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Disfarçado: Operação Julie – por dentro da história
Disfarçado: Operação Julie – por dentro da história
Disfarçado: Operação Julie – por dentro da história
E-book370 páginas14 horas

Disfarçado: Operação Julie – por dentro da história

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Sobre este e-book

A Operação Julie ainda é hoje o ponto de referência para todas as operações secretas britânicas e treinamento. Em 2011, a BBC afirmou que essa operação policial massiva e única foi o início da guerra contra as drogas.

Stephen Bentley foi um dos quatro detetives secretos envolvidos na Operação Julie, uma das maiores apreensões de drogas do mundo. Juntamente com seu parceiro disfarçado, ele se infiltrou na gangue que produzia cerca de 90% do LSD do mundo e descobriu um plano para importar grandes quantidades de cocaína boliviana para o Reino Unido. O submundo conhecia o autor como Steve Jackson.

Como ele conseguiu se infiltrar nas duas gangues? Ele teve que usar drogas e como "viver uma mentira" o afetou? Descubra as respostas e entre na mente de Steve Jackson, detetive disfarçado.

"A perspectiva de um insider sobre o tráfico de drogas, contada com charme, inteligência e, às vezes, humor, por um homem talentoso, singularmente qualificado para contar a verdadeira história." - Excerto de revisão

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento6 de abr. de 2019
ISBN9781547531646
Disfarçado: Operação Julie – por dentro da história
Autor

Stephen Bentley

Stephen Bentley is a former British police Detective Sergeant, pioneering Operation Julie undercover detective, and barrister. He now writes in the true crime and crime fiction genres and contributes occasionally to Huffington Post UK on undercover policing, and mental health issues. He is possibly best known for his bestselling Operation Julie memoir and as co-author of Operation George: A Gripping True Crime Story of an Audacious Undercover Sting. Stephen is a member of the UK's Society of Authors and the Crime Writers' Association. His website may be found at www.stephenbentley.info where you may subscribe to his newsletter. Stephen also writes crime fiction in the Undercover Legends series as part of a writing team under the pen name of David Le Courageux. You can listen to Stephen talking about his Operation Julie undercover days on the BBC Radio 4 Life Changing programme/podcast.

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    Disfarçado - Stephen Bentley

    ÍNDICE

    Agradecimentos

    Prólogo

    Quem sou eu?

    Cultura do LSD

    Detetive Bebê

    Aprendir rápido

    Devizes e a Guerra Falsa

    Eric e a preparação do Disfarce

    Llanddewi Brefi

    Smiles

    Blue

    Chapado

    Estrelas de cinema estrelas de rock

    Política Interna

    Vocês são policiais?

    A arma

    Idiota!

    Steve e Eric - Traficantes

    Doug

    Chillum

    Natal de 1976

    Ano Novo

    Deixando Llanddewi Brefi

    Não há um laboratório na Estrada Seymour

    Revendo  antigos conhecidos

    Recolhendo Papéis

    Cadeia de 124 anos

    Quinze pintas

    Elogio do chefe

    Prisão domiciliar

    No meio do fim da investigação, eu desmoronei

    Negócios inacabados

    Lições aprendidas

    Futuro do policiamento disfarçado?

    A guerra contra as drogas

    Guerra às Drogas: Momento Damasceno?

    Nuances da Regulação

    Duplicidade

    Smiles e eu

    A história do LSD na Bretanha de Acordo com Kemp

    Consideraçõs Finais e Onde Eles estão agora?

    Sobre Stephen Bentley

    Outros Livros de Stephen Bentley

    Conecte-se com Stephen Bentley

    AGRADECIMENTOS

    Para:

    Meus pais que amam a mim e a meus irmãos. Eles sempre fizeram o melhor por nós.

    As outras pessoas na minha vida que em vários momentos me ajudaram, me fizeram rir, me forneceram um banco de histórias, me compraram bebidas, me encorajaram na jornada da vida e ajudaram a me transformar em uma pessoa melhor. Essas pessoas são muitas, e para mencionar apenas uma, obrigado Zabrina - Ooh La La!

