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A Maldição do Corvo: A Saga do Feiticeiro
A Maldição do Corvo: A Saga do Feiticeiro
A Maldição do Corvo: A Saga do Feiticeiro
E-book401 páginas8 horas

A Maldição do Corvo: A Saga do Feiticeiro

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Sobre este e-book

Ayden Dracre, o filho mais novo de uma família de feiticeiros notórios, está desenvolvendo com sucesso a reputação de removedor de maldições. Talvez com sucesso demais. Infelizmente, o nome Dracre não escapa facilmente. Quando Dessa avisa Ayden que sua mãe está atrás dele e outros semelhantes, ele terá que enfrentar a missão mais difícil.

Com espiões em seu rastro e a descoberta de que há algo de errado com a magia, Ayden terá que confiar na sabedoria de Merlin sobre a própria magia para sobreviver. Ele aprenderá que é mais fácil ceder à escuridão do que resistir, que há segredos sobre sua família que poderão matá-lo e que o passado nem sempre fica enterrado. 

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento22 de ago. de 2018
ISBN9781547534487
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    Pré-visualização do livro

    A Maldição do Corvo - Rain Oxford

    Capítulo 1

    — Obrigada por nos atender, removedor de maldições — disse a mulher.

    Eu não tivera muita opção, pois a mulher chegara com a filha no meio da noite, acordara o castelo inteiro e insistira comigo para que removesse a maldição da filha. Obviamente, as únicas pessoas que moravam no castelo no momento eram eu, Merlin e Magnus, mas a voz alta dela provavelmente acordara todos nos arredores.

    Ainda assim, era o meu trabalho.

    Eu não recebia por ele, mas, ainda assim, era o meu trabalho. — Qual é o problema? — perguntei, sentando-me no trono na sala principal. Magnus tentava fazer com que os hóspedes se sentissem acolhidos, oferecendo comida e reunindo-se com eles em um dos estúdios. Eu estava cansado demais.

    — Minha filha foi amaldiçoada! — disse ela rispidamente, empurrando a filha para a frente. Estudei a criança.

    A garota tinha cerca de dez anos, com cabelos e olhos castanhos. A cor dos olhos dela me disse que ela não tinha magia. Não tinha nada na aparência dela que parecesse estranho. Parecia uma garotinha perfeitamente educada, o que me fez imaginar se era adotada. — Pode ser mais específica?

    — Um garoto vizinho colocou uma maldição de silêncio nela! Remova-a!

    Merlin, meio adormecido ao meu lado, rosnou ao ouvir o tom ríspido da voz dela.

    Decidi não dizer nada, pois sabia que ela estava muito chateada porque a filha fora atacada. Desejei que crianças pudessem ser protegidas contra todas as maldições. Acenei para a garota e ela se aproximou... seguida bem de perto pela mãe. Quando estendi para pegar a mão dela, a garota se virou. — Não vou machucar você. Preciso ver a maldição.

    — Não pode fazer isso sem tocar nela?

    — Posso, mas não será tão gentil. — Eu sempre conseguira remover maldições, mas, quando Merlin me ensinou a detectar magia à minha volta, encontrei uma forma de usá-la para removê-las de forma mais segura.

    — Dê a mão a ele, Kika.

    Depois de um momento de hesitação, a garota estendeu a mão. Minha magia rapidamente fluiu para dentro dela e encontrei a feitiçaria. Suspirei e larguei a mão dela. — Merlin, pode pegar minha varinha, por favor? — perguntei.

    Ele assentiu e subiu a escada.

    A mulher colocou a mão no ombro de Kika. — Vai doer?

    — Não. E será rápido. — A magia fora tão mal feita que eu consegui imaginar com facilidade o que acontecera. O garoto tentara impedi-la de contar um segredo às pessoas, mas a magia dele não era coordenada e transformara-se em uma maldição de silêncio desajeitada. Supus que, se Kika tivesse algo de importante a dizer, poderia superar a maldição por conta própria.

