Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

O Perigo do Herói: A Saga do Feiticeiro
O Perigo do Herói: A Saga do Feiticeiro
O Perigo do Herói: A Saga do Feiticeiro
E-book365 páginas5 horas

O Perigo do Herói: A Saga do Feiticeiro

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

A estrela negra foi evitada, mas Ayden e seus amigos ainda não estão fora de perigo. Quando ele e Merlin percebem que a reputação de Ayden como removedor de maldições faz mais mal do que bem, decidem viajam, mas são capturados por assassinos na manhã seguinte. Eles atraíram a atenção de pessoas poderosas e terão que ser espertos e atentos para não se tornarem peões.

O que começa como uma missão para desfazer um mal entendido e descobrir o desaparecimento de um bruxo, logo se torna uma aventura de perigos e magia. Ela testará as habilidades de Ayden, a sabedoria de Merlin e a bravura de um príncipe imortal. Eles enfrentarão monstros, armadilhas mortais, inimigos poderosos e aliados ainda mais perigosos.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento30 de set. de 2020
ISBN9781071567302
O Perigo do Herói: A Saga do Feiticeiro

Leia mais títulos de Rain Oxford

Relacionado a O Perigo do Herói

Títulos nesta série (3)

Visualizar mais

Ebooks relacionados

Fantasia para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Categorias relacionadas

Avaliações de O Perigo do Herói

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    O Perigo do Herói - Rain Oxford

    Exposição Narrativa

    Eu era o sétimo filho de uma família de feiticeiros famosos, conhecidos por serem implacáveis e terem poderes malevolentes. No meu mundo, bruxos só usavam magia de luz e feiticeiros só usavam magia sombria. Causando o desdém da minha família, não importava o quanto tentasse usar minha magia para o caos e a destruição, a única coisa que conseguia fazer era magia de luz.

    Quando saí de casa para provar que podia ser um feiticeiro poderoso, acabei libertando Merlin de uma prisão mágica. Merlin era um bruxo imortal muito poderoso de outro mundo que fora amaldiçoado. Além de perder a magia e a imortalidade, ele fora transformado em lobo. Como fora eu quem o libertara, conseguíamos conversar um com o outro dentro da mente. Com a ajuda dele, aprendi a aceitar que eu tinha bruxaria e feitiçaria, e juntei-me a Magnus, um dos bruxos mais poderosos de Caldaca. Nós três banimos cinco dos meus irmãos malignos para outro mundo. O mais novo deles, Thaddeus, era o menos terrível e, portanto, senti que ele merecia uma chance de viver em paz. Mais tarde, ele se redimira e tornara-se um excelente aliado.

    As pessoas de Caldaca tinham limitações sobre o tipo de magia que conseguiam fazer. Além de bruxos e feiticeiros, havia também magos, que eram curandeiros; ilusionistas, que faziam magia de ilusão; necromantes, que controlavam os mortos; videntes, que viam o futuro; e elementalistas raros, que conseguiam controlar os elementos.

    Havia um fenômeno em que o sétimo filho do sétimo filho e a sétima filha da sétima filha tinham grande poder. Mesmo em mundos sem magia, essas pessoas tinham habilidades especiais. Em Caldaca, onde quase todo mundo tinha magia, aquelas pessoas tinham uma vantagem ainda maior.

    Elas eram chamadas de Sjaus e podiam fazer qualquer tipo de magia que não entrasse em conflito com sua personalidade. Pouquíssimas pessoas sabiam da existência deles. Havia apenas sete Sjaus homens e sete mulheres. Quando um morria, outro nascia imediatamente. Eu era uma dessas pessoas e, por isso, podia fazer magia sombria e de luz. Usei essa vantagem e tornei-me um removedor de maldições. As pessoas viajavam grandes distâncias para que suas maldições fossem removidas.

    Isso não queria dizer que eu era um especialista no assunto. Quando tentei remover a maldição de Merlin, acabei possibilitando que trocássemos de forma para que eu pudesse ser um lobo e ele, um homem. Mesmo assim, ele me ensinava magia de outros mundos, incluindo magia dracônica. Minha esperança era que encontrássemos uma solução melhor.

