Amor E Ódio: Amor E Aventura Em Um Romance Ambientado No Medievo. “Ele Quer Amá-La, Ela Só Quer Odiá-Lo.”.
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Sobre este e-book
“Ele quer amá-la, ela só quer odiá-lo.”
1158
Após a morte trágica de sua família, a nobre Regina Celeste Balestrieri é considerada apenas uma presa de guerra e é oferecida como presente a um barão da Suábia.
Ele, Stephan Deinburg de Hezen, é o conquistador, quando a vê, não a considera um presente interessante. A menina é bonita, é claro, mas é arrogante e orgulhosa demais para alguém que pertence a um povo que foi vencido na guerra. No entanto, é um desafio para ele que se recusa a devolvê-la e decide que ela será sua noiva. Ele quer o seu corpo e sua alma, mas não sabe que já perdeu o seu coração em um único olhar.
Regina não quer aceitar o seu casamento com um guerreiro que trouxe morte e destruição à sua terra. Se algum dia pudesse voltar a Milão, como o seu povo a receberia? Como poderia olhar para o homem a quem havia sido prometida, antes? Não quer, mas é forçada a ceder e teimosamente ignora desejos e sentimentos que talvez pudessem fazê-la feliz. Será tarde demais para entender que um sentimento diferente pode surgir do ódio, que o coração não tem pátria, não é orgulhoso e que poderia morrer por amor?
Muitas coisas acontecem neste romance surpreendente e nas vidas de vencedores e vencidos, onde sonhos e vinganças estão entrelaçados.
Este trabalho não é uma Òpera Coral, mas os personagens secundários e suas histórias são muito importantes para o crescimento dos protagonistas, ajudando-os a se tornarem conscientes do que são.
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Amor E Ódio - Miriam Formenti
autor
AMOR E ÓDIO
Miriam Formenti
Un uomo da odiare
©2019 Miriam Formenti
EdiçãoBabelcube
Tradução de Mônica Cristina Campello de Souza
Segundaedição 2013
Primeiraedição1991
http://www.miriamformenti.altervista.org/
Todo o conteúdo é protegido pelas leis de direitos autorais.
Capa:
Designer Gráfico Silvia Basile
www.bassil.altervista.org
Imagens da capa:
O olhar
de Cristina Gazzotti
Parede da cidade histórica
de Petra Winkler
Espada
de Silvia Basile
––––––––
AMOR E ÓDIO
Uma recordação comovente ofereço para as pessoas que há mais de trinta anos acreditaram em meu trabalho e em minhas fantasias e que me encorajaram a continuar nesse caminho.
Sumário
Prefácio de Maria Teresa Siciliano
PRÓLOGO
PRIMEIRA PARTE
1
2
3
4
5
6
SEGUNDA PARTE
7
8
9
10
TERCEIRA PARTE
11
12
13
14
15
16
QUARTA PARTE
17
18
EPÍLOGO
Agradecimentos
o autor
Prefácio de Maria Teresa Siciliano
––––––––
O romance foi publicado pela primeira vez pela editora Mondadori em 1991, embora, na realidade, tenha sido escrito antes de Capelli di luna. Ao relê-lo hoje, a primeira coisa que nos impressiona em sua escrita é a forma como a autora representa a luta entre os Municípios e Federico I. Além disso, Formenti adora contar histórias de amor entre inimigos e desafiar o ponto de vista comum.
Em nosso caso, tomamos conhecimento sobre esse período histórico através da interpretação de Berchet e Carducci e de sua visão filocomunista. No momento histórico descrito, esta visão representava a perspectiva nacional italiana. A autora, então, resolve se colocar entre as duas visões, germânica e lombarda e, em 1991, mesmo gostando muito do romance, essa abordagem me surpreendeu.
