Sob carne e ossos

De Rayan

A melancolia está no olhar alegre de uma criança, numa rosa solitária, está entranhada no nosso sangue e alma. Na maior parte do tempo, ela apenas fica escondida na sombra dos dias e no frio das noites. Quase sempre nós vencemos ela, mas, às vezes, ela nos vence.
Quando espio pela porta do meu quarto posso observar um mundo cheio de tristeza e desespero. Os rostos não sorriem com o coração, os olhos não enxergam outros olhos, é uma imensidão de corpos vazios, tomados de uma droga artificial que os empurra para o abismo da ganancia.
As bocas que mais gritam palavras de superioridade, são as que estão mais tomadas pelo manto negro que é a solidão de si mesmo.
E aqueles que se veem esquecidos no mundo, em casa, ou entre os amigos, aqueles que se acham indignos de receber amor, esses caras estão escondidos em um mundo à parte, onde a superioridade das pessoas não possa os atingir. Essas pessoas precisam apenas de compreensão. E eles acham compreensão, talvez em um poema, em uma música, em um filme, mas dificilmente encontram isso em uma pessoa. As pessoas estão ocupadas demais sustentando seus inimigos. Enquanto a alma de seus amigos se deteriora pelos cantos da cidade, pelas esquinas e becos.
Ninguém gosta de falar sobre o que está tão oculto dentro de nós, mas quando isso toma controle do nosso corpo, é preciso falar, é preciso lutar, enfrentar.
É preciso ver o lado bom da dor, é ela que nos faz ver o mundo com mais cor. A dor não leva ao vicio, ao alcoolismo ou suicídio, o que leva a isso é a falta de oportunidades, é você sorrir para a vida e ela não lhe sorrir de volta, é você tentar ajudar e não receber ajuda. As pessoas cansam. E, em muitas situações, escrever um poema apenas não é o suficiente para eliminar todo o vazio que existe dentro. Mas eu quero que tais poemas possam servir para acolher os corpos que andam mesmo sem um caminho, ou apenas para compreender as muitas mentes solitárias e incompreendidas que existem.

• Idioma: Português
• Editora: Viseu
• Data de lançamento: 1 de jun. de 2019
• ISBN: 9788530000295

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PARTE I

Vida

Existe um vazio profundo no mundo, sejam as plantas solitárias ou um homem velho numa cadeira de balanço, na sua varanda de 30 anos

Quando chegamos nesse ponto, em que percebemos que nada disso é necessário, quase nos sentimos idiotas por termos tentado tanto

Sejam as coisas que você fez ou deixou de fazer, agora está tudo num buraco, amontoado, uma pilha de coisas que não somam nada

A morte está sempre um passo à frente da vida

A morte é como um beijo lento, seduzindo-te

E eu acho que a morte é a chave para preencher esse vazio que parece ser infinito

A morte é infinita

Ela faz ter sentido todas as coisas inúteis da vida, sejam as coisas que você fez ou as que deixou de fazer.

Música de verão

Eu vou deixar as memórias passarem serenas

Enquanto eu toco uma música para os dias em que eu sorria

Eu vou sentar quieto debaixo de uma árvore

Esperar o sol me dar as costas e a lua me encontrar

Eu vou ficar aqui até toda raiva passar

Eu sei que enfrentá-la não ajuda

Eu tentei não quebrar a cara dessa vez

Mas todos tentam

Agora eu encontrei o ritmo da minha música

E não parece uma batida tão triste se ouvida em paz

A alma é o que diz se algo está bom ou ruim

Mas e quem diz se a alma está bem ou não?

Ame sua família

E não esqueça dos seus amigos

E não esqueça de você mesmo

A vida é uma música que sai de dentro de você

Tocada pelos anjos

Todos podem ouvi-la

Todos vão julgá-la

Nem todos vão amá-la

E não se isole por tanto tempo

E não tente abraçar o mundo

Dê o seu melhor e nada mais

Não tente ser mais do que você já é

Guarde um pouco de você para quando a amargura chegar

Guarde um pouco para acolher um amigo especial

Às vezes é mais fácil sentar sob a lua e deixar tudo fluir

Às vezes é necessário parar e ouvir o que o universo tem para lhe dizer

Mesmo que por um segundo

Um milésimo de segundo

Apenas acredite em si mesmo

E apenas tenha certeza que tudo vai dar certo

Mesmo que por um milésimo de segundo

Pois isso é o suficiente para mudar uma vida.

Natali.

Às vezes eu não sei se deus existe

Mas quando vejo um rosto tão lindo quanto o dela

Tenho certeza que existe

Seu sorriso encanta até os anjos

Que voam baixo para poder vê-lo de perto

Quando ela te olha

É como se aqueles olhos sussurrassem

No seu ouvido

E isso te penetra a alma

Ela deixa uma marca eterna por onde passa

Mas nunca deixa ser tocada da mesma forma

O amor lhe corre as veias

E como uma droga

Ela precisa disso sempre

Mas ela parece se esconder

Por detrás do silencio dos dias

Dias que não terminam

Madrugada adentro

A insônia lhe carrega no colo

E eu tive a sorte

De, nesse mesmo dia,

Andar ao seu lado enquanto a noite caia

A insônia que nos unia

Eu noto mais que seu corpo

Seu rosto

Ou seu all-star

Eu noto seu brilho que grita para sair

A morte lamentará ter que levá-la um dia

E a sorte estará com aqueles que tiveram o prazer

De ver de perto quem você é

E de quem recebeu um pouco

De todo o amor que você tem para dar.

Perdido

Eu tenho medo do que estou sentindo

Parece que não tenho mais motivos

Parece que os poemas acabaram

As músicas acabaram

E eu fico parado no meio de nada

Esperando algo acontecer

Olho à minha volta

Tudo anda

Tudo corre

De uma forma que não consigo alcançar

Meus amigos antigos não são os mesmos

E eu ainda continuo no mesmo lugar

O raio de sol rasgou os sentimentos da noite

Ao amanhecer todo sonho acaba

Aquele que você teve enquanto dormia

Ou aquele que você teve enquanto amava.

Minha velha amiga

Mais uma vez, agora,

Ela chega com passos lentos

Como uma gota de chuva

Que escorre pela janela

Em silêncio

Como um leão que se prepara para atacar

Ela ataca como um leão

Agora, a nuvem preta paira sobre você

Mais uma vez

Ela sempre volta

Para te deixar no chão

Você já sabe como vai ser

Quase uma piada se não fosse tão triste

Quase drama

Se não fosse tão real essa dor

E todos ao meu redor

Não quero machucá-los

Com a frieza das minhas palavras

O silêncio negro que está no ar

Entre nós dois, numa mesa de bar

Mas saibam, meus amigos,

Eu estaria melhor morto

Mas não quero que se sintam sozinhos como eu

Apenas com a melancolia como companhia

Meu riso vai voltar

Ao menos é o que sempre dizem.

Queria alcançar teus lábios

Parado na tua frente

Não sei se encaro teus olhos

Teu cabelo

Tua alma

Ou tua boca

Eu não sei que