    Mason, predominantemente bruxo/mago, sabia mais sobre os Sjaus do que o restante de nós. Ele e sua família de bruxos estavam vivendo com Merlin, Thaddeus e eu no castelo de Magnus.

    Minha tia, Livia, também era uma Sjau com bruxaria e feitiçaria, mas guardara o poder sombrio. Foi com grande choque que descobri que meu pai amava minha tia, não minha mãe. Infelizmente, a mãe dele o proibira de ficar com Livia e ele acabara casando-se com minha mãe. Era tudo por causa do poder.

    Minha mãe, Ilvera Dracre, era a feiticeira mais malévola que eu conhecia. Ela manipulava todo mundo e repetidamente tentara roubar o poder dos Sjaus. Acabamos usando isso a nosso favor quando tivemos que derrotar um adversário ainda mais poderoso.

    Baltezore era um inimigo do passado de Merlin que, no fim das contas, era um dragão antigo cuja forma verdadeira fora removida por outros dragões. Ele estava atrás de um ovo especial, que continha a primeira dragoa a nascer em mais de mil anos. Toda a magia em Caldaca era produzida por um dragão ainda mais antigo que Baltezore e que estava morrendo. A magia dele passara para a fêmea para que ela pudesse sustentar o mundo. Baltezore queria aquela magia, mas nós precisávamos dela.

    Quando descobrimos que ele estava trabalhando com Ilvera, permitimos que ela tirasse nosso poder, sabendo que imediatamente se viraria contra Baltezore. Convencer todos os Sjaus a trabalharem juntos fora difícil, pois, no começo, alguns estavam ao lado dela. Kalyn, uma ilusionista e metamorfa, era um exemplo perfeito de como Ilvera conseguia ser traiçoeira. Ela colocara um feitiço de amor em Kalyn para que obedecesse Sven. Sven obedecia Ilvera, pois ela sequestrara a esposa dele. Depois de muito trabalho, conseguimos formar uma frente unida e fingimos cair na armadilha dela.

    Tudo ocorreu de acordo com o plano, até o momento de recuperarmos nossa magia.

    Felizmente, eu tinha uma pedra da galáxia, que descobri ser o coração de um dragão infundido com o cristal do meu cajado. Todas as pedras da galáxia tinham poder sobre os dragões, mas cada uma fazia uma coisa diferente. A minha conseguia deixar um dragão pacífico ou chamá-los para que ajudassem. Eu também podia evocar o dragão de cujo coração minha pedra da galáxia era feita. Ou podia evocar o poder do dragão. Eu raramente fazia essas coisas, pois era um esforço perigoso para minha energia.

    Com a ajuda dos dragões e todos os quatorze Sjaus trabalhando juntos, conseguimos derrotar Ilvera e recuperar nossa magia. A estrela negra, um buraco imenso no céu que se formara quando o dragão antigo morrera, fechara antes de causar muito dano. A magia fora salva.

    Prólogo

    Era uma vez um belo reino, onde os cidadãos eram felizes e bem alimentados, e onde o rei e a rainha eram muito amados. A única coisa que faltava na vida deles era um filho. A cada ano que entrava e saía, o casal real perdia um pouco mais da esperança de um dia ter filhos. Eles começaram a procurar magos para ajudá-los, mas não adiantou.

    Finalmente, um vidente viajou até o castelo deles e disse que teriam um filho se conseguissem um tesouro muito especial. Aliás, o vidente até disse onde encontrar aquele tesouro. Quando o casal procurou uma família de feiticeiros, já eram esperados. Juntamente com o tesouro, a feiticeira deu a eles uma poção para que a rainha bebesse e prometeu que uma criança saudável logo alegraria a vida deles.

    Naturalmente, a rainha ficou hesitante em dar ouvidos a uma feiticeira, mas decidiu que valia o risco. Nove meses depois, nasceu um belo bebê. Ele era a criança perfeita e levou muita alegria para a vida deles. No quinto aniversário dele, o vidente voltou ao castelo e disse ao rei e à rainha que o filho estava destinado a algo grande, mas, primeiro, enfrentaria um perigo terrível.

