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Despertar: O Cavaleiro Negro, #1
Despertar: O Cavaleiro Negro, #1
Despertar: O Cavaleiro Negro, #1
E-book343 páginas5 horas

Despertar: O Cavaleiro Negro, #1

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Sobre este e-book

GUERRA. TRAIÇÃO. UM HOMEM INCOMUM COMPROMETIDO COM SEU JURAMENTO.

O mundo foi destruído há aproximadamente um milênio; porém, conflitos continuam a eclodir. Nos eventos que levaram à Segunda Guerra Mundial Duraani, Crinnan Jamiso, Centurião da Cavaleiro Negro, abre caminho à força através das ruínas infestadas de uma cidade Antiga. As forças mais poderosas do mundo o perseguem e ele precisa escolher sabiamente quando decidir quem é amigo e quem é inimigo.

Por que ele está sendo caçado? Provavelmente por causa dos segredos sombrios que Crinnan ocultou, até de si mesmo.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de jul. de 2020
ISBN9781071557983
Despertar: O Cavaleiro Negro, #1

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    Despertar - Christian Gilliland

    Página  

    DESPERTAR

    Livro Um da série

    O CAVALEIRO NEGRO

    Christian J. Gilliland

    ––––––––

    Tradução:

    João Batista de OS Jr.

    Sumário

    Agradecimentos...............................................................................................................3

    Prólogo..............................................................................................................................4

    Capítulo Um.....................................................................................................................5

    Capítulo Dois.................................................................................................................12

    Capítulo Três.................................................................................................................18

    Capítulo Quatro.............................................................................................................25

    Capítulo Cinco...............................................................................................................33

    Capítulo Seis..................................................................................................................38

    Capítulo Sete.................................................................................................................45

    Capítulo Oito..................................................................................................................51

    Capítulo Nove................................................................................................................57

    Capítulo Dez..................................................................................................................66

    Capítulo Onze................................................................................................................72

    Capítulo Doze................................................................................................................81

    Capítulo Treze...............................................................................................................86

    Capítulo Catorze...........................................................................................................92

    Capítulo Quinze.............................................................................................................96

    Capítulo Dezesseis......................................................................................................105

    Capítulo Dezessete.....................................................................................................111

    Capítulo Dezoito..........................................................................................................120

    Capítulo Dezenove......................................................................................................128

    Epílogo..........................................................................................................................130

    Nota do Autor..............................................................................................................132

    Agradecimentos

    Para as minhas filhas: Brielle, Penelope e Everly.

    Tudo o que faço, faço por vocês.

    Para Austin e Dansare, meus velhos amigos que têm sido uma grande fonte de apoio e alento.

    Para o Vovô, porque sinto a falta dele.

    Prólogo

    Talvez sejamos todos parte de algo maior, talvez não. Nunca se sabe. Eu vi o universo. É grande. Nós não somos. Pensar que significamos algo em um universo tão grande é risível. Eu acho que o nosso único ‘propósito’ é viver, viver o máximo e tão intensamente quanto consigamos. E em seguida o nosso propósito é morrer. Isso é o que cheguei a descobrir em todos os meus anos de vida. O nosso único propósito verdadeiro que temos é o propósito que nós atribuímos a nós mesmos. O que os outros esperam ou aguardam de você não importa a menos que, é claro, importe para você. Tudo o que importa é você.

    -Sajinious Lynx

    Capítulo Um

    Crinnan I

    22 de Ramlia – 346 AG (após a Ascensão de Govia)

    09:30 – Belhaasi Weald

    Seu corpo tremia e se debatia violentamente enquanto ele dormia. Cada centímetro dele pingava de suor, resultado da evidente agitação que o dormente Elfo mestiço estava aguentando. Os lençóis que o cobriam haviam se encharcado com sua transpiração e se retorciam ao redor do corpo enquanto ele se movia. Seus punhos estavam cerrados firmemente com fúria; as veias de seus braços, pescoço e têmporas latejavam e se inchavam. Enquanto sua cabeça estalava da esquerda para a direita, um gemido grave arraigado de medo e desespero irrompeu de sua garganta.

