Poção do amor
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Sobre este e-book
Amy não fez, mas sua arqui-inimiga sim! E quem a garota agarrou? Justamente o homem da vida de Amy! Ah, isso não vai prestar.
O caos está formado e agora Amy precisa colocar a bruxa interior para fora e rodar a baiana... quer dizer, a varinha.
Será que conseguirá salvar Fox dessa tremenda roubada?
Divirta-se com as loucuras de Amy e descubra que o amor é a magia mais poderosa que existe, capaz de qualquer feito.
Vanessa Bosso
Olá, seus literalindos! Meu nome é Vanessa Bosso e a literatura é minha segunda paixão na vida. A primeira, sem dúvida, é a minha família. Sou formada em publicidade, propaganda e marketing, coaching emocional e terapia cognitiva e comportamental. Neste momento do tempo-espaço, estou estudando física quântica, neurociência, teoria da simulação e outras loucuras do bem. Onde isso vai me levar? Só o universo sabe... mas uma coisa é certa: muitos livros serão escritos no futuro. Conecte-se comigo
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Poção do amor - Vanessa Bosso
45
CAPÍTULO 1
Eu sabia que essa poção não daria certo, mas a lunática da tia Luah insistiu em dizer que a combinação de elementos estava correta. Apontou o dedo para a página amarelada do grimório da família, com aquela cara de sabe tudo. Resignada, resolvi me calar.
A tia Luah nunca me escuta e isso sempre acaba mal.
É óbvio que a poção explodiu e o laboratório está um caos. Das paredes escorre um líquido esbranquiçado e de aspecto asqueroso. O cheiro de enxofre e cachorro molhado está me deixando enjoada. Há algo pegajoso em meu braço direito e seguro o vômito quando percebo que se trata de um olho de sapo.
Minha tia ri de se matar. Arqueia o corpo magro para frente, segurando com ambas as mãos a barriga lisa como uma porta. Lágrimas escapam dos seus olhos esverdeados e os cabelos em tom de caramelo escorrem sobre o manto ritualístico. Estou tão irritada que não entro no clima.
Guardo o livro de feitiços e poções no baú de madeira, batendo a tampa com força e fechando a tranca. Dou uma boa olhada em volta e maldigo a minha sorte quando noto coisas bizarras presas ao teto branco. Essa sujeira dará um trabalhão daqueles.
– Eu disse que essa poção estava errada. – resmungo.
– Ah, qual é, Amy? Foi divertido!
– Tia, às vezes me pergunto se você realmente tem trinta e cinco anos e eu dezoito. Sério mesmo, nossas identidades devem ter sido trocadas. Esse é o terceiro caldeirão que explode esse mês e, nesse ritmo, teremos que nos associar aos caras que fabricam esse troço.
– Amanda Althea Baldaya, você é uma grandessíssima chata.
– Ah, falou a palhaça da família. – atiro e começo a limpeza do balcão principal.
– Desde a morte da sua avó, você não acha graça em mais nada, já notou isso? – ela inicia a ladainha.
– Ela era a única centrada nessa família de loucos. – reviro os olhos e, ao invés de limpar, estou espalhando a bagunça pelo balcão, completamente desatenta.
Tenho motivos para reclamar, afinal, sou zoada desde que nasci e, pelo andar da carruagem, meus tataranetos continuarão sendo a chacota da cidade. Entendam: meu pai é dono de um cemitério vertical; minha mãe é autora de livros eróticos; meu avô é o cientista maluco do pedaço e nenhuma das suas invenções funciona; a tia Luah é completamente biruta e herdou a loja Poção do Amor quando a vovó partiu dessa para uma melhor.
Ah, que saudades da vovó Sabina! Ela sim era uma mulher lúcida, a única pessoa realmente normal nesse hospício. Bem, eu também me acho normal, dadas as circunstâncias. Meus amigos vivem dizendo que um dia sairei do armário, que revelarei meu lado excêntrico. Rá, eles que esperem deitados, em pregos de preferência.
