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Minas de Todos os Santos: Dicionário de Topônimos
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Minas de Todos os Santos: Dicionário de Topônimos
E-book371 páginas3 horas

Minas de Todos os Santos: Dicionário de Topônimos

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Sobre este e-book

Minas de todos os santos: dicionário de topônimos trata da tradição de batizar os lugares com nomes de santos, santas e invocações de Nossa Senhora, uma herança portuguesa que encontra solo fértil no estado de Minas Gerais desde o início de seu povoamento. Por meio da comparação entre o registro dos topônimos em mapas históricos (séculos XVIII e XIX) e em mapas contemporâneos, o leitor encontrará, nos verbetes apresentados, o percurso da preferência regional pelo emprego sistemático dos nomes de tradição católica em território mineiro, tendo acesso também a mapas temáticos e à distribuição geográfica de mais de cinco mil topônimos relativos a nomes de cidades, vilas, povoados, fazendas, rios, córregos, ribeirões, morros, serras, entre outros acidentes geográficos – físicos e humanos – dos 853 municípios mineiros.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento8 de dez. de 2017
ISBN9788547307875
Minas de Todos os Santos: Dicionário de Topônimos

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    Pré-visualização do livro

    Minas de Todos os Santos - Ana Paula Mendes Alves de Carvalho

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Às minhas filhas queridas,

    Letícia e Júlia,

    que chegaram ao mundo

    enchendo-o de alegria e doçura;

    Ao meu marido Carlos Eduardo,

    pelo amor, pelo incentivo e pela companhia,

    sempre;

    Aos meus pais, Gegê e Aparecida,

    e aos meus irmãos, João Paulo e Cristina,

    pelo estímulo constante e pelo apoio incondicional;

    A Deus.

    APRESENTAÇÃO

    Desde pequena, eu sempre fui muito curiosa. Gostava de fazer perguntas sobre tudo e me dedicava aos trabalhos escolares com profundidade. Tinha como obsessão não parar os estudos no ensino médio; pelo contrário, queria fazer graduação, mestrado, doutorado... E assim foi feito! Ultrapassando barreiras e vencendo limites, adentrei o universo acadêmico, onde permaneço buscando respostas e fazendo outras muitas perguntas, pois, como disse Guimarães Rosa, vivendo se aprende: mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.

    Estudar a Língua Portuguesa para aprender a ensiná-la fascinou-me ainda na graduação. Foi aí que me enveredei pelos estudos de Variação Linguística, na tentativa de compreender a relação entre língua, cultura e sociedade. Assim, na especialização e no mestrado, dediquei-me à variação sintática – ausência/presença de artigo definido diante de nomes próprios de pessoas –, focalizando a comunidade de fala em que eu me encontrava inserida. Constatei, então, que o comportamento linguístico do indivíduo está diretamente relacionado à sua identidade cultural.

    Depois, no doutorado, encantei-me pelos estudos do léxico, mais especificamente pelos estudos toponímicos. Conhecer o porquê dos nomes atribuídos aos lugares passou a me intrigar.

    O primeiro estudo toponímico que fiz, ainda em 2006, foi a respeito de um dos topônimos anteriormente atribuído à cidade onde eu morava: São José da Barra Longa, um hagiotopônimo, isto é, um topônimo relativo a um nome de santo, cuja motivação, na época de fundação da freguesia, pode ser explicada como uma homenagem a D. José, rei de Portugal e muito devoto do santo homônimo. Aprendi com esse estudo que um hagiotopônimo tão frequente na toponímia de Minas Gerais e do Brasil, como é o caso do hagiônimo São José, nem sempre reflete apenas a realidade devocional; ao invés disso, centra-se, muitas vezes, na figura de alguém ilustre para a comunidade ou, ainda, em escolhas pessoais do proprietário e/ou fundador da localidade.