    — Eu... te encontrarei... — falou como se estivesse sem fôlego. Sua voz nada mais era do que um gemido animalesco. As palavras que gritou ecoaram dentro de sua mente pelo que poderia ter sido uma eternidade, que ele soubesse. No estado físico em que se encontrava, perdera todo senso de tempo.

    Ele ouviu repetidas vezes, sua voz recitando uma promessa a um rosto que não conseguia discernir completamente. Estava bem na sua frente, mas era um borrão, uma mancha frustrante que grudou na sua mente.

    Fora real? Isso tudo fora só um sonho? Ele estava rapidamente perdendo o significado das palavras ou para quem ele as dissera.

    Por um instante, as imagens em sua mente pareceram entrar em foco. Ele viu dois rostos de dois seres romperem sua nebulosidade. A Elfa loira e o Vampre com o bigode fino... Ele os conhecia, mas não conseguia se lembrar de onde. Eles não se moveram e não falaram; só ficaram diante dele e fitaram. Eram mais um eco de um pensamento do que uma memória real, e tão rapidamente quanto os seus rostos lampejaram pela sua mente, desapareceram.

    — Eu te encontrarei... — por enquanto, havia se acalmado. Sobraram somente ele e sua promessa. Rodava em sua mente, mas como uma ondulação na água cresceu para cada vez mais longe. Eventualmente, flutuou para fora de alcance. Ele estava sozinho com nada exceto umas poucas palavras sem sentido e um portal que levava à realidade. Lentamente, esticou a mão e empurrou.

    Seu rosto pálido se contorceu em uma súbita dor aguda que ele não compreendeu. Seus olhos previamente cerrados se abriram de súbito, e ele respirou fundo. Seus pulmões se encheram, e ele agarrou a cama por baixo de si. Examinou sua memória atrás de qualquer resquício do sonho que parecera tão real, mas nada lhe veio. Tudo era um borrão; seu passado, seu presente – ele não se lembrava de nada claramente. Agarrou violentamente o lençol que estava retorcido ao seu redor e finalmente soltou o fôlego. Moveu o corpo para se sentar ereto e olhou ao redor.

    O brilho da luz que o cercava fazia sua cabeça latejar. Ele fechou os olhos e arquejou com o brilho súbito e inesperado. Lentamente, ele os abriu novamente, e enquanto soltava um gemido dolorido, ficou ciente de algo. Não era a luz dos Irmãos, a luz brilhante dos sóis gêmeos, que atacava os seus sentidos, mas algo artificial. As luzes elétricas acima dele pareciam forçar caminho diretamente através de seus olhos e para dentro do cérebro. Ergueu as mãos fracamente e apertou-as contra as têmporas, esperando que a pressão aliviasse um pouco da dor.

    Por um instante, as imagens ressurgiram, e ele se encontrou em um estado de quase devaneio enquanto sua mente revivia mais uma vez o que poderia ter somente sido descrito como sonho. Era rápido, como um relâmpago, mas ele via tudo. Podia discernir o rosto para quem a sua promessa se dirigira, a bela Elfa loira. Ele a conhecia, ou a havia conhecido. Porém, todo o conceito disso era escorregadio, e quanto mais tentava se ater a esse sonho, mais rápido se desvanecia. O todo do sonho, se era o que tinha sido, escapuliu-lhe pelos dedos como areia. Tão rapidamente quanto havia se lembrado dele, foi embora por completo.

    À época, o sonho parecera importante. Ele e tudo o mais que ricocheteava pela sua mente, no entanto, foram rapidamente ofuscados pela dor que percebeu estar sentindo. Tentou novamente manter os olhos castanhos abertos, mas a intensidade da luz provou-se ser demais para ele. Rendeu-se finalmente e deixou a cabeça cair de volta sobre o travesseiro.

