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O Coração do Lobo: A Saga do Feiticeiro, #6
O Coração do Lobo: A Saga do Feiticeiro, #6
O Coração do Lobo: A Saga do Feiticeiro, #6
E-book426 páginas6 horas

O Coração do Lobo: A Saga do Feiticeiro, #6

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Sobre este e-book

Houve sentimentos mistos sobre as mudanças em Caldaca desde a estrela negra. Ayden e Merlin só querem que as coisas se acalmem para eles no castelo. Quando Nimue aparece e diz a eles que Gmork desapareceu, é só o começo da aventura mais empolgante e perigosa que já tiveram.

Desta vez, será o coração deles que será testado. Com a ajuda de aliados antigos e novos, eles precisam encontrar o coração de Baltezore, uma arma poderosa contra os dragões. Para salvar as pessoas que amam, terão que enfrentar antigos inimigos, maldições terríveis, monstros medonhos e as próprias falhas.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento4 de mar. de 2021
ISBN9781071591116
O Coração do Lobo: A Saga do Feiticeiro, #6

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    O Coração do Lobo - Rain Oxford

    Anteriormente, na Saga do Feiticeiro...

    Eu era o sétimo filho de uma família de feiticeiros famosos, conhecidos por serem implacáveis e terem poderes malevolentes. No meu mundo, bruxos só usavam magia de luz e feiticeiros só usavam magia sombria. Causando o desdém da minha família, não importava o quanto eu tentasse usar minha magia para o caos e a destruição, a única coisa que conseguia fazer era magia de luz.

    Quando saí de casa para provar que podia ser um feiticeiro poderoso, acabei libertando Merlin de uma prisão mágica. Merlin era um bruxo imortal poderoso de outro mundo que fora amaldiçoado. Além de perder a magia e a imortalidade, ele fora transformado em lobo. Como fora eu quem o libertara, conseguíamos conversar um com o outro dentro da mente. Com a ajuda dele, aprendi a aceitar que eu tinha bruxaria e feitiçaria, e juntei-me a Magnus, um dos bruxos mais poderosos de Caldaca. Nós três banimos cinco dos meus irmãos malignos para outro mundo. O mais novo deles, Thaddeus, era o menos terrível e, portanto, senti que ele merecia uma chance de viver em paz. Mais tarde, ele se redimira e tornara-se um excelente aliado.

    As pessoas de Caldaca tinham limitações sobre o tipo de magia que conseguiam fazer. Além de bruxos e feiticeiros, havia também magos, que eram curandeiros; ilusionistas, que faziam magia de ilusão; necromantes, que controlavam os mortos; videntes, que viam o futuro; e elementalistas raros, que conseguiam controlar os elementos.

    Havia um fenômeno em que o sétimo filho do sétimo filho e a sétima filha da sétima filha tinham grande poder. Mesmo em mundos sem magia, essas pessoas tinham habilidades especiais. Em Caldaca, onde quase todo mundo tinha magia, elas tinham uma vantagem ainda maior.

    Elas eram chamadas de Sjaus e podiam fazer qualquer tipo de magia que não entrasse em conflito com sua personalidade. Pouquíssimas pessoas sabiam da existência deles. Havia apenas sete Sjaus homens e sete mulheres. Quando um morria, outro nascia imediatamente. Eu era uma dessas pessoas e, por isso, podia fazer magia sombria e de luz. Usei essa vantagem e tornei-me um removedor de maldições. As pessoas viajavam grandes distâncias para que suas maldições fossem removidas.

    Isso não queria dizer que eu era especialista no assunto. Quando tentei remover a maldição de Merlin, acabei possibilitando que trocássemos de forma para que eu pudesse ser um lobo e ele, um homem. Também consegui devolver a ele a capacidade de falar em voz alta. Mesmo assim, ele me ensinava magia de outros mundos, incluindo magia dracônica. Minha esperança era de que encontrássemos uma solução melhor.

    Mason, predominantemente bruxo/mago, sabia mais sobre os Sjaus do que o restante de nós. Ele e sua família de bruxos estavam vivendo com Merlin, Thaddeus e eu no castelo de Magnus. Minha tia, Livia, também era uma Sjau com bruxaria e feitiçaria, mas guardara o poder sombrio. Foi com grande choque que descobri que meu pai amava minha tia, não minha mãe. Infelizmente, a mãe dele, Shaerl Rynorm, o proibira de ficar com Livia e ele acabara casando-se com minha mãe. Era tudo por causa do poder.