    Esse trabalho me impulsionou a conhecer outros lugares em território mineiro nomeados por nomes de santos e santas de tradição católica, já que, como uma herança portuguesa, essa tendência denominativa é e sempre foi muito recorrente no Brasil. Surgiu aí, então, a motivação para a minha pesquisa de doutorado, intitulada Hagiotoponímia em Minas Gerais, cujo produto resulta neste livro, um dicionário de topônimos que, com o auxílio de alguns mapas temáticos, traz a distribuição geográfica, em território mineiro, de mais de cinco mil nomes próprios de lugares motivados por nomes de santos, santas e invocações a Nossa Senhora – os hagiotopônimos.

    Apesar de muito gratificante, não foi tarefa fácil a elaboração desse trabalho de pesquisa, que só foi possível graças à orientação cuidadosa da professora e amiga Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, a quem dirijo o meu agradecimento especial.

    Destinado ao leitor que deseja conhecer a localização dos topônimos religiosos em território mineiro, este dicionário apresenta mais de 800 verbetes constituídos da identificação do tipo de acidente e do número de ocorrências de cada hagiotopônimo extraído em mapas contemporâneos, bem como, em alguns casos, de uma nota explicativa informando que o topônimo também apareceu em mapas dos séculos XVIII e XIX.

    Trata-se, pois, de uma obra lexicográfica que, ao focalizar o léxico toponímico de todo o estado de Minas Gerais, não se destina a um público específico; pelo contrário, destina-se a todos aqueles que se interessarem por informações históricas e socioculturais que permearam e continuam permeando o processo denominativo dos acidentes físicos e humanos dos 853 municípios mineiros.

    O convite para conhecer cidades, rios, córregos, fazendas e outros muitos acidentes geográficos do nosso estado batizados com nomes de santos e santas de tradição católica é feito, então, a todos.

    A casa é sua, entre e fique à vontade!

    A autora

    PREFÁCIO

    […] ao qual monte alto o capitão pôs o nome de – O Monte Pascoal

    e à terra – A Terra de Vera Cruz!¹

    Vera Cruz, depois Santa Cruz. Assim o Brasil é batizado em 1500, pelos portugueses, sob o manto da fé católica. Surgem as primeiras vilas, as cidades... São Vicente, a primeira vila, fundada por Martim Afonso, em 1532; São Salvador da Bahia de Todos os Santos, a primeira cidade, fundada por Tomé de Sousa em 1549; São Sebastião do Rio de Janeiro, a segunda cidade, fundada por Estácio de Sá em 1565.

    Evocando o sagrado, em momentos distintos, à medida que o novo território vai sendo conquistado e povoado, a marca da religiosidade se faz presente, não só em capelas e igrejas, mas também nos nomes próprios de lugares, sejam eles vilas, cidades, morros, rios, fazendas...

    Identificando sítios, cada nome de lugar parece guardar uma história própria – está ligado a nosso passado, a nossas origens, a homens e mulheres que nos precederam nesta Terra que agora ocupamos. Despertam, por isso, curiosidades.

    Deter-me-ei no estado de Minas Gerais. Quem tiver interesse em conhecer onde e quais os santos e santas da Igreja Católica que nomeiam cidades, rios, montanhas e outros acidentes geográficos nessa parte do território brasileiro encontrará aqui um estudo primoroso.

    Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Minas Gerais, a pesquisa de Ana Paula Mendes Alves de Carvalho é resultado de muita dedicação, muito esforço e muita competência. Com vários artigos já publicados sobre o tema, Ana Paula nos presenteia, agora, com este Dicionário de topônimos, que não é um simples repertório de nomes de lugar de uma região, mas uma obra de lexicologia e lexicografia toponímica.

    Quão interessante e rica é esta pesquisa! Tendo feito o levantamento de todos os hagiotopônimos presentes em cartas geográficas contemporâneas, referentes aos 853 municípios mineiros do estado de Minas Gerais, Ana Paula construiu, também, um banco de dados históricos, proveniente de nomes de lugar presentes em mapas dos séculos XVIII e XIX, realizando um estudo sincrônico e diacrônico; confeccionou mapas temáticos; aceitou o desafio de propor uma inovação à classificação taxonômica para os hagiotopônimos e elaborou, ainda, um dicionário.

