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O homem que vendeu o mundo
O homem que vendeu o mundo
O homem que vendeu o mundo
E-book211 páginas2 horas

O homem que vendeu o mundo

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Sobre este e-book

Por que tentamos escapar da nossa realidade? Por que existem os vilões? Por que as pessoas se transformam tão drasticamente? Essas foram muitas das questões que Fred Falkestein tentou descobrir em sua vida. Como um jovem sem a noção de como é o mundo, ele teve uma paixão proibida. Enquanto o espírito for livre, o corpo pode aguentar qualquer fardo.
Esse era o pensamento do jovem Fred, mas por causa de um complô, sua família toda foi destruída e ele foi exilado do seu país.Com a ajuda de uma pessoa menos provável, Fred descobriu que o mundo não é tão branco e preto e que existe uma força maior que se escondia nas sombras. Seus olhos abriram para o submundo, para uma realidade que ele desconhecia que abrangia os segredos ocultos de sua família. Em suas aventuras, ele descobriu os dois lados da humanidade, a compaixão e o ódio, ideologias que cegamente levam a humanidade para o abismo.
Em sua busca por vingança, Frederick descobre os fantasmas que assombravam o passado de sua família e que o mundo não é controlado por nações, mas sim por ambições dos homens. Ambientado no final do século XIX, O homem que vendeu o mundo é um verdadeiro passeio pelo pensamento da sociedade europeia antes da primeira guerra mundial.
Além de apresentar uma visão direta de uma alma sofrida corrompida pelo tempo e pela própria existência, O Homem que vendeu o mundo é um guia de como a vida realmente é nos bastidores do poder.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento1 de nov. de 2019
ISBN9788530009694
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    Pré-visualização do livro

    O homem que vendeu o mundo - Valter Vieira Jr

    www.eviseu.com

    PARTE 1

    "Enquanto o espírito for livre,

    o corpo pode aguentar qualquer fardo."

    Duquesa Hilda Ludovika Habsburg

    CAPÍTULO 1

    Era uma manhã chuvosa de setembro de 1918 e, nos altos Alpes Bávaros, havia um velho castelo medieval. Protegido pelos pinheiros da região, ele parecia intransponível. O local que mais parecia pertencer a um conto de fadas, na verdade, escondia o horror das histórias do passado de um homem.

    Em seus enormes corredores de mármore, a beleza se escondia em cada canto. Seu teto arqueado e composto de madeira, em formato hexagonal, era tão belo e polido que mais parecia um espelho.

    Os lustres de ouro iluminavam os belos quadros católicos e históricos, pertencentes aos antigos moradores. Em uma dessas suntuosas salas, estava um homem de sessenta anos que andava de um lado para outro. A sala era enorme e suntuosa, e lembrava o Palácio de Versalhes. O homem tinha a aparência bem desgastada com o tempo e parecia ter muito mais idade do que aparentava. Ele tinha uma estatura mediana, era calvo e possuía uma imponente barba, no estilo imperial, já toda branca, assim como as camadas de neve dos Alpes.

    O longo casaco de couro que vestia combinava com as belas, mas já desgastadas com o tempo, botas polidas. As olheiras negras que circundavam seus olhos revelavam que sua vida não tinha sido fácil e que não dormia direito há dias.

    Nessa sala iluminada apenas por algumas lamparinas, havia uma moça que tinha por volta dos vinte anos e escrevia a contabilidade do castelo. Era uma bela e jovem alemã. Seus longos cabelos loiros estavam trançados e caiam sobre os seus ombros suavemente.

    O homem pegou um copo de brandy e se sentou ao lado da jovem secretária. Ele respirou fundo. Olhou para ela com um olhar vazio e perdido no horizonte:

    — O senhor está bem? – retrucou a moça.

    — Sim, eu estou. Mas... – e deu uma leve pausa, enquanto olhava para a parede de pedra do salão.

    — Sim, mas o que foi, meu senhor?

    — Eu sinto que estou chegando ao fim da minha vida.

    — Que é isso!? O senhor está na melhor forma!

    — Talvez, sei lá! A senhorita poderia fazer um favor para mim? – retrucou o homem.

    — Sim, senhor! – disse a secretária.

    — Por favor, pegue a caneta. Eu quero escrever as minhas memórias.