    Vocês todos fizeram  a sua parte.

    Também em memória de Peter, meu amado irmão, melhor amigo e confidente.

    Em um momento ou outro, os mais afortunados entre nós fazem três descobertas surpreendentes. Descoberta número um: Cada um de nós tem, em vários graus, o poder de fazer os outros se sentirem melhores ou piores. Descoberta dois: Fazer os outros se sentirem melhores é muito mais divertido do que fazê-los se sentirem piores. Descoberta três: fazer os outros se sentirem melhores geralmente nos faz sentir melhores.

    - Laura Huxley

    Prólogo

    Esta segunda edição foi expandida para conter material adicional e mais capítulos. As razões por trás disso são muitas. Em parte, surgiu por causa da descoberta de novos documentos,  como a depoimento voluntário de Richard Kemp, à polícia com data de 30 de dezembro de 1977.  Este documento fornece material para que eu lance uma luz sobre vários enigmas pendentes na Operação Julie. Primeiro, eu posso informar quem informou a respeito de  Richard Kemp, levando a polícia a apreender um carregamento de LSD avaliado, em 1977, no total de sete milhões e meio de libras. Segundo, eu também revelo o provável último estoque remanescente de alguns dos melhores LSD já fabricados. Eu também trato do rumor que a Princesa Margaret foi usuária do produto de Kemp. Outra razão foi expandir minha visão sobre a chamada guerra as drogas. Houve pouco tempo para fazer isso antes da primeira edição.

    Além disso, eu senti a necessidade de responder aos leitores, que após o contato a primeira edição, estavam curiosos sobre determinados assuntos. Um deles foi sobre peça dentro da peça - Smiles e mim. Gramaticalmente, deveria ser Smiles e eu, mas por hora vamos deixar isso como uma piada interna. Quando for o tempo certo, eu deixarei que todos vocês entendam o humor por trás disso. Smiles era o traficante de drogas que conheci bem enquanto estava disfarçado. Eu adicionei mais material sobre o que estava acontecendo dentro da minha cabeça como Steve Jackson, policial disfarçado, incluindo meus pensamentos sobre quem Bill, o gângster canadense, e Blue realmente eram. 

    Agora é um momento tão bom quanto qualquer outro para agradecer a todos os meus leitores que compraram e leram a primeira edição. Obrigado pelos comentários também. Todos vocês ajudaram a impulsionar a primeira edição deste livro para a lista de best-sellers do Reino Unido.

    O que foi a Operação Julie?

    A Operação Julie, para muitas pessoas, traz à mente uma investigação policial exclusiva do Reino Unido sobre a produção de LSD por dois grupos de drogas, em meados da década de 1970. A investigação envolveu 11 forças policiais em toda a Inglaterra e País de Gales durante um período de 2 anos e meio. Isso resultou no desmembramento de uma das maiores operações de fabricação de LSD do mundo. Culminou em 1977 com apreensões iniciais de LSD suficiente para produzir 6,5 milhões de blotters com um valor de mercado de 6,5 milhões de libras.

    O Livros dos Recordes Mundiais Guinness mostrou essas apreensões como o maior do mundo pelo valor das ruas feita de uma única vez. Cerca de 120 pessoas foram detidas no Reino Unido e na França, e mais de 800 mil libras foram descobertas em contas bancárias na Suíça.

    Em 1978, 15 acusados compareceram no Tribunal da Coroa em Bristol. A maioria dos réus se declarou culpado devido à massa de provas incriminatórias. Richard Kemp se declarou culpado e recebeu 13 anos de prisão, assim como Henry Todd. Nigel (Leaf) Fielding e Alston Hughes (Smiles) foram sentenciados a 8 anos, cada um. No total, os 15 acusados receberam juntos 124 anos de prisão.