    Minha mãe, Ilvera Dracre, era a feiticeira mais malévola que eu conhecia. Ela manipulava todo mundo e repetidamente tentara roubar o poder dos Sjaus. Acabamos usando isso a nosso favor quando tivemos que derrotar um adversário ainda mais poderoso.

    Baltezore era um inimigo do passado de Merlin que, no fim das contas, era um dragão antigo cuja forma verdadeira fora removida por outros dragões. Ele estava atrás de um ovo especial, que continha a primeira dragoa a nascer em mais de mil anos. Toda a magia em Caldaca era produzida por um dragão ainda mais antigo que Baltezore e que estava morrendo. A magia dele passara para a fêmea para que ela pudesse sustentar o mundo. Baltezore queria aquela magia, mas nós precisávamos dela. As pessoas em toda Caldaca começaram a perder a magia e isso era só o começo.

    Quando descobrimos que Baltezore estava trabalhando com Ilvera, permitimos que ela tirasse nosso poder, sabendo que imediatamente se viraria contra ele. Convencer todos os Sjaus a trabalharem juntos fora difícil, pois, no começo, alguns estavam ao lado dela. Kalyn, uma ilusionista e metamorfa, era um exemplo perfeito de como Ilvera conseguia ser traiçoeira. Ela colocara um feitiço de amor em Kalyn para que obedecesse Sven. Sven obedecia Ilvera, pois ela sequestrara a esposa dele. Depois de muito trabalho, conseguimos formar uma frente unida e fingimos cair na armadilha dela.

    Tudo ocorreu de acordo com o plano, até o momento de recuperarmos nossa magia.

    Felizmente, eu tinha uma pedra da galáxia, que descobri ser o coração de um dragão infundido com o cristal do meu cajado. Todas as pedras da galáxia tinham poder sobre os dragões, mas cada uma fazia uma coisa diferente. A minha conseguia deixar um dragão pacífico, curá-los ou chamá-los para que ajudassem. Eu também podia evocar o dragão de cujo coração minha pedra da galáxia era feita. Ou podia evocar o poder do dragão. Eu raramente fazia essas coisas, pois era um esforço perigoso para minha energia.

    Com a ajuda dos dragões e todos os quatorze Sjaus trabalhando juntos, conseguimos derrotar Ilvera e recuperar nossa magia. A estrela negra, um buraco imenso no céu que se formara quando o dragão antigo morrera, fechara antes de causar muito dano. A magia fora salva.

    Pelo menos, por algum tempo. Havia um necromante chamado Gmork que poderia ressuscitá-lo. Os dragões tinham dois corações e conseguiam viver com um só. Era parte da cultura deles que dois dragões que se amavam trocassem um dos corações, pois o amor dos dragões era tão eterno quanto eles. Quando o amor de Baltezore, Gadiel, foi morta, ele combinou um dos corações dela com um dos seus para criar um artefato de magia. Entretanto, não foi suficiente para ressuscitá-la. Gmork poderia mudar isso e reviver os dois.

    Felizmente, Gmork estava sob a mesma maldição que Merlin e não tinha magia. Merlin e Gmork tinham sido amigos na infância. Entretanto, quando Gmork se voltara para a magia sombria, Merlin se recusara a se envolver.

    Foi quando alguma coisa mudou Gmork e ele decidiu matar Merlin. Nimue, a mulher que Merlin e Gmork amavam, amaldiçoou Gmork para salvar Merlin. Porém, ela mudou de ideia e decidiu guardar Gmork porque ele não podia se proteger sem magia. Apesar de Merlin dizer que entendia, percebi que seu coração ficara partido.

    Merlin passara a me ensinar magia dracônica desde que eu acidentalmente a usara contra minha mãe. A principal diferença entre a magia de Merlin e a minha era que eu precisava de uma varinha ou um cajado para direcioná-la, enquanto que a dele era direcionada pela mente. Sem uma ferramenta de magia, como a minha varinha ou o meu cajado, a bruxaria ou a feitiçaria provavelmente explodiria.

