Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente
Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente
Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente
E-book267 páginas3 horas

Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente

Nota: 5 de 5 estrelas

5/5

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Em virtude do constante crescimento do turismo em todo o mundo, já não é possível conhecer projetos sem um planejamento baseado nas premissas de sustentabilidade do meio natural, sociocultural e econômico.
Nessa obra, autora analisa o "novo turismo", surgido da necessidade dos moradores das grandes cidades de reencontro com a natureza, e discute as bases para uma convivência harmoniosa entre o desenvolvimento do turismo e a sustentabilidade dos recursos. Descreve o ciclo de vida de um produto turístico, o perfil psicográfico dos turistas e apresenta fórmulas para a determinação da capacidade de carga (carrying capacity), além de analisar o papel de cada um dos agentes operacionais e fomentadores da atividade.
Ao final de obra, encontra-se um roteiro metodológico para o diagnóstico da oferta diferencial, da oferta técnica e do perfil da demanda, bem como uma previsão da evolução da atividade turística no Brasil.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento22 de jun. de 2016
ISBN9788544901892
Turismo e planejamento sustentável: A proteção do meio ambiente

Relacionado a Turismo e planejamento sustentável

Ebooks relacionados

Turismo para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Turismo e planejamento sustentável

Nota: 5 de 5 estrelas
5/5

1 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Turismo e planejamento sustentável - Doris Ruschmann

    envolvidas.

    1

    O TURISMO NA ATUALIDADE

    A palavra turismo surgiu no século XIX, porém, a atividade estende suas raízes pela história. Certas formas de turismo existem desde as mais antigas civilizações, mas foi a partir do século XX, e mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial, que ele evoluiu, como consequência dos aspectos relacionados à produtividade empresarial, ao poder de compra das pessoas e ao bem-estar resultante da restauração da paz no mundo (Fourastié 1979).

    Até recentemente, a participação no turismo estava restrita a uma elite que dispunha de tempo e de dinheiro para realizar suas viagens. Atualmente, a maioria das pessoas dos países desenvolvidos, e um número significativo daquelas dos países em desenvolvimento, têm realizado viagens turísticas uma ou várias vezes ao ano. Assim, o turismo já não é uma prerrogativa de alguns cidadãos privilegiados; sua existência é aceita e constitui parte integrante do estilo de vida para um número crescente de pessoas em todo o mundo.

    O turismo da atualidade apresenta-se sob as mais variadas formas. Uma viagem pode estender-se de alguns quilômetros até milhares deles, incluindo um ou vários tipos de transporte e estadas de alguns dias, semanas ou meses nos mais diversos tipos de alojamento, em uma ou mais localidades. A experiência da viagem envolve a recreação ativa ou passiva, conferências e reuniões, passeios ou negócios, nas quais o turista utiliza uma variedade de equipamentos e serviços criados para seu uso e para a satisfação de suas necessidades.

    As regiões costeiras, os campos, as montanhas, os lagos e rios, juntamente com o clima, constituem recursos naturais para a realização da experiência turística e existem independentemente da presença de visitantes, mas poderão ter a sua disponibilidade e as suas características afetadas por eles (Bukart e Medlik 1986, p. 232).

    As condições de vida têm se deteriorado nos grandes conglomerados urbanos e conduzem ao fato de que uma parcela crescente da população busca, durante as férias, os fins de semana e os feriados, as regiões com belezas naturais – longe das cidades. Além disso, outros fatores contribuíram para o crescimento dos fluxos turísticos (Sauer 1975, p. 364):

    • O aumento do tempo livre como consequência da racionalização e do aumento da produtividade nas empresas. A jornada de trabalho – diária, semanal e anual – diminuiu, aumentando o tempo livre para atividades de lazer e turismo;

    • A evolução técnica, que conduziu a um aumento na produtividade e à redução dos custos da produção. A produção em massa de veículos aumentou o grau de movimentação das pessoas, que se utilizam cada vez mais dos automóveis para viajar em férias;

    • O aumento na renda de amplas camadas da população contribuiu para que parcelas crescentes dos rendimentos fossem direcionadas para os gastos com viagens de turismo;

    • O desenvolvimento de empresas prestadoras de serviços que organizam e comercializam viagens de férias;

    • A liberação das formalidades aduaneiras, a eliminação de vistos, a unificação de documentos de viagem etc. estimularam as viagens internacionais;

    • O aumento da urbanização como consequência da industrialização; e

    • A falta do verde e os impactos psicológicos da vida urbana, que incentivam as viagens de férias e de fim de semana.