    O rei e a rainha reforçaram o castelo com a magia mais forte e nunca deixavam o filho longe de suas vistas. Durante anos, a vida deles foi maravilhosa. Em certo momento, a magia começou a fracassar em toda a terra e as defesas do reino enfraqueceram.

    O príncipe era corajoso e tinha o coração puro. Portanto, quando o reino foi atacado, ele percebeu que tinha que fazer alguma coisa para protegê-los. Com a pouca magia que ainda tinha, ele saiu escondido do castelo e partiu em uma missão para descobrir por que a magia estava morrendo e para salvá-la.

    Infelizmente, ele voltou fracassado e desolado. O rei e a rainha ficaram tão felizes de ter o filho em casa, são e salvo, que fizeram uma celebração. Os cidadãos sem magia se regozijaram e deixaram o medo de lado.

    O que eles não sabiam era que dois outros reinos estavam preparando-se para tomar o castelo. O reino pacífico foi atacado sem misericórdia e o príncipe ficou mortalmente ferido. Com a ajuda de ervas e poções de cura, ele viveu por dois dias. Mas, sem nenhum mago poderoso restante, não havia esperança. Somente o amor pelos pais lhe dava forças.

    Quando um buraco negro se abriu no céu e o sol ficou vermelho, todos no reino acharam que era porque o príncipe estava morrendo. Com a ajuda da mãe, ele se levantou e andou até a janela, de onde conseguia ver o estranho fenômeno. — A magia desapareceu para sempre? — perguntou o príncipe com voz fraca.

    — Não sei — respondeu a mãe.

    — Desculpe por eu não ter conseguido salvar a magia.

    — Não era sua responsabilidade. Era minha, de proteger você, e fracassei.

    Quando o príncipe deu o último suspiro e fechou os olhos, o buraco negro começou a encolher. Logo antes de desaparecer, fragmentos de luz, como estrelas em miniaturas, saíram dele. Um dos fragmentos voou pela janela aberta e atingiu o príncipe no peito. O fragmento encheu o quarto com uma luz brilhante e, ao sumir, as feridas do príncipe se fecharam bem diante dos olhos da mãe.

    Nos dias seguintes, ninguém no reino conseguia acreditar na recuperação do príncipe, nem ele mesmo. Cinco dias tinham se passado antes que ele acidentalmente colocasse a mão em um fogo da cozinha, sem sofrer nada. Ele decidiu que era invencível e, ao testar essa teoria, ela se provou verdadeira repetidamente.

    A magia retornara a Caldaca e o jovem príncipe estava mais forte do que nunca.

    Foi só um mês depois que um feiticeiro poderoso invadiu o castelo, derrotou todas as suas defesas e roubou o tesouro que o vidente pedira ao rei e à rainha que conseguissem. O casal real nunca contara ao príncipe o que era o tesouro, mas estavam convencidos de que, sem ele, o príncipe seria tirado deles.

    Mais uma vez, o príncipe saiu escondido do castelo e partiu em uma missão, desta vez para derrotar o feiticeiro. Mesmo com o cavalo mais rápido do reino, ele demorou meio mês para encontrar e chegar ao castelo sombrio. Ele não foi recebido por um exército feroz nem por uma maldição sinistra. Em vez disso, parecia que ninguém estivera no castelo em anos. Ele entrou pela porta principal e estremeceu por causa do frio que pairava no ar denso.

    — Olá? — gritou o príncipe. — Feiticeiro? Estou aqui para pegar de volta o tesouro da minha família! Se entregá-lo de forma pacífica, irei embora sem causar problemas.

    Não houve resposta.

    O príncipe estudou o aposento cheio de poeira e encontrou algo coberto por um lençol desbotado, frio ao toque. Curioso, ele puxou o lençol, revelando um espelho, com quase o dobro de sua altura e quatro vezes a largura. — Assustador — sussurrou o príncipe. Pelo canto do olho, ele viu um movimento e começou a se virar. O espelho estalou. Instintivamente, ele ergueu os braços, mas não conseguiu impedir que o espelho caísse em cima dele, com o lado refletivo para baixo.

