Hex in the City - Episódio 1: O estripador de São Francisco: Hex in the City
De Dorian Lake
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Sobre este e-book
Um assassino em série atua em São Francisco. Nada o detém: nem a lei, nem os remorsos. Infelizmente para ele, Taylor, uma feiticeira com passado incerto e caráter fogoso, decide intervir…
Na interceção de géneros, entre a fantasia urbana, com vampiros, monstros e bruxas, e o suspense, descubra uma história sem tempos mortos, ao estilo das melhores séries televisivas americanas.
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Hex in the City - Episódio 1 - Dorian Lake
Dorian Lake
Hex in the City
Episódio 1: O estripador de São Francisco
Para Mélanie,
Capítulo 1
––––––––
Taylor, vinte e dois anos, exibe uns longos cabelos loiros, ligeiramente encaracolados, que descem até às omoplatas. Maquilhagem preta nos olhos, batom black cherry, vestido preto com um pouco de renda: ela ostenta um estilo definitivamente rock, sem dúvida uma reminiscência dos seus anos de faculdade, quando subia aos palcos estudantis com a sua banda de garagem. Nova Iorque, a cidade que a viu crescer e florescer, tinha um lado bom, apesar dos problemas e de uma partida claramente precipitada. Mas esses tempos terminaram: agora, ela vive em São Francisco, para o bem e para o mal.
O bar está animado esta noite. No palco, um grupo toca versões de grandes clássicos com mais ou menos sucesso, o que, no entanto, é suficiente para motivar alguns jovens, que se abanam na pista de dança.
Dois miúdos pedem cocktails a Taylor, mas desaparecem assim que ela lhes pede a identificação. Quando um bar se chama Witch Hour, as probabilidades de atrair clientes menores de idade estão longe de serem negligenciáveis. O sítio tem um nome adequado: um tema violeta domina, quer nas paredes, quer nos assentos numa imitação de veludo, quer ainda nas pesadas cortinas que separam a sala principal da pequena. Vários quadros e posters representam feiticeiras New Age com pele cor de porcelana e corpos encantadores, bem longe das bruxas dos contos infantis. Perto do bar, umas molduras exibem a lista dos principais ingredientes utilizados na feitiçaria, bem como os seus efeitos e utilizações frequentes. Destaque especial para a mandrágora, que atrai tanto os fãs de Harry Potter como os amantes de esoterismo.
Taylor não integrou a equipa do bar graças aos seus poderes, que mantém bem escondidos. O termo bruxa
parece-lhe por vezes exagerado, uma vez que ela não é adepta de nenhum culto de veneração à Deusa-mãe ou ao diabo. Ela ignora, aliás, se se trata realmente de magia e se isso existe mesmo, ou se simplesmente desenvolveu novos sentidos. Encontra-se muita informação online, mas as mesmas têm uma certa tendência para serem contraditórias, por isso, ela ignora se está sozinha ou se é apenas uma no meio de muitos outros. Ela apenas sabe que consegue sair do seu próprio corpo e que isso lhe pode sair bem caro. O suficiente para a obrigar a deixar Nova Iorque. Afinal, a palavra bruxa
até pode ser pertinente.
Também poderia ter trabalhado no Hard Rock Café, ainda que o destino tivesse ditado que encontrasse uma vaga ali, enquanto barmaid. Se a sua empregadora soubesse até que ponto o nome do seu estabelecimento ganhou em pertinência...
Entre duas músicas, Andrea chega, fazendo-a abandonar os seus pensamentos sombrios. A latina, mesmo não sendo nada parecida com ela, é efetivamente prima de Taylor. Com efeito, o pai dela e a mãe de Andrea são da mesma fratria, ainda que tudo os oponha.
Ela não está a usar o uniforme, esta noite, prova de que não está de serviço. À civil, é difícil imaginar que ela faz parte das forças de segurança. Ela não possui aquela aura que alguns polícias têm, o que não é nada pior, afinal de contas.
Ela instala-se ao bar, no seu lugar habitual.
— É impressão minha – diz Taylor – ou andas a beber mais desde que trabalho aqui?
— Tu recusarias copos à borla?
— Estou a ver. Não vens aqui porque a tua charmosa e adorável prima trabalha cá e prepara os melhores cocktails da baía, mas unicamente porque tos ofereço.
— Charmosa e adorável prima que vive em minha casa há dois meses sem ter de pagar nada. Aliás, da próxima vez que acabares a manteiga de amendoim, é favor comprares mais.
— Estás a gozar comigo? Deve ter sido o teu namorado do momento. Aquele que faz barulho quando...
— Eh eh eh... Quem estiver mal que se mude! É a regra da casa. Da minha casa.
Taylor prepara-lhe um Voodoo Spell: rum, licor de alperce, lima, xarope de cana e cabelo de recém-nascido. É assim que está descrito na carta, em todo o caso.
— E é algo sério, vocês os dois? – pergunta Taylor.