Não sei quando, notei que a co-estrela se chamava Bossi. Mas não acredito que devemos pensar em uma reinterpretação a luz da Liga do Norte: em parte, porque descobri que a coincidência de nomes é apenas uma mera coincidência. Em parte, porque em 1991 e ainda mais na época em que Formenti concebeu o livro, a Liga ainda não possuía a notoriedade e importância adquiridas posteriormente. Nem me parece que os lombardos rebeldes tenham um tratamento privilegiado no romance. O enredo se concentra em Regina e Stephan: o romance entre eles é complicado, se considerarmos que são inimigos, pela condição da garota que é vítima de guerra e pelo seu compromisso anterior com Guido. Assim, não entendemos rapidamente todos os mal-entendidos e as dificuldades, especialmente, porque ambos também não estão entendendo aquilo que estão vivendo.
Regina, em particular, é muito jovem e confusa: está descobrindo a paixão e tentando aprender a conviver com um homem como aquele, que aparentemente parece exigir muito dela.
Por conta disso, sendo um homem do Medievo, Stephan vai apresentar características marcantes, especialmente, ao incorporar os traços da personalidade de seu falecido pai. Justamente por esse motivo, percebemos porque o leitor tende a ser solidário com ele. Afinal, se o compararmos com Francesco, o protagonista de Capelli di luna, não podemos negar que o segundo assume a figura do herói cavaleiro.
Também são muito interessantes os outros dois personagens, Guido e Rosa, mas sobre os quais ainda não poderia antecipar nada.
O cenário construído por Formenti é pacifista. Podemos observar muito bem isso quando Hans aparece, o irmão de Stephan. No princípio, sendo descrito como um monstro, porque o conhecemos no momento da sangrenta conquista e sob o ponto de vista de Regina, que está em choque por ter visto matarem todos os seus parentes e ser tratada como uma prisioneira de guerra. Mais tarde, em relação ao protagonista, somos levados a separar o homem
dos efeitos colaterais
da guerra. E ao nos depararmos com o aspecto Medieval
, voltamos a refletir sobre muitos acontecimentos relatados envolvendo a Segunda Guerra Mundial e os seus exércitos ou, mais recentemente, a guerra civil na Iugoslávia.
PRÓLOGO
––––––––
22 de setembro de 1158
Feudo de San Martino
Após os últimos solavancos da vida, os corpos dos três enforcados abandonaram-se ao vento, que, furioso como em um dia de março, empurrou-os em um trágico balanço.
A menina ajoelhada no chão, um pouco distante daquele grupo macabro, não notou o desfecho cruel, pois tendo sido presa pelos cabelos e forçada a assistir ao enforcamento, havia sido solta e a sua cabeça pendia para a frente, sem apoio.
Não sentia mais nada: nem raiva, nem dor, nem o medo que a perturbara a menos de meia hora atrás, quando foi escoltada por numerosos soldados alemães, caminhava pela estrada da vila seguindo os passos orgulhosos de seu tio e de seus dois primos.
Há menos de meia hora atrás, seu coração estava gritando com a injustiça do seu destino. Estava cheio de ódio pelos soldados que saquearam, estupraram e mataram. Estava tremendo de indignação em relação aos dignitários de Milão, que haviam permitido a rendição após um único mês de cerco. Cedendo à chantagem da fome, conseguiram o sacrifício de muitos jovens corajosos que perderam a vida tentando impedir o avanço do exército imperial, e defendendo a cidade para garantir que todas as terras continuassem sobre o domínio milanês.
Após a rendição, até mesmo San Martino, como tantos outros condados, tornou-se um tributo exigido por Frederico I; e os senhores que haviam se rebelado, como seu tio e seus filhos, tinham sido condenados à morte por aquilo que o imperador considerou uma traição.
O corpo de sua tia, deitado no gramado, quase cortado em dois pela espada de um soldado, já não a fazia tremer convulsivamente. Não havia mais gritos ou lágrimas agora; apenas um vazio que a protegeria de tudo que ainda a aguardava.
Um homem com uma constituição física poderosa colocou-se diante dela, escondendo da sua visão as figuras enforcadas. Usava uma malha de ferro sob um sobretudo vermelho, como o sangue que havia sido derramado, e ergueu a espada possivelmente para derramar mais.