    Mas o príncipe não foi esmagado pelo espelho imenso. Em vez disso, ele estava subitamente sozinho no escuro. Lentamente, ele abaixou os braços e tentou entender os arredores. O primeiro pensamento foi de que era uma floresta, mas não do tipo que crescia em sua terra natal. As árvores pareciam mortas e mutantes, com galhos horríveis e retorcidos. A neve cobria o solo e o ar frio penetrou as roupas dele com tanta facilidade como se ele estivesse nu. Juntamente com o calor do corpo, o ar afastou a alegria e a esperança. Apesar de o príncipe nunca ter sentido aquele horror antes, ele era corajoso e equilibrado. Portanto, concentrou-se em encontrar uma saída.

    Dentre as árvores, ele encontrou itens que certamente eram valiosos, como joias e brinquedos infantis, mas tudo estava erodido como se tivessem sido perdidos muito anos antes... ou como se o reino sombrio tivesse drenado o amor deles.

    O príncipe ficou nervoso e sua coragem começou a enfraquecer. O ar frio parado penetrou mais fundo em seus ossos. Ele sentia tanto frio que teve dificuldades em dar mais um passo, mas sabia que, se desistisse, logo estaria perdido como a boneca a seus pés. Ele conseguia sentir o frio chegando ao coração.

    Foi quando ele encontrou um espelho, que não o refletia e era completamente escuro. O príncipe estudou o espelho enorme, que era um tanto mais alto e largo que ele. O príncipe sabia que era uma saída da floresta, mas adiante estava o desconhecido, o que era mais assustador que o frio e a escuridão.

    O som distinto de um galho estalando o assustou e ele se virou. Seus olhos lhe disseram que estava sozinho, como estivera desde que chegara ali. Alguma outra coisa lhe disse o contrário. Um barulho suave fez com que ele olhasse para baixo, onde uma marca enorme se formou na neve. Era a marca da pata de um animal com o comprimento de seu braço.

    Uma segunda pegada se formou à frente da primeira.

    O príncipe caiu para trás. Mas, em vez de ter a queda interrompida pela neve macia, ele caiu sobre uma pedra dura. Agora, ele estava em um novo aposento, no outro lado do espelho que vira na floresta. Sob ele, havia um tecido estranho que não reconheceu, mas logo percebeu que era o pano que cobrira o espelho e impedira-o de ver o aposento. Ele se levantou rapidamente. Pelo espelho, viu as pegadas avançando lentamente.

    Pela primeira vez na vida, a coragem lhe faltou. Em vez de desembainhar a espada e lutar contra a criatura, ele correu. A única outra saída da sala era uma escada. Havia caixas na sala, mas ele não tinha como saber o que continham nem tinha tempo para procurar um lugar onde se esconder. Felizmente, a porta não estava trancada e ele se viu em um corredor. Havia uma escada e outra porta. Ele decidiu usar a porta, que levou a uma sala com um fogo aceso.

    A sala tinha pouca mobília. Havia duas poltronas viradas para o fogo, uma cristaleira, uma mesa, um tapete decorativo no chão e uma estante. As paredes eram de tijolo, o piso era de madeira e havia apenas duas portas, uma das quais ele acabara de usar. A característica mais colorida da sala era uma cortina marrom grande. Uma pintura na parede de um crânio com uma névoa saindo de um antigo livro de magia sugeriu ao príncipe que aquela era uma casa de magia sombria.

    O som de vidro quebrando no porão abaixo fez com que ele desse um salto. Rapidamente, ele fechou a porta.

    — Você devia ter coberto o espelho — disse uma voz suave atrás dele. Desta vez, ele gritou e virou-se, vendo uma garota, com cerca de doze anos, de cabelos pretos longos e olhos verdes profundos. Ela vestia um vestido branco simples, que estava sujo na bainha, e estava descalça. — Parece que alguma coisa seguiu você para fora.

    — Quem é você? Você não é o feiticeiro que roubou o tesouro da minha família.

    — Não, não sou. Estive esperando você, Yuri Romanus. Sou Alice. Primeiro, vou lhe contar uma história. Depois, vamos jogar um jogo.