    Como todo bom trabalho, de caráter descritivo e analítico, mas, sobretudo, sólido, as informações contidas nesta obra nos levam a pensar que esta é uma pesquisa que merece e pode ser ampliada para outros estados do Brasil.

    Estou convencida da importância desta obra, de seu ineditismo, já que são realmente poucos e, sobretudo, muito dispersos os dados disponíveis sobre a hagiotoponímia do Brasil.

    Parabéns, Ana Paula!

    Maria Cândida Trindade Costa de Seabra

    Professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    1

    LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE

    1.1 O PROCESSO DE NOMEAÇÃO: O TOPÔNIMO

    1.2 A RELEVÂNCIA DOS ESTUDOS TOPONÍMICOS PARA A SOCIEDADE

    1.3 BREVE HISTÓRICO DOS ESTUDOS TOPONÍMICOS

    1.4 O PROJETO ATEMIG

    2

    RELIGIOSIDADE E TOPONÍMIA

    2.1 O CULTO AOS SANTOS: ORIGEM E EVOLUÇÃO

    2.2 O CULTO A SANTA MARIA MÃE DE DEUS: INVOCAÇÕES MÚLTIPLAS

    2.3 A DEVOÇÃO NO BRASIL: UMA HERANÇA PORTUGUESA

    2.4 O CULTO AOS SANTOS E O POVOAMENTO DE MINAS GERAIS

    2.5 MARCAS DA DEVOÇÃO NO ESPAÇO GEOGRÁFICO: HAGIOTOPONÍMIA

    3

    HAGIOTOPONÍMIA EM MINAS GERAIS

    3.1 HAGIOTOPÔNIMOS MINEIROS: DO PASSADO AO PRESENTE

    3.1.1 SOBRE AS DENOMINAÇÕES DOS MUNICÍPIOS MINEIROS

    4

    DICIONÁRIO DE TOPÔNIMOS

    4.1 NOMES DE SANTOS

    4.2 NOMES DE SANTAS

    4.3 MARIOTOPÔNIMOS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    [...] se uma língua materna é determinada pela peculiaridade dos seus criadores, pelas condições geográficas e históricas, pela amplidão e a intensidade do desenvolvimento do acionamento da faculdade linguística, cada palavra ou expressão peculiar traz consigo necessariamente os traços de sua origem. O fato comumente reconhecido de diversidade de línguas revela a sua importância em um ponto não esperado pela maioria: o decisivo não é a diversidade de forma, de fonética, das designações, etc. […] mas a diversidade de concepção espiritual do mundo que é assimilada em cada língua.²

    O costume de dar aos lugares o nome de um santo é muito antigo. Remonta à segunda metade do século VI, quando as igrejas catedrais e paroquiais não tinham patrono, mas as igrejas particulares, basílicas e oratórios já eram normalmente erigidas em honra de um santo, que passava, então, a ser o símbolo da igreja e a lhe dar o nome, que posteriormente era atribuído também às terras e à freguesia que iam se organizando nos arredores do templo religioso.³ Esse costume, que teve início na antiguidade cristã, veio, ao longo dos séculos, sendo passado de geração para geração e pode ser observado ainda nos dias atuais, sendo possível até mesmo verificar-se a preferência regional pelo emprego sistemático de determinados santos e santas⁴.

    É, pois, da intenção de registrar a preferência regional pelo emprego sistemático dessas denominações em Minas Gerais que surge a ideia de elaborar um dicionário de topônimos, mais especificamente de hagiotopônimos, isto é, um dicionário de nomes próprios de lugar referentes aos nomes de santos e santas de tradição católica e, por extensão, aos nomes relativos às invocações da Virgem Maria, que nomeiam acidentes geográficos – físicos e humanos – nas 12 mesorregiões do estado de Minas Gerais.