A garota não reagiu quando a lâmina tocou a sua garganta. Ergueu o rosto, seguindo gentilmente a pressão da arma, para encontrar o do suevo que ordenara as execuções, e ficou indiferente ao seu olhar, o olhar de um dono que observa um cavalo calculando o seu valor como um especialista. Ela, Regina Celeste Balestrieri era culpada por estar relacionada com o rebelde castelão, e agora uma prisioneira de guerra.
O imperador abaixou a lâmina e, ao seu sinal, um homem baixo e atarracado, que pela maneira de falar revelou ser Lodi, mandou que se levantasse.
— Levante-se, estou ordenando! — Repetiu, puxando-a de qualquer jeito, quando percebeu que não obedeceria.
— Mesmo sendo uma Balestrieri, ainda é uma fêmea inócua — disse, repetindo em lombardo as palavras que o imperial pronunciara em sua língua nativa. E, lançando um breve olhar para a pobre mulher deitada em um lago de sangue, acrescentou: — Mesmo considerando que são inimigos, meu Senhor, Hans Deinburg de Hezen, não mata mulheres. Será, portanto, magnânimo deixando-a viver e se depois achar que é conveniente poderá devolvê-la ao seu povo.
Em silêncio, com os longos cabelos negros que lhe davam tapas no rosto a cada sopro de vento, Regina ouviu sua sentença sem realmente entender seu significado.
— Você é idiota, garota? — O homem perguntou impaciente. — Só tem que me dizer com quem o meu senhor pode negociar o seu resgate. Se alguém estiver disposto a pagar por sua volta ele a entregará.
O véu escuro, que bondosamente obscurecia a mente da garota, levantou-se por um momento. Seus familiares estavam pendurados nos galhos de uma árvore e na condição de mortos não podiam pagar mais nada. No entanto, havia alguém que poderia tentar resgatá-la. Alguém que a amava e que não a abandonaria. Começou a falar, mas a língua não conseguia formular as palavras e o pensamento fugiu mais uma vez, enquanto tentava se tornar mais claro.
— Talvez já esteja fora de si ... — disse o Lodigiano, em dúvida, olhando para o seu senhor.
O imperial fez uma careta, inclinou a cabeça e encolheu os ombros. Disse algo que fez os presentes rirem e, com um breve gesto, ordenou ao Lodigiano que informasse à garota, de qualquer maneira, sobre o que havia decidido.
— O meu Senhor disse que sente muito por você não ter nenhum valor — resignou-se a repetir com ceticismo. Fez uma pausa, esperando ver uma faísca de medo naqueles olhos sem brilho, então continuou, certo de não ter sido compreendido: — Acha que é bastante bonita e, até esse momento, muito dócil. Então, lhe entregará como presente ao seu irmão o barão de Hezen. Ele foi ferido e precisará de consolo quando vier para guarnecer o castelo. E, em suas próprias palavras, quando pressionou as mãos nos ombros dela para guiá-la em uma reverência forçada, acrescentou: — Por fim, deseja que permaneça como a gata morta que parece. Deseja, sinceramente.
PRIMEIRA PARTE
Eventos do outono de 1158
1
Setembro
––––––––
Feudo de San Martino
No castelo
Stephan Deinburg, barão de Hezen, esperava impacientemente que os soldados baixassem a ponte levadiça de dentro das muralhas; então, seguido por uma dúzia de homens, galopou para o grande pátio e parou o cavalo, que levantou nervosamente as patas dianteiras a poucos passos do soldado que havia corrido para recebê-lo.
O homem recuou um pouco, mas se recuperando imediatamente exagerou a reverência. — Meu senhor — disse, — não o esperávamos tão cedo. Espero que sua ferida tenha cicatrizado perfeitamente.