A vovó era uma bruxa e das boas. Mas não saía por aí em vassouras, muito menos dançava pelada em volta da fogueira nas noites de lua cheia. Não frequentava covens e não tinha uma verruga na ponta do nariz. Era uma mulher mística, isso sim. Acreditava que o amor era a única lei pela qual os humanos deveriam se nortear. E fazia poções e feitiços como ninguém, bem diferente da aluada da tia Luah.
Certo, estou sendo um tanto irônica e não é para tanto. Para ser justa, a tia Luah manda muito bem em outros setores. É PhD em cristais, entende tudo de aromaterapia e tem sido muito procurada por suas aptidões em feng shui. Ela também trabalha com terapias alternativas usando pêndulos e apetrechos bem esquisitos. A mulherada da cidade adora e, desde a morte da vovó, as consultas da tia Luah são o que garantem que a loja Poção do Amor não feche as portas.
– Você é quem deveria fazer as poções, Amy. – ela diz, com uma vassoura em mãos.
– E o que eu estava fazendo aqui até agora? – ergo as sobrancelhas, indignada.
– Apenas resmungando que a coisa toda iria desandar.
– É impressão minha ou está explodindo caldeirões de caso pensado? – levo as mãos à cintura. – Tia, eu já disse que sem a vovó não vai rolar. E outra, tenho que estudar, as aulas recomeçarão em breve.
– Estudar, é? Isso é apenas desculpa de uma garota com medo de assumir seu lado bruxa.
– Não mesmo. – retruco.
– Você não consegue me enganar e fica fula da vida com isso, não é?
– Quer saber? – jogo o pano sobre a bancada, irada. – Limpe sozinha essa zona toda. Tenho compromisso.
Dou as costas e saio pisando duro, sem qualquer intenção de voltar atrás. Com a mão na maçaneta de cobre, adornada por gnomos e fadas, tia Luah pigarreia e me detenho por um instante.
– Soube que o Fox está namorando aquela entojada da Beatrice.
Fernando Oliver Ximenez, é desse Fox que ela está falando. Aliás, como ela sabe sobre o namoro? Droga, odeio morar numa cidade pequena e tenho raiva das fofoqueiras de plantão.
– E daí? – dou de ombros, sem encará-la.
– Não fará nada a respeito? – ela incita.
– E por que eu faria alguma coisa? – meu tom sobe alguns decibéis e entrega meu nervosismo.
– Amy, ele está no seu destino. – sinto as mãos da tia Luah sobre meus ombros. – Não acha que deveria fazer algo?
– Tia, não acredito em adivinhações. – giro sobre meu All Star de listras coloridas para fitá-la. – O que você viu naquela bola de cristal foi apenas um dos meus possíveis futuros.
– Já disse hoje que você é uma tremenda chata?
– Disse. Umas quinhentas vezes. – colérica, abro a porta e acelero o passo pela loja, tomando a direção da saída.
CAPÍTULO 2
Estamos no mês de julho e meu nariz congela no ar noturno. Passo o cachecol de lã em torno do pescoço e suspiro profundamente, expirando uma névoa fantasmagórica pela boca.
Aciono o botão do meu novíssimo New Beetle vermelho e o alarme dá dois toques, destravando as portas. Meu possante está com a lataria suada, como se tivesse corrido uma maratona. Jogo a bolsa no banco do passageiro e entro no carro, girando a chave e ligando o aquecedor no nível máximo.
Fecho os olhos por alguns instantes e a imagem de Fox ganha vida em meus pensamentos turbulentos. Não me entra na cabeça esse namoro repentino com aquela arrogante da Beatrice. Ele dizia detestar a garota e, de repente, está perdidamente apaixonado? Ou o cara é um mentiroso descarado ou tem algo de muito podre nessa história toda.
