PCC e Igreja Evangélica - um casamento até que a Bíblia os separe
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PCC e Igreja Evangélica - um casamento até que a Bíblia os separe - Edmar Pedrosa
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AGRADECIMENTOS
Minha gratidão inicial é ao Senhor dos Exércitos, nosso Deus, que um dia me arregimentou para lutar contra o mal, primeiro me chamando para combater o crime e proteger pessoas e depois, me vocacionando para o sagrado ministério da ministração de Sua palavra, para assim levar a mensagem de Deus as pessoas e as pessoas a palavra de Deus – obrigado Senhor pela dupla honra.
Obrigado a minha esposa Valdirene, que por anos combate o crime em todas as suas facetas, inclusive o organizado, labutando na tão nobre Polícia Militar do Estado de São Paulo. A você minha gratidão pela guerreira que é e a nossos filhos Lucas e Isaac. Que Deus recompense vocês pelos momentos que os privei da minha presença, seja protegendo a família dos outros, seja preparando este trabalho. Seu trabalho, Val, nunca foi e nem será vão no Senhor.
Sou grato a tantos que, anonimamente, intercedem ao Pai pela minha vida profissional e pelo ministério concedido a mim pelo Senhor.
Obrigado à amada Igreja Batista da Reforma sediada em Valinhos SP. Sou honrado em servir ao Senhor ao lado de vocês, pois me fazem sentir completamente realizado em minha vida. Amo demais a vocês.
Ao meu respeitável orientador Dr Jaziel Guerreiro Martins, que, com maestria me deu toda liberdade para pesquisar e elaborar este trabalho, me abençoando com conselhos fundamentais para sua conclusão. Que aquele que é, que era e que há de vir, possa recompensar grandemente sua vida.
NOTA DO AUTOR
O Crime organizado é uma realidade na sociedade brasileira há pelo menos três décadas. No século XX no Brasil, nunca foi novidade infratores se organizarem para cometerem crimes. Esta prática pôde ser constatada em capitais litorâneas como Rio de Janeiro, no sertão nordestino com Lampião e seus cangaceiros, no entanto assentou domínio nas grandes capitais, principalmente em São Paulo devido a suas características metropolitanas e acúmulo de riquezas.
O foco dos infratores é a busca pelo ganho financeiro a todo custo. Para isso exploram pessoas usando de variadas artimanhas, especialmente dentro de igrejas de linha protestante, sempre acompanhadas de muita violência e do medo da morte.
Para conseguirem seus intentos, criaram uma ideologia inteligentemente orquestrada. Suas bases são sociológicas e filosóficas, mas acima de tudo, teológicas. Conhecer sua estrutura e de onde surgiu esta ideologia nefasta é fundamental.
Mostram aos homens de dentro e fora dos presídios que eles são oprimidos e precisam se livrar desta condição por meio da luta, armada inclusive, contra tudo e contra todos. Depois de convencê-los a integrarem a facção, o próprio crime organizado os escraviza e oprime obrigando ao pagamento de mensalidades mediante o constante medo da morte caso descumpram alguma de suas regras, ditatorialmente impostas.
Expandir de São Paulo para o Brasil e o mundo foi questão de tempo. O Primeiro Comando da Capital nasceu e cresceu vertiginosamente e o combate ao crime deve começar pela negação de sua ideologia de forma a mostrar às pessoas que o crime não compensa e, teologicamente, representa a destruição eterna da alma.
Edmar dos Santos Pedrosa Mestre em teologia pela FAPABAR Doutorando em Sociologia pela UNICAMP
PREFÁCIO
O fenômeno da violência no sistema penitenciário brasileiro vivenciado e notificado pelos Meios de Comunicação Social é fruto de uma ideologia inteligentemente orquestrada. A sociedade carcerária, a vida na prisão desenvolve-se informada por uma cultura própria, cujas leis são distintas das que regulam o mundo livre.
Os presos vivem debaixo de seu próprio Código e eles próprios impõem sanções a quem o descumpre. O domínio das unidades prisionais pelas facções criminosas é fato conhecido, inclusive daqueles que possuem poder para mudar esta realidade.
Entre suas causas pode-se falar de uma fusão de fatores, como o restrito grupo de funcionários, a falta de suprimentos de materiais e a superpopulação do cárcere. Nas unidades prisionais brasileiras coexistem dois diferentes sistemas de vida: o oficial, representado pelas normas legais que disciplinam o cotidiano no cárcere e o não-oficial, que rege a vida dos internos e as relações entre eles, uma espécie de código do interno
, segundo o qual esse não deve jamais cooperar com os funcionários e muito menos facilitar-lhes informações que possam prejudicar um companheiro.