    Capítulo 1

    Ayden, acorde — disse Merlin. Foi o tom duro, não o volume da voz dele dentro da minha cabeça, que me acordou de súbito.

    — Estou acordado! — gritei, assustando o estranho à minha frente.

    — Sim, eu diria que está — disse o estranho, encarando-me com ar de advertência.

    Eu o ignorei.

    Eu estava na sala do trono com Merlin, Mason e meu irmão. A família de Mason partira dois dias antes para buscar pertences em sua casa. Portanto, dependia apenas de mim e de Mason remover as maldições daqueles que nos procurassem. Mason lidava com as maldições pequenas, mas a maioria das pessoas fazia a jornada para encontrar o removedor de maldições porque um bruxo não conseguia lidar com elas. Portanto, uma fila de pessoas do lado de fora, que esperava impacientemente para ter suas maldições removidas, estendia-se mais longe do que eu conseguia ver.

    O homem à minha frente não tinha um caso particularmente impressionante. Depois de algum tempo, todos os casos se misturavam. — Então, só para deixar claro, você roubou a ovelha de um feiticeiro cinco vezes porque ele vivia vencendo o campeonato em sua aldeia. E, em cada vez, ele a pegou de volta sem infligir nenhuma punição. Então, na sexta vez que você a roubou, ele o amaldiçoou para que tivesse alergia a lã.

    — Sim, foi o que eu disse. Agora, remova a maldição.

    — Não. Você roubaria a ovelha dele de novo.

    — Não é justo que ele vença todas as vezes.

    — Já considerou que o feiticeiro vence porque trabalha muito para cuidar das ovelhas?

    — E daí?

    — E daí que não vou remover a maldição. Encontre uma nova forma de ganhar dinheiro. Sugiro a guilda dos ladrões.

    — Não é justo! Ele deveria ter me avisado que ia me amaldiçoar!

    — Você tem sorte de ele só ter feito isso. E de que só o fez depois que você o roubou pela sexta vez.

    — Você não é um rei, é um removedor de maldições! Não é seu trabalho me dizer o que é certo e o que é errado!

    — Não, esse era o trabalho da sua mãe. Agora, volte para casa e pergunte a ela o que você fez de errado.

    — Remova esta maldição!

    — Não.

    — Você é uma farsa! Não consegue removê-la!

    Revirei os olhos. — Thaddeus, precisa de outro rato para as suas poções?

    — Claro, mas ele está um pouco acima do peso. Vou mantê-lo na masmorra por um mês até que eu esteja pronto para ele.

    O homem ficou pálido e correu. — Foi o que pensei. Mason, quem é o próximo?

    Mason conferiu o pergaminho. — O próximo é um homem que traiu a esposa, que contratou um feiticeiro para encolher o... — Ele parou de falar e começou a rir.

    — Ótimo. Mais um.

    Entendo que queira usar seu dom para ajudar as pessoas — disse Merlin. — Mas quando foi a última vez que isso o deixou feliz?

    — E isso importa? Achei que o importante era ajudar as pessoas, não ser feliz.

    Se remover maldições não o deixa feliz, então é um trabalho. E você precisa tirar uma folga para fazer coisas que o deixam feliz. Você não pode ajudar uma aldeia em chamas se estiver se afogando em um rio.

    Você tem razão. Não sou um elementalista. Acho que o motivo pelo qual não estou feliz fazendo isso é que não acho que eu esteja ajudando. A maioria das pessoas que vêm aqui merece a maldição que tem ou pior. As pessoas que realmente precisam da minha ajuda são aquelas que não podem viajar. — Levantei-me. — Você tem razão, Merlin. Não posso continuar fazendo isto. De agora em diante, o removedor de maldições viajará. E continuarei mudando a cor do meu manto para me esconder.

    — Aonde você vai? — perguntou Mason.

    — A qualquer lugar. A todos os lugares.

    — Eu deveria ir com você — disse Thaddeus.

    — Não posso ir porque meus pais não saberão onde estou. Seu pai pegou o espelhinho mágico quando derrotamos Ilvera — disse Mason.