    Um arrepio frio percorreu o seu corpo quente, fazendo com que tremesse com desconforto. Ele não compreendia o calor; a sensação era de estar deitado sobre brasas ao lado de um fogo abrasador. A dor latejante em sua cabeça que acompanhava a sensação ardente era diferente de qualquer que já tivesse sentido. Tentou lutar contra ela; continuava a empurrar as palmas contra as têmporas até que parecesse que estava para afundar as laterais de sua cabeça. A pressão infelizmente não foi mais que uma distração à sua situação. No fim, tudo chegou a um ponto em que ele sentiu que não mais aguentaria a dor. Cerrou o punho, resfolegou como um touro, e finalmente gritou em agonia enquanto seu corpo se balançava bruscamente na cama.

    Pelo que poderia ter sido um minuto inteiro ele teve seu ataque de raiva. De alguma forma, funcionou. Sua dor começou a diminuir, e enquanto seu ataque terminava, descobriu-se capaz de respirar. Conforme descansava, o calor desvanecia. Sentiu o latejar nas têmporas amenizar e, finalmente, pôde ouvir seus pensamentos.

    Aninhou as mãos em concha sobre os olhos sensíveis para proteger a vista da luz ao redor. Descobriu-se piscando rapidamente e tentou levar umidade para dentro deles. Estavam ressecados e coçando, avermelhados, imaginou. Ele sentiu como se estivessem prestes a rachar de desidratação.

    O cômodo em que se encontrava era completamente branco. Ele podia dizer que era velho pois as paredes haviam amarelado um pouco e havia pedaços de reboco faltando em alguns lugares. Havia cerâmica branca por baixo da cama, e um ventilador de teto girava acima dele. Monitores emitindo bipes com telas bruxuleantes cercavam sua cama, pareciam velhos e como se mal estivessem funcionando.

    Enquanto examinava seus arredores, não pôde evitar plantar os dedos dentro dos cabelos castanhos da altura dos ombros. Soltou um ganido frustrado, pois embora estivesse confuso e cansado, não conseguia se livrar da própria ideia preocupante de que algo estava errado. Apesar de tudo, ainda recusava levantar a cabeça do travesseiro. Enquanto sua dor lhe havia deixado, a fadiga permanecia, e era o bastante para lhe manter se sentindo letárgico.

    — Porra — sua voz estava aérea, e grave, parecia como se ele estivesse em um constante estado de fúria. Com outro gemido, esticou fracamente a mão e coçou uma irritação na pele ressecada do braço esquerdo. Enquanto as unhas raspavam contra a pele, no entanto, elas toparam com algo estranho, algo inesperado. Curiosamente, agarrou o lençol branco e com mais esforço do que queria exercer, por fim, livrou-se dele e o jogou para o lado.

    Seus olhos recaíram sobre seu próprio pálido corpo nu. Arquejou e esfregou a testa quando viu os grossos tubos pretos que estavam se projetando de seus antebraços e de suas pernas. O que eram e por que estavam enfiados nele? Com a força que conseguiu reunir, moveu rapidamente a mão direita através do peito até o braço esquerdo onde um dos tubos havia sido inserido. Apertou os dedos ao redor dele e rapidamente o arrancou. Foi surpreendentemente indolor, mas a longa agulha deixou para trás um pequeno buraco sangrando.

    Metodicamente, ele moveu o corpo para baixo e arrancou o restante dos tubos. Uma vez que achou que tinha cuidado de todos eles, deitou-se de volta e descansou novamente. Seu escroto coçou, e então ele estendeu a mão para cuidar disso. Enquanto sua mão batia contra algo, balançou a cabeça raivosamente e resmungou todo tipo de xingamento em que conseguia pensar.

    Sua cabeça se curvou para cima, e ele olhou para baixo para além de seu torso muscular, e foi quando seus medos foram verificados. Um fino tubo se projetava de sua uretra, um que ele não havia visto no seu exame inicial do corpo. Isso o deixou consideravelmente puto, e sem pensar, rapidamente estendeu a mão e o arrancou.

    Um sentimento agudo e desagradável percorreu-lhe a região inferior e se manifestou em um grunhido alto. Ele rapidamente soltou o tubo e arqueou as costas, chutando para tentar ajudar a se livrar do desconforto.