    Apesar de eu ter que me concentrar e imaginar o que queria, isso só auxiliava a varinha ou o cajado a interpretar meu comando. Por exemplo, eu poderia dizer ao cajado que deixasse minha pele impenetrável e ele poderia me transformar em pedra. Portanto, eu tentava não insultar meu cajado. Pelo que eu entendia, Caldaca era o único mundo em que as pessoas precisavam de uma ferramenta para concentrar a magia, bem como o único mundo em que estavam limitadas ao tipo de magia que conseguiam fazer.

    Para fazer magia do modo de Merlin, eu tinha que controlar a minha magia de uma forma que nunca precisara. A magia dracônica era diferente. Era mais forte do que a magia comum, mas exigia palavras especiais e nem todo mundo conseguia fazer isso. Entre Merlin e minha pedra da galáxia, eu conseguira fazê-la várias vezes, mas ela ainda era instável e nada confiável.

    A magia dracônica exigia o maior compromisso emocional. Magia de outro mundo era normalmente a mais lenta, mas também a mais confiável quando eu descobria como fazê-la. Minha magia era a mais rápida, mas eu dependia que minha ferramenta interpretasse minhas ordens.

    Capítulo 1

    Acordei com uma dor de cabeça terrível. Abri os olhos e olhei em volta. Eu estava em uma cabana maltratada que tinha um colchão de palha no canto noroeste, uma janela fechada na parede oeste e uma porta fechada à esquerda da janela. Havia uma lareira no centro com cinzas vermelhas estranhas. Exceto pela cama, os únicos itens no aposento eram um cajado e uma mochila sobre a cama. A madeira do cajado era retorcida, lisa e escura, com símbolos entalhados e pintados de dourado. No topo do cajado, havia um cristal preto, do tamanho de um punho e cortado de forma rudimentar, com pontos prateados e azuis brilhantes no interior. Do outro lado da lareira, havia um lobo grande, inconsciente, com uma mistura de pelos marrons, brancos, cinzentos e pretos. O lugar não era familiar.

    Por outro lado, nada era familiar.

    Eu não fazia ideia de quem eu era, de onde estava nem de quem era o lobo.

    No momento em que vi o lobo, ele abriu os olhos, que tinham um brilho vermelho, o que era um mau sinal.

    Lobos eram extremamente raros em Caldaca. Portanto, imaginei que aquele era um metamorfo, um amaldiçoado ou criado por magia. Mesmo assim, ele poderia me comer e, a julgar pelos dentes arreganhados, ficaria feliz em fazer isso. Comecei a recuar lentamente, mas fui detido por uma dor aguda no braço. Puxei a manga para cima e tirei os olhos do lobo por uma fração de segundo para ver qual era a origem da dor.

    Havia uma marca de mordida enorme cobrindo a maior parte do meu antebraço e os buracos largos eram profundos. Entretanto, não havia sangue escorrendo e cheguei à conclusão de que não era recente. O lobo se levantou e rosnou para mim. Mas, em vez de atacar, ele começou a andar de um lado para o outro ao longo das paredes, obviamente procurando uma saída. Depois de dar a volta no aposento duas vezes, ele parou em frente à porta e jogou o corpo contra ela.

    A porta sacudiu, mas não quebrou, o que foi muito impressionante. Eu me levantei lentamente. — Eu abro. — Ele rosnou para mim. — Não sei por que me mordeu, mas não quero machucar você. Só quero saber o que aconteceu.

    O lobo saltou na minha direção e cobri o rosto com as mãos. Ele virou ligeiramente e, em vez de me atingir, quebrou as venezianas da janela. Foi um barulho muito alto. Demorei um momento para me acalmar antes de abrir a porta.

    Era dia e estava quente, com uma brisa agradável, mas isso só tornava mais estranha a ausência de pessoas.

    A cidade consistia em uma rua de terra e dez cabanas com cores obscenas, rodeada pela floresta. A cabana em que eu estivera era cor-de-rosa brilhante e era a que estava em melhores condições. A cabana azul celeste à frente da minha não tinha telhado. Exceto pela condição e pelas cores, as cabanas eram estranhamente similares. Todas as cinco cabanas do lado leste da rua eram de um andar, com uma janela, uma porta e uma varanda. As cinco cabanas do lado oeste eram de dois andares, com uma varanda coberta, uma porta e uma janela grande.