    A expressão de Thad era de conflito. — Nesse caso... acho melhor eu ficar, pois Mason não consegue fazer feitiçaria e precisa da minha ajuda mais do que você.

    — Eu entendo — disse eu.

    Duvido muito disso — argumentou Merlin.

    — Do quê? Mason e Thaddeus são bons amigos.

    Sim, eles são muito bons amigos.

    — Você sabe de alguma coisa que eu não sei?

    Mas com certeza. Mesmo assim, suspeito que você terá dificuldades para escapar do castelo.

    — Vou nos transportar.

    Ou... eles não conseguiriam reconhecer você como um pequeno lobo branco.

    — Se o que quer é me convencer a mudar de forma, não vai conseguir me chamando de pequeno. — Fui para o meu quarto e comecei a embalar as coisas necessárias. Eu queria levar todos os meus livros, mas não conseguiria carregá-los. Havia vantagens e desvantagens em viajar. Por outro lado, em vez de ler sobre o mundo, eu poderia explorá-lo.

    Eu perguntara a Merlin se ele conhecia um feitiço para encolher meus livros para poder carregar todos eles. No entanto, ele dissera que a energia necessária para isso me deixaria totalmente inútil para qualquer outra coisa.

    Além do que eu vestia, as únicas roupas que embalei foram duas camisetas extras, uma calça e meu último par de meias. Assim que tirei as meias do armário, a cabra entrou correndo e tentou tirá-las de mim. — Não, cabra, já lhe dei uma meia hoje!

    A cabra baliu e correu em volta de mim, tentando tirá-las da minha mão.

    — Não, cabra! Vá comer as meias de Thad!

    Ela baliu novamente e mordeu minha bota. — Thaddeus!

    Vou comer cabra no jantar antes de sairmos em nossa aventura? — perguntou Merlin da porta.

    Como conseguisse ouvi-lo, ela mergulhou sob a cama para se esconder.

    — Ah, agora você a assustou. Por que fez isso? Ela nunca teve problemas com você antes.

    Talvez eu tenha aplicado um trote inofensivo nela.

    — Por quê?

    Ela me lembra um pouco de Vactarus.

    — Como?

    — Porque Vactarus é um bode velho rabugento.

    Mason bateu na porta aberta. — Quer que eu transporte você? Deve ser seguro agora.

    — Meu pai disse que Ilvera não seria mais um problema para nós. — Os feitiços de proteção que Thaddeus e meu tio mais velho tinham tatuado em mim já tinham desaparecido havia muito tempo. — O que acha, Merlin?

    Eu confio no seu pai quando ele diz que você está seguro contra Ilvera. No entanto, se a sua intenção é aprender, explorar e remover maldições, transportar-se não é o jeito certo. A vida é uma jornada, não um destino.

    — Está dizendo isso só porque quer que eu aceite a maldição?

    Ele se sentou com uma expressão decepcionada. — Claro que não. Você não deveria pensar tão mal de mim. Por outro lado, faz um longo tempo desde que consegui usar magia e você deveria tentar ser um lobo por algum tempo.

    Suspirei. Eu só fora lobo uma vez, mas não foi agradável. Merlin vivera como lobo por um ano. Era justo com ele? — Ok, mas você terá que carregar nossas coisas.

    Ele riu. — Muito bem.

    — Vai me mostrar como fazer isso eu mesmo?

    Acredito que seja similar a como você aprendeu a falar telepaticamente comigo, no sentido de que é algo que precisa aprender por conta própria.

    Terminei de embalar tudo e coloquei minha mochila, a varinha e o cajado perto da porta. — O que você vai fazer sobre roupas?

    Posso usar as roupas de Magnus.

    Pedi a Mason que buscasse algumas e ele concordou relutantemente. Depois de encontrar uma carta no quarto do falecido bruxo, ninguém mais fora lá. A cabra o seguiu. Tirei as roupas, sem querer rasgá-las nem deixar que se emaranhassem em volta de mim. — Posso ser um lobo maior? O tamanho é uma coisa da magia?

    Não sei exatamente como funciona.