    Merlin voltou um momento depois com a varinha, que peguei e apontei para Kika. Remova a maldição. Como a maldição fora muito mal feita, não precisei desmanchá-la lentamente. Imaginei minha magia fluindo dentro dela e capturando toda a magia externa.

    A energia sinistra sucumbiu com facilidade à minha e seguiu-a de volta para mim quando recuperei minha magia. Obviamente, a maldição era completamente inútil contra a minha magia e, depois de um momento, nem a senti mais.

    — Pronto — disse eu, guardando a varinha no bolso.

    — Eu... consigo falar! — disse Kika empolgada. Ela se virou para a mãe. — Eu quero um lobo como ele — disse ela, apontando para Merlin.

    Merlin rosnou.

    — Você já tem muitos animais — respondeu a mãe.

    Kika bateu o pé no chão. — Eu quero um lobo! — Ela se virou para mim. — Minha mãe o comprará. Quanto custa?

    — Merlin não está à venda.

    — Tudo está à venda se o preço for suficiente. Basta dizer quanto.

    Merlin rosnou novamente. Com medo, a mulher segurou o braço da filha e arrastou-a para fora. Sentei-me na cadeira. — Por algum motivo, acho que fiz um desserviço ao mundo.

    Merlin riu dentro da minha mente. — Não importa. Mesmo sabendo que é uma criança mimada, você ainda removeria a maldição se ela voltasse com outra. Você é uma pessoa boa demais para se recusar a ajudar alguém, mesmo que seja alguém tão ruim quanto seus irmãos. É por isso que tem tantos amigos que largariam tudo para ajudá-lo.

    Repousei a cabeça no encosto.

    Vá para a cama. Se dormir aqui, acordará com câimbras.

    — Vou me transportar para cima. Quer que eu o transporte também?

    Não, obrigado. Acho que vou correr um pouco antes de voltar para o meu quarto.

    Já meio dormindo, consegui soltar um rosnado. Tirei a varinha do bolso e imaginei meu quarto. Assim que a magia me envolveu, percebi que algo dera errado.

    *      *      *

    — Acorde. — A voz me arrancou do sono tão violentamente que soltei um grito. Era uma voz que eu temeria ouvir a vida inteira.

    Infelizmente, quando abri os olhos, ainda não consegui ver nada. — Mamãe?

    — Estou surpresa por se lembrar de mim.

    Eu não conseguia mover as pernas nem os braços, apesar de não sentir nada prendendo-me. — Onde estamos? Como cheguei aqui? — A última coisa de que eu me lembrava era a remoção da maldição de Kika.

    Senti a mão dela no meu rosto e encolhi-me automaticamente, mas ela só removeu a venda dos meus olhos. Eu estava deitado sobre uma mesa de madeira no porão da casa da minha mãe. Eu só vira o porão uma vez, pois mamãe não permitia que fôssemos lá. Ele não era usado para armazenagem nem para torturar pessoas e eu não sabia exatamente para que ela o usava. Só sabia que não queria estar ali.

    Eu também estava completamente paralisado do pescoço para baixo.

    — Você me traiu, Ayden. — Ela era exatamente como eu me lembrava, imaculada, composta e mortal. Ela era alta e magra, com cabelos pretos longos e lisos, olhos frios e maçãs do rosto salientes. A aparência dela sempre me fizera pensar em uma bela aranha venenosa.

    — Você quer me matar e tomar meu poder.

    — É o meu direito. Criei você e seus irmãos com uma finalidade. Seu poder é meu.

    Não deveria doer, pois eu sabia que ela não se importava comigo. — Não tenho magia sombria e você não pode usar minha magia de luz. — Eu estava mentindo, pois tinha um pouco de magia sombria, mas torci para que ela não soubesse disso.

