção mais acurada, onde o bem histórico-cultural possa ter tratamento de construção histórica dinâmica e em andamento e possa propiciar inclusão identitária e social de quem participa ativamente dessa dinâmica. A experiência turística tem demonstrado que a participação comunitária sustenta não apenas o atrativo, mas também a própria estrutura receptiva do turista.

    O turista, ao viajar e fugir de seu cotidiano, quando opta por conhecer uma determinada cultura e entender uma certa identidade cultural, está, de antemão, sensível a atribuir sentidos, entender simbologias, apreender significados, desde que sinta aderência ao produto da interpretação do planejamento turístico e da história a uma vivência real e em construção. Caso contrário, não haverá nenhuma problematização estimuladora de sua curiosidade e inteligência e nenhuma vontade de ficar ou de voltar. Casos há em que a massificação de um produto cultural (e aqui penso em várias realidades de cidades coloniais brasileiras) acarreta uma expulsão física da população de centros urbanos antigos para a periferia, com a venda de suas moradias para proprietários de lojas e restaurantes vindos de fora, e que, assim, afastados das possibilidades econômicas do turismo local, vão ser parte da favelização do espaço e da massa de excluídos no usufruto de um bem comunitário que construíram e tiveram sob sua guarda patrimonial. Esse procedimento, ainda, tem sido responsável por uma degradação ambiental que desvaloriza o bem patrimonial, da qual a mídia está repleta de denúncias.

    A disciplina histórica, também, excluiu e pode ­continuar excluindo parcelas sociais. Houve tempo em que apenas heróis e figuras do Estado foram seres históricos dignos de percepção pelos intérpretes da construção histórica. A memória construída por esses historiadores a serviço ou não de estados e de governos ou de suas próprias ideologias políticas, religiosas ou morais, elegeu pontos do passado a iluminar e outros

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