O barão, agilmente, apeou de um cavalo e logo em seguida o confiou ao seu escudeiro. Tirou as luvas e olhou para o soldado com um olhar descontente. Sua ferida havia sido curada, mas o seu braço estava machucado, pois teve que se esforçar segurando a espada por um longo tempo. Também estava irritado: já que estava sendo pressionado a interromper a sua convalescença em Lodi e não teve tempo para descansar, precisava ocupar o seu lugar na guarnição de San Martino para que seu irmão seguisse urgentemente para Pávia. Além de tudo isso, Hans, durante a ausência temporária de ambos, confiou as suas ordens a um homem em quem não confiava e que pretendia dispensar muito em breve.
— Estou bem —, respondeu secamente. — E quanto ao capitão Ulthdrich, Hrodgard, por que não está aqui?
— Está ferido, senhor.
— Realmente? — Stephan ergueu as sobrancelhas. — Pensei que fosse feito de ferro, aquele bastardo. E, como isso aconteceu? Sei que não foi atingido enquanto tomava o castelo.
O soldado pareceu envergonhado. — É, bem. O senhor vê ... — murmurou, finalmente, procurando as palavras certas: — O capitão ...
— Não importa, vou descobrir — o barão interrompeu impaciente, acompanhando as suas palavras de um gesto imperioso de seu braço. Sem ter certeza sobre Hrodgard, o braço direito de Ulthdrich, outro personagem traiçoeiro que não desejava ter ao seu serviço, esperava por uma resposta nada ética. O capitão se comportava como uma boa lhama, mas quanto ao resto tinha a alma de um javali impassível e sem consciência. Acreditava que uma mulher tivesse tentado se rebelar contra os seus desejos, como a camponesa de Hezen que anos atrás o havia perfurado em uma das nádegas com um forcado, enquanto ele levantava as calças depois de estuprá-la. Olhou em volta para as paredes. — Não estão sendo suficientemente monitoradas. Faça isso, Georg — ordenou a um de seus guardas pessoais que se juntou a ele. — E quero patrulhas nas fronteiras do feudo —. Olhou de volta para Hrodgard. — Em que estado ficou o velho Ulthdrich por não ter feito isso? Chegamos sem ser perturbados até aqui.
— Na verdade, senhor, uma patrulha saiu. Infelizmente, estamos sentindo falta de homens desde que seu irmão e seus pais foram embora. O capitão aguardava ansiosamente a sua chegada.
— Ansiosamente? — o jovem barão repetiu, sarcasticamente, curvando os lábios em um sorriso curto que não alcançou os seus olhos. — Isso, me surpreende. De qualquer forma, logo resolveremos as coisas. Meus soldados foram deixados para trás com as carroças e estarão aqui em um par de horas. Faça-me um mapa, quero visitar o castelo.
— Estão às suas ordens. Se deseja ver o Capitão Ulthdrich, primeiro, ele será capaz de explicar melhor o que aconteceu.
— Não desejo, não por enquanto —, interrompeu o barão. — Vamos começar dando uma olhada na guarita e nas prisões. Hilda, — então acrescentou, se dirigindo à única mulher em sua suíte, uma empregada de cerca de quarenta anos com um olhar tímido. — Diga-me onde está a prisioneira que chegou para lhe ajudar?
A mulher respondeu curvando-se gentilmente, quando o barão voltou a olhar para Hrodgard que parecia paralisado.
— O que há de errado?
—Meu senhor, infelizmente, devo informar que a garota está morta.
Stephan Deinburg não ficou, particularmente, impressionado. No entanto, o homem não conseguiu informá-lo sobre como os eventos sangrentos ocorreram Não se importava muito com a nobre lombarda, exceto no que se referia a um possível ganho, tinha toda a intenção de entregá-la em troca de um resgate substancial. Em sua mensagem, Hans descrevera a sua rara beleza, os seus olhos de ametista e cabelos de ébano, disse que era mansa e resignada como um cordeiro indo para o sacrifício. Uma verdadeira tentação! No entanto, não conseguiu informá-lo sobre os eventos que ocorreram durante e após a tomada do castelo que haviam lhe tirado a razão.
