Docência, Políticas Educacionais e Tecnologias:: Desafios à Formação Continuada do Professor do Ensino Médio
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Docência, Políticas Educacionais e Tecnologias: - Rosane Andrade Torquato
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
À memória de minha mãe,
que sempre acreditou na professora que existia em mim.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e sabedoria. A Nilton, meu marido e amigo, por sempre acreditar e ser companheiro e cúmplice em todos os sonhos da minha vida. A torcida e grande apoio dos filhos, Deborah, Hanna, Jonathas e genro, Emanuel. Aos amigos Luiz Carlos Castro e Arlinda Araújo, pela insistência nas sementes de perseverança lançadas há muitos anos em meu coração... Elas deram lugar a flores!
APRESENTAÇÃO
A sociedade contemporânea caracteriza-se por ser complexa, dinâmica, e, ao mesmo tempo, por apresentar características de permanências como resultado de negação ou reafirmação de crenças e valores. Isso gera movimentos contínuos de tensões e contradições que impactam o ser humano enquanto indivíduo e ser coletivo. Suas relações não podem ser reduzidas apenas à relação com a natureza, mas também precisam ser compreendidas num contexto de relações sociais, culturais, políticas e históricas.
Objetividades e subjetividades vão se tornando elementos de busca ao entendimento do humano que sofre impactos, mas também transforma a sua comunidade local e planetária. Objetividade aqui entendida como as condições concretas em que vive o indivíduo. Subjetividade compreende-se enquanto condição humana construída historicamente, ou seja, a identidade pessoal e profissional de cada indivíduo que envolve e expressa suas intenções, crenças, sentimentos e experiências pessoais cotidianas.
Dessa forma, a ciência, por meio da pesquisa, colabora na busca de compreensões, mas também se refaz na medida em que deve atentar para a contribuição de aspectos do cotidiano que se expressam nas e por meio das experiências do ser pessoal e coletivo de cada indivíduo que transita a toda instante por diferentes instâncias e dimensões sociais.
A Educação escolar pode ser caracterizada como uma dessas instâncias que tem na escola sua concretização. Essa instituição tem regras comuns, valores e atitudes, e dessa forma, ainda que fragilizada por diversos fatores, caracteriza-se como comunidade. Concordo com Bauman (2003) quando define comunidade como entendimento compartilhado por todos os membros. Esse entendimento é ponto de partida de toda união, assim como, sentimento recíproco e vinculante. Não resta dúvida que esse conceito vai se recriando nesse novo contexto de mundo.
Em minha carreira profissional no magistério há quase 30 anos, ora como professora, ora como pedagoga, percebo a necessidade de constante atualização por meio de leituras, debates e cursos de formação continuada a fim de me apropriar de conhecimentos que me auxiliem em uma prática consciente e emancipatória.
Atuando há dez anos como professora-pedagoga do quadro próprio do magistério da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, percebo as tensões e contradições presentes, objetiva e subjetivamente, nas ações e interlocuções e que impactam em todos os envolvidos na comunidade escolar. Dessa forma, foi na pesquisa que encontrei a possibilidade de levantar questionamentos sistematizados e mais direcionados à reflexão e análise de algumas categorias e elementos inerentes ao desenvolvimento da comunidade escolar. Pesquisa tem que se tornar uma atitude cotidiana e consciente.
De forma a delimitar o meu olhar investigativo tomei como objeto de pesquisa a relação das políticas públicas e dos pressupostos teóricos necessários à formação continuada dos docentes do E.M – ensino médio na sua atividade pedagógica por meio de tecnologias de informação e comunicação (TIC). Na minha prática profissional, pude observar que a maioria dos profissionais docentes desse nível de ensino da educação básica enfrenta tensões e contradições diante do aparente descompasso entre as políticas educacionais de formação continuada e uma efetiva concretização de saberes docentes, os quais se caracterizam também pela apropriação de conhecimentos em relação às TIC enquanto artefatos socioculturais, que transformam a natureza, mas também sofrem mudanças e causam impactos a partir de inter-relações complexas e dinâmicas presentes na sociedade.
Enquanto pesquisadora, precisei encontrar elementos concretos que aparentemente pareciam tábuas
de destroços encontrados em alto mar, à medida que a pesquisa caminhava em meio a leituras e discussões, aquelas foram se tornando maiores à semelhança de estações que ainda que mais seguras, garantem a transitoriedade indicando a possibilidade de um ponto a diante.