    Havia um rastro de sangue que levava para a floresta, o que significava que o lobo não estava causando mais danos. Ainda assim, segui a rua e atravessei a cidade, sem ver ninguém. Era óbvio que os danos nas cabanas não fora causado pela decadência natural. Eu estava paranoico em relação a qualquer movimento, com medo de mais lobos. Não saber como eu chegara àquela situação era perturbador.

    — Ei, você — chamou um sussurro urgente. Virei-me e vi uma mulher na janela de uma cabana amarela de um andar. — Esconda-se aqui comigo. Não é seguro ficar do lado de fora.

    Entrei na cabana por um buraco na parede e juntei-me a ela. Junto às paredes da cabana, havia inúmeras caixas e equipamentos de cozinha. A cama estava coberta de poeira. A mulher era bonita, com cabelos ruivos longos encaracolados e olhos cor de mel. Ela usava um colete de couro marrom justo, uma camiseta preta por baixo dele, uma saia marrom e botas. Pela primeira vez desde que eu acordara, senti algo familiar. Eu a conhecia. — Obrigado — disse eu.

    — De nada. Quem é você?

    — Não sei. Acordei na cabana cor-de-rosa com um lobo.

    — Os lobos estão extintos.

    Puxei a manga para cima para mostrar a mordida a ela. — Esse aqui estava bem vivo. De qualquer forma, não sei quem sou nem como cheguei aqui. Quem é você?

    Ela balançou a cabeça negativamente. — Não faço ideia. Assim como você, acordei sem saber quem era nem onde estava. Você é loiro de olhos azuis, portanto, aposto como é um bruxo.

    — Ah. Não parece certo, mas eu não saberia. Você tem cabelos ruivos e olhos dourados. O que isso a torna?

    Ela apertou os lábios. — Não sei. Não tenho um manto de linhagem, ou o perdi. Talvez eu não tenha magia.

    — É improvável. Como nós nos lembramos da magia, mas não de quem somos?

    Ela deu de ombros. — Você se lembra de onde nasceu?

    Balancei a cabeça negativamente. — Sei que o mundo é Caldaca, mas não sei onde eu moro.

    Eu vestia uma túnica bege e calças marrom-escuro que eram grossas, o que sugeria que era de um clima frio. As roupas eram de baixa qualidade, mas bem cuidadas. O manto da minha família era vermelho brilhante com bordados dourados, o que sugeria que ela era rica. Infelizmente, não reconheci o emblema da família. Coloquei a mão no bolso e encontrei uma varinha. Era uma varinha reta, feita de pau-rosa, com símbolos elegantes entalhados no cabo.

    — Sim, certamente sou um bruxo. Parece que venho do norte. Com base nas suas roupas, eu diria que você vem do sul.

    — Ou o frio não me incomoda.

    — Deveríamos procurar mais pessoas. Certamente alguém lá fora sabe onde estamos. Ou, melhor ainda, quem somos.

    — Duvido que haja mais alguém vivo aqui.

    — Só saberemos se procurarmos.

    Saímos da cabana e andamos pela vila. O lobo uivou, mas não apareceu nem atacou. As cabanas de dois andares eram melhores por dentro do que as de um andar só, pois tinham cozinhas, quartos e mobílias bonitas.

    Encontramos quatro pessoas na cabana verde de dois andares, que estava intacta, mas cheia de poeira. Uma delas era um homem alto e magro, com cabelos castanho-escuro e olhos cinzentos. Ele vestia roupas pretas, um colete de couro, um manto e um chapéu. O outro homem não era tão alto, mas era muito mais musculoso, com cabelos castanho-claro e olhos castanhos. Ele vestia uma camisa vermelho-escuro e calças pretas, com faixas de couro nos braços. Na cintura, ele tinha uma espada. Havia também um garoto magro de cerca de dezessete anos, com cabelos pretos curtos e olhos azuis esverdeados. A camisa branca e as calças pretas limpas eram conservadoras e de alta qualidade. A última pessoa era uma mulher baixa, com trinta e poucos anos, com cabelos loiros e olhos verdes. Ela vestia um manto de linhagem dourado e roupas brancas.