    Bateu os punhos contra o colchão e berrou obscenidades repetidas vezes, mas eventualmente conseguiu se acalmar. Felizmente para ele, a sensação fisicamente desagradável durou somente um momento. A ideia de algo estranho pendendo para fora do pênis, no entanto, foi a que ficou com ele. Decidiu que era do seu melhor interesse deixar o tubo estranho de pau em paz por enquanto e jogar novamente a cabeça de volta no travesseiro e se permitir que o corpo ficasse mole.

    Enquanto descansava, sua mente vagava. Tentou se lembrar de onde estava e como havia chegado ali. Foi um feito difícil, pois após outra olhada rápida ao redor percebeu que nada do que via provocava quaisquer memórias. O que sabia, com certeza, era que definitivamente não estava na Base 21, seu lar. Onde quer que estivesse, era muito menos organizado do que a enfermaria da 21. Sabia disso como fato porque, ao longo de seus anos entre batalhas e treinamento e suas frequentes brigas gerais, havia passado muito tempo sendo remendado pela maravilhosa equipe médica de sua base em casa.

    Ele viu o que percebeu como entulho espalhado ao redor de todo o cômodo. Antiguidades velhas e enferrujadas que honestamente nada tinham a ver com pessoas machucadas como ele o cercavam e acessórios dilapidados que pareciam ter, pelo menos, um século de idade estavam presos nas paredes. Era um local curioso, e ele se sentia desconfortável. Afastou a ideia de descobrir onde estava e continuou a buscar sua mente pela última memória que pudesse encontrar.

    — As cavernas — ele se lembrou de algo, e sua voz empedrada murmurou o pensamento em voz alta.

    Embora tivesse fechado os olhos em esforço para remover as distrações, estava naquele ponto completamente acordado.

    — As Cavernas Izla'Axi! — a memória rapidamente se encaixou na mente.

    Ele ouvia risadas e os sons gerais que se esperaria de um acampamento. Lâminas raspavam contra pedras de amolar; balas carregadas em pentes e cilindros de revólver... A fogueira ardia e iluminava as paredes da caverna; ele podia de repente sentir o cheiro da fumaça e ouvir o estalido da madeira. Sua querida amiga Elia repousava a cabeça sobre o ombro sem armadura dele, e ele dividia uma garrafa de vinho com Alec, seu irmão de armas.

    O trio conversava, ria e fazia piadas... Bem, Alec e Elia faziam. Crinnan estava de mau humor na maior parte e esperava pelo seu turno na patrulha. Lembrava-se de querer comer e depois dormir.

    Ele se lembrou da escuridão que o cercava quando se separou da sua equipe de patrulha e se aventurou para dentro da Belhaasi Weald sozinho. Lembrou-se de que havia deixado sua armadura para trás lá na caverna e somente carregado sua espada e revólveres. Sabia que não encontraria problemas e não queria se preocupar com o peso extra.

    As árvores altaneiras acima dele se escondiam sob um cobertor de escuridão, e ele tinha somente a tênue luz verde da lua para guiar-lhe o caminho. As folhas e gravetos se quebravam sob suas botas, e ele fumava um cigarro enquanto caminhava pela floresta antiga com sua lanterna. Rosnava xingamentos para seu Capitão por tê-lo despachado; ambos sabiam que não havia inimigos na área.

    Ele se lembrou de ter ouvido os animais disparando pelos arbustos e de ter visto os insetos de luz lampejarem seus traseiros em toda a sua volta. Seu trabalho era patrulhar por uma hora, e quando terminasse, tinha de despachar Alec para substituí-lo. Havia dois outros soldados lá fora com ele à época, mas estavam patrulhando uma área diferente. Ele estava sozinho. Pensou que ia ser fácil, ser enfadonho, mas, de repente, ele ouviu algo que esfacelou a ideia.

    Rosnados e palavras sussurradas vieram de todas as direções. Os barulhos pareciam cercá-lo, e pôde repentinamente sentir o cheiro do que parecia carne podre. Ele não estava preocupado, ele sabia que era o melhor. O que quer que estivesse ao seu redor, podia dar conta.