— Não sei muito bem. Só saímos há dois meses. É simpático, claro, mas daí até falar em relação... Resumindo: não te preocupes, não vou começar a viver com ele e expulsar-te imediatamente.
— Fico mais tranquila... Não é certamente por estar interessada na tua vida pessoal que te perguntei.
— Obviamente. E tu? Quando é que encontras um gajo com quem ficar? Prometo não lhe revelar nada acerca da tua higiene pessoal.
— Que lata! – responde-lhe a barmaid. – Entre os restos de pizza e as latas de cerveja, não és a pessoa mais indicada para me apontar isso.
— Ah, não me ataques relativamente à minha gulodice. Quanto às tuas saladas e aos teus batidos, és mesmo a única a conseguir engolir aquilo. Não, estava a falar dos cabelos no duche, por exemplo. E há quanto tempo é que não mudas os lençóis da cama?
— Que golpe baixo. Mas, pelo menos, não faço porcarias na minha cama.
— Gostaria tanto de acreditar nisso, mas confesso que tenho alguma dificuldade.
Um cliente interrompe-as em plena discussão, enquanto o grupo de rock inicia um slow. O rapaz, com cerca de vinte anos (vinte e um, mais precisamente, de acordo com a carta de condução), pede alguns shots para ele e para os amigos. Quando paga, junta, no meio das notas, um papel com o seu número de telefone, antes de gratificar Taylor com um piscar de olho cheio de subentendidos.
— A menina está em altas, parece-me – comenta Andrea quando ele se afasta.
— Por favor... Cortem-me os pulsos!
— É giro. Faltam-lhe alguns músculos, mas tem um rabo bem feito. Falta saber se os seus restantes argumentos são tão convincentes.
Taylor responde, colocando o número de telefone na mão da prima, que encolhe os ombros, dececionada. No entanto, não o deita fora.
— Bom, talvez não seja este, mas vais precisar de um namorado, prima. Eu percebo que nenhum fique por muito tempo depois de te conhecer, mas tens atributos para, pelo menos, um início de relação.
— Isso é um elogio?
— Completamente. Tenho de te organizar uma festa. Desta vez, vou tratar de ti, em modo casamenteira
. Vou publicar um evento no Facebook: Fim do celibato da fabulosa Taylor Velázquez. Venham todos!
— Ah ah. O teu sentido de humor é hilariante.
— Obrigada, é o que toda a gente diz.
Andrea termina a bebida e Taylor propõe encher-lhe o copo novamente, quando a prima responde:
— Infelizmente, terminou por hoje. Estou de pé desde o amanhecer e só me apetece ir para casa.
— Tem cuidado na estrada. Se tiveres um acidente, torno-me uma sem-abrigo.
— A tua preocupação reconforta-me... Mas lembras-te que vivemos a cinco minutos a pé daqui?
— Sim, mas os californianos e os seus carros têm uma história de amor inabalável.
— Pronto! Sua excelência veio de Nova Iorque e sua excelência acha-se superior. Já andei no vosso metro: tresanda e nunca se sabe se vamos conseguir descer onde queremos. Obrigada, mas não!
Taylor não tem argumentos para a contradizer.
Andrea tem a delicadeza de deixar uma gorjeta, apesar da picardia, antes de lhe desejar uma boa noite. Pode dizer muitas coisas acerca da agente da polícia: desarrumada, colérica, chata ou até irracional e alcoólica, mas pode contar com ela em todas as circunstâncias. Quando Taylor lhe perguntou se podia dormir em casa dela, enquanto encontrava um sítio para ficar, Andrea não hesitou e, ainda que a coabitação tenha altos e baixos, ela continua a sentir que é bem-vinda. Viver em casa de uma polícia depois do que ela fez não foi uma brilhante ideia, mas se Andrea se informou acerca dela, nunca o deixou transparecer e nunca perguntou nada. Talvez esteja simplesmente à espera que Taylor desabafe com ela, quando se sentir pronta para isso.
Não será hoje o caso, nem amanhã, seguramente. A consciência pesa-lhe, mas ela deixa-se facilmente corromper, principalmente em época de saldos.
Taylor termina o seu serviço algumas horas depois e trata de fechar o bar, expulsando simpaticamente, mas firmemente, os últimos clientes. Esta noite, ninguém teve a infeliz ideia de vomitar nas casas de banho, mas há cerveja entornada na sala e ela tem de limpar. Faz parte do trabalho, ainda que apenas seja paga até à hora de fecho e não interessa se fica mais um pouco.
Quando a jovem abandona finalmente o bar, uma silhueta dirige-se até ela. É-lhe preciso algum tempo para reconhecer Jake, o pai de Andrea. Este está certamente de regresso de um qualquer trabalho, no terreno, ou seja lá o que fazem efetivamente os detetives. De facto, ele vive no mesmo prédio do Witch Hour e foi aliás ele que a ajudou a encontrar aquele emprego, quando ela chegou a São Francisco. Como é que fazem aqueles que