    — Só um minuto, senhor!

    A moça parou o que estava fazendo para pegar uma velha máquina de escrever. Ela se preparou com todo o cuidado e, então, falou:

    — Podemos começar, senhor.

    O homem respirou profundamente e começou. Suas alegrias, suas tristezas e seus piores pesadelos seriam revelados para aquela jovem. Os desabafos daquele homem velho para sua secretária deixaram-na horrorizada. Eram segredos que mudaram o rumo de uma vida inteira.

    A jovem datilografava com cuidado, mas, a cada palavra, a tristeza tomava conta de sua alma e a admiração que sentia por aquele homem começava a se transformar em repulsa.

    Como alguém pode ter vivido tão intensamente e ter chegado a esse ponto?, refletiu consigo mesma.

    CAPÍTULO 2

    Nasci em 1858, no sudoeste da Alemanha. Diziam que era o inverno mais frio dos últimos anos. Eu era o terceiro filho de minha família: tinha dois irmãos mais velhos e duas irmãs mais novas. Meus dois irmãos, Wolfgang e Walter, eram dez anos mais velhos do que eu. Já minhas irmãs, Maria e Ângela, eram gêmeas. Elas tinham cabelos castanhos e cacheados. Seus olhos eram grandes e brilhantes como os de minha mãe.

    Wolfgang era o meu irmão mais velho. Ele tinha cabelos negros e olhos verdes. Tinha 1,90m de altura e era um verdadeiro lorde. Já Walter era o rebelde da família. Ele adorava beber e dar festas enquanto os meus pais não estavam em casa. Seus olhos eram castanhos e os cabelos loiros.

    Walter usava óculos e era um rapaz alto, forte, mas com um pouco de barriga, talvez pelo excesso de cerveja e comida. Wolfgang e Walter adoravam competir um com o outro, principalmente pela atenção de meus pais.

    Meus pais se chamavam Richard Von Falkstein e Matilda Book. Meu pai era um homem sério, severo, mas, no fundo, era um homem bom. Extremamente alto, com quase 2 metros de altura, tinha olhos e cabelos negros. Seu bigode grosso lembrava uma morsa. Ele era um verdadeiro barão industrial. Minha mãe, Matilda, era baixinha: tinha por volta de 1,60m. Seus longos cabelos castanhos claros combinavam com sua pele alva, branquíssima como a neve. Seus olhos eram castanhos, repletos de meiguice e de uma ternura que somente uma mãe possui.

    Meu pai era dono de várias fábricas têxtis na Alemanha. Vivia trabalhando, mas, nas horas vagas, conversava muito com Beaufort, seu mordomo pessoal. Beaufort era um homem bem alto, magro e careca. Seu rosto era sério. Nunca o tinha visto sorrir na minha vida. Ele respeitava toda a minha família, mas ele só recebia ordens de meu pai. Beaufort era um homem calado, mas, com apenas um olhar, conseguia colocar até a pessoa mais durona para correr. Não batia boca com nenhum empregado, mas ninguém também era louco o suficiente para tentar enganá-lo ou rir às suas custas.

    Minha infância foi simples, assim como todas são. Tenho boas lembranças das brincadeiras com meus amigos e dos dias longos e cheios de luz. Um fato, porém, marcou a minha infância e modificou totalmente a história da minha vida e da minha família.

    Em 1866, a guerra entre a Áustria e a Alemanha havia piorado. Nossa nação queria a unificação, mas muitos países vizinhos não queriam deixar, pois alegavam que alguns territórios pertenciam a eles, e não a nós. Como todo patriota, meu irmão Wolfgang queria se alistar. Meu pai era totalmente contra, já que ele não queria seu filho em combate. O alistamento do meu irmão era um fator de briga constante entre Wolf e meu pai:

    — Pai, eu vou me alistar e acabou.

    — Só por cima do meu cadáver. Eu não quero meu filho na guerra.

    — Mas o senhor não lutou na guerra?

    — Eu lutei e foi uma das mais traumatizantes experiências da minha vida.

    Meu pai havia lutado na Guerra dos Três Anos, a guerra entre a Alemanha e a Dinamarca. Meu pai, na batalha de Isted, foi ferido e mais de trinta homens de sua companhia haviam sido mortos em combate.

