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Da informação à comunicação: acontecimentos do jornalismo
Da informação à comunicação: acontecimentos do jornalismo
Da informação à comunicação: acontecimentos do jornalismo
E-book259 páginas3 horas

Da informação à comunicação: acontecimentos do jornalismo

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Sobre este e-book

O jornalismo transforma em notícia os principais fatos do cotidiano de uma coletividade. As notícias são transmitidas por intermédio dos meios de comunicação a fim de possibilitar que essa coletividade saiba o que acontece de mais importante ou o que mais interessa aos jornalistas e às empresas jornalísticas. O jornalismo, portanto, é informação, e por isso busca chamar atenção para os acontecimentos em meio a um fluxo constante e até mesmo caótico de dados. Mas o jornalismo também pode ser comunicação, quando deixa de ser acontecimento noticioso para ser Acontecimento Comunicacional, que força o pensamento e transforma. Esta obra oferece subsídios para pensar o jornalismo que transmite acontecimentos – com a finalidade de aumentar o estoque de conhecimento da coletividade – e notícias – que incitam o pensamento e levam a ações. Trata-se do primeiro estudo sobre jornalismo com essa fundamentação teórica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547302375
Da informação à comunicação: acontecimentos do jornalismo

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    Da informação à comunicação - Karenine Miracelly Rocha da Cunha

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

    À minha irmã Karine, que, brincando, ensinou-me a colher¹ ideias.

    Gostei tanto da brincadeira de ler que não mais parei.

    Dedico a você este livro, resultado de uma farta colheita.

    AGRADECIMENTOS

    Um galo sozinho não tece uma manhã:

    ele precisará sempre de outros galos.

    De um que apanhe esse grito que ele

    e o lance a outro; de um outro galo

    que apanhe o grito de um galo antes

    e o lance a outro; e de outros galos

    que com muitos outros galos se cruzem

    os fios de sol de seus gritos de galo,

    para que a manhã, desde uma teia tênue,

    se vá tecendo, entre todos os galos.

    E se encorpando em tela, entre todos,

    se erguendo tenda, onde entrem todos,

    se entretendendo para todos, no toldo

    (a manhã) que plana livre de armação.

    A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

    que, tecido, se eleva por si: luz balão.

    (João Cabral de Melo Neto²)

    Um pesquisador sozinho não faz um estudo. Ele precisará sempre de outros pesquisadores, que com muitos outros autores cruzem as linhas de textos e as indagações de leitura de suas produções para que as páginas, desde uma teia tênue, se vão tecendo. E se encorpando em livro, onde ressoem todos. Por ser um tecido coletivo, este livro só se sustenta a partir da participação de muitas pessoas, pesquisadores ou não, que deram sua contribuição desde as primeiras leituras, discussões, investigações e palavras de pesquisa.

    Agradeço à minha mãe, Maria, e ao meu pai, Francisco, que sempre acreditaram que o subdesenvolvimento não é uma questão econômica, mas de acesso à plena educação. Vocês foram essenciais, porque concretizaram essa crença, e são sinônimos de luta e exemplos de que, de fato, o sertanejo é, antes de tudo, um forte. Toda essa aparência de cansaço ilude. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se numa descarga nervosa instantânea, reponta inesperadamente o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.³

    Agradeço a Eduardo Ribeiro, pela cumplicidade.

    Agradeço a Ciro Marcondes Filho – o escavador de silêncios –, por compartilhar tanta sabedoria e por me instigar. A originalidade de seu pensamento, ainda que sempre amparado no diálogo com outros pensadores, desestabiliza, violenta, faz pensar e – por que não? – comunica.

    Agradeço ao Filocom (Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação) da ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), onde se construiu a Nova Teoria da Comunicação, proposição teórica fundamental para este livro.

    Agradeço às instituições de ensino UniToledo (Centro Universitário Toledo), Fatec (Faculdade de Tecnologia de Araçatuba – Centro de Educação Tecnológica Paula Souza) e ao CEP/FDC (Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias – Ministério da Defesa) pelo apoio. Agradeço carinhosamente aos colegas professores, funcionários e, acima de tudo, aos alunos com quem convivi, a quem desejo que os apontamentos deste livro sejam caminhos para o estudo do jornalismo. E se é para dar nome aos galos, porque o papel do livro eterniza as informações, eis alguns: Ágatha Urzedo, Ana Carolina de Souza Pereira, Ana Paula Teixeira, Ariadne Bognar, Bruna Queiroga, Bruno Toledo, Cristina Bonfiglioli, Daniela Leite, Elis Fuzetti, Fabrícia Lopes, Fernanda Mariano, Michele Priscila Santos, Marina Migliorucci, Rafaela Cândido, Renata Pedrosa, Sandra Rillo, Sérgio Tumelero, Silvia Cristina de Souza e Taíse Romualdo.

    Escreve-se por dois motivos principais: por um motivo particular (organizar os próprios pensamentos) e um político (informar os outros). [...]. Os leitores, para quem se escreve, são comentadores (que falam daquilo que foi escrito até a exaustão) ou cumpridores de ordens (que se subordinam ao texto como objetos)

    ou críticos (que os dilaceram) – caso, na realidade,

    sejam encontrados leitores.