    Enquanto casualmente jogava fora seu cigarro e desabotoava o coldre de um de seus revólveres, lembrou-se da dor súbita e surpreendente enquanto algo se atirava com força nele por trás e o derrubava sobre a barriga. Rapidamente ele rolou de costas para que pudesse encontrar o seu inimigo; foi bem a tempo de ver a ponta de uma lança se enterrar no chão ao seu lado.

    Lembrou-se da criatura grande e tosca sendo nada mais do que uma silhueta ao luar. O impacto o fizera derrubar sua lanterna, e não conseguia ver mais do que um animal muscular desleixado. Rugiu vorazmente e soltou uma risada gutural enquanto sua presa se atrapalhava desesperadamente para sacar a arma.

    Ele sentiu a lança que havia penetrado no chão só momentos antes de súbita e forçosamente espetá-lo no estômago. Lembrou-se de ouvir a si mesmo gritando enquanto seu atacante torcia a arma e ria. A torção seguida de um súbito puxão fez com que a cabeça da lança cortasse pelo seu corpo até que rasgasse seu lado direito, deixando seu abdômen escancarado e sangrando.

    — Levem-no — lembrou-se de uma voz grave e assustadora ordenar. — Ele parece... delicioso. — Imediatamente após isso, algo duro bateu com força contra a lateral de sua cabeça, e não se lembrou de nada mais.

    Olhou para baixo para seu corpo nu e viu uma longa cicatriz rosada que começava logo acima de seu umbigo e parecia se enrolar até suas costas. Contemplou que tipo de magia teve de ter sido empregada para curar tal ferimento na quantidade de tempo que pensou ter passado e suspirou. Ele se perguntou que tipo de infortúnio havia recaído sobre si.

    Conforme olhava para as luzes acima, ele temeu por si. Não sabia onde estava e se estava na companhia de amigos ou inimigos. Sabia com certeza que não estava em base Cavaleiro Negro alguma. Sentiu-se mais certo de que de alguma forma havia acabado como prisioneiro do Império Goviano. O pensamento de estar à mercê deles foi o suficiente para fazê-lo se arrepiar.

    Vinte e três anos era tudo o que tinha. Vinte e três anos de viver, respirar, comer, beber, trepar, lutar e cagar tudo para fora de volta. Suspirou pesadamente, sentindo que embora vinte e três anos fossem mais do que muitas pessoas tiveram como oportunidade de viver neste mundo, simplesmente não foram o suficiente para ele. Havia mais que ele queria realizar; mais que queria sentir. Entristeceu-se pelos momentos que ainda não vivera, os mesmos momentos que sentia que seus captores lhe haviam tirado.

    O som de passos silenciou seus pensamentos. Ele se forçou a sentar ereto e fitou em direção à porta branca de madeira rachada na parede a dez metros na frente da sua cama. Sabia que estava preso pelo maldito tubo que pendia do pau e soltou um rosnado frustrado enquanto planejava desesperadamente sua fuga.

    Sua adrenalina irrompeu e ela, talvez irracionalmente, deu-lhe um impulso de confiança. Ele estava desarmado; sabia que devia mudar isso. Era treinado para matar; podia usar qualquer coisa. Podia torcer o lençol bem firme até que pudesse ser usado como um cassetete, podia arrancar um dos tubos que saíam de seu braço do aparelho ao qual estava anexado e usá-lo como um chicote... Infernos, ele estrangularia seus inimigos com seu maldito cateter se tivesse que fazê-lo. Rapidamente começou a decidir o que fazer.

    Tinha somente instantes para preparar seu plano, mal tempo o suficiente para até mesmo pensar. Seus olhos finalmente localizaram um carrinho enferrujado no lado esquerdo da cama com uma variedade de ferramentas manchadas de sangue repousando sobre ele. Rapidamente, agarrou um par de tesouras velhas e tentou cortar o cateter, mas infelizmente ou a tesoura estava cega demais, ou o tubo era grosso demais. O som de passos parou, e a maçaneta fez barulho. Desistiu do tubo, segurou a tesoura na sua frente e se preparou.