O mensageiro apressou-se para lhe revelar isso, um Lodiano que era leal e o arrebatou da morte vários meses antes. Certamente, pensou que seu irmão estaria tentando fazer alguma brincadeira de mau gosto, porque ambos, por causa do terceiro dos irmãos Deinburg, tinham horror à loucura.
— Não importa —, disse com indiferença. — Você ouviu, Hilda? Me encontre um quarto com uma cama confortável.
Hrodgard parecia muito aliviado e o barão ficou desconfiado, certo de que o outro estava tentando jogar.
— Ela se matou ... — O soldado apressou-se em informá-lo sem que fosse solicitado, enquanto se dirigiam para a guarita. Contou sobre a morte da bela milanesa com detalhes tão inúteis, que o suicídio pareceu algo improvável ao barão.
Parecia que a garota tentara fugir com a cumplicidade de um criado, e que ao ser descoberta saltara pela janela depois de atingir com um punhal o capitão Ulthdrich,.
Deinburg apertou os lábios. Talvez, tivesse sido jogada pela janela. Maldição! Nunca saberia a verdade!
O som de uma pesada porta rangendo sacudiu a pequena figura encolhida no colchão de palha, que, imediatamente, se levantou esforçando-se para ouvir melhor.
Era muito cedo, para aquela coisa
que seu carcereiro lhe preparava uma vez por dia, e os passos pesados no piso de pedra do porão eram tão assustadores e tão seguros quanto a morte.
Por um momento a garota prendeu a respiração, o seu corpo estava esticado para a frente, o olhar fixo na porta da cela aberta na escuridão que a envolvia. Ulthdrich, inferno! Não era cedo demais, para o inimigo suábio reivindicar a sua vingança. Dia após dia, sentia a ansiedade pressionando o seu peito e o medo nublando os seus pensamentos. Como seria o seu fim nas mãos daquele monstro, pensava?
Tremendo, escondeu a cabeça sob as asas protetoras de seus braços como um pobre pássaro ferido. Saíra, muito cedo, da confusa inconsciência que a protegera após a morte de seus parentes; O nevoeiro que invadira a sua mente desaparecera, de repente, depois de apenas um dia, deixando que voltassem as lembranças de todos os momentos que vivera naquele dia horrível: o barulho das lâminas que se chocavam umas contra as outras, os gritos dos feridos, o assobio do vento que parecia trazer as vozes iradas dos mortos. Tinha visto as cordas balançando novamente, e sentiu o frio do ferro sob o queixo e a força das mãos que a forçaram a se curvar. Ao colar de lembranças terríveis foram acrescentadas outras, não menos terríveis, quando aquele velho imundo entrou em seu quarto com a intenção de estuprá-la.
Ela se defendeu. Havia feito isso com todas as suas forças, vingando-se das feridas que sofrera e tentando se proteger daquelas que queriam lhe impor.
Cerrou os punhos, enfiando as unhas nas palmas das mãos, lembrando-se da arrogância daquele corpo que a esmagava, da violência daquela boca que procurava pela dela, do frenesi daquelas mãos calejadas e suadas que rasgavam a sua roupa para sentir o calor da sua pele. A voz rouca que prometia momentos sujos de êxtase ainda soava em seus ouvidos, e se lembrava, desanimada, de suas terríveis ameaças, depois que o atingiu com sua própria adaga. Sabia que iria mantê-las. Mesmo ferido, o homem havia provado sua crueldade atacando diante de seus olhos a criada que se aproximara dela, lembrava de seus gritos; e ordenou que o seu pobre corpo, sem vida, fosse deixado para apodrecer na mesma cela onde o havia calado.
Quatro dias. Durante quatro dias, intermináveis, foi forçada a dividir uma cela estreita com um cadáver. Sentindo medo, nojo, remorso e até o desejo de sair de si; mas aquela apatia que teria abençoado não tomou conta dela novamente.
Gemeu, juntou as mãos para rezar e encostou nos lábios.