    Como resultado da apreensão, estimou-se que o preço do blotter de LSD subiu de uma libra para cinco libras cada, e que a Operação Julie removeu 90% do LSD do mercado britânico. Acredita-se que o LSD produzido pelos dois laboratórios tenha sido exportado para mais de 100 países. No total, 1,1 milhão de cristais de LSD suficientes para fazer mais 6,5 milhões de blotters foram apreendidos e destruídos. O valor total de comercial final do LSD teria sido de £ 7,6 milhões.

    A BBC disse que a Operação Julie começou a Era da Guerra às Drogas[1]. Não estou convencido de que essa afirmação, feita em 2011, esteja correta. Eu não acredito que existisse qualquer tipo de guerra naquela época. Isso se tornou óbvio para qualquer observador na época que pudesse ver o vínculo que se desenvolveu entre muitos dos membros das gangues de drogas e os detetives envolvidos na Operação Julie – em muitos casos forjados por um respeito mútuo.

    Embora seja sinônimo de LSD, a Operação Julie também descobriu um grande plano para importar vastas quantidades de cocaína para a Grã-Bretanha. Dois policiais disfarçados descobriram essa trama. Este livro conta como detetives disfarçados que se infiltraram nas gangues de drogas lidam com o LSD. E, ao mesmo tempo, descobriram o plano da compra de cocaína. Eu era um desses dois detetives, o outro era Eric Wright.

    Ao escrever este livro, tive a inestimável assistência do Diário de bordo de Llanddewi Brefi-o registro diário do trabalho secreto realizado por mim e Eric Wright. Eu também contei com cópias de declarações de testemunhas que eu tinha registrado ao mesmo tempo, na época da investigação da Operação Julie. As memórias daqueles dias ainda são vívidas, mas esses documentos preencheram alguns detalhes fundamentais.

    Uma nota para os meus leitores de fora do Reino Unido, vocês podem notar referências em meu livro à expressão Inglaterra e País de Gales - pode ajudá-los saber que a Inglaterra e o País de Gales são uma única jurisdição legal. A Escócia e a Irlanda do Norte têm seus próprios sistemas legais. Assim, existem três jurisdições legais distintas no Reino Unido.

    O livro não é a favor nem contra as drogas. Algumas pessoas sempre vão procurar amenizar a pressão. Eu não defendo o uso de drogas ilegais, pois acredito que elas não são necessárias para levar uma vida significativa. Às vezes, elas resultam no oposto, e, em certas ocasiões, alguns acabam sem a vida por causa do abuso de drogas. Não tenho intenção nem desejo passar sermão em ninguém.

    Eu peço que você aceite este livro pelo que é – um relato honesto sobre um homem comum realizando um trabalho extraordinário. Um trabalho nada simples. Eu almejo ajudá-lo a entender como é ser um detetive disfarçado – um infiltrado.

    Quem sou eu?

    O canadense poderia ser um assassino. Com certeza, um grande negociador lidando com grandes quantidades de heroína e cocaína. A Bolívia é a fonte da cocaína, chegando ao controle de quase 100%. Quando chegou às ruas de Londres, virou uma fera transformada. Se tiver sorte, você pode ter uma pureza de 45%.

    Ele, o canadense, não controlava a cadeia de distribuição até os revendedores de rua. Não precisava disso, era muito arriscado. E, o mais importante, quando vendeu um quilo para mim, Steve Jackson, ele já conseguiu um bom lucro.

    Eu sou o britânico conversando com o Canadense em uma boate de Liverpool em 1976. Coca, Charlie ou Neve, para usar alguns de seus nomes, permaneceu reservada aos ricos em 1976. Caro, mas popular entre os astros do rock. Um mercado massivo e uma enorme oportunidade de lucro existiam na Grã-Bretanha.

    O acordo havia sido colocado na mesa. O canadense e eu nos tornamos parte de uma conspiração para importar grandes quantidades de cocaína para a Grã-Bretanha.

    O humor do canadense mudou. Por quê? Não ficou completamente claro para mim. Sem ele revelar muitos detalhes, o canadense me impressionou com o plano.