    Vi algo se mover pelo canto do olho e virei o rosto, vendo meu pai parado perto da parede, atrás de minha mãe. Ela estava meio escondido nas sombras, mas percebi a expressão grave dele. Na verdade, era a expressão normal dele.

    — Ah, mas você está errado — disse minha mãe. — Toda magia é neutra em sua forma pura, as pessoas a transformam em sombria ou de luz. Esse é o dom que você tem como sétimo filho do sétimo filho. Quando criança, você só usou magia de luz e imaginei que desenvolveria feitiçaria por conta própria. Mas cansei de esperar.

    — Por que eu começaria a usar magia sombria, sabendo que você me mataria se isso acontecesse?

    — Você não terá opção. — Ela ergueu a mão lentamente e tirou os cabelos que caíam sobre meus olhos. — Você precisa cortar esses cabelos. — As unhas dela eram afiadas como garras e os anéis de prata e ouro nos dedos finos brilharam na luz tênue. Cada um daqueles anéis continha poder mais do que suficiente para me matar. Ela abaixou a mão e abriu as cordas da minha camisa.

    Durante toda minha vida, eu nunca aprendera a fazer minha mãe mudar de ideia. Implorar a deixava furiosa, pois não era um comportamento adequado para um feiticeiro. Ela lentamente cortou a pele sobre o meu coração com a unha. Precisei de toda a força para não fazer nenhum barulho. Eu estava suando, ofegante e desesperado.

    — Por favor, mamãe, espere. Nunca pedi misericórdia antes, mas escute-me desta vez. Há algo que preciso fazer. Prometi ajudar meu amigo. Deixe-me ir, ajudá-lo e voltarei para cá. Não vou lutar contra você.

    Ela sorriu cruelmente. — Muito bem. Vou devolver você ao castelo de Magnus.

    Eu não era idiota o suficiente para achar que me livraria com tanta facilidade.

    — Entretanto, talvez você não esteja disposto a remover a maldição de Merlin quando chegar a hora.

    — Você sabe sobre Merlin?

    — É claro.

    — Então sabe que estou disposto a fazer o que for preciso para remover a maldição dele.

    — Neste momento, está. — Ela tirou um cristal do bolso e levantou-o para que eu o visse. Parecia exatamente como o cristal que continha a magia sombria de Livia, exceto que era todo transparente. — Isso fará com que mude de ideia.

    — O que é isso?

    — Só um cristal. — Ela estendeu a mão e um corvo voou da escuridão para pousar no braço dela. Quando ela cortou o peito do corvo com a unha, como fizera comigo, o pássaro gritou e bateu as asas, mas não se afastou. O sangue do corvo começou a escorrer... para fora, na direção do cristal. Ele foi absorvido com facilidade pelo cristal e começou a escorrer cada vez mais depressa até se transformar em um fluxo vermelho contínuo. Depois de um momento, gotas pretas se combinaram com o vermelho.

    O corvo estava derretendo de forma lenta e grotesca. Com velocidade crescente, o pássaro preto grande foi absorvido para dentro do cristal. Quando ela terminou, o cristal estava preto como o corvo fora.

    — Achei que você me deixaria ir.

    — Eu nunca deixarei você ir. Só disse que o devolveria a Magnus. À medida que usar magia, o poder do sangue do corvo mudará você e envenenará sua magia branca. No fim, você será um feiticeiro de verdade e voltará para mim por vontade própria.

    — Não vou usar magia!

    — Sim, vai, pois você se esquecerá completamente do cristal.

    — Então, por que me falou sobre ele?

    — Acho divertido ver o medo em seus olhos. — Em seguida, ela pressionou o cristal contra a ferida sobre o meu coração.

    Diante dos meus olhos, o cristal começou a derreter e entrar na ferida, como o corvo fora absorvido por ele. Cada gota queimou como fogo e espalhou-se mais fundo dentro do meu corpo com cada batida do coração. Foi uma das experiências mais dolorosas da minha vida e eu tive certeza de que nunca me esqueceria dela, não importava quanta magia minha mãe usasse.