    O crescimento da demanda e, consequentemente, da oferta turística, e as facilidades para as viagens tornaram o mundo inteiro acessível aos viajantes ávidos por novas e emocionantes experiências em regiões com recursos naturais e culturais consideráveis.

    Os anos de 1950 a 1970 caracterizaram-se pela massificação da atividade; quando os voos charters e os pacotes turísticos conduziram milhares de pessoas às partes mais remotas do planeta, além de conduzi-las a localidades nos próprios países emissores (turismo interno). Nos anos 1980, a prosperidade econômica dos países desenvolvidos fez com que a grande maioria da sua população usufruísse de férias pelo menos duas vezes por ano e as mais diversas categorias profissionais tiveram acesso às viagens turísticas empreendidas em grupo ou isoladamente. A. Poon (1989, p. 91) considera esses movimentos como turismo velho e define novo turismo como aquele do futuro, caracterizado pela flexibilidade das atividades, pela segmentação dos mercados e por experiências turísticas mais autênticas.

    O ambiente mundial sinaliza novos enfoques sociais, culturais, tecnológicos, ecológicos, econômicos e institucionais para a atividade, que surgem como consequência dos seguintes fatores influenciadores:

    • Difusão de sistemas de informatização;

    • Desregulamentação das tarifas aéreas;

    • Financiamento das viagens turísticas;

    • Impactos negativos do turismo nas comunidades receptoras;

    • Câmbio dos movimentos turísticos voltados exclusivamente para usufruir do sol;

    • Pressões ambientais;

    • Competição tecnológica;

    • Mudanças nas preferências dos turistas;

    • Alteração na distribuição do tempo livre, nos padrões laborais e nos rendimentos das pessoas.

    A competitividade e rentabilidade das empresas turísticas estarão baseadas na economia de escala, nos sistemas de lucro, na segmentação dos mercados e na fidelidade dos clientes. Além disso, o turismo impessoal e de massa deverá ceder lugar ao high-tech, high touch preconizado por Naisbit (1984, p. 64).

    Nos países desenvolvidos, as viagens turísticas já consolidaram seu valor socioeconômico, que, com o passar dos anos, já se caracteriza como um direito ao lazer. Entretanto, esse direito passa a ser questionado diante dos efeitos negativos ao meio ambiente, provocados pelo afluxo massivo de turistas nas localidades receptoras.

    Os impactos sobre a cultura e sobre as paisagens dos locais frequentados pelos visitantes passaram a ser estudados em nível científico (Krippendorf 1975) e têm sensibilizado a opinião pública quanto à necessidade de consideração dos aspectos ambientais nas viagens turísticas. Essa sensibilização levou à criação de normas que passaram a restringir o direito dos turistas ao consumo desmesurado dos valores culturais e dos recursos naturais das localidades visitadas, impondo-lhes até algumas obrigações em suas viagens de férias.

    Apesar de ser considerada uma intromissão na liberdade individual (Keller 1992, p. 57), postulou-se na Suíça uma diretriz governamental que obriga o Estado a garantir as possibilidades de recuperação das paisagens naturais e sua proteção contra as agressões dos turistas.

    Atualmente, a qualidade de uma destinação turística vem sendo avaliada com base na originalidade de suas atrações ambientais e no bem-estar que elas proporcionam aos visitantes. O marketing ambiental passa, assim, a constituir uma importante arma para os responsáveis pela oferta turística das localidades receptoras.

    A questão fundamental que se coloca nesse caso é a premente necessidade de controlar o crescimento quantitativo dos fluxos turísticos em todo o mundo, uma vez que os ecossistemas sensíveis ficam irremediavelmente comprometidos quando se ultrapassam os limites de sua capacidade de carga (carrying capacity).

    O turismo sustentável incrementará os custos de seu desenvolvimento, que se reverterão no aumento do preço das viagens para os turistas. A determinação da capacidade de carga dos espaços turísticos limitará o acesso de pessoas em determinadas áreas, o que gerará uma demanda maior que a oferta que, consequentemente, aumentará os preços para os visitantes. Por isso, o turista de massa não terá acesso a esses espaços e o turista de elite voltará a predominar nesse contexto.

    Assim, a sobrevivência das empresas nesse mercado em transformação e em contínua mudança depende, essencialmente, da capacidade de inovação de cada uma delas – não apenas no setor de marketing ou nos conceitos de viagem, mas também no planejamento, do qual dependem a organização, a elaboração do produto, a criação de pacotes e a administração da atividade.