Vivencia-se, hoje, uma nova ordem nas prisões e as organizações criminosas são suas protagonistas. A ausência do Estado, a falta de uma instância capaz de ordenar o cotidiano prisional e de mediar os conflitos ali existentes contribui para o fortalecimento das facções criminosas na busca do domínio sobre o sistema prisional.
Outro fator que também contribuiu para a formação das facções criminosas foi a livre negociação com funcionários do cárcere, a corrupção destes, despreparados, o que permitiu o descumprimento de inúmeros regulamentos.
Neste viés, insere-se, também a evangelização perpetrada por igrejas protestantes dentro das celas dos presídios. A introdução da Bíblia e a leitura bíblica anuncia a esperança de uma vida melhor. Assim como a pessoa de Jesus é capaz de libertar o preso oprimido e fazê-lo prosperar e ser respeitado, os líderes das facções criminosas, vão receber, dos que os cercam, quase que um respeito divino, inclusive com poder para decidir sobre a vida e a morte de alguém.
A facção é vista como deus e é representada por uma forte e centralizadora liderança onde se deve aos líderes um temor reverencial. A organização das facções segue, assim, o mesmo esquema das igrejas protestantes.
Do mesmo modo, os aspectos teológicos utilizados pelas denominações protestantes que interessam aos intentos da facção criminosa são por eles seguidos como verdadeiros dogmas. A partir disso, criam símbolos e slogans representativos dos valores que toda pessoa busca, seja ela rica ou pobre, presa ou livre - a paz, a justiça e a liberdade.
Nesta senda, a obra PCC e Igreja Evangélica: um casamento até que a Bíblia os separe de Edmar dos Santos Pedrosa se apresenta como um conjunto bem-ordenado e bastante completo sobre os princípios e valores que fundamentam o PCC e as facções criminosas nacionais.
O autor mostra a correlação das práticas criminosas com práticas de denominações protestantes contemporâneas. Parte da teologia ensinada pelas igrejas protestante nas prisões, pelo menos em alguns dos seus aspectos fundamentais, é utilizada pelos membros de facções para justificar os altos índices de reincidência criminal dos egressos no sistema prisional.
Emerge na obra do autor um grande desafio para as igrejas protestantes contemporâneas de não servir aos ideais do PCC que se utiliza da fachada da opressão carcerária e social dos mais pobres para fortalecer sua ideologia.
O Cristianismo é religião da paz, do amor, do respeito pelo outro, na sua dignidade. A maior parte das grandes questões éticas são emanadas da Bíblia e essa se constitui a base para o agir ético cristão. O crime organizado jamais será o caminho para um agir ético. A igreja deve apresentar para os seus membros uma ética baseada nos ensinos de Jesus. Paulo escreve ao Timóteo: "que se enriqueçam de boas obras" (1Tm 6.18).
O Evangelho de Jesus Cristo, lido e interpretado na essência, tem ainda o poder de modificar essa nova ordem, pois é repleto de humanidade. O Deus de Jesus Cristo é o Deus que atende às necessidades de seu povo. O Deus do Evangelho é um Deus da vida e não da morte.
Profª Drª Clélia Peretti
Profª PUCPR - Mestrado e Doutorado em Teologia
Sumário
AGRADECIMENTOS
NOTA DO AUTOR
PREFÁCIO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. CONCEITUAÇÃO E ESTRUTURA DO CRIME ORGANIZADO
1.1. A formação e conceituação do PCC
1.2. A organização hierárquica do PCC
1.3. A liderança no PCC
1.3.1. A idealização de Deus na facção
1.3.2. A religião como semelhanças entre PCC e a igreja
1.4. Normas e Sanções
1.5. A Ética do crime
1.6. O ritual de entrada
1.7. A forma de saída
1.8. A arrecadação financeira
1.9. Necessidade de expansão
1.10. A consumação do objetivo expansionista
1.11. Os Valores Sociais
1.12. Símbolos
1.12.1. Uso de símbolos corporais
1.12.2. Uso de símbolos verbais
2. ASPECTOS TEOLÓGICOS UTILIZADOS PELO PCC
2.1. A justiça na cosmovisão dos envolvidos com o PCC
2.2. Uma Cristologia libertária
2.3. A possibilidade de salvação pelo crime
2.4. As possíveis relações com este pensamento
2.4.1. Friedrich Nietzsche e a realidade louca
2.4.2. Karl Marx e a realidade alienada
2.4.3. Sigmund Freud e a realidade ilusória
2.5. Os pressupostos da teologia da libertação e o PCC