    Atrás dela, meu pai balançou a cabeça.

    Em seguida, tudo ficou escuro.

    *      *      *

    Acordei subitamente, ofegante e suado. Eu estava no meu quarto e tudo parecia normal, exceto que havia uma dor estranha no meu peito. Não havia nenhuma ferida para explicar a dor, que desapareceu depois de um momento como se fosse apenas um pesadelo.

    Merlin? — perguntei na mente do lobo.

    — Sim, Ayden?

    Está tudo bem?

    — Sim, Ayden.

    Acho que tive um pesadelo, mas não consigo me lembrar dele. — Houve um silêncio por um momento. Em seguida, a porta do meu quarto se abriu e Merlin entrou. — Não precisava vir até aqui.

    Nossos quartos ficam a pouco metros de distância um do outro, não tem problema. Pesadelos são raramente uma coincidência. No entanto, pode ser apenas porque você está preocupado com sua mãe.

    — Por que ela deixou Magnus vivo? Por que ela não me ameaçou?

    Talvez ela tenha desistido de você — sugeriu ele.

    — Minha mãe nunca desistiu de nada na vida. Ela deve estar planejando alguma coisa.

    Você está preocupado que ela use Magnus para atingi-lo?

    — Ela deixou um bruxo vivo depois de mostrar que era mais forte. É como caçar e deixar a presa morta no chão. E por que ela esperou até irmos embora? Ela descobriu sobre o cristal espionando-nos ou sabia o tempo inteiro que ele o tinha? — Magnus reforçara as defesas do castelo desde o ataque, mas eu ainda estava preocupado, achando que não era suficiente.

    Não há sabedoria que eu possa lhe dar que ajude. Só o que posso dizer é que, enquanto se mantiver fiel ao seu coração, sua mãe nunca conseguirá magia sombria de você.

    *      *      *

    Eu era o sétimo filho de uma família de feiticeiros famosos, conhecidos por serem implacáveis e terem poderes malevolentes. No meu mundo, bruxos só usavam magia de luz e feiticeiros só usavam magia sombria. Infelizmente, eu sempre fora a vergonha da família, pois, não importava o quanto tentasse usar minha magia para o caos e a destruição, a única coisa que conseguia fazer era magia de luz.

    Quando saí de casa para provar que podia ser um feiticeiro poderoso, acabei libertando Merlin de uma prisão mágica. Antes de ser amaldiçoado, Merlin fora um bruxo imortal muito poderoso de outro mundo, onde bruxos podiam usar magia sombria ou de luz. Além de perder a magia e a imortalidade, ele fora transformado em lobo. Com a ajuda dele, aprendi a aceitar que eu tinha bruxaria e feitiçaria, bani meus irmãos malignos para outro mundo e juntei-me a Magnus, um dos bruxos mais poderosos de Caldaca.

    Depois, fomos para o mundo de Merlin para tentar descobrir como remover a maldição dele. Apesar de termos as informações necessárias, também descobri que eu era o único que poderia remover a maldição e isso exigiria minha morte.

    Depois de derrotar minha prima malvada para libertar minha tia, voltamos ao castelo de Magnus. Lá, descobrimos que minha mãe o atacara e tomara todo o poder sombrio de minha tia, que estava guardado em um pequeno cristal. Minha mãe não levara mais nada, o que me convenceu de que estava atrás dele.

    Felizmente, Magnus se recuperara do ataque em poucos dias. No mês seguinte, Merlin se concentrara em me ensinar magia de proteção contra bruxaria e feitiçaria, pois sabia que era mais provável que eu tentasse nos defender do que atacar.

    A notícia de que um removedor de maldições morava no castelo se espalhara e algumas dezenas de pessoas apareceram para terem as maldições removidas. Eu gostava da prática e, pela primeira vez, não precisava argumentar com as pessoas dizendo que era um feiticeiro. Eu era algo novo, aceito e respeitado.