    — Vocês sabem quem são ou o que aconteceu aqui? — perguntou o homem alto.

    Balancei a cabeça negativamente. — Eu esperava que vocês pudessem nos dizer. Imagino que nenhum de vocês se lembre de nada.

    O homem assentiu — Bem, você é claramente um bruxo, portanto, nós o chamaremos de Bruxo. — Ele olhou para a minha companheira. — O que você é?

    Ela revirou os olhos. — Parece que eu sei?

    — Seus cabelos são vermelhos, portanto, nós a chamaremos de Vermelha. Eu tenho um chapéu e achamos que sou um ilusionista. — Diferentemente de bruxos ou feiticeiros, os ilusionistas precisavam de chapéus para concentrar a magia, em vez de varinhas ou cajados.

    — Eu tinha uma carta comigo — disse o adolescente, mostrando-a. — Supondo que seja endereçada a mim, meu nome é Jevwen. Não acho que eu seja um usuário de magia.

    — Tenho várias poções nos meus bolsos — disse a mulher. — Talvez eu seja uma maga.

    — Não tenho uma varinha comigo, mas sou claramente um guerreiro — disse o último homem, gesticulando para a espada. Apesar de a maioria dos guerreiros ter magia, eles normalmente não aprendiam a usá-la. Portanto, guerreiros raramente tinham varinhas ou chamavam a si mesmos de usuários de magia. Crianças podiam ser vendidas para uma guilda de guerreiros, mas a maioria dos guerreiros vinha de famílias de guerreiros, pois a cultura deles era muito diferente da dos outros.

    — Não é um pouco estranho que, em uma vila destruída, haja um bruxo, uma maga, um ilusionista, um guerreiro e duas pessoas que são diferentes? Por que nenhum de nós tem família aqui?

    — Talvez não moremos aqui — sugeriu o Guerreiro. — Talvez estejamos todos em uma missão e juntamos forças.

    — Isso faz bastante sentido — disse Vermelha. — No entanto, significa que Jevwen e eu não somos parte da missão ou que temos habilidades sobre as quais ainda não sabemos.

    Assenti. — Obviamente, alguma coisa aconteceu que fez com que perdêssemos a memória, portanto, deve haver uma forma de reverter isso. Precisamos descobrir quem fez isso e por quê. Guerreiro, Jevwen e Maga, vocês três procurem mais pessoas na cidade. Há um lobo na floresta, portanto, tenham cuidado. Ilusionista, venha comigo e com Vermelha. Vamos seguir a rua para fora da cidade e ver até onde esta maldição alcança.

    Os outros concordaram e nós nos separamos. Vermelha, Ilusionista e eu fomos para o norte pela rua de terra. Algumas vezes, vi os olhos brilhantes do lobo observando-nos, mas ele não atacou. O sol estava ficando baixo no céu, acompanhado de um frio noturno. O Ilusionista estremeceu sob o manto preto fino. Mas Vermelha, que não usava manto, não sentia frio.

    Na beirada norte da cidade, encontramos um poço com plantas espinhentas cobrindo a base. — O poço de uma feiticeira — disse eu.

    — O que é aquilo? — perguntou Vermelha.

    — É um aviso para que outros feiticeiros fiquem longe. Significa que uma feiticeira morava aqui e não queria visitantes com magia sombria.

    — Como um círculo de fadas é um aviso contra o perigo? — perguntou o Ilusionista.

    — Sim. Todos os tipos de pessoas podem morar aqui, mas feiticeiros e feiticeiras são invasores. Até mesmo necromantes deveriam evitar o lugar.

    — Como sabe disso? — perguntou o Ilusionista.

    Balancei a cabeça negativamente. — Talvez seja conhecimento de bruxo.

    — Ou talvez você seja um leitor ávido — disse Vermelha.

    — O que parece mais provável. É improvável que bruxos saibam muito sobre feiticeiros. A forma favorita deles de lidar com inimigos é evitá-los.

    Os dois franziram a testa para mim e continuamos andando. — Você conhece alguma magia que tiraria nossa memória deste jeito? — perguntou Vermelha.

    Considerei a pergunta. Infelizmente, nem um único feitiço me veio à mente. Eu nem conseguia me lembrar de como acender uma fogueira. — Não consigo me lembrar de como fazer magia.