— Oh, Senhor, conserve o infeliz longe de mim! Me dê mais algum tempo. Me dê ... — Parou quando ouviu a porta de uma cela abrir. Soltando um longo suspiro de alívio encostou-se na parede de pedra molhada, erguendo o rosto para a fenda que deixava passar um raio de luz. — Obrigada ... — sussurrou.
Graças a Deus, não era a sua cela.
Mas por quanto tempo ainda? Se, ao menos, o novo senhor do castelo chegasse antes que a ferida de Ulthdrich se curasse ...
Recordava nos mínimos detalhes da sentença que havia recebido. De cada palavra pronunciada pelo imperial que destruíra a sua família, haviam permanecido ali em algum espaço de sua memória esperando que recuperasse a posse de suas faculdades mentais. Agora, era capaz de dizer o nome de quem, talvez, pudesse resgatá-la. Seu destino, ainda não estava definido. Ainda, podia ter esperança.
De repente, riu de uma forma estranha, que a fez temer a loucura. Espero...não perder o juizo! Poderia até afundar ou se iludir, mas não morreria de angústia com sonhos inúteis e distantes da realidade.
Era fantasia, pensar que seu amado Guido poderia entrar no castelo para salvá-la. Era, então, a ilusão de uma criatura desesperada imaginar o desconhecido barão de Hezen como um cavaleiro generoso e justo, que a protegeria de Ulthdrich e a deixaria livre para retornar a Milão. Talvez, o suábio fosse mais ganancioso, repugnante e cruel que o capitão.
Os suevos, pelo que ouvira, eram piores que animais. Eram bastardos sem coração e, portanto, já poderia se considerar morta, morta, morta!
—Não ... não tenho que desanimar—, disse a si mesma para derrotar o medo. Ainda estava muito viva; resistindo apesar de tudo. Até o último momento iria rezar e esperar. Até o último suspiro.
Cruzou os braços sob os seios e fechou os olhos. Não conseguia dormir, mas lembrava-se das coisas lindas que vivera em sua vida, antes daqueles dias terríveis. O sorriso de Guido, seus braços fortes, sua ternura. Passeios a cavalo no campo, risos na grama, suas promessas. Guido ...
preso em Lodi após a Batalha do Corneliano. O que haveria acontecido com ele depois da rendição? Se perguntara uma dezena de vezes naqueles dias. Ainda estaria vivo? Seu pai o resgatara do cativeiro? O seu sofrimento significava algo para ele, afetava o seu corpo e alma? Ela nunca mais o veria?
Aqui, o desconforto havia criado um horizonte novo para ela. — Não vou desistir! — disse com força, cerrando os punhos. — Não, tenho que ... — Então, como se estivesse vazia, respirou fundo e passou a mão sobre o rosto retirando o suor. Essa mão era dela? E o rosto? Em que estado estaria o seu rosto? Colocou os dedos nos cabelos tentando consertá-los, mas agora eram apenas uma massa suja e emaranhada. Sabia que estava perdendo peso naqueles dias e sentiu um pouco de satisfação ao pensar que, talvez agora o faminto Ulthdrich não a encontrasse mais tão desejável.
Deus, como desejava isso! Se tivesse que morrer, pelo menos não teria que suportar, primeiro, a união com aquele monstro!
Queria chorar, mas o som de passos se aproximando e parando na frente de sua cela a fez congelar de emoção.
Conseguiu ver através do olho mágico aberto e, depois de um curto silêncio, ouvir vozes masculinas. Pouco depois, a porta foi aberta e um homem se inclinou para entrar.
Abrindo o olho mágico, para dar uma olhada na prisioneira trancada na cela, o barão imediatamente reconheceu o forte odor que pairava ali. Havia sentido muitas vezes: era o fedor da morte.
— Há um corpo nesta cela! — disse rude, voltando-se para Hrodgard.
O soldado hesitou. — É da mulher culpada pela rebelião, meu senhor. Eu a descobri esta manhã e já ia levá-la para ser enterrada.
— E quem é aquela? — Perguntou o barão novamente, apontando para a sombra que viu encolhida na cama.
— A serva sobre a qual lhe falei,