    Bolívia – confere!

    Lancha no local – confere!

    Aeromoça para trazer o contrabando para a Inglaterra – confere!

    Preços e descontos por quantidade – confere!

    BUM! O clima mudou, e como!

    Vocês são policiais?

    Brrr Buuum! Essa pergunta me atingiu como um relâmpago vívido em um claro céu azul. As palavras ecoaram dentro da minha cabeça como um trovão.

    Um assassinato simulado se seguiu. Um toque duplo a partir de uma pistola semi-automática com silenciador, utilizada por assassinos profissionais em todo o mundo. Uma execução de curto alcance.

    Ele levantou uma mão próximo a minha cabeça, apontou o dedo indicador e o dedo do meio para imitar uma arma. Os dedos tocaram minha pele.

    Ele murmurou silenciosamente o som seco e abafado, enquanto dois projéteis imaginários esparramavam meu cérebro para fora da minha cabeça, através dos ferimentos de saída.

    Bang! Bang!

    ***

    De 1976 a 1980, Steve Bentley, o detetive, transformou-se em Steve Jackson, o traficante de drogas, que voltou a ser Steve Bentley, o policial. Eu sou os dois homens e esta é a minha história.

    Depressão não é divertida. Os meus superiores haviam me chamado, ou melhor, ordenaram que eu fosse à sede da polícia de Hampshire, em Winchester, em março de 1980.

    Eu me dirigi a Winchester, em Farnborough. Os vinte quilômetros pareciam intermináveis. O rádio no carro desligou. Não havia um cassete no toca-fitas, e o único barulho era o que ressoava dentro da minha cabeça. Um barulho de algo girando, e ainda assim silencioso! Mais como um zumbido. Um zumbido silencioso! O barulho pode ser silencioso. Eu não tinha ideia do que estava indo fazer, a não ser pelo fato de ter marcado uma reunião com o médico da polícia e o vice-chefe de polícia.

    Em um estado de fuga, consegui atravessar as portas da entrada de vários andares do Quartel-general da polícia. Eu me apresentei para a recepção mostrando meu distintivo. A recepcionista certificou-se da minha identidade e disse para pegar o elevador para um dos pontos mais altos do edifício, e lá uma cadeira aguardava por mim. Então fiquei esperando pelo chamado de um dos deuses. Parecia um retorno aos dias de escola,  quando era enviado para ver o diretor. Como um bom menino, eu obedeci e esperei.

    A rota para o andar dos deuses parecia repleta de rostos de pessoas familiares para mim. Alguns deles não eram familiares, mas pareciam me conhecer. Às vezes, alguém dizia olá, um olá do tipo meio nervoso, mas que não estavam muito interessados em saber de onde eu vinha ou quem eu era. Eu estava ciente, mas inconsciente. Parecia um vazio. Era como assistir a um filme mudo, mas eu era um dos atores.

    Foi uma espera de quase duas horas. Um bom tempo, considerando o fato de que meus hábitos recentes incluíam ficar deitado na cama até pelo menos meio-dia. Eu sentei em uma poltrona no corredor e esperei. Eu olhei para o chão, olhei para as paredes e olhei para o teto. Não há janelas para olhar para fora. Eu esperei e olhei. Os zumbidos silenciosos ainda giravam na minha cabeça. Meus pensamentos eram uma tela em branco com salpicos de cores invisíveis. Isto é real? Estou sonhando? Meus pensamentos não deixariam minha cabeça.

    Sargento Bentley. -Uma mulher de uniforme de enfermeira me assustou.

    Sim.

    Por favor, entre.

    Ela apontou para uma porta com uma placa dizendo Médico do trabalho.

    Olhando para o meu relógio, vi que os ponteiros mudaram de lugar para 15h. Lembro-me de pensar: Estou esperando aqui desde as 13h45min!

    O médico se apresentou. Ele fez questão de me contar sua especialidade - um clínico geral. Não é psiquiatra ou psicólogo.