    — Isso é horrível.

    — Achei que a magia vinha naturalmente para bruxos — disse o Ilusionista.

    — A magia vem naturalmente para nós, mas ainda temos que aprender a usá-la. Nosso desempenho depende de nossa habilidade natural e de nossas varinhas, mas também precisa de prática. Interessante. Eu me lembro disso.

    — O que só confirma que você é um bruxo — disse Vermelha. — Ainda não faço ideia do que sou nem de como usar magia.

    — Os ilusionistas também precisam aprender magia — disse o Ilusionista. — Mas sinto que ainda consigo fazer alguma coisa.

    Quando a vila ficou fora de vista, a caminhada ficou mais assustadora. O lobo nos seguia por trás da linha das árvores, como se estivesse esperando que um de nós tropeçasse. Subitamente, o lobo desapareceu, mas minha sensação de medo cresceu. Continuamos a andar.

    Infelizmente, quando vimos uma vila à frente, meu coração ficou ainda mais pesado. Vermelha parou. — O quê...?

    Andei o restante do caminho só para ter certeza do que via. Eles me seguiram. Era a mesma vila.

    — Isso é impossível — disse o Ilusionista. — A estrada era reta.

    — Ou estamos em Eykann ou há...

    — O que é Eykann? — perguntou Vermelha.

    Hesitei. — Não sei. Mesmo assim, isto deve ser parte da mesma maldição que apagou nossa memória.

    — Deveríamos ir em uma direção diferente — sugeriu Vermelha.

    Assenti. — Podemos tentar. — O lobo não estava à vista e fomos para o leste. Infelizmente, assim que cruzamos a linha das árvores, vimos o lobo à distância à nossa frente. E ele nos viu. Ele rosnou. — Talvez seja melhor não.

    — Não tenha medo, Bruxo — disse o Ilusionista, tirando o chapéu. Ele fez um gesto de tirar algo de dentro do chapéu, mas nada aconteceu. — Ai, não.

    Começamos a correr para a estrada. Porém, o lobo tinha uma velocidade inacreditável e facilmente conseguiu nos alcançar. Ele atropelou o Ilusionista e mordeu a perna dele. Em seguida, começou a puxar o homem mais para dentro da floresta, ignorando a resistência do Ilusionista. Peguei o Ilusionista pelo manto para puxá-lo, mas o lobo era implacável e mais forte do que parecia. O Ilusionista gritou.

    Vermelha pegou uma rocha e jogou-a no ombro do lobo, que ganiu e abriu a boca. — Na próxima vez, será a sua cabeça — ameaçou Vermelha. Nós ajudamos o Ilusionista a voltar para a estrada rapidamente enquanto o lobo rosnava. Sempre que ficávamos de costas para ele, o lobo tentava atacar. Quando saímos da floresta, ele parou, pois não estava disposto a cruzar a linha das árvores.

    Voltamos para a cidade. — Espero muito que a Maga consiga fazer a magia dela — disse o Ilusionista ao voltarmos para a cabana verde. Ele não conseguia ficar de pé sozinho. Pegamos uma cadeira da cozinha e ajudamos o homem a se sentar. Na cozinha, havia também um cozido sobre o fogo, um pouco de pão fresco e água.

    A Maga chegou. — Encontramos mais uma pessoa.

    — Ele consegue se lembrar de alguma coisa?

    — Não, mas acreditamos que seja um feiticeiro. Venha ver você mesmo.

    Vermelha e eu ajudamos o Ilusionista a se levantar e fomos para fora. Consegui ouvir o feiticeiro gritando antes de entrarmos na cabana laranja de um andar. Apesar de não ser melhor do que as outras cabanas de um andar, estava cheia de caixas com vestidos de seda. Havia quatro espelhos na parede, uma mesa coberta de tintas e velas, e uma banheira. Era claramente a cabana de uma mulher, mas não era uma mulher que estava amarrada à cadeira.

    O homem era alto e musculoso, com cabelos pretos oleosos até a altura dos ombros e olhos castanhos. As roupas eram pretas, com um manto de linhagem vermelho-escuro. — Ele é certamente um feiticeiro — disse eu.

    — Soltem-me! Não fiz nada para vocês.