    Depois desse fracasso, meu pai, que fora dispensado por causa do seu ferimento no joelho, jurou que nunca mais queria se envolver em combates.

    Wolf fugiu para se alistar. Quando os homens do exército vieram buscá-lo, minha mãe se desesperou e não parava de chorar. Meu pai gritava com os oficiais. Ele estava disposto a tudo para não deixar meu irmão ir, mas Wolf era teimoso e foi embora sem olhar para trás.

    Ele partiu para o front da Guerra das Sete Semanas. Com a partida de Wolf, a tristeza e a melancolia tomaram conta da vida de minha mãe. Ela chorava pelos cantos do castelo e orava sem cessar para o retorno seguro de meu irmão. Enquanto isso, meu pai tentava, por meio dos seus contatos, tirar Wolf do campo de batalha. Minha mãe passou a não se alimentar direito, ficou agressiva e passou a gritar com meu pai. Minhas irmãs choravam e oravam para que meus pais parassem de brigar e Wolf voltasse em segurança para casa.

    Walter e eu tentávamos acalmá-las com brincadeiras ou levando-as para passear nos jardins do castelo, longe de toda a confusão. Na noite de 02 de julho de 1866, acordamos com os gritos de minha mãe. Ela chorava muito. Senti que havia algo errado. Meu pai tentava acalmá-la, mas nada dava resultado:

    — Algo aconteceu com Wolf, eu sei disso!

    — Pare, querida! Nosso filho mandou uma carta para nós ontem, nada de ruim pode ter acontecido.

    Na noite seguinte, recebemos a notícia de que o nosso exército havia ganhado do austríaco na batalha de Königgrätz. Foi uma verdadeira celebração na vila em que morávamos. O povo ria, chorava e comemorava a nossa vitória. Tudo era motivo de alegria, mas minha mãe, em seu íntimo, sentia que algo estava errado.

    Os dias se passaram e o pior aconteceu. O capitão Fritz veio à nossa casa e deu a notícia que ninguém queria ouvir: meu irmão faleceu no campo de batalha. Morreu como um herói, defendendo a retirada do seu batalhão até o último homem. As palavras daquele homem ecoam até hoje nos meus ouvidos. Ele pigarreou um pouco e, com toda a sisudez de um militar, passou a narrar as últimas horas do meu irmão:

    — Vindo do oeste, o ataque prussiano teve início com o primeiro Exército e o Exército do Elba. Dois corpos austríacos, o segundo e o quarto, atacaram o flanco esquerdo do primeiro exército prussiano, pensando, assim, a desbordar toda a força adversária. Seu filho defendeu as linhas de ataque ferozmente, mas não conseguiu aguentar a chegada do segundo exército prussiano, após uma longa e apressada marcha que colheu, assim, o flanco direito austríaco pela retaguarda, para, em seguida, colocar-se entre as forças austríacas e Königgrätz. As reservas austríacas, assim como o primeiro e o segundo corpos, tentaram, ainda, um contra-ataque, mas a batalha já estava perdida.

    Minha mãe caiu de joelhos no chão, em prantos. Depois daquele dia, ela nunca mais foi a mesma. Wolf era o primogênito e vivia sempre em companhia de meu pai. Nosso contato era pouco. Eu tinha mais intimidade com Walter, que sempre cuidava de mim e das minhas irmãzinhas.

    A névoa do luto pairou sobre a nossa casa. Os dias passaram lentamente até a chegada do corpo de meu irmão. No dia do seu enterro, caiu uma tempestade terrível. A chuva era pesada e o céu estava cinzento. O coração de nossa família estava dilacerado. Minha mãe não conseguia parar de chorar. Minhas irmãzinhas estavam sendo consoladas por Walter e eu só queria ficar um pouco sozinho. Era estranho sentir esse vazio dentro de mim, afinal, eu era apenas uma criança, não sabia lidar com o luto. Mas a vida era assim, a guerra sempre cobrava seu preço, uma lição que aprendi no futuro.

    O tempo passou, mas as marcas ficaram. A morte de Wolf foi um duro golpe para minha família. Beaufort foi nosso ombro amigo e ajudou moralmente a nossa família. Posso até dizer que ele nos ajudou a colocar a cabeça no lugar.