    Ele começou com: Então, qual é o problema?

    Eu não sei. Me diz você.

    "Você está de licença médica há cerca de três meses. Isso está correto?

    Sim.

    Quando você planeja voltar?

    Logo depois dessa reunião.

    Muito bom.

    Sim, estou indo direto para casa depois dessa reunião.

    Ué, mas eu pensei que você ...

    Eu sei o que você achou que eu quis dizer.

    Então, que tal um retorno ao trabalho?

    Eu não faço ideia.

    "Humm. Então me diga como você se sente.

    Um merda

    Por favor, seja mais específico.

    Uma merda fodido. Como posso ser mais específico?

    O imenso nada dentro da minha cabeça não me permitiria ser específico. Eu não conseguia explicar o que estava me incomodando. Eu sabia como era, mas era uma parte profunda de mim que eu não conseguia ver ou tocar. Eu sabia que estava lá. Tinha uma crueza como uma ferida aberta. No lugar de franqueza que achei impossível, fiz uma pergunta.

    "Isso é confidencial? Entre eu e você. Doutor e paciente.

    Veja bem, eu tenho o dever de fazer um relatório sobre sua aptidão para trabalhar.

    A expressão veja bem no início de uma resposta geralmente é um mau presságio na minha experiência. É semelhante ao uso das palavras com todo respeito ao abordar um assunto com o qual você não concorda.

    Veja bem, com todo respeito, como você pode fazer um relatório para o quel você não está qualificado?

    Me desculpe, mas...

    Você ouviu, você não está qualificado. Você pode ver algo errado comigo fisicamente?

    Não.

    Então está aí a resposta. Eu estou fora!

    O corredor e a poltrona me recepcionaram de volta. Eles não desejavam conversar e eu não precisava explicar coisa alguma para eles. Esperei o chamado no escritório do Vice-Chefe de Polícia. A secretária dele falou comigo depois de eu esperar por uma hora. Agora eram 16h30min. Ela se desculpou comigo, dizendo-me que o Vice-Chefe de Polícia tinha sido inesperadamente envolvido em um telefonema longo, mas importante.

    Ok, obrigado. Mas eu não achava que estava tudo ok.

    Importante? O que é mais importante do que marcar uma reunião comigo? Era o meu futuro que está em discussão. Meus pensamentos ainda estavam zumbindo. O Vice-Chefe de Polícia era conhecido por sua cara de rabugento e reputação de homem difícil. O papel do Vice-Chefe de Polícia, em todas as forças policiais, é ser árbitro de assuntos disciplinares internos. O turbilhão de pensamento continuou... Será que cabeças vão rolar?

    Juro que vi cabeças soltas rolando pelo corredor. Eu ri alto. Eu estou apto para o salto em altura?, foi meu pensamento seguinte. Talvez um salto ao estilo de Fosbury[2]¹ seja uma boa maneira de entrar no escritório do Vice-Chefe de Polícia? Esses pensamentos passaram pela minha cabeça ao mesmo tempo que Whiter Shade of Pale, do Procol Harum.

    Nesse ponto, a lucidez retornou. Ficou claro o que eu tinha que fazer. Levantei-me da poltrona silenciosa, caminhei até o elevador e refiz minha jornada ao andar dos deuses ao contrário. Eu sabia que tinha tomado minha decisão. Fodam-se todos!

    Ninguém na história da polícia de Hampshire se atreveu a sair de tal compromisso antes ou após aquele dia.

    Pediram para eu ser específico. Isso é bem específico. Eu não havia trabalhado nos três meses anteriores a minha reunião com o Vice-Chefe de Polícia. Eu relatei que estava doente, tinha visto meu próprio médico que confirmou o diagnóstico de depressão. Ele encaminhou meu caso para um hospital local para eu consultar um psiquiatra. Eu não compareci as consultas.

    A depressão não é mais um estigma como era nos anos 80. Eu podia discordar que precisava de ajuda. Meu orgulho e teimosia significavam que eu estava com vergonha de admitir que não estava mais no controle.

