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A Universidade de Paris: a velha Universidade - a nova Universidade a nova sorbonne
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E-book113 páginas1 hora

A Universidade de Paris: a velha Universidade - a nova Universidade a nova sorbonne

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Sobre este e-book

É com imensa satisfação que a EDUEL apresenta a coleção Clássicos de Hoje e de Sempre, voltada exclusivamente a traduções de obras publicadas no século XIX e no início do século XX. "Os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato, mais se revelam novos, inesperados, inéditos", disse lapidarmente Ítalo Calvino na década de 1980. A coleção Clássicos de Hoje e de Sempre tem como missão justamente levar aos leitores de Língua Portuguesa obras de autores que pensamos conhecer e que, no entanto, não lemos. Isso porque, em que pese a sua reputação, certos autores e certas obras jamais foram traduzidos no Brasil. Nesse sentido, há clássicos que ainda são inéditos em nosso país. Verdadeira miscelânea, a coleção lança um olhar muitas vezes inesperado sobre a música erudita, a feitiçaria, o antissemitismo, as viagens, o neoimpressionismo, o meio ambiente, a democracia, entre os mais variados assuntos. A coleção visa, portanto, a divulgar livros dos mais variados gêneros, ideologias e temas, de Célestin Bouglé a Richard Wagner, de Auguste Rodin a Charles Louandre, de Élisée Reclus a Guy de Maupassant, a fim de revelar ao leitor a eterna novidade desses clássicos.
IdiomaPortuguês
EditoraEDUEL
Data de lançamento7 de nov. de 2019
ISBN9788530200398
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    A Universidade de Paris - Louis Liard

    sorbonne

    I

    As origens – a Idade Média

    A Universidade de Paris é simultaneamente uma muito jovem e muito velha pessoa. Em sua forma atual, data apenas de 1896. Por suas origens, ela remonta ao século XII, e talvez ao século XI. Nesses tempos distantes, na ilha da Cité, em torno da primeira igreja Notre-Dame, aquela que havia sucedido ao templo de Esculápio da antiga Lutécia, formaram-se, por obra e sob a autoridade do Bispo de Paris, escolas para ensinar aos clérigos o que os clérigos deviam saber. Ensinava-se ali o que, naquele momento, era toda a sabedoria humana, profana e sagrada, de início as sete artes liberais: no primeiro grau, a gramática, a dialética ou a arte de raciocinar, a retórica ou a arte de falar e escrever; no segundo grau, a aritmética, a música, a geometria e a astronomia, as únicas ciências ou fragmentos de ciência conhecidos na Idade Média; mais tarde, acima das artes, a teologia, saber próprio do clérigo, depois o direito canônico, saber igualmente clerical, e, enfim, a medicina.

    Abrir uma escola era, então, muito simples. Bastava a permissão do Bispo ou de seu delegado, o Cancelário de Notre-Dame. Uma vez essa licença obtida, o mestre tinha direito de falar; ia escutá-lo quem quisesse. Ele falava ora ao ar livre, em uma rua, praça ou esquina, sobre um marco ou uma apeadeira, ora em lugar coberto, sob um claustro ou em uma sala guarnecida de uma cátedra ou de um escabelo, com feixes de palha para os alunos. Por muito tempo, essas escolas episcopais de Paris, sem outro vínculo além de sua dependência comum em relação ao Bispo ou ao Cancelário de Notre-Dame, foram as principais escolas do reino e das regiões da França. Logo seu renome propagou-se por toda a Europa, e contaram-se aos milhares seus alunos. Eles permaneciam nas escolas dez, quinze, vinte anos, e, às vezes mais, como, ainda hoje, os estudantes das zauias muçulmanas. Feliz cidade, — diz um contemporâneo, Philippe de Harvengt, abade de Bonne Espérance, — onde os estudantes são em tão grande número que sua multidão quase ultrapassa aquela dos habitantes laicos.

    Eram quase todos clérigos ou futuros clérigos, isto é, gente da Igreja; mas gente da Igreja amiúde de costumes pouco eclesiásticos, e que hoje causariam um escândalo. Um bom número era decerto ardente no estudo e ávido de conhecimento. A Idade Média intelectual formou-se quase toda em Paris. Mas muitos também trabalhavam pouco e bebiam muito. Para beber e comer, diz um predicador da época, eles não têm concorrentes; são devoradores à mesa, não devotos na missa. No trabalho, bocejam; no festim, não temem ninguém. Eles execram a meditação dos livros divinos; mas adoram ver o vinho borbulhar em suas taças. Ladinos e espirituosos, compõem, recitam e cantam fabliaux; amiúde, à noite, passeiam pelas ruas, empurram as portas dos burgueses, vão-se divertir com moças, sempre prontos a receber golpes, a desferir outros tantos, turbulentos, combativos, eriçados como galos, fazendo pouco caso de suas vidas e daquelas dos outros, audaciosos e bravos, a ponto de Filipe Augusto dizer deles: Eles são mais audaciosos do que os cavaleiros. Estes, cobertos de suas armaduras, hesitam a combater. Os clérigos tonsurados, que não têm nem cota, nem elmo, lançam-se uns sobre os outros de faca em punho. Isso não impedia a Escola de Paris de ser considerada desde essa época como a estufa do espírito, o promontório do Parnaso, a Santa Jerusalém toda perfumada de aromas intelectuais, e crescer em renome em todos os países da Europa.