    — Você não sabe — argumentou o Ilusionista. Vermelha e eu o ajudamos a se sentar na cama.

    — Onde estou? — perguntou o feiticeiro.

    Ele soou mais em pânico do que com raiva. Feiticeiros não deveriam mostrar medo. — Você sabe que é um feiticeiro? — perguntei.

    Ele acenou com a cabeça em direção ao espelho maior. — Eu me vi no espelho, mas isso não significa que esteja por trás disto. Não sei quem sou.

    — Nem nós — disse eu, andando até o espelho. Vi meus cabelos loiros e os olhos azuis. Em termos de aparência, eu era um bruxo. Entretanto, isso não parecia se encaixar. Perguntei a mim mesmo se eu era, na verdade, um feiticeiro que fingia ser um bruxo, mas rejeitei a ideia imediatamente.

    — Fomos amaldiçoados e você é o único que poderia ter feito isso — acusou o Ilusionista.

    — Não acha que, se eu tivesse lançado uma maldição, teria me deixado de fora?

    — Você poderia estar fingindo — disse Vermelha.

    O Guerreiro estudou o feiticeiro de perto por um momento antes de declarar: — Ele está dizendo a verdade.

    — Considerando que não conheço você, não vou aceitar sua palavra a respeito disso — falou o Ilusionista. — Ele ficará amarrado até sabermos mais.

    — Isso não é muito justo — comentei.

    — É claro que você diria isso, Bruxo. Seu povo é conhecido por ser capacho.

    Não deixei que o insulto dele me incomodasse, já que eu não estava completamente convencido de que era um bruxo. — Na verdade, ele pode ser a melhor pessoa para nos ajudar. Se isso foi uma maldição, ele pode ser capaz de removê-la ou encontrar a pessoa que fez isso conosco.

    — Ou ele está mentindo e, assim que o soltarmos, irá embora e nunca mais conseguiremos remover a maldição.

    — Sem uma varinha ou um cajado, ele não irá a lugar algum. — O Guerreiro vasculhou os bolsos do feiticeiro e encontrou uma varinha. Diferentemente da minha, ela parecia sinistra. Era retorcida e feita de madeira preta com símbolos pintados na cor prateada.

    — Ele pode simplesmente sair andando — disse Jevwen.

    — Não, não pode — argumentei. — Tentamos sair daqui andando e acabamos no outro lado da vila. Não podemos entrar na floresta sem sermos atacados pelo lobo.

    — Se formos todos juntos, poderemos lutar contra ele — disse a Maga.

    — Vamos para a cama por enquanto. Não quero acabar perdido na floresta à noite.

    — Preciso ser curado antes — disse o Ilusionista, acenando para a perna.

    A Maga pegou uma poção. — Talvez esta seja uma poção de cura.

    — Não sabe dizer?

    Ela balançou a cabeça negativamente. — Não. Saberemos se você tomá-la.

    Em vez de esperar para ver se a poção curaria ou não o Ilusionista, eu me afastei e fui pegar um pouco de pão e de cozido na cozinha da cabana verde. Depois, encontrei o quarto mais confortável que restara na vila para dormir. Era na cabana azul-escuro de dois andares, e ficava no andar de cima. O quarto tinha uma janela e estava em boas condições.

    Tirei as botas e fiquei surpreso ao encontrar um bolso de couro com uma adaga escondida. Não achei que fosse normal que bruxos tivessem adagas escondidas. Afinal, eles não caçavam animais.

    Eu a guardei novamente na bota no momento em que ouvi uma batida na porta. — Entre.

    Vermelha abriu a porta. Ela tirara o colete e os sapatos, e carregava um colchão. — Você se importa se eu dormir aqui? Não vou incomodar você. O buraco na parede do outro quarto é desconfortável.

    — Claro — respondi.

    Ela colocou o colchão no chão, a uma distância suficiente do meu para que não fosse invasivo, mas perto o bastante para não ser hostil. Logo, nós dois pegamos no sono.

    Capítulo 2

    Acordei com gritos e o som de cabanas desmoronando. Vermelha foi para a janela para olhar para fora. Eu fui mais lento, pois minha cabeça ainda doía e o barulho não ajudava. Não tínhamos dormido por muito tempo. Quando cheguei à janela, tudo no lado de fora estava imóvel, mas vi três outras cabanas destruídas. — O que aconteceu? — perguntei.