    Destinado ao consulente que deseja conhecer a localização dos topônimos religiosos e os acidentes a que se referem, este dicionário se apresenta como uma continuidade do trabalho desenvolvido em 2014, em que se procedeu à coleta e análise quantitativa e qualitativa de todos os hagiotopônimos do território mineiro. Vinculada ao Projeto Atlas Toponímico de Minas Gerais – Atemig –, que vem sendo desenvolvido, desde 2005, na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, sob a coordenação da Prof.ª Dr.ª Maria Cândida Trindade Costa de Seabra, a pesquisa constituiu-se de uma investigação toponímica orientada pela perspectiva de que língua e cultura são elementos indissociáveis.

    Entende-se cultura como um conjunto de ideias, tradições, conhecimentos e práticas individuais e sociais, que podem ser projetados na língua de um povo.⁵ Sob esse enfoque, pode-se dizer que os membros da comunidade valem-se do sistema linguístico para representar a realidade e expressar os valores culturais partilhados socialmente entre si. É dessa maneira que conhecimento, crenças e valores adquiridos ao longo do tempo são transmitidos de uma geração para outra, evidenciando, assim, a inter-relação que se estabelece entre língua, cultura e sociedade.⁶

    Essa inter-relação manifesta-se, sobretudo, no léxico, um dos pilares da língua que melhor deixa transparecer o ambiente físico e social em que os falantes se encontram inseridos, por privilegiar a configuração da realidade extralinguística e o armazenamento de todo o saber linguístico de um povo. É possível afirmar, então, que a investigação do nível lexical – nesse caso, a investigação do léxico toponímico – permite que sejam encontrados meios para o conhecimento e para a compreensão da concepção de mundo de uma época, do modo de vida de determinado grupo social e, também, de elementos essenciais para que se possa caracterizar a realidade sociocultural de seus falantes.

    Nessa perspectiva, apoiando-nos na inter-relação léxico, cultura e sociedade e, em virtude disso, visando relacionar o topônimo a fatores históricos e socioculturais da comunidade, partiu-se da hipótese de que, em Minas Gerais, o emprego de nomes religiosos na toponímia relaciona-se diretamente com o processo de povoamento do estado, o que foi comprovado a partir da observação de como essa tendência denominativa se distribui nas 12 mesorregiões mineiras.

    Desse modo, considerando as categorias onomásticas analisadas, apresenta-se, a seguir, a localização geográfica de cada ocorrência dos hagiotopônimos coletados em mapas contemporâneos em um dicionário, constituído de 822 verbetes, dos quais 569 referem-se aos nomes de santos; 210 são nomes de santas e 43 são mariotopônimos, ou topônimos relativos às invocações da Virgem Maria.

    Esses verbetes trazem também a identificação do tipo de acidente e o número de ocorrências de cada hagiotopônimo extraído do banco de dados do Projeto Atemig, e, em alguns casos, uma nota explicativa informando que o topônimo também apareceu em algum dos períodos históricos considerados, já que, além dos mapas contemporâneos, também foram consultados mapas dos séculos XVIII e XIX. Além disso, a fim de que a informação referente à localização geográfica dos topônimos analisados fosse mais bem visualizada, fez-se, por meio da elaboração de algumas cartas temáticas, o mapeamento dos nomes mais produtivos nos 853 municípios mineiros.

    Destaca-se, entretanto, que antes da apresentação dos verbetes tem-se uma breve contextualização dos estudos toponímicos, bem como da relação entre toponímia e religiosidade, tanto de forma geral quanto de forma específica; neste último caso, tomando como referência o léxico toponímico mineiro.

    1

    LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE

    Língua e sociedade estão essencialmente relacionadas. Essa relação é a base da constituição do ser humano, visto que a história da humanidade nada mais é do que a história de seres organizados em sociedades e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua.