    O que causou minha depressão?

    Em 1980, eu, Steve Bentley, acreditava que eu era um policial de carreira. Eu estava orgulhoso do que consegui com meu disfarce durante a Operação Julie. Foi o ponto alto da minha carreira policial e uma lembrança que levarei comigo para o túmulo. Eu lutei e trabalhei duro para chegar ao ponto para ser escolhido a dedo por Dick Lee para a Operação Julie, em 1976. Eu tracei meu caminho até lá e quis que Operação Julie nunca terminasse. O esquadrão Julie evoluiu para um grupo formidável de investigadores e que deveria ter sido autorizado a continuar, particularmente para combater as gangues que importavam cocaína e heroína para a Grã-Bretanha.

    Meu disfarce como Steve Jackson teve um preço: me tornei dependente do álcool e, em menor grau, dependente da maconha e da cocaína. Isso foi desastroso para meu segundo casamento, que se dissolveu logo depois da conclusão da Operação Julie.

    Uma promoção veio na minha direção depois da Operação Julie. Eu me tornei um Sargento-detetive em Farnborough, Hampshire. Eu tirei de letra aquele papel. O trabalho era muito fácil e mundano depois de minhas façanhas disfarçado. Eu cheguei atrasado para o trabalho muitas vezes, com ressacas homéricas devido a bebedeiras das noites anteriores. Eu também conheci minha futura terceira esposa. Ela, ou melhor, meu relacionamento com ela, foi o catalisador da minha queda em uma profunda depressão.

    Quando a conheci, bebia muito, loucamente. Parando a noite toda, muitas vezes caindo de bêbado, em algum pub. Eu ainda estava fumando maconha.

    Foi amor entre Catherine e eu. O relacionamento mais longo, mais próximo, mais apaixonado e espiritual que eu encontrei. Mudei para a casa dela enquanto ainda era casada com minha segunda esposa e ainda era Sargento-detetive em Farnborough.

    O que se segue é possivelmente difícil de acreditar agora no século XXI, já que fui vítima de uma atitude muito típica da força policial no final dos anos 70 e início dos anos 80. Meus superiores se opuseram que eu vivesse com uma mulher solteira. Essa objeção tomou a forma de uma transferência para Southampton, a sessenta e quatro quilômetros de Farnborough. E para esfregar sal na ferida, esperavam que eu desempenhasse minhas tarefas como sargento uniformizado e alugasse um albergue para morar.

    Isso era inaceitável de diversos ângulos.

    Eu era um detetive por completo; desde a tenra idade de 21 anos fui reconhecido como um bom pega-ladrão. Minha pontuação alta nos testes finais do Curso de Treinamento de Detetive do Ministério do Interior me fez ser notado. Após minha mudança de Merseyside para Hampshire em 1971, passei algum tempo usando uniforme. Eu detestei esse tempo. Eu trabalhei duro e ganhei o direito de abandonar o uniforme. Não foi fácil.

    Agora eu me via enfrentando um esforço flagrante para me separar de Catherine e uma mudança forçada para voltar a usar uniforme. Eu não podia tolerar nenhuma dessas perspectivas. Eu estava seriamente deprimido por esses acontecimentos. A bagunça foi agravada pela visita de Norman Green, um superintendente da polícia que me conhecia bem e tinha grande consideração por mim.

    Green chegou à casa de Catherine, em Farnborough, e pediu para falar comigo em particular. Isso pareceu razoável para mim, mas Catherine disse a Green que qualquer coisa que ele dissesse poderia ser dito na frente dela e permaneceu conosco.

    Minha ausência no trabalho passou a ser tratada como um desaparecimento. Não consegui me comunicar com ninguém sobre minha doença e simplesmente parei de ir trabalhar. Meu desaparecimento começou a ser tratado com certa urgência quando um alerta-geral circulou na tentativa de me localizar.