    *      *      *

    — Venha comer, Ayden — disse Merlin, afastando minha atenção do livro.

    Eu estava sentado na biblioteca, como sempre. Somente quando olhei pela janela que percebi que o sol nascera. — Ah, esqueci. — Eu não queria comer, mas Merlin sempre insistia para que tomasse o café da manhã e não discuti. Apesar de ainda não ter me lembrado de nada sobre o pesadelo, eu me sentia estranho.

    Merlin e eu fomos para o andar de baixo para nos juntar a Magnus à mesa. O velho bruxo estava escrevendo um livro e deixou que o mingau e as batatas esfriassem. — Pergunte como estão as meditações dele.

    — Merlin quer saber como a reversão da maldição está indo. Acho. — Olhei para Merlin e ele assentiu. O problema principal que tínhamos era que o livro não fora escrito em nossa linguagem. Merlin tinha que lê-lo na minha mente e eu tinha que dizer a Magnus. Eu queria mesmo era pedir a Vactarus a Sereia, um amuleto mágico que traduzia palavras escritas e faladas, mas Magnus não confiava nele e dissera que um erro poderia ser fatal. O segundo problema era que nem todos os ingredientes no livro eram conhecidos em Caldaca, portanto, Merlin tinha que explicá-los e descobrir quais eram os equivalentes.

    Magnus largou o livro. — Receio que não seja tão fácil, pois não há ingredientes que possam compensar todos os ingredientes usados. Precisamos fazer uma poção completamente diferente.

    — Então, ir para o mundo de Merlin foi uma perda de tempo?

    Já discutimos isso, jovem feiticeiro — comentou Merlin. — Depois do que Gmork disse e o fato de eu não ter sido interceptado pelos servos dele depois de me transformar, sabemos que era para ser assim. Se você não tivesse ido, isso teria causado um paradoxo.

    Teria sido bom saber disso antes que tivesse passar por tudo aquilo — disse eu na mente dele. — Além do mais, você não disse algo sobre a mesma coisa acontecer de alguma outra forma?

    Você está falando do princípio de autoconsistência de Novikov. É o meio do universo de evitar um paradoxo. No entanto, é apenas uma teoria.

    — Não exatamente — disse Magnus, sem ter conhecimento da conversa silenciosa entre Merlin e eu. — Precisamos do livro que você encontrou para descobrir exatamente como a maldição foi feita. Com isso, podemos aprender o que é preciso fazer para revertê-la.

    — Você descobriu por que eu sou o único que pode fazer isso? Ou por que tenho que morrer?

    — Estou trabalhando nisso. Acho que você conseguirá mais respostas da única pessoa que parece saber de alguma coisa sobre o assunto.

    — As fadas?

    Ele franziu a testa. — Na verdade, eu estava falando da vidente. Imagino que você terá mais problemas com as fadas aqui do que em outros mundos.

    — Dessa? Tentamos encontrá-la antes, mas ela não fica em um só lugar.

    — Há maneiras de encontrar pessoas com magia.

    — Dessa é uma das videntes mais poderosas do mundo. Aposto como ela sabe de tudo, mas não dirá uma palavra a mais do que acha que deve, não importa o quanto perguntemos. Se ela quiser nos dizer alguma coisa, fará com que sua localização seja conhecida. Ela insiste que dizer demais a nós seria contraproducente.

    Merlin emitiu um rosnado, lembrando-me da aversão que tinha por videntes.

    Uma batida na porta ecoou de forma nada natural no castelo. — Fofinho não me avisou sobre visitantes — disse Magnus, levantando-se.

    — Talvez seja outra pessoa que precisa remover uma maldição. — Para ser sincero, eu gostava de cada maldição nova que removia, pois fazia com que me sentisse um pouco mais perto de remover a de Merlin.

    É a vidente — disse Merlin quando Magnus saiu para atender a porta.

