A Notícia Relevante: Um guia para as empresas entenderem o processo de decisão nas redações
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A Notícia Relevante - Ibiapaba Netto
leitura.
A fonte e o jornalista
Segundo dados de 2017 do Ministério da Educação – MEC, há no Brasil 315 faculdades de jornalismo, que lançam anualmente no mercado cerca de 7 mil profissionais. Uma pesquisa do ano de 2012 realizada pela Universidade Federal de Santa Catarina identificou 145 mil jornalistas devidamente registrados no Ministério do Trabalho – um grande contingente à disposição de um mercado que nos últimos anos não tem se mostrado robusto o bastante para absorver essa quantidade de profissionais.
O pequeno mercado de trabalho, e o consequente número de pessoas em início de carreira buscando uma vaga como repórter, faz deste setor um dos mais concorridos de que se tem notícia, sem querer aqui fazer trocadilhos. É verdade que existem centenas de títulos, como jornais regionais, revistas segmentadas, portais e todo tipo de pequenos negócios cujo foco é noticiar e se beneficiar do mercado publicitário. Mas também é verdade que a maioria dos profissionais deseja trabalhar na grande imprensa. E defino aqui grande imprensa como todas as empresas jornalísticas com poder de influenciar uma parte da opinião pública. Quanto maior a audiência de um veículo, maior será sua influência.
Dentro do que se conhece da mídia tradicional
, podemos entender como grande imprensa todos os títulos subordinados à Editora Abril (Veja), Editora Globo (Época) e Editora Três (IstoÉ). Numa linha alternativa aos grupos mais tradicionais, encontramos ainda na grande imprensa veículos como Carta Capital, além, claro, dos chamados jornalões
: Estadão, Folha de S.Paulo, O Globo, O Estado de Minas, Valor Econômico (empresa do Grupo O Globo) e todos os outros filhotes desses grupos, tais como: Diário de S. Paulo, Agora, Extra, Meia Hora, além de produtos como o Metro – de um dos maiores grupos de comunicação do mundo, que distribui notícia de forma gratuita em semáforos de grandes cidades. Acrescentem-se aí os telejornais da Rede Globo, do SBT, da Bandeirantes e da Record. Isso sem esquecer grupos regionais de grande poder midiático. Bom exemplo é o grupo RBS, no Rio Grande do Sul, dono de afiliadas da Rede Globo, além de jornais de grande influência como o Zero Hora.
Outro grande empregador está nas estruturas das agências de notícias, tais como Agência Estado, Reuters, Bloomberg, Valor Pro, entre outras. Também como demandantes de mão de obra qualificada encontramos os portais que, em sua maioria, estão ancorados em importantes grupos econômicos. O UOL, por exemplo, pertence ao Grupo Folha da Manhã, dono da Folha de S.Paulo e do Agora. O portal G1 faz parte das Organizações Globo, cujo patrimônio midiático dispensa apresentações. O iG, que nasceu do pioneirismo do publicitário Nizan Guanaes, hoje pertence à Ejesa, empresa multinacional sócia do grupo Portugal Telecom. Há também o portal Terra, que tem como proprietária a Telefônica, empresa espanhola dona da operadora Vivo.
Hoje, porém, existem dentro das chamadas novas mídias
veículos com audiências robustas não subordinados aos grupos tradicionais e que ocupam lugar de relevância dentro de diferentes públicos. Olhar mais detalhadamente para esses novos veículos de comunicação talvez seja objeto de um outro trabalho, tamanha a oferta de noticiosos hospedados na internet. Tais veículos, entretanto, estão localizados num espectro mais opinativo da mídia, e a relação com empresas, setores e pessoas públicas se dá de forma mais pessoal, o que, nesse caso, foge um pouco do objeto de análise deste livro.