    Ninguém pôde me encontrar, exceto Green. Ele não fez progressos em suas tentativas de me convencer a voltar ao trabalho e aceitar minha transferência para Southampton. Ele não fez nenhum progresso porque me dizer o que fazer sem me ouvir, reforçava minha teimosia. Talvez se ele tivesse me pedido para explicar e expor meus problemas, poderíamos ter feito progresso. Mas duvido disso. Eu não queria falar sobre trabalho ou sobre a palavra que começa com R – Responsabilidade.

    Eu achei irritante que ele tivesse reportado que eu tinha sido encontrado vivendo na miséria. Nada poderia estar mais longe da verdade. Catherine era uma dona de casa. Ok, quando ele nos visitou, a casa podia estar um pouco desarrumada. Seus quatro filhos viviam lá e Catherine trabalhava à noite no hospital local, então talvez ela estivesse ocupada no dia em que o Sr. Green fez a visita e não conseguiu arrumar as coisas. Tenho certeza de que Catherine também gostaria que eu mencionasse que essa visita aconteceu sem aviso prévio.

    É claro que a impressão sobre minha loucura ganhou força, sem dúvida, fomentada pelo fato de eu viver com uma mulher com quatro filhos. Amigos estavam preocupados comigo. Alguns até pensaram em mim como negligente.

    Esses amigos estavam em níveis superiores de carreira que não tinham ideia sobre trabalho disfarçado, drogas, abuso de álcool ou uma ameaça de assassinato em Liverpool pelo traficante de cocaína canadense. Green e os outros esperavam que eu sacudisse a depressão como um pedaço de algodão perdido em minhas roupas. Apenas descanse e continue com as coisas – voltando ao trabalho em Southampton.

    O ex-sargento-detetive 708 Stephen Bentley se apresentando para o serviço! Como eu poderia me apresentar para o serviço no meio de um colapso nervoso? Levei muitos anos para perceber que em 1980 eu sofria de mais do que uma depressão aguda.

    Deixe-me dizer, desde o início, não busco simpatia muito menos lamento os eventos que ocorreram entre 1976 e 1980. Pensei em chamar este livro E no meio da investigação eu desmorono. Eu tinha uma música dos Beatles em mente.

    Cultura do LSD

    Operação Julie tem sido referencia frequente como uma operação policial baseada em disfarce. Nada poderia estar mais longe da verdade. Muitas das investigações exigiam um bom e antiquado trabalho de detetive de rotina. Muito do que envolvia a vigilância de alvos e suspeitos, incluindo alguns detalhes, que estou proibido de escrever devido à Lei de Segredos Oficiais da Grã-Bretanha. Os 25 membros da equipe da Operação Julie, seja rastreando pessoas ou seguindo veículos dos suspeitos, realizaram esse trabalho de vigilância. Vigilância não se limitou a rastrear suspeitos, como também casas e estabelecimentos comerciais por longos períodos. Os detetives da Operação Julie até posaram como inocentes turistas e, em certa ocasião, como agrimensores. Tudo feito para disfarçar o fato de que eles eram observadores.

    Nada disso é verdadeiro trabalho disfarçado.

    Quando você vai disfarçado, assume uma nova identidade completa. Você mistura com os caras maus e espera se infiltrar entre os bandidos. Infiltrado é uma descrição melhor do trabalho profundo com disfarce. Não se está trabalhando como um narcotraficante ou como um policial disfarçado de comprador de drogas. Esses, invariavelmente, chegam em casa à noite, trabalham em turnos e tudo volta à normalidade. Eles carregam seus distintivos e mantêm suas verdadeiras identidades. A infiltração é um papel estressante e exigente, que pode durar dias, horas, semanas, meses ou até anos.

    Apenas quatro oficiais verdadeiramente disfarçados trabalharam na Operação Julie. Eric Wright e Steve Bentley, dois dos quatro. Os outros dois entraram e saíram, não passaram dias, semanas e meses disfarçados, constantemente fingindo ser outra pessoa. Imagine viver oito meses da sua vida existindo como outra pessoa.

