Como Começa um Museu? Práticas Educativas e Reflexos da Interação entre Museu e Público
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Como Começa um Museu? Práticas Educativas e Reflexos da Interação entre Museu e Público - Camila Oliveira
Como começa um museu?
Práticas educativas e reflexos da interação
entre museu e público
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2022 da autora
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Camila Oliveira
Como começa um museu?
Práticas educativas e reflexos da interação
entre museu e público
Aos educadores, artistas e toda gente que percebe
a potência dos encontros e experiências com o mundo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Lígia Dabul, pela sabedoria e pelos questionamentos tão atenciosos e pertinentes. Obrigada pela permanência e conhecimento compartilhado.
A toda equipe do Museu do Amanhã, especialmente aos educadores e aos que acreditam na força transformadora da educação. Obrigada por tudo que aprendemos juntos.
Aos queridos Laura Taves, Hérica Lima, Catiússia Silva, Luiz Alberto, Eduarda Mafra, Kelly Vilela, Darlan dos Santos e Maria Helena, que sempre foram grandes parceiros. Muita admiração por vocês.
A todes educadores e diversos públicos com quem estive junto durante os últimos dez anos, agradeço pelas experimentações e pela confiança nas proposições. Este livro só é possível porque vocês também acreditam na potência dos encontros.
Ao Luiz Guilherme Vergara e à Bárbara Copque, por compartilharem sabedoria, experiência e leveza. Grandes referências que levo pela vida.
Aos meus pais, Kátia e Uilton, Carol, minha irmã, Iolanda, minha avó, e ao Igor, irmão que ganhei, que continuam me ensinando sobre o amor.
À Yoko, minha grande amiga sempre presente, obrigada! A você, minha admiração e gratidão. Não esqueço de seguir com um pé no chão e outro no ar.
À Camila, obrigada pelas alegrias, parceria e abraços, e por, pacientemente, ter me acompanhado durante esta escrita.
A todos os meus queridos amigos, obrigada. Esta escrita também tem vocês.
A educação pode ser escrita de campos nômades de sentido que permitem manter o espaço de vida e de liberdade. Erguendo-se, então, como raiz ontológica da criação e da esperança.
(Eugénia Vilela)
PREFÁCIO
Como começa um museu?
A pergunta que dá título a este livro é o eixo central da pesquisa nele apresentada. COMO
, advérbio que indica circunstância com valor de conexão. Conexões, relações; eis aqui valores essenciais da escrita apresentada por Camila Oliveira. A resposta à pergunta que inaugura este trabalho está por certo nas páginas que se seguem. É relevante, porém, já neste prefácio fazer algumas considerações sobre a proposta do livro.
O que os leitores e leitoras encontrarão nesta obra é um texto fruto da dissertação de mestrado da autora e de sua própria relação com os museus, museus estes que também a formam e constituem o que ela é hoje, bem como o trabalho que realiza, provocando-nos análises localizadas a partir das propostas e intervenções que implementa. É a partir das relações entre público visitante e o espaço museal, que o museu começa a existir, afirma a autora.
A pesquisa que vocês conhecerão foi realizada no Museu do Amanhã, localizado no Centro do Rio de Janeiro, instituição onde Camila Oliveira coordena, desde 2018, as ações de educação ali realizadas. É sobre o conjunto de práticas sociais, colaborativas e educativas e sobre como essas proposições são intensificadas e transformadas pela relação com os públicos do museu que este texto faz e é feito.
O objetivo é analisar as relações estabelecidas entre os educadores do Museu do Amanhã e os públicos visitantes no período entre 2018 e 2019, e como essas relações afetam ou produzem ações, visitas e projetos oferecidos pelo programa de Educação do Museu do Amanhã, reconhecendo, sempre que possível, os atores sociais envolvidos nesses processos.
[...]
Se em determinados contextos os Museus podem contar histórias, e a dialógica ou diabólica
(BONDÍA, 2001, p. 281) proposta no ato de perguntar é um convite à participação, mas também à ruptura, à fricção, à suspensão, ao reconhecimento de diferenças, ao pensamento, à experiência, esta pesquisa se debruça sobre determinadas relações museais que estão sujeitas a uma babélica da transmissão
(BONDÍA, 2001, p. 282) a partir das narrativas criadas entre a proposta educativa museal e a interação com o público. (OLIVEIRA, 2022, p. 13, p. 20).
Apesar de a pesquisa que deu origem a este livro ter sido desenvolvida em um museu de ciências aplicadas, é importante prepará-los para o encontro também com a arte que este texto produz. Nesse sentido, arte e ciência encontram-se e produzem potentes reverberações estéticas. A arte neste trabalho é pensada mais com um modo de existência do que como um produto, do que a produção de objetos.