    Para Ferdinand de Saussure, fundador da Linguística Moderna, a língua, além de uma realidade sistemática e funcional, deve ser vista também como um acervo linguístico e, consequentemente, como uma instituição social. Isso porque, conforme o autor, o sistema de signos linguísticos está diretamente relacionado ao processo das relações sociais, o que permite que as vivências culturais de uma comunidade, acumuladas ao longo da história, sejam conservadas em seu sistema linguístico. Nas palavras do linguista:

    Se pudéssemos abarcar a totalidade das imagens verbais armazenadas em todos os indivíduos, atingiríamos o liame social que constitui a língua. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo.

    Sob esse enfoque, a língua é vista como uma ferramenta essencial para a interação entre o homem e o mundo em que vive, uma vez que

    […] adquirir uma língua significa fazer parte de uma comunidade de pessoas que participam de atividades comuns através do uso, [...] significa fazer parte de uma tradição, compartilhar uma história e, portanto, ter acesso a uma memória coletiva, repleta de histórias, alusões, opiniões, receitas e outras coisas que nos fazem humanos.

    Como atividade social, ao mesmo tempo em que reflete a cultura do grupo a que serve, a língua é também parte representativa dessa cultura. Língua e cultura são, portanto, elementos indissociáveis que se relacionam diretamente com a história social de um povo.

    1.1 O PROCESSO DE NOMEAÇÃO: O TOPÔNIMO

    A língua envolve todas as ações e todos os pensamentos humanos, possibilitando ao indivíduo exercer influências ou ser influenciado pelo outro, desempenhar seu papel na sociedade, relacionar-se com os demais, participar na construção de conhecimentos e da cultura, enfim, permite-lhe se constituir como ser social, político e ideológico.

    Partindo desse pressuposto, para compreender o papel da língua na vida da comunidade, é preciso ir além do estudo de sua gramática e entrar no mundo da ação social, onde as palavras são encaixadas e constitutivas de atividades culturais específicas, como o ato de nomear, por exemplo, que é considerado uma das principais funções da linguagem. Isso porque, por meio do ato de nomear, é evidenciada a importância da palavra e o seu papel como elemento revelador de aspectos socioculturais de um grupo humano.

    Para Biderman, a palavra é mais que uma forma de comunicação, visto que, por ser mágica, cabalística, sagrada, a palavra tende a construir uma realidade dotada de poder⁹. Para ilustrar seu ponto de vista sobre o poder da palavra, a autora afirma que, nas numerosas tradições culturais dos homens, a linguagem surge com a palavra instituidora que abre ao ser o espaço para ele se manifestar. É, então, desse modo, que o homem, desde o início dos tempos, vem fazendo uso das palavras para nomear todo o seu entorno: animais, plantas, pessoas, lugares etc..

    Ao se referir à nomeação dos lugares, Dick afirma que o ato de nomear está diretamente relacionado aos valores, às ações e às reações do ser humano. Conforme a autora, as forças centrífugas e centrípetas do conjunto denominativo não são isoladas; são, pelo contrário, dependentes dos procedimentos que envolvem as atividades humanas. E, nesse centro de influências e condicionantes e no ato da nomeação, o homem se posiciona como protagonista.¹⁰

    Desse modo, é possível afirmar que o ato de nomear reflete a cultura e a visão de mundo do denominador que são evidenciadas mediante escolhas dos nomes que identificam os referentes relacionados à realidade de cada grupo. É, pois, por meio do nome que o homem organiza o mundo, representando-o, de modo a categorizar a realidade na qual se encontra inserido.

    Concebido como uma forma linguística que tem a função semântica de identificar um ponto concreto da geografia, individualizando-o, o nome próprio de lugar – topônimo – guarda íntima relação com o o contexto histórico-político da comunidade, uma vez que sua carga significativa guarda estreita ligação com o solo, o clima, a vegetação abundante ou pobre e as próprias feições culturais de uma região em suas diversas manifestações de vida¹¹. Consiste, pois, no resultado da ação do nomeador que, ao realizar um recorte no plano das significações, pela designação de determinado acidente geográfico, registra o momento vivido pela comunidade.

    Nas palavras de Dick:

    Verdadeiros testemunhos históricos de fato e ocorrências registrados nos mais diversos momentos da vida de uma população,

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