    A maçaneta antiga virou enquanto seus componentes enferrujados rangiam por dentro. A porta branca de madeira abriu com dobradiças lamuriantes e começou a vir na sua direção. Ele não compreendia por que parecia que estava demorando um maldito longo tempo, mas a porta finalmente se escancarou o suficiente, e um Elfo de cabelo azul pisou pelo vão. Meio segundo depois o par de tesouras voou pelo ar e atingiu o Elfo em cheio no peito. Os cabos acertaram primeiro, ricochetearam nele e caíram com estrépito no chão. O Elfo surpreso deixou cair algo que estava segurando nas mãos, olhou para baixo para a bagunça que havia feito e ralhou.

    — Bem... devo dizer que o que quer que tenha tentado parece ter falhado — a voz insolente, porém levemente efeminada, do Elfo o fez parecer um tanto almofadinha. Ele se ajoelhou e examinou a sujeira abaixo de si. O que parecia um bolo coloridamente decorado havia se espatifado contra o chão, e a tesoura pousava ao lado dele. O Elfo abanou a cabeça e soltou um suspiro desapontado. Silenciosamente, agarrou a tesoura, ficou de pé e depois a colocou sobre a bancada à sua direita. — Que desperdício. Devo dizer que é sua maldita culpa. Agora, você arruinou o seu próprio bolo de melhoras!

    — Que porra? — estava supremamente confuso pelo que estava acontecendo. Não poderia ter sido real, um bolo aleatório entregue por um Elfo que ele nunca vira antes era estranho demais. Tinha que estar sonhando.

    O Elfo deu de ombros e caminhou para a frente com um sorriso. Tinha a pele pálida, era de altura mediana, seu cabelo azul estava jogado para o lado e parecia da cor do fundo do oceano. Dois anéis perfuravam o lado esquerdo do lábio inferior e suas orelhas tinham uma multitude de piercings também. Tinha o peito desnudo, revelando uma figura magra porém harmônica, e vestia uma jaqueta cinzenta na altura da cintura com algum tipo de pele branca forrando o colarinho. Definitivamente não parecia Goviano.

    — Afaste-se! — aquele que estava na cama berrou furiosamente. Blefou segurando a palma para fora como um mago de batalha pronto para golpear. A pose causou um sorriso divertido no Elfo. — Afaste-se ou vou pulverizá-lo!

    — Oh, ora essa, sua criança ridícula — escarneceu o Elfo e revirou os olhos enquanto passava por cima da sujeira do bolo que parecia delicioso no chão. — Você não tem conhecimento do que fala. Você nunca usou magia, como pode chamar, na sua vida.

    O outro gemeu com desânimo e lutou para encontrar palavras. O Elfo era esperto. Ou isso ou estava simplesmente propenso demais para se arriscar.

    — Comecemos novamente — continuou o Elfo, juntando as mãos e sorrindo. — Meu nome é Sajinious Lynx, embora meus amigos me chamem de Sage. — Parou um instante e inclinou a cabeça um pouco para a esquerda. — Como posso chamá-lo?

    — Onde estou? — exigiu rapidamente o outro.

    Sage parecia que não conseguia se conter.

    — Bem, olá, Onde-estou, eu sou Sage! — disse com um olhar de divertimento.

    — Foda-se — espetou o outro —, onde estou?

    — Você não é muito amistoso, é? Olhe, já me deleitei em muitos jogos na minha época — Sage ondulou o dedo pelo ar em um gesto de punição —, eu poderia jogar com você o dia todo, se eu desejasse, sem ficar impaciente. Coloquemos de lado por um instante quaisquer terríveis pensamentos que possamos ter ao meu respeito e simplesmente nos apresentemos. Podemos fazer isso?

    O outro grunhiu e correu os dedos pelos cabelos:

    — Sou Crinnan. Agora, onde estou?

    Sage sorriu vitoriosamente e assentiu com a cabeça. Crinnan franziu para o risinho condescendente e largo de comedor de bosta de Sage; irritava-o.

    — Bem, suponho que atualmente você esteja em uma cama — Sage casquinou com os braços abertos em um tipo de gesto de ‘contemple’. — Em um cômodo branco, em uma casa na cidade que outrora fora chamada Belhaas, em uma floresta agora chamada Belhaasi Weald, no país de Izla'Axi do grande continente de Redodra, no Hemisfério Oriental do único mundo que já conheceu... Duraan. — Sage parou e esperou por uma resposta.