    — Não vi, mas parece que fomos atacados.

    Fomos para a rua, onde também estavam a Maga e o Guerreiro. — Vocês sabem o que aconteceu? — perguntei a eles.

    Os dois balançaram a cabeça negativamente. Antes que pudéssemos investigar, o Ilusionista saiu da cabana laranja destruída, carregando o feiticeiro inconsciente, coberto de poeira e sangue. Ele largou o Feiticeiro no chão aos seus pés. — O Feiticeiro não está por trás disto. Fomos atacados por um lobo imenso. Estava escuro demais para vê-lo claramente, mas tenho certeza de que era o lobo.

    Resmunguei. — Então ele não está ficando na floresta. Teremos que lidar com ele.

    — Nós o mataremos — disse o Guerreiro.

    — Com o quê? — perguntou Vermelha. — Não vi uma única arma desde que acordei.

    — Podemos montar uma armadilha para ele — sugeriu o Ilusionista.

    — Não seria melhor gastarmos nosso tempo tentando remover esta maldição? — perguntou a Maga.

    — Onde está Jevwen? — perguntei. O Guerreiro e o Ilusionista se viraram para olhar para uma cabana roxa que estava completamente destruída.

    — Ele estava lá dentro — respondeu o Guerreiro.

    *      *      *

    Vasculhamos os destroços e, depois de algum tempo, encontramos Jevwen inconsciente e sangrando, mas vivo. Nós o levamos para a cabana verde e a Maga deu a ele o que esperávamos ser uma poção de cura. Só porque a poção que ela dera ao Ilusionista era de cura, não significava que todas eram.

    Enquanto ela cuidava dele, o restante de nós discutiu o plano. — Precisamos remover a maldição — disse eu. — No entanto, não fazemos ideia de quem fez isto, nem como nem por quê. Portanto, removê-la será extremamente difícil.

    — Também temos que sair daqui — disse Vermelha.

    — A maldição que nos prende aqui e a maldição que tirou nossa memória provavelmente são a mesma.

    — Também temos que matar o lobo — acrescentou o Guerreiro.

    — Acho que isso é secundário. Se removermos a maldição antes que o lobo ataque de novo, não teremos que nos preocupar com ele.

    — Ele poderia ter nos amaldiçoado? — perguntou o Ilusionista.

    — Não. Lobos não conseguem fazer magia.

    — Eles deveriam estar extintos — disse Vermelha. — Não sabemos o que ele pode fazer. Talvez seja um lobisomem.

    — Sim, mas lobisomens também não conseguem fazer magia — destaquei.

    O Ilusionista e o Guerreiro saíram para construir uma jaula feita de pedaços de madeira e metal. Achei que uma armadilha em um poço seria mais eficiente, mas não disse nada.

    — O que usaremos como isca? — perguntou o Ilusionista.

    — Lobos sempre perseguem crianças inocentes e indefesas — disse o Guerreiro.

    — São só histórias — argumentei. — Elas eram criaturas inteligentes e sábias.

    — Como você sabe?

    — Li muitos livros. Não consigo me lembrar do que li, mas acho que gosto de ler.

    — Bem, a não ser que você saiba o que os lobos comem, suporemos que ele queira o mais inocente dentre nós. O que seria um bruxo.

    — O quê?

    O Guerreiro pegou meus braços e empurrou-me em direção à jaula. — Tentaremos matar o lobo antes que ele consiga matar você.

    — Seja razoável! — insistiu Vermelha, parando à minha frente. — Você não pode deixar o lobo pegá-lo. Ele é uma pessoa.

    — Se é o bruxo ou todos nós, por mim deixamos o lobo comê-lo.

    — Não quero ser comido! — disse eu, lutando. Infelizmente, o guerreiro era muito maior do que eu. Além do mais, guerreiros literalmente nasciam com talento para lutar.

    O Ilusionista agarrou Vermelha e puxou-a para fora do caminho. — Os bruxos estão sempre dispostos a se sacrificar para o bem maior.

    — Isso não é verdade!

    — Bem, não temos mais ninguém para usar. Portanto, a não ser

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