Apesar de seu caráter objetivo e seletivo, as políticas educacionais vinculam-se a outras políticas públicas, assim como pode se caracterizar como um espaço de fronteiras ao indicar sua referencia a diferentes sujeitos e processos. Foi dessa maneira que identifiquei a especificidade interdisciplinar nas políticas públicas educacionais, ampliando dessa forma os horizontes e entrelaçamentos dessa investigação.
As políticas públicas da Educação desde a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 (LDB) até mais recentemente a Resolução CNE/CEB de 30 de janeiro de 2012 (define as DCNEM – Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio), assim como a Portaria MEC 1.140 de 22 de novembro de 2013, que instituiu o Pacto Nacional pelo fortalecimento do Ensino Médio – PNEM, apontam para a formação continuada dos docentes como um dos quesitos necessários ao desenvolvimento e aperfeiçoamento de todos os profissionais docentes do sistema de ensino brasileiro.
Diversos são os temas de estudo e debate que permeiam os recentes cursos de formação continuada para profissionais da Educação do E.M. Esses temas expressam uma árdua trajetória de discussões e embates em um processo de construção sócio-histórico-político. O estudo sobre as TIC é também previsto em lei, conforme o Decreto no. 6755/2009 que instituiu a Política Nacional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica.
O resultado dessa pesquisa, ora desenvolvida entre julho de 2014 a dezembro de 2015, apresenta sua relevância na medida em que propõe como primeiro passo destacar algumas das recentes políticas públicas educacionais relacionadas ao ensino médio nesses últimos anos¹ e à formação continuada dos docentes. Outro ponto importante e que justifica essa pesquisa é que ela aponta para a necessidade de aproximação entre pressupostos teóricos (tecnologia e sua relação com políticas públicas, saberes escolares e formação docente) e os saberes dos docentes de ensino médio, numa perspectiva de formação contínua, até mesmo porque os eixos de formação dos alunos desse nível de ensino, expressos em documentos legais, estão também fundamentados nesses pressupostos e subentendendo-se aqui, a relação de uma formação docente que contemple a apropriação por parte desses profissionais dos referidos eixos e pressupostos teóricos. Um terceiro aspecto relacionado ao último descrito é o fato de uma investigação em uma perspectiva interdisciplinar. Esta busca vincular a reflexão em torno da formação continuada dos docentes do ensino médio, tecnologias de informação e comunicação e políticas educacionais a estas relacionadas.
Dessa forma, levantou-se nesta pesquisa o seguinte problema: as políticas educacionais de formação continuada estão sendo suficientes para garantir a formação de docentes numa perspectiva de apropriação não apenas técnica, mas, também conceitual, cultural e pedagógica na utilização de tecnologias de informação e comunicação?
Como objetivo geral procurou-se investigar os avanços ou permanências dos saberes e práticas dos docentes do ensino médio em sua relação com as tecnologias de informação e comunicação. Com a intenção de melhor percorrer a trajetória delinearam-se três objetivos específicos. Primeiramente observar e diagnosticar a prática docente em sala de aula, levantando as ações educativas utilizadas por eles com relação ao uso de tecnologias de informação e comunicação. O segundo, identificar a partir da aplicação de entrevista semidirigida, os principais aspectos desenvolvidos pelos docentes na relação de sua formação continuada com base nas recentes políticas públicas de Educação e aplicação dos novos conhecimentos relacionados às novas tecnologias. Por último, realizar análise comparativa entre o levantamento da observação participante e o conteúdo das respostas obtidas na entrevista semidirigida, a fim de discutir a relação da produção de práticas profissionais, formação docente e tecnologias de informação e comunicação.
Com o propósito de dar respaldo teórico às questões aqui apresentadas, debrucei-me sobre uma profunda revisão de literatura que nesta obra traduzo em capítulos. O primeiro, denominado de Ensino médio: espaço que se (re) constrói em meio à historicidade das políticas educacionais
descreve o que considero alguns dos principais aspectos que caracterizaram ou levaram a sua organização atualmente. O segundo capítulo Políticas públicas educacionais: da elaboração à implementação
é resultado de minha curiosa e persistente necessidade de compreender como se dá o planejamento e implementação de políticas públicas de modo geral e, mais especificamente as políticas educacionais, com destaque para algumas das recentes políticas educacionais referentes ao E.M até meados de 2015. Como numa teia de entrelaçamento, surge o terceiro capítulo Formação continuada: lugar de articulação de políticas educacionais e formação docente
. Este apresenta um breve percurso da construção do conceito de formação em serviço que vai se