O celular toca, me tirando dos devaneios Foxianos. Pesco o aparelho no bolso frontal e atendo num desânimo de dar pena. Do outro lado da linha, Larissa está surtada e isso só quer dizer uma coisa: minha amiga encontra-se em seu estado normal.
– Está atrasada, Amy! Poxa, não quero perder a estreia do Truta na banda!
– Não poderia ter arrumado um namorado com um apelido melhor? – murmuro e bocejo logo em seguida.
– O Truta é muito gente boa, pare de implicar. E, afinal, onde você está?
– Saindo da loja. – ligo o motor e acelero.
– Não demore, Amy.
– Ok, Laris. Câmbio final.
Larissa – ou Laris para os íntimos – é uma das melhores amigas que tenho, muito mais do que uma irmã. As afinidades vêm de berço, já que nossos pais são unha e carne. Juntas, somos daquelas surtadas que aparentemente não dão a mínima para a opinião alheia. Na verdade, isso é apenas fachada pois, bem lá no fundo, não queremos dedos apontados e julgamentos desnecessários.
Há dois meses, a Laris começou a namorar o Truta, um garoto até bonitinho e divertido. Veste-se como um roqueiro largado, com a cueca boxer aparecendo e acho esse tipo de visual um lixo. Prefiro os arrumadinhos, mas também não precisa extrapolar ou ser um metrossexual, ajeitado e cheiroso já basta.
Droga, isso me remete de imediato ao idiota do Fox.
A cidade está vazia e finjo não ter visto o semáforo. Passo no vermelho e pego a rua lateral que me levará diretamente para o casarão dos Garcia. Aumento o som, abro a janela e lanço a mão para fora, como se o vento gélido pudesse arrancar Fox dos meus pensamentos. É quase como uma terapia de choque térmico, mas não está funcionando. O máximo que ganharei com essa babaquice será uma pneumonia.
Fecho o vidro e já vejo os pontos luminosos nas janelas da mansão. Atravesso o portão de ferro que vive escancarado e dirijo sobre um caminho de pedriscos cor de chumbo, ladeado por flores e árvores de copas largas.
Estaciono em frente à imensa fonte, a única coisa de mau gosto por aqui. O troço que esguicha água mais se parece com um pênis murcho ou outra coisa bem próxima a isso.
Nem preciso buzinar. Laris abre a porta do carona, joga nossas bolsas para trás e, numa impaciência sem tamanho, dispara:
– Acelera esse carro!
– Credo, um boa noite não mata ninguém.
– Estamos atrasadas, Amy. Caramba, eu falei tanto!
– Certo, certo, estou indo. – não discuto e acelero.
A Larissa muda de estilo como quem troca de namorado. A comparação pode não parecer boa, mas é exatamente isso. Quando começou a ficar com o Guega, um babaca metido a poeta, vestia-se como uma intelectual. O caso durou algumas semanas e logo ela caiu em si e partiu para outra. Denis era tenista e, portanto, a Laris mudou seu estilo para algo mais atlético. Esse namoro sobreviveu alguns meses, mas então ela se cansou. Aí conheceu o Marco, um aspirante a DJ e seu guarda-roupas atingiu o ápice da loucura e mais parecia algo saído dos clipes da Britney.
Truta é seu quarto namorado, manda muito bem na guitarra e conseguiu espaço na banda mais legal da cidade. Nesse caso, a loira aqui ao meu lado está usando uma combinação gótica de minissaia preta, botas na altura dos joelhos, cinto envernizado com uma caveira, camiseta cortada do AC/DC, jaqueta de couro e um bracelete cheio de pontas para lá de esquisito. Esse negócio, se bem usado, pode matar alguém!
– Curtiu meu visual? – seus lábios vermelhos se abrem num sorriso branco e cheio de expectativa.
– Então... – o que dizer diante disso?
– Que droga! – ela cruza os braços, irritada. Sou transparente, o que posso