    A nova tendência do desejo dos turistas pelo small is beautiful opõe-se radicalmente às viagens massificadas, impessoais e realizadas nos gigantes de concreto, dos quais os equipamentos da costa francesa de Languedoc/Roussilon e Cancún, no México, constituem os exemplos mais marcantes.

    O turismo brando, ecológico, naturalista, personalizado e realizado em grupos pequenos de pessoas tende a caracterizar os fluxos turísticos do futuro. As atividades seletivas realizadas em equipamentos qualitativamente estruturados, tanto nos serviços prestados como em sua arquitetura e em seu tamanho, constituem o potencial dos movimentos turísticos para o próximo milênio.

    A importância da qualidade de vida para os indivíduos

    Na prática, a atividade turística restringe-se a uma camada economicamente favorecida e que constitui uma minoria nesses países (inclusive no Brasil). Porém as práticas recreativas mais baratas podem ser realizadas próximo às residências, desde que o Estado proporcione os espaços e os equipamentos necessários. Por isso, os governos devem preocupar-se em proporcionar à população que não tem acesso às viagens turísticas, os equipamentos e espaços recreativos adequados para produzir satisfação individual, em família e na sua comunidade.

    Em relação ao turismo, que exige a posse de recursos financeiros para a viagem, o alojamento, a alimentação e para atividades de entretenimento, ele deve ser incorporado às conquistas sociais fundamentais, que nesse caso se relacionam com o turismo popular social, praticamente inexistente nos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Além disso, a qualidade de vida dos cidadãos deve alcançar níveis desejáveis em todos os campos: físico, biológico, cultural, social e psíquico.

    Historicamente, a preocupação com a proteção do meio ambiente teve início nos contextos urbanos, em que um planejamento equivocado do desenvolvimento colocou em risco e em muitos lugares até aniquilou a qualidade de vida de certos povos.

    Atualmente, o Japão utiliza como indicador de qualidade de vida dos seus habitantes o NNW – Net National Welfare (Bem-Estar Nacional Líquido) (Ruza et al. 1984), desvinculando-o do PIB – Produto Interno Bruto, em cujo cálculo são deduzidos os custos de conservação do meio ambiente e os prejuízos relativos ao desenvolvimento, como, por exemplo, o tempo de transporte até o trabalho, calculado sobre o tempo limite de 30 minutos. Na cidade de São Paulo, estima-se que um trabalhador gaste de 2 a 4 horas no transporte entre sua casa e o trabalho, todos os dias, tempo esse que não pode ser considerado de lazer, apesar de o indivíduo estar numa situação de não trabalho.

    Ainda quanto à qualidade de vida nos países do Terceiro Mundo, o Banco Mundial está discutindo a adoção daquilo que os economistas chamam de PIB verde (Rosique e Barbieri 1992, p. 29). Esse índice mede a riqueza de uma nação considerando o seu capital ecológico e também a forma como ele é utilizado. Contabiliza florestas, rios e oceanos com sua fauna e flora, e até mesmo a atmosfera, para avaliar a qualidade de vida das populações, que dependem desses fatores para viver, sobreviver, recrear e viajar em férias.

    Turismo e meio ambiente

    Características

    Como meio ambiente entende-se a biosfera, isto é, as rochas, a água e o ar que envolvem a Terra, juntamente com os ecossistemas que eles mantêm (Holder 1991, p. 279). Esses ecossistemas são constituídos de comunidades de indivíduos de diferentes populações (bióticos), que vivem numa área juntamente com seu meio não vivente (abiótico) e se caracterizam por suas inter-relações, sejam elas simples ou mais complexas. Essa definição inclui também os recursos construídos pelo homem, tais como casas, cidades, monumentos históricos, sítios arqueológicos, e os padrões comportamentais das populações – folclore, vestuário, comidas e o modo de vida em geral –, que as diferenciam de outras comunidades.

    A inter-relação entre o turismo e o meio ambiente é incontestável, uma vez que este último constitui a matéria-prima da atividade. A deterioração das condições de vida nos grandes conglomerados urbanos faz com que um número cada vez maior de pessoas procure, nas férias e nos fins de semana, as regiões com belezas naturais. O contato com a natureza constitui, atualmente, uma das maiores motivações das viagens de lazer e as consequências do fluxo em massa de turistas para esses locais – extremamente sensíveis, tais como as praias e as montanhas – devem necessariamente ser avaliadas e seus efeitos negativos, evitados, antes que esse valioso patrimônio da humanidade se degrade irremediavelmente.