É como uma atitude do que está à nossa volta, como um modo de devolver aquilo que nos cerca e nos toca, sendo reconhecida como um processo de experimentação social, um percurso cartográfico, aprendendo no caminho como operar a complexidade desses cruzamentos de linguagem entre arte, ciência, educação e espaço museal, tornando-se um campo expandido para além da convenção.
Aliás, parece-me importante informar que este não é um trabalho convencional. Este é um trabalho que celebra as diferenças, que busca o desequilíbrio e que aceita ser desestabilizado. Este é um trabalho que cultiva os encontros, porque reconhece que há neles potência.
Nesse sentido se torna ainda mais fundamental a discussão sobre a mediação aqui apresentada. A mediação é uma prática constitutiva desse campo: mediar é estar entre muitos, é poder estar entre muitas histórias. Mediar é também uma artesania, é fazer laços, tecer alianças entre o espaço do museu e o público que por ele circula.
É com Miriam Celeste e Rita Demarchi que a autora se alia para fortalecer sua posição — mediar é estar entre muitos: nos coloca na condição e na posição de quem também há de viver uma experiência e a potencializa, despertando corpos, caminhando juntos, levando e sendo levado
(MARTINS; DEMARCHI, 2016, p. 6). É na mediação que o processo educativo se dá.
A necessidade dessa discussão parte, portanto, da potência do museu enquanto espaço para produção de sentido dos públicos, dos educadores e da própria instituição a partir dos conteúdos apresentados, e da relação intrínseca entre o Museu e a sociedade.
Há aqui muitas perguntas a serem respondidas: quem é o público do museu? Quem e como propõem as mediações e as práticas educativas para interação com esses visitantes? Quais públicos não são vistos nos espaços do museu? O que não é percebido ou oferecido de imediato nesse espaço que faz com que determinados públicos apareçam e outros não? E quando imprevisibilidades mudam o percurso e a percepção preestabelecida sobre o que o museu é?
Deixo aqui tais perguntas abertas para que vocês, leitores e leitoras desse livro, percorram as páginas que se seguem. Nesta obra vocês serão recebidos por dentro do museu e das questões cotidianas que o fazem existir. Com toda a experiência que Camila tem, ela os levará com gosto e boas perguntas para esse lindo encontro entre vocês. Podem entrar!
Camila Alves
Mestra em Psicologia
Universidade Federal Fluminense (UFF)
Sumário
ABERTURA
CAPÍTULO 1
DA CHEGANÇA: ENTRE INFORMAÇÃO E EXPERIÊNCIA
1.1 Não precisa agendar
: o público presente
1.2 O que significa isso aqui?
: para começo de conversa, informar ou provocar? A mediação improvisada
1.3 Quem chega e quem recebe: o público recebido e a equipe de educadores
CAPÍTULO 2
O PÚBLICO CHAMADO: PROCESSOS DE INCLUSÃO E A MUDANÇA DE INTERAÇÃO COM OS ESPAÇOS DO MUSEU
2.1. O canto do museu: pessoas em situação de rua e o coral Uma Só Voz
2.2. Entre museus há uma cidade
: o projeto Entre Museus com as escolas da região portuária
2.3 Geografias do acesso
: de pequenas intervenções até uma política de deslocamento
CAPÍTULO 3
SUA VISITA ESTÁ CONFIRMADA
: PÚBLICOS AGENDADOS
3.1. Seu grupo chegou
: palpitação e conflito de interesses
3.2. Visita à deriva: uma ruptura do automatismo das expectativas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABERTURA
Para introduzir esta leitura, são necessárias algumas pontuações sobre possíveis formas de relação que a arte estabelece com outras áreas do conhecimento — especificamente com a educação museal, a sociologia, a museologia e a ciência —, compreendendo-a como um modo de existência, como uma atitude diante daquilo que nos cerca. De modo mais preciso, ao longo desse percurso serão apresentados processos a partir da observação de um conjunto de práticas sociais e educativas propostas pelas pessoas integrantes do núcleo de educação do Museu do Amanhã, localizado na Praça Mauá, no Centro do Rio de Janeiro.
O Museu do Amanhã apresenta-se como um Museu de Ciências diferente, orientado pelos valores éticos da Sustentabilidade e da Convivência
e pelo pensamento base de que habitamos um planeta que está sendo profundamente modificado por nossas ações. Um dos questionamentos-chave dessa aposta curatorial é: que amanhãs serão gerados a partir de nossas próprias escolhas?
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Toda a narrativa