2.5.1. Contexto histórico da teologia da libertação
2.5.2. A união em torno de um ideal
2.5.3. No mundo, nem tudo se cria
2.5.4. A propaganda ideológica do crime
2.5.5. Uma teologia cristã pluralista
2.5.6. O ecumenismo criminoso
2.5.7. Uma interpretação prática da teologia
2.5.8. Uma teologia com pressuposto social
2.5.9. O caráter revolucionário da libertação
3. AÇÕES DELITUOSAS LIGADAS AO MOVIMENTO PROTESTANTE
3.1. A necessidade do trabalho
3.2. Da lavagem de dinheiro
3.3. Exploração do transporte coletivo
3.4. Exploração do tráfico de drogas
3.5. Uso de aparelhos celulares
3.6. Envolvimento político do PCC
3.7. O furto e roubo de veículos
3.8. O roubo e receptação de cargas
3.9. Pirataria e contrabando
CONCLUSÃO
ANEXO A – TEXTOS JORNALÍSTICOS
APÊNDICE A – GLOSSÁRIO DO PCC
APÊNDICE B – FOTOS DE CELULARES E COMO ENTRAM NOS PRESÍDIOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sobre o autor
Sobre a Viseu
INTRODUÇÃO
Desde que as pessoas passaram a viver em sociedade, sentiram a necessidade de se organizarem em grupos. Para isso regras foram e são fundamentais para garantir a paz social. Formaram-se então os primeiros grupos sociais, dos quais muitos ainda existem até os dias atuais.
Organizar-se socialmente garante benesses às pessoas que dela participam, mas em troca, algumas liberdades individuais devem ser cedidas em prol da coletividade e isso se faz por meio de normas de conduta que, para funcionarem, exigem a aplicação de sanções aos que as infringem. Prevalece o antigo brocardo jurídico de que onde há sociedade, haverá sempre o direito.
Isso é coisa antiga, porém, uma grande novidade surgiu nas décadas finais do século passado – o direito sendo ditado exatamente por quem o viola. O crime organizando a sociedade em torno de si. Infratores formando um verdadeiro estado paralelo com regras, direitos e deveres próprios. Coagem, oprimem, exploram e matam pessoas que estejam à sua volta.
Assim nasceu para o Estado de São Paulo, para o Brasil e para o mundo a maior facção criminosa nacional, o PCC¹, com capacidade suficiente para se ramificar em praticamente todas as organizações sociais existentes e com poder para fazer, em alguns momentos, o mais rico estado da federação se curvar aos seus anseios.
O movimento protestante², defensor da paz e dos valores cristãos deveria funcionar como um forte combatente do crime organizado. Todavia, parece ter servido, na verdade, como motivação para criminosos que, sem o menor pudor, usam de aspectos teológicos centrados na pessoa de Jesus, para fundamentar sua ideologia criminosa e assim organizaram o Primeiro, pois não existia outro até então, Comando, pois seguiram princípios militares de ação e divisão hierárquica, da Capital, pois seus fundadores eram detentos oriundos da capital paulista.
São Paulo conheceu no ano de 1993 uma sigla que, desde então, atormentaria suas estruturas sociais – o PCC. Em pouco tempo, os demais Estados da Federação experimentariam o mesmo efeito, pois os criminosos se organizaram de forma meticulosa e disciplinada, com regras rígidas e simples de serem entendidas, oficialmente escritas em um curto estatuto de fácil compreensão, que impõe, como pena máxima para quem o descumpre, a sanção que qualquer pessoa compreende e teme – a morte.
Por outro lado, não bastaria impor regras, garantir direitos e benefícios e muito menos aplicar sanções sem que existisse um forte elo ideológico que convencesse as pessoas a se unirem à nova facção ou, pelo menos, a aderirem indiretamente a ela, aceitando suas regras, beneficiando-se de seus favores como proteção e assistencialismo social e, acima de tudo, não confrontando seus interesses, sendo desleais a ela.
Parte da teologia ensinada pelas igrejas protestantes, pelo menos alguns de seus aspectos fundamentais, encaixaram-se como uma luva nos intentos dos criminosos.
Só lhes faltava uma bandeira de luta, então, mais que depressa, criaram um símbolo e defenderam seu slogan com palavras representativas dos valores que toda pessoa busca, seja ela rica ou pobre, presa ou livre - a paz, a justiça e a liberdade. Nada disso sairia de graça. Ser parte da facção ou beneficiário de seus direitos custaria dinheiro, para alguns, muito dinheiro.
Em nome da luta social travada com