    Apesar de eu não saber se ele conseguia sentir a magia dela ou se sentira seu cheiro, não duvidei. — Fico imaginando se Dessa sabia que estávamos falando dela.

    Todas as mulheres sabem quando você está falando delas.

    Um momento depois, Magnus voltou com Dessa. Ela era alta e magra, com cabelos brancos longos e olhos azuis. O vestido era prateado com mangas transparentes e ela estava descalça. Os videntes frequentemente se distanciavam dos bruxos e dos feiticeiros para manter a paz, mas Dessa sempre me tratara de forma gentil, como se não importasse o que eu era.

    — Bom dia, Ayden, Merlin — disse ela.

    — Bom dia. Onde está seu aprendiz? — perguntei. Ela sempre deveria ter um aprendiz, pois as visões poderiam atingi-la em qualquer momento e deixá-la completamente vulnerável.

    — Ela está na carruagem lá fora. Disse que se sentia desconfortável em entrar no palácio de um bruxo.

    — Por que você me enviou até minha tia sem me dizer o motivo?

    — Porque você é teimoso e não gosta que lhe digam quem é.

    Merlin fez um som divertido.

    — Se eu tivesse direcionado você para Magnus, não teria aprendido por que é diferente nem que não está sozinho. Livia lhe disse para impedir que seus irmãos lutassem contra Magnus e, quando você se recusou, ela o prendeu, mas garantindo que pudesse escapar.

    — Ainda não entendo o motivo.

    — Porque eu disse a ela para fazer isso. Vi as muitas formas como poderia terminar. Para que você tivesse sucesso, Livia precisava lhe mostrar que havia outra forma. E você precisava estar determinado o suficiente para derrotar a quimera.

    — Não gosto que mintam para mim, mesmo que ache que seja para o meu próprio bem. — Pelo canto do olho, vi Merlin desviar o olhar. — Ok, então, agora pode nos dizer como remover a maldição de Merlin?

    — Ainda não. No momento, você é necessário em uma missão.

    — Uma missão? Não sou guerreiro.

    — É uma missão muito especial que só você pode fazer.

    — O quê?! Por quê eu? Não sou especial.

    — Sim, é. E tem uma obrigação.

    Pensei naquilo por um momento até perceber o que ela queria dizer. — Minha mãe fez alguma coisa, não fez?

    — Ela ainda não fez, mas tem algo muito sinistro planejado. Prevejo dias muito sombrios à frente se ela tiver sucesso. Parte do plano dela é matar outros que têm o seu poder.

    — Meu poder?

    — Sétimas filhas de sétimas filhas e sétimos filhos de sétimos filhos.

    — Achei que Livia e eu éramos os únicos.

    Achou? — perguntou Merlin. — Quem botou essa ideia na sua cabeça?

    — Você e os outros são um fenômeno mágico que existe desde o início da magia em Caldaca — disse Dessa.

    Existe também em outros mundos, mas não de forma tão drástica — acrescentou Merlin.

    — Então por que eu não sabia disso? Você sabia o que eu era quando nos conhecemos?

    — Não é amplamente conhecido porque feiticeiros, como sua mãe, os caçariam. E sim, eu sabia o que você era.

    — Quantos existem?

    — Há sete homens e sete mulheres com idades variadas, pois, se um morre, outro nasce. E nem todos são filhos de feiticeiros ou bruxos.

    — Se você puder trazê-los para cá, posso protegê-los — disse Magnus.

    — Porque você fez um excelente trabalho na última vez em que ela atacou — disse eu automaticamente. Merlin olhou para mim, tão confuso com aquela explosão quanto eu. — Desculpe. Eu não deveria ter dito isso. Não dormi muito na noite passada.

    — Está tudo bem, Ayden — disse Magnus. — Eu sei que isso é muito estressante para você. No entanto, levo a proteção das pessoas muito a sério. Se você convencê-los a vir para cá, eu os manterei seguros contra sua mãe.