    Muitos mitos cercaram a Operação Julie. Parte dessa construção mítica foi causada pelo jornalismo preguiçoso ao longo dos anos, e que ainda continua até hoje. No ano de 2016, quando se deu o quadragésimo aniversário da formação do esquadrão da Operação Julie, apareceram artigos de notícias que remontam à maior apreensão de drogas do Reino Unido. O jornalismo preguiçoso ainda é repetido até agora.

    Enredos e manchetes como hippies de Julie colocam Kemp em casa, em Tregaron, sob vigilância, e sua notável e regular viagem de 80 quilômetros até Plas Llysyn, uma antiga mansão em Carno, perto de Llanidloes[3]. E da mesma fonte da BBC, Um outro grupo de 'hippies' monitorou a mansão, utilizando um antigo trailer e, quando eles invadiram secretamente, retiraram amostras de água da adega que combinavam quimicamente com amostras de LSD que a polícia havia apreendido anteriormente. Um artigo anterior da BBC de 2011 falava de (...) dezenas de oficiais disfarçados foram enviados para o oeste do País de Gales, posando como hippies, e colocá-los sob vigilância durante uma operação de 13 meses.

    Nenhum desses artigos da BBC são exatos. Repito - apenas quatro policiais disfarçados trabalharam na Operação Julie. Eric Wright e eu éramos dois deles.

    O que se segue é uma história verdadeira. Não pretende ser toda a história da Operação Julie, como está bem documentado em outro lugar. A Operação Julie, com razão, está associada à desmembramento de uma das maiores instalações de fabricação de LSD e como também deredes mundiais de distribuição que o mundo já viu.

    O que não se sabe é o detalhe de como meu trabalho disfarçado, com meu parceiro de disfarce Eric, se conectou em uma enorme conspiração para importar cocaína para a Grã-Bretanha e identificou os principais atores nessa conspiração. É uma narrativa pessoal na qual espero mostrar a vocês pelo menos um vislumbre do trabalho policial disfarçado. Eu farei o que eu nunca permiti durante meus dias disfarçados - eu deixarei vocês entrarem na minha cabeça.

    Antes de divulgar os segredos dentro da minha cabeça, algumas palavras sobre os outros livros escritos sobre a Operação Julie, como há uma chance razoável que alguns de vocês possam ter lido um ou mais deles.

    Até onde eu sei, este é o sétimo livro que trata da Operação Julie, seja como um todo ou como parte de uma história. Apenas três livros supostamente foram escritos por policiais participantes da investigação. Este livro é o único a ter sido escrito por um participante do início ao fim, por um membro da equipe que realmente está batendo no teclado e usando minhas próprias palavras e sentimentos, ao contrário de quando é feito por um escritor fantasma.

    Primeiro, houve a Operação Julie[4] de Colin Pratt e Dick Lee. Dick Lee era o homem encarregado da Operação esquadrão Julie. Foi sua criação pessoal e ele a acompanhou até o final, embora no meio da investigação o Detetive-Superintendente Greenslade o tenha substituído. Essa nomeação foi politicamente motivada. Lee perturbou muito o estado de espírito e a imagem da instituição. Eu enxerguei Greenslade como um fantoche se aproximando da aposentadoria. Ele era subordinado e um policial convencional.

    Colin Pratt era jornalista no Daily Express, na época da Operação Julie. Neste primeiro livro, Pratt foi um escritor-fantasma. É um livro decente, bem contado e bem escrito. Infelizmente, continha comentários desnecessários e imprecisos sobre grupos terroristas e indivíduos que afirmaram terem sido associados a esses grupos. No entanto, apesar deste dois fatores, é um relato amplamente preciso da investigação. Fico compelido a dizer isso porque me descreve como o detetive alto, magro e bonito de Hampshire. Além disso, quando descreveu a equipe que ele montou, Lee pediu a Steve Bentley "um detetive calmo, amigável e talentoso que [ele] admirava

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