    Essa multidão agitada, aumentada de ano a ano, não tardara a transpor a Cité, mas só para a margem esquerda do Sena, pelo Petit-Pont. Muitos não ficavam aborrecidos por colocar o rio entre eles e a rude autoridade do Cancelário de Notre-Dame. Pouco a pouco, e muito cedo, por seu próprio tipo de vida e pela necessidade de apoiar-se, mestres e alunos haviam adquirido o hábito de unir-se, de início segundo suas regiões de origem, depois segundo a natureza de seus estudos.

    Enfim, uma aproximação mais geral realizou-se no dia em que, no flanco norte da colina Sainte-Geneviève, mestres como Guillaume de Champeaux e sobretudo Abelardo, haviam atraído para eles as multidões de estudantes e provocado seu entusiasmo. Nesse dia, surgiu nelas algo como a consciência de uma unidade. Dessas uniões e agrupamentos espontâneos emanou a Universidade de Paris. Nessa época, juridicamente, universidade significava corporação; o termo universitas, — todos juntos, — opunha-se à expressão singuli ut singuli, — um a um. Dizia-se no Sul universitas civium para designar o conjunto dos cidadãos de uma cidade administrando a si próprios; no Norte, dizia-se universitas mercatorum para designar uma corporação tendo seus privilégios. A partir do século XIII, houve a corporação dos mestres e dos estudantes de Paris, e foi a Universidade de Paris.

    Ela nasceu de dois atos: um do poder real, o outro do poder pontifical, e de uma maneira que mostra quais eram desde logo a força e o espírito político da corporação nascente¹.

    ¹ Em relação a esse período, ver A. Luchaire, em Histoire de France, de Ernest Lavisse, t. III, 1a parte, cap. V. Langlois, ibid, t. III, 2a parte.

    Em consequência de uma querela e de uma escaramuça, vários estudantes morreram, nas cercanias da Abadia de Saint-Germain-des-Près. A multidão de mestres e estudantes foi assaz poderosa para impor ao rei Filipe Augusto a outorga de uma lei que a liberava da polícia municipal e dos juízes do Rei. Por este ato do ano 1200, a Universidade, subtraída da jurisdição civil, é submetida exclusivamente aos juízes da Igreja. É proibido ao Preboste de Paris colocar as mãos sobre um estudante, a não ser em flagrante delito, e, mesmo assim, ele deverá entregá-lo imediatamente à justiça eclesiástica. Em nenhum caso, e sob nenhum pretexto, os mestres da Universidade poderão ser presos pelos homens do Rei. Os laicos deverão proteção e assistência aos estudantes, todas as vezes que estes forem atacados ou molestados. Enfim, o Preboste e os burgueses de Paris são obrigados a jurar, ante a Universidade, que eles observarão de boa-fé, em toda circunstância, as cláusulas desse privilégio. Era um Estado no Estado que acabara de surgir.

    Mal liberara-se da autoridade civil e real, a Universidade já sonhava com uma outra liberação. A autoridade da qual ela doravante dependia para sua vida civil bem como para sua vida escolar era aquela do Bispo. Ela não podia separar-se juridicamente dele e pretender exercer sobre si mesma uma jurisdição própria. Mas a autoridade episcopal era demasiado próxima; havia sido várias vezes severa e até mesmo injusta; na concessão das licenças de ensino, havia sido amiúde parcial e negociante. A Universidade, que ainda não tinha um direito interno, quis um, e foi ao Papa que ela reivindicou.

    Nessa época, os bispos não estavam inteiramente sob a dependência dos papas. Todavia, no clero, para escapar da tirania deles, os clérigos se dirigiam ao Papa, como a autoridade superior. As ordens monásticas constituíram-se assim. A Universidade de Paris, para liberar-se parcialmente do Bispo, recorreu ao Papa, e, em 1215, um cardeal, Robert de Courçon, foi delegado para trazer-lhe a bula que a constituía como corporação eclesiástica. Inútil relatar aqui os diversos artigos dessa constituição. Bastará ressaltar uma disposição essencial dela: era reconhecido o direito aos mestres e estudantes de Paris a confederar-se entre si, ou com outros, e fechar as escolas em determinadas circunstâncias, por exemplo, se um mestre ou um estudante fosse morto ou ferido, se recebesse injúria grave, se lhe fosse recusada a justiça.

    Após a liberação da polícia e da justiça civis, era o direito de coalizão, implicando o direito de reunião; era também o direito de greve. Assim, após a outorga emancipadora do Rei, afirmava-se e ampliava-se, por um ato do Papa, a independência da Universidade. Entretanto, é bom não se enganar; ela permanece coisa da Igreja. É uma corporação, mas é também uma confraria. É composta quase exclusivamente de clérigos, todos tonsurados. Ela é, à exceção de raros físicos ou médicos que ela contém, essencialmente órgão da Igreja. É sob

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