    Pensei no assunto. Eu não estaria lidando apenas com feiticeiros ou bruxos. Na verdade, alguns seriam crianças pequenas. Todos precisavam ser levados para algum lugar seguro. — Merlin, o que acha? — perguntei na mente do lobo.

    Consegue recusar?

    Posso deixar várias pessoas lá fora, sem saber que minha mãe está atrás delas? Não, acho que não.

    Eu não esperaria nada menos que isso.

    Está disposto a ir comigo?

    É claro que irei com você, jovem feiticeiro. Você nunca precisa perguntar. No entanto, todos no mesmo lugar, em público, também poderá deixá-los vulneráveis — sugeriu Merlin. — Possivelmente, sua mãe está contando com isso.

    — Há alguma chance de minha mãe saber que você teve uma visão dela atacando-os? — perguntei a Dessa.

    — Feiticeiras não conseguem ver as visões de videntes e não falei a ninguém sobre isso.

    Olhei para Merlin, que assentiu. — Nós faremos isso, mas como chegaremos a eles? Não podemos viajar pelo mundo inteiro e voltar sempre que encontrarmos um deles.

    — Aqui — disse Magnus, tirando um dos anéis e entregando-o a mim. O anel tinha uma pedra preciosa verde grande com um traço prateado que se movia na luz. — É chamado de olho de gato. Quando convencer cada pessoa a vir para cá, diga o nome de Fofinho para o anel. Fofinho me avisará e criarei um golem para proteger a pessoa e trazê-la para cá.

    — Um golem? Achei que isso fosse coisa somente de feiticeiros. — Golens eram criaturas poderosas feitas de rocha, terra e argila, mas ficavam sob o controle completo da pessoa que os conjurava. Apesar de golens serem lentos demais para serem grandes guerreiros, eram perfeitos para missões suicidas. Minha mãe usara golens algumas vezes, mas preferia enviar os filhos, pois não drenávamos a magia dela.

    — Golens são criados de magia, portanto, podem ser bons ou maus. Como sou um bruxo, os meus só podem proteger.

    Coloquei o anel no meu dedo indicador direito. — Como encontro essas pessoas?

    — Não posso ajudar com isso. Você precisará falar com sua tia.

    — Ela está segura?

    — Está mais segura agora do que quando Veronica a atacou — respondeu Magnus. — Posso transportar você para Pedra Vermelha, perto dela, e haverá um navio que o levará até o castelo. Sugiro que poupe sua magia o máximo possível.

    — E os meus estudos? — perguntei. Eu gostava muito de aprender magia com Merlin e fazia muito progresso. Bem, a maior parte do progresso foi em me concentrar quando ele falava. Também ajudava a prestar atenção quando eu escrevia a lição no meu grimório, que percebi ser o motivo para que Merlin me obrigasse a anotá-las.

    — Você precisa ter cuidado com quem o nota — disse Dessa. — Talvez sua mãe tenha pessoas procurando-o. Na verdade, sugiro deixar para trás o manto de Dracre e a varinha.

    — Nem pensar. São as duas últimas coisas no mundo que eu deixaria para trás. — Minha varinha me atingiu dentro do bolso. — Ai! Desculpe. E o cajado. E Merlin. Essas são as quatro últimas coisas... as quatro coisas no mundo que eu não deixaria para trás. — Ela suspirou. — Vou deixá-las guardadas para que não sejam vistas. E o meu irmão? Teve alguma visão de Thaddeus?

    — Sim, mas só posso lhe dizer que ele tem a própria jornada, que decidirá o futuro dele.

    — Eu estava errado em poupá-lo?

    — Você nunca erra ao seguir seu coração. Você deu a Thaddeus a oportunidade de escapar do controle de sua mãe e dar uma reviravolta na vida. Agora, tudo depende dele.