    Um dia, eu tive um sonho que me deixou muito assustado. Foi tão aterrorizador que procurei pelos meus pais. Peguei uma vela e fui até o quarto deles, mas, quando eu abri a porta, não tinha ninguém dormindo ali. Desci as escadas lentamente até o terraço da nossa casa. Não havia nenhuma alma viva naquele lugar, o que me deixou mais assustado.

    Fui andando, até que vi uma pequena fresta iluminada vindo do escritório de meu pai. Nós não tínhamos permissão para entrar ali sem ele, mas eu estava com tanto medo que fui procurá-lo mesmo assim. Eu me aproximei e fiquei assustado com o que vi. Meu pai estava acompanhado por várias pessoas. Todos estavam vestidos com longos mantos negros, os quais iam até os pés. Aquela imagem fez que eu resolvesse voltar rapidamente para o meu quarto. Virei com tudo e, de repente, tropecei em alguém.

    Era Beaufort que estava atrás de mim. Ele olhou e fez um sinal com o dedo para que eu ficasse em silêncio. Eu concordei e o segui de volta até o meu quarto. Antes de sair dali, porém, eu ouvi uma palavra que só ouviria anos mais tarde.

    CAPÍTULO 3

    Um dia, meu pai nos levou até Viena, onde ele tinha negócios. Eu já estava com dez anos. A caminho de Viena, nossa carruagem parou para os cavalos descansarem. Estávamos distraídos, quando um mendigo veio de joelhos pedir alguns trocados:

    — Por favor, meu senhor, poderia me ajudar?

    Beaufort já veio com sua bengala para bater no pobre homem:

    — Sai daqui, sua escória imunda!

    Meu pai segurou Beaufort com sua bengala e retrucou com uma voz forte:

    — Cala a boca, Beaufort!

    Meu pai olhou para o homem ajoelhado e estendeu a sua mão:

    — Rapaz, não faça isso. Por favor, levante-se.

    O homem se apoiou no meu pai, que o perguntou:

    — Por que você se humilhou dessa forma?

    — É que estou há dias pedindo dinheiro para alimentar a minha família.

    Meu pai colocou a sua mão em um de seus bolsos, tirou alguns marcos de ouro e falou para o homem:

    — Nunca mais se humilhe assim. Se for para se ajoelhar, que seja para rezar para Deus. Você é de onde?

    — Sou de Alsácia-Lorena.

    — E o que faz tão longe de casa?

    — Procuro um emprego, mas não encontro nenhum.

    Meu pai foi até a nossa carruagem, pegou um pedaço de papel e escreveu algo. Então, entregou essa carta para o homem e retrucou:

    — Eu tenho uma fábrica lá. Entregue essa carta para o gerente e ele lhe dará um emprego.

    O homem não conseguia parar de chorar:

    — Muito obrigado, meu senhor.

    — Nunca mais se humilhe desse jeito.

    O homem pegou o dinheiro e a carta e foi embora. Beaufort retrucou com meu pai, mas ele nem ligou. Ele apenas veio em minha direção e falou:

    — Frederick, nunca julgue as pessoas, porque você não sabe o que elas passaram nessa vida. E nunca se ajoelhe perante um homem, ninguém, além de Deus, deve ser reverenciado.

    Eu era jovem demais para entender essas palavras, mas elas ficaram em minha mente até o fim da minha vida.

    Em uma noite quente de 1869, minha mãe voltara a sorrir. Ela tinha um bom motivo, pois nós iríamos para a reinauguração da casa de Ópera de Viena. Ela adorava ópera e aquela noite prometia ser inesquecível. A casa era fantástica.

    Eu não estava satisfeito com as roupas que minha mãe e a babá haviam escolhido para mim. Eu odiava todos aqueles aparatos. Minha mãe olhou firmemente para mim e disse:

    — Meu querido, hoje nós iremos à ópera!

    — Mas mãe, eu não gosto de ópera! – retruquei, aos berros.

    — Mas como você pode não gostar, se nunca ouviu uma?

    — Mas mãe...

    — Sem mais, nós iremos e ponto final.

    Quando chegamos à casa de ópera, fiquei impressionado com a sua beleza e sua arquitetura imponente. Minha família estava encantada com tanto luxo. O

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