    Por que ele era tão... esquisito? Crinnan balançou a cabeça com a teatralidade e pensou no que Sage havia dito.

    — Então ainda estou na Belhaasi Weald? — resmungou. A maneira verborrágica de Sage falar o frustrava e esse sentimento piorava com a ideia de que ele ainda permanecia na Belhaasi Weald. — Com quem você está?

    — Para um ser em sua posição — retrucou Sage —, devo dizer que é bem exigente. Embora eu suponha que é compreensível. Ora, se eu estivesse em seu lugar, devo dizer que não confiaria tão imediatamente em...

    — Com quem está?! — espetou Crinnan em súbita fúria. Ele não tinha tempo para um milhão de palavras; só queria respostas.

    — Elabore, por favor — afirmou Sage excentricamente. — O que quer dizer, com quem estou?

    — Você está com Govia? AGRA? Uma Tribo Saqueadora? — o tom de Crinnan estava raivoso, e seus músculos estavam tensos. Seus olhos se travaram em Sage, e queimavam com fúria irritada. Por que o Elfo se sentia compelido a ser um maldito caprichoso?

    Sage sorriu levemente com a reação que ele recebeu e balançou a cabeça em resposta aos questionamentos de Crinnan.

    — Não, não sou nem afiliado com qualquer facção nem tento me associar aos eventos deste mundo. Resido sozinho neste local desolado para que possa viver livre e pacificamente. Sei que fora da proteção deste ermo não monitorado jazem somente guerra e dor. Eu, por enquanto, não tenho tempo para nenhuma das duas. Diga-me, ó Cavaleiro Negro de Canrom, que infortúnio o trouxe para esta grande e antiga Weald quando há tantas batalhas a serem lutadas alhures?

    Crinnan olhou furioso para Sage de maneira desconfiada. Não sabia como o Elfo sabia que ele era um Cavaleiro Negro ou de Canrom. Teria sido legal e fácil acreditar nele, que ele era somente um ermitão benfeitor tentando viver em paz. Crinnan era mais esperto que isso; tinha melhor treinamento que isso. O Elfo parecia o tipo que podia convencer algo ou alguém a fazer ou a não fazer algo que ele desejasse. Crinnan, em contraste, odiava conversar, tinha muito pouco carisma e geralmente resolvia seus conflitos com ações.

    — Quero sair deste lugar — exigiu Crinnan —, tenho negócios a cuidar. Precisa me deixar partir.

    — Então partirá — Sage apaziguou enquanto caminhava até o soldado. Sorriu enquanto olhava para baixo para o ser pelado e Crinnan ficou um pouco preocupado. — Embora primeiro devamos remover esse cateter, vesti-lo e então alimentá-lo. Se não se importa muito, vou me antecipando... — estendeu a mão para o tubo, e Crinnan chutou-lhe o braço.

    — Afaste-se, esquisitão da porra — Crinnan se constrangeu brevemente com suas palavras. De onde havia arranjado ‘esquisitão’? Olhou com desprezo enquanto uma sugestão de rubor lhe acendia as bochechas e instintivamente mantinha a palma de volta em direção a Sage. Ele se sentia um pouco tonto, mas foi capaz de afastar a tontura. — Não me toque.

    — Ok, esquisitão — casquinou Sage levemente para si e abanou a cabeça com deleite. — Se é isto o que deseja, então assim será — Sage sorriu e assentiu para Crinnan. — Compreendo que não confie em mim. Não sou idiota. Essa mesma falta de confiança sugere que, apesar da sua falta de criatividade quando se trata de insultos, você pode muito bem não ser um idiota também. Espero, no entanto, transmitir a você que sou sincero no que digo; assim direi o que quero sinceramente que entenda. Não sou um inimigo seu. Agora, como sabe, a única forma de que você sairá caminhando por aquela porta é se eu remover esse tubo, para que não deseje vagar pela Belhaasi Weald com uma

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