    Assenti. Eu queria o melhor para ele, desde que não estivesse tentando me prejudicar, nem a nenhuma outra pessoa. Se ele mostrasse ser como nossa mãe, seria minha culpa por deixá-lo ir. Se mostrasse ser como nosso pai, eu ficaria feliz.

    Depois que Dessa prometeu voltar e contar mais sobre a maldição de Magnus assim que eu salvasse os outros, fui para o segundo andar para fazer a mala. Embalei todos os suprimentos normais e o grimório. Quando voltei para o andar debaixo, Magnus transportou Merlin e eu para Pedra Vermelha.

    Capítulo 2

    Aparecemos em Pedra Vermelha com uma explosão brilhante de luz. Ninguém prestou atenção em mim, mas várias pessoas olharam abertamente para Merlin. Fiquei feliz por ser uma cidade grande o suficiente, com muitos viajantes de passagem, para que ninguém me reconhecesse da primeira visita, quando coloquei a cidade inteira em uma bolha invisível, nem da segunda visita, durante a qual eu lutara com meus irmãos no meio da cidade.

    Era uma manhã movimentada e as pessoas abriam as lojas ou começavam as compras matinais. Algumas crianças encararam e apontaram para Merlin, provavelmente por nunca terem visto um lobo antes.

    Por aqui — disse Merlin, conduzindo-me em direção à praia. Não demorou muito para chegarmos às docas, onde vários navios estavam atracados. — Tente encontrar um navio de mercadores, não um navio pirata.

    Assenti e estudei os navios, que tinham cores, formatos e tamanhos diferentes. — Os dois no final são navios mercantes. Eles têm uma bandeira azul-escuro com um vagão. É o símbolo da guilda dos comerciantes.

    — Ótimo. Você trouxe dinheiro, certo?

    — Tenho o suficiente para nos levar ao castelo de Livia, sim. Talvez eu deva apenas usar magia.

    Guarde-a para emergências. Não temos ideia do que nem quando enfrentaremos alguma coisa.

    Começamos a andar pela rua em direção aos navios. — É preciso praticar para melhorar e quero ficar tão bom quanto Magnus em transporte.

    Eu não conseguiria fazer aquilo, jovem feiticeiro. Portanto, se alguma coisa der errado, não há nada que eu possa fazer.

    — Mas você é tão poderoso quanto Magnus.

    Na maioria das coisas, sou. No entanto, transportar-se pelo espaço como você faz é impossível via... quero dizer, magia de outros mundos. Com a sua varinha e o seu cajado, você consegue fazer coisas que bruxos de outros mundos não conseguem. No entanto, isso não o torna mais poderoso, pois podemos fazer magia sem varinhas nem cajados.

    Eu não disse nada, principalmente porque não queria frustrar Merlin, pois ele já me dissera aquilo antes. Além disso, era porque eu parara de escutar no meio do caminho e observava os homens carregando cargas para dentro e para fora dos navios. Quando chegamos até os navios, escolhi um com menos homens e tentei encontrar o capitão.

    Merlin se virou para olhar para trás de nós, mas não disse nada e não me dei ao trabalho de virar. Quando senti uma mão bater nas minhas costas, dei um salto. Felizmente, consegui não gritar. Provavelmente, era porque Merlin tinha os passos tão leves que frequentemente me pegava de surpresa e eu começava a me acostumar.

    — Ayden! Que bom ver você de novo!

    Reconhecendo a voz instantaneamente, eu me recompus e virei-me para olhar para Jevwen. Ele tinha dezesseis anos, era magro e muito limpo, considerando que era o filho do capitão de um navio pirata. Desta vez, os cabelos estavam bem cortados e as roupas eram bem feitas. Parecia que ele se dera bem na vida, apesar de não lhe faltar recursos antes.

    Jevwen e o pai eram certamente mais agradáveis do que eu esperara que piratas fossem. Mas, provavelmente, o motivo era que eu era um feiticeiro, não um bruxo. Perguntei a mim mesmo se Jevwen se importaria de eu não ser

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