    — É porque sou menos poderoso que você?

    Se é isso, então o tamanho de Gmork indica que ele é muito mais poderoso que eu.

    — Mas você foi ensinado por dragões. Há alguma coisa que poderia tê-lo deixado mais poderoso?

    Há formas, sim. Você precisa olhar nos meus olhos.

    Ajoelhei-me em frente a ele. Antes que pudesse duvidar da minha decisão, o quarto girou e senti um aperto no peito. Eu sabia que estava sentindo dor, que meus ossos se quebravam para serem remodelados, meus músculos se esticavam e pelo surgia no meu corpo com uma coceira que poderia deixar uma pessoa louca. Mas eu sentia tudo aquilo como se fosse um sonho, o que era uma coisa boa. Eu não achava que conseguiria aguentar a agonia que sentira na primeira vez.

    Ao terminar, percebi que tentara atingir meu peito com as garras em um esforço de aliviar a coceira e que Merlin segurava minhas patas. Ele era homem de novo, vestindo meu manto de Rynorm. Abri a boca automaticamente para perguntar quanto tempo demorara, mas só consegui emitir um rosnado e morder a língua.

    Você está bem? — perguntei na mente dele.

    — Eu estou — respondeu ele em voz alta. — Acho que fica mais fácil a cada vez. Você se lembra de como se levantar?

    Com cuidado, eu me levantei. Minhas pernas não estavam fracas, apesar da energia necessária para mudar de forma. Mas andar precisou de um pouco de prática, o que foi estranho. Depois de conhecer Merlin por um ano, não achei que fosse tão difícil imitá-lo.

    Mason e Thaddeus voltaram quando eu estava começando a pegar o jeito. — Uau! Não foi assim que esperei que parecesse como lobo — disse Mason.

    — É exatamente o que eu esperava — disse Thaddeus com um sorriso.

    Diferentemente de Merlin, cujos cabelos tinham a mesma cor do pelo, eu era um lobo branco como a neve. Rosnei para Thaddeus, fazendo com que ele risse. — Você não é grande o suficiente para ser ameaçador.

    — Eu não implicaria com ele por causa do tamanho se fosse você — sussurrou Mason para Thad. Meu irmão ficou pálido.

    O que ele quer dizer? — perguntei a Merlin.

    — Não se preocupe com isso. Eles não queriam que você os ouvisse.

    Mason corou. — Ele ouviu aquilo?

    — Lobos têm uma audição excepcional, dentre outras coisas.

    — Ah... eu esqueci que tinha que fazer uma coisa — disse Thaddeus, saindo rapidamente.

    — Isso, e eu tenho que ir a outro lugar fazer outra coisa — disse Mason, correndo atrás dele.

    O que acabou de acontecer?

    — Um dia, com sorte, você entenderá. Falou com Kalyn recentemente?

    Não — menti. — Na última vez em que ouvi alguma coisa, ela estava procurando a família. Por quê?

    — Por nada.

    Ele não acreditou em mim.

    Merlin se vestiu e nós saímos. Demorei a dominar o processo de descer a escada, mas, quando chegamos ao térreo, eu não parecia mais um idiota completo. Do lado de fora, segui Merlin de perto, passando pela multidão. Eles tinham viajado um longo caminho para me ver, mas eu não aguentava mais ajudar pessoas que mereciam as maldições que tinham.

    O ladrão de ovelhas estava no meio da multidão, dizendo aos outros que eu era uma farsa. Eu não tinha problema algum com aquilo, afinal, minha reputação não tinha resultado em muita coisa boa. Ninguém deu atenção a mim nem a Merlin. Sabendo como meu rosto era reconhecível, decidimos não mudar de forma novamente até sairmos de Mokora.

    *      *      *

    Gostei de correr como lobo e teria disparado para a floresta com o máximo de velocidade. Naquela forma, eu não precisava me preocupar com inimigos atacando nem com o tipo de magia a usar. Quando coloquei a pata sobre a varinha e tentei lançar um feitiço, nada aconteceu, o que estava perfeitamente bem. Eu queria correr, não fazer magia. Encontrei um coelho e,

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1