Blefe
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Sobre este e-book
Miguel e Alexandre são amigos bastante próximos e colegas de faculdade. Mesmo com condições financeiras diferentes, são parceiros inseparáveis nas festas e na mesa de pôquer. Acostumados a muita diversão, bebedeiras e a uma infinidade de garotas ao redor, os dois se veem encurralados em um dilema que mexe com muito mais do que sua masculinidade. Pode algum sentimento maior surgir de uma amizade inabalável como a deles? E se surgir, o que farão?
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Blefe - Giselle Jacques
19/02/1998.
Capítulo 1
A música eletrônica se misturava com a algazarra de vozes incompreensíveis, risadas e o tilintar de copos e garrafas. O bar estava lotado, como sempre nas sextas-feiras. No andar de cima, os diversos sofás dispostos em quadrados ao redor de mesas baixas estavam todos ocupados pelo bando agitado de universitários. Em uma dessas aglomerações organizadas, uma disputa entre duplas de pôquer acontecia. Um jogo inventado e altamente erótico que dava direito ao vencedor escolher a penalidade da dupla derrotada.
– Um par de reis e um par de ases! Ganhei de novo! – anunciou Miguel jogando as cartas sobre o tampo de madeira lustrada e abrindo um sorriso triunfante.
As duas garotas diante dele reclamaram, mas as palmas ao redor – a plateia era grande – as incentivavam a cumprir a penalidade. Olharam-se, as duas, e com um leve dar de ombros, abriram as presilhas dos sutiãs, expondo os seios ao mesmo tempo, para delírio da audiência masculina.
– Aposta é aposta, meninas – riu-se Alexandre, ao lado, recolhendo e embaralhando as cartas para mais uma rodada.
– Isso não vale, vocês sempre ganham – disse Anita com expressão de tristeza e trazendo os longos cabelos lisos e avermelhados à frente para cobrir os seios desnudos. – Não temos a menor chance assim.
– E vamos seguir ganhando – disse Miguel ainda sorrindo, apanhando as cartas que o colega distribuía. – Na próxima, quero ver vocês se beijarem, garotas.
– E, se nós ganharmos, quero ver vocês se beijarem, seus malandros – enfatizou Luciana, ajeitando os óculos de aros pretos diante dos olhos azuis.
– Isso não vai acontecer – afirmou Alexandre, confiante.
– Não mesmo! – concordou seu colega.
Cartas distribuídas, apostas na mesa – jogavam com tampinhas de garrafa no lugar de moedas ou notas –, a rodada seguiu como a anterior. Com uma combinação de três valetes e dois oitos, Alexandre foi o vencedor. As palmas aumentaram e os gritos ao redor deles eram ensurdecedores. Luciana, os cabelos curtos impedindo-a de se cobrir como a colega, torceu o nariz enquanto Anita se encolhia a seu lado. Miguel levantou as mãos como que indicando que não teriam escolha. Luciana, a mais despojada, sorriu de volta e tomou o rosto de Anita entre as mãos. Trocaram um beijo muito ovacionado e ambas começaram a rir.
– Satisfeitos? – perguntou a de óculos aos presentes.
Recebeu gritos e urros em resposta, enquanto Alexandre e Miguel se cumprimentavam batendo os punhos cerrados.
Era assim em todos os finais de semana. Apesar das penitências um tanto pesadas, só entrava no jogo quem estivesse disposto a cumprir as exigências dos vencedores. Nada demais, uma brincadeira entre amigos de faculdade. Claro que, quase sempre, aquele jogo nada inocente terminava com alguns dos casais adversários na cama. Não era a primeira vez que jogavam, os quatro, embora a disputa das várias duplas pela mesa de pôquer fosse acirrada às sextas.
Última rodada, Anita embaralhou as cartas e as distribuiu. Miguel sorriu discretamente ao pegar um par de damas. Alexandre deu um gole na cerveja, direto na garrafa, e analisou as cartas. Um oito de paus, um seis de copas, um par de três, um rei de ouros. Nada de bom. Precisaria blefar. Apostou, pediu duas cartas e estreitou os olhos como se tirasse a sorte grande. Todavia, o par de três era a única combinação meramente possível. Aquela mão não era dele. Entretanto, o sorriso de Miguel quase que lhes garantia mais uma vitória. Pagou para ver.
– Par de reis – disse Anita.
– Não tenho nada – Alexandre espalhou as cartas na mesa.
– Trinca de damas, senhoras – sorriu Miguel. – Parece que levei a última.
– Não tão rápido, querido – Luciana deitou as cartas em leque. – Par de ases, trinca de valetes. Ganhei!
Alexandre baixou a cabeça teatralmente enquanto as mulheres da plateia gritavam e aplaudiam. Alguns homens vaiaram, mas a maioria se juntou ao coro feminino. Luciana cruzou os braços e mordeu o lábio diante de Miguel.
– Ok, ok. Ganhou – disse ele. – O que vai querer? Um strip? – e começou a tirar a camiseta.
– Nada disso, amor. Quero aquele beijo. Vamos, os dois, podem se beijar.
A audiência veio abaixo. Todos gritavam, aplaudiam, assoviavam. As piadas começaram a circular.
– Nada disso – disse Miguel deixando de sorrir.
– Eu não vou beijar outro cara – concordou Alexandre.
– Tem que beijar