Também há casos de jornais regionais com bastante influência local. No interior de São Paulo podemos registrar três exemplos: na cidade de Ribeirão Preto temos a Folha de Ribeirão; em Araraquara, a Tribuna Impressa; e, na pequena, porém não menos bucólica, Bebedouro, a Gazeta de Bebedouro. Os três veículos acompanham e são acompanhados por quem vive nessas cidades. Como estão distantes das capitais e não há interesse dos veículos tradicionais em cobrir o cotidiano desses lugares, abre-se um espaço de influência que é ocupado pela mídia regional, que se torna grande imprensa nesse contexto.
Uma relação saudável
Todo jornalista vive de novidade. Diariamente esse profissional sai de casa com a missão de destrinchar para o leitor/espectador/ouvinte questões extremamente complexas, como conflitos entre nações, problemas no mundo financeiro, ou tratar de assuntos mais simples
, como a estratégia de uma empresa que visa a ganhar espaço da concorrência. Portanto, o ineditismo é um aspecto muito, mas muito importante para esse profissional, principalmente aquele alocado nos maiores e mais exigentes veículos de comunicação.
Vale lembrar que jornalista não raramente é um generalista cuja obrigação é explicar assuntos sobre os quais ele não tem pleno domínio. Claro, há os profissionais que cobrem determinado assunto por anos e se tornam especialistas. Mas mesmo neste caso se corre o risco de cair na armadilha das chamadas conclusões próprias
, que volta e meia geram problemas e polêmicas. Certa vez um juiz de direito me disse que o jornalista seria o fofoqueiro institucionalizado. Afora a galhofa, achei a observação interessante, pois o nobre magistrado entendeu a alma sedenta por novidades dos homens e mulheres da imprensa.
Outro aspecto a se destacar nesses profissionais é que, embora se trate de gente muito bem informada, nunca ou muito, mas muito raramente o jornalista está envolvido ou faz parte do fato. Um dos mais conhecidos jargões da profissão afirma que jornalista não é notícia
. Deste modo, podemos entender que um jornalista sempre vai precisar de uma fonte de informação para ter acesso a uma notícia. E a relação com essa fonte de informação é o seu bem mais precioso. O mais interessante é que a fonte de informação não é necessariamente alguém de extrema relevância, mas sim alguém que possa dar acesso a informações e conteúdos estratégicos. Qualquer um pode se tornar uma fonte desde que, claro, tenha informações. A qualidade dessa fonte será determinada de acordo com alguns fatores que veremos mais adiante.
À época da faculdade de jornalismo, nos idos anos 1990, eu ouvia de alguns professores que o maior bem de um jornalista é a notícia e que em nome dela se sacrifica até mesmo a fonte certas vezes.
Na teoria talvez isso possa ser verdade. Mas, na prática, essa dinâmica só se confirma em casos extremos e não se sustenta no dia a dia da profissão. Num mundo extremamente competitivo, em que repórteres disputam as mesmas fontes de informação diariamente, dois aspectos sobressaem, como vemos a seguir.
a credibilidade do veículo e da fonte;
a relação de confiança entre fonte e jornalista.
Um amigo, grande profissional da área do jornalismo, costuma afirmar que nessa profissão se levam apenas o nome e a agenda
. Sempre acreditei que, quanto mais longeva, frequente e sincera for a relação entre o jornalista e a fonte, melhor será para ambos os lados. Uma coisa é certa: se ter uma relação sadia com a imprensa faz parte dos planos de uma instituição ou corporação, a pior atitude que ela pode tomar é tentar estabelecer esse laço apenas quando lhe for conveniente ou emergencial.
Uma relação saudável com a imprensa é obrigação institucional. É lícito e democrático que se tenha informações verossímeis sobre empresas, setores ou pessoas públicas. E é função dos jornalistas e das empresas jornalísticas ir atrás dessas informações para a sociedade. É função das fontes estar preparadas para atender à imprensa, e, se essas fontes de informação compreenderem, nem que seja superficialmente, o funcionamento das engrenagens desse setor tão importante para a coletividade, certamente seu trabalho não só ficará mais fácil como também serão evitadas frustrações desnecessárias.
Quando se fala em construir