    A deterioração dos ambientes urbanos pela poluição sonora, visual e atmosférica, a violência, os congestionamentos e as doenças provocadas pelo desgaste psicofísico das pessoas são as principais causas da fuga das cidades e da busca do verde nas viagens de férias e de fim de semana. Nessas ocasiões, o homem urbano, agredido em seu próprio meio, passa a agredir os ambientes alheios. Trata-se de um círculo vicioso que é preciso romper por meio de planejamento dos centros urbanos e de medidas enérgicas que visem à conscientização para a preservação dos meios naturais, promovendo a sua conservação e perenização.

    Fases do relacionamento do turismo com o meio ambiente

    O turismo e o meio ambiente não têm se caracterizado por um relacionamento harmonioso. Porém, atualmente, surgem indícios que sua interação seja crescente e profícua para ambos. Vários estudos desenvolvidos na França (Ministère de L’Environnement/Tourisme 1992, p. 16) apresentam quatro fases no relacionamento do turismo e do meio ambiente.

    A primeira fase, pioneira, ocorreu no século XVIII, e se caracterizou pela descoberta da natureza e das comunidades receptoras. Os primeiros turistas tinham muita curiosidade sobre os meios que visitavam e a leitura que faziam dessas áreas era bem diferente daquela dos visitantes atuais. Apesar de essas viagens contribuírem para o surgimento dos grandes centros de férias no Mar Mediterrâneo, os centros de interesse preponderantes correspondiam aos aspectos únicos das regiões que descobriam: eram os portos de pesca, o céu estrelado e o mar. Muitas vezes, ignoravam a costa e iam para o interior, apresentando uma sensibilidade diferente daquela da maioria dos turistas da atualidade. Suas motivações eram: a busca dos ambientes onde a industrialização ainda não havia chegado ou de centros turísticos desenvolvidos à beira-mar para bronzearem-se e banharem-se. Como ponto em comum apresentavam certa postura de sociedade em férias, cujos ritos se alteram com o tempo, sempre constituindo, porém, um espetáculo. Trata-se da fase do relacionamento e dos primeiros equipamentos turísticos.

    A segunda fase, caracterizada por um turismo dirigido e elitista, ocorreu no final do século XIX e início do século XX. Não havia a preocupação com a proteção ambiental e a intensificação da demanda estimulou as construções e o boom imobiliário que atualmente caracterizam os centros turísticos mais antigos da Europa. Nessa época, chamada de Belle Époque, não se hesitava em lançar ao mar cassinos flutuantes ou em construir audaciosas estradas de ferro nas montanhas, ao lado das quais as atuais e modernas rodovias são realizações sem brilho. Trata-se da fase na qual a natureza é domesticada, porém, não necessariamente esquecida, pois as empresas turísticas limitavam seus produtos às estações e ao seu entorno, onde a natureza e as civilizações tradicionais tinham seus direitos garantidos.

    A terceira fase, que corresponde ao turismo de massa, ocorre a partir dos anos 50 e tem seu apogeu no transcorrer dos anos 70 e 80. A demanda turística dos países desenvolvidos cresce em ritmo muito rápido e as localidades turísticas vivem uma expansão sem precedentes. Preenchem-se os vazios que ainda existem nas zonas litorâneas mais acessíveis, saturando-os. As urbanizações nos vales das montanhas da Europa se multiplicam para atender à demanda de esportes de inverno. Esse período é o mais devastador e se caracteriza pelo domínio brutal do turismo sobre a natureza e as comunidades receptoras. Trata-se de uma fase de excessos, acentuada pela qualidade medíocre da arquitetura nas localidades turísticas. Predominam o concreto, o crescimento desordenado, a arquitetura urbana, a falta de controle de efluentes e esgotos, a criação de marinas, de portos artificiais e de estações de esportes de inverno, onde várias construções ruíram por causa da falta de estudos geológicos. Em resumo, um período catastrófico para a proteção do meio ambiente.

    Atualmente, em muitos países entrou-se numa fase na qual o turismo passa a considerar os problemas do meio ambiente. A partir dos anos 70, a qualidade do meio ambiente começa a constituir elemento de destaque do produto turístico: a natureza e as comunidades receptoras ressurgem no setor dos empreendimentos turísticos, ainda massificadas, porém adaptadas à sensibilidade da época.

    Depois da metade dos anos 80, distingue-se um outro período, no qual as práticas turísticas e de lazer da fase precedente perde a sua amplitude. O turismo de natureza ou o turismo ecológico ocorre na maioria das localidades turísticas estabelecidas

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1