    (Vilém Flusser⁴)

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    1

    O LEAD: COMUNICAÇÃO É ACONTECIMENTO

    1.1 A Teoria do Acontecimento Comunicacional

    1.2 Os desdobramentos da comunicabilidade

    2

    A NOTÍCIA: JORNALISMO É INFORMAÇÃO

    2.1 Do acontecimento ao Acontecimento

    2.2 Da agenda à atmosfera de temas

    3

    A HIPERTELIA: (IN)COMUNICABILIDADE UBÍQUA

    3.1 Sem ninguém para senti-las, as notícias não são grande coisa

    3.2 A curadoria informacional

    4

    A APURAÇÃO: O METÁPORO COMO PROCEDIMENTO INVESTIGATIVO

    4.1 A porosidade da pesquisa

    4.2 A autenticidade do procedimento

    5

    (IN)COMUNICABILIDADE NO JORNALISMO

    5.1 Foi a primeira vez. Fiquei triste.

    5.2 O acontecimento que se desdobra em informação

    DEADLINE

    Hermes e Poseidon

    REFERÊNCIAS

    O LUGAR DA COLHEITA DE IDEIAS

    PREFÁCIO

    Jornalismo é, acima de tudo, uma prática política. Política no sentido explícito de comentar atos do poder público, criticar governantes, sugerir ou questionar projetos de partidos ou agremiações, mas também, e não em segundo plano, fazer, ele próprio, política. A imprensa é uma voz que fala acima de todos os cidadãos. Uma voz que na antiguidade poderia ter sido a voz do próprio Deus, e que em todo o período medieval foi a voz da Igreja, pelo menos no Ocidente. Um voz que encobre as múltiplas vozes dos pequenos, dos não ouvidos, dos homens comuns. E isso não é pouco.

    O jornalismo, é claro, veicula também publicidade, que é, para os estudiosos, o que garante seu sustento. Mas eles se enganam. A publicidade é o álibi, aquilo que esconde a trama real dos interesses. Os donos de jornais não são nada diferentes dos grandes capitães de indústrias, dos políticos de altas rodas, dos milionários de diversas fontes; em suma, dos poucos, mas que efetivamente mandam na sociedade. Todos fazem parte do mesmo clube. Todos se veem e se falam continuamente. Tramam em conjunto suas estratégias. E não adianta a sociedade espernear exigindo objetividade, imparcialidade, neutralidade, bandeiras ingênuas de quem vive num mundo de sonhos e fantasias coloridas.

    Por isso, a imprensa jamais é retratada da forma como de fato é, como uma grande máquina a serviço de quem detém o poder (econômico, político, religioso, militar, seja lá o que for), e que vende a imagem de prestadora de um serviço público à sociedade. De fato, ela precisa também desse álibi, quando ela simplesmente informa sobre os resultados do futebol, da loteria, a previsão do tempo, o valor do dólar ou os filmes em cartaz. Essas informações elementares que ela transforma, invertendo o processo, em sua razão de ser.

    Mas, então, como pode se colocar um jovem pesquisador de jornalismo, sinceramente preocupado com a ação política dessa grande máquina, detrás dos bastidores, tentando descobrir o que realmente acontece? Será que ele deve fazer exaustivos estudos dos conteúdos das matérias jornalísticas? Ou será que ele deve fazer comparações entre o relato jornalístico e a realidade lá fora, como ele a vê? Ou, ainda, avaliar quem são os homens que dirigem essa máquina toda?

    Nada disso, pois, no final da linha, ele verá que deu com os burros n’água, e nada ficou esclarecido. Exatamente porque a imprensa gosta de fazer o jogo de esconde-esconde, o tempo todo escorregando das mãos de quem supõe capturá-la. Com toda essa astúcia, grandes aglomerados jornalísticos sobrevivem galhardamente por décadas e até séculos, sem que o poder de vigilância da sociedade os atinja.

    O álibi da imprensa são as notícias diárias. Essa espécie de alimento do espírito que é a atualização sobre o tempo, o horóscopo, o último capítulo da telenovela, a programação cultural. A oferta desse jornalismo cotidiano, morno, tranquilizador, comportado. Mera informação. Tão apaziguadora quanto a religião, que nos vende a imagem de como gostaríamos que o mundo fosse, um mar de tranquilidade, em que nosso barco seguiria de vento em popa. Eventualmente, uma notícia não tão tranquilizante, uma previsão de chuvas, um projeto de mexer com as aposentadorias, um aumento da gasolina. Mas tudo devidamente contornável. O jornalismo não deve deixar ninguém desesperado. Ele é o Hermes mensageiro, aquele que nos informa do mundo.

    Mas Hermes é um mito, uma comunicabilidade que funciona para deixar tudo como está. Grande estratégia do conservadorismo, da reação, de quem não quer mexer em nada, de quem apenas quer que as coisas fiquem exatamente como estão. Os velhos donos do poder. Mas, atrevidamente, práticas jornalísticas podem se revoltar. Não exatamente a imprensa, mas jornalismos e jornalistas arredios, indignados, inconformados acabam furando o grande véu mistificador que se estende sobre toda a sociedade e provocar trepidações, desajustes, desequilíbrios, talvez até mudanças mais profundas. Talvez conseguir, de fato, comunicar.

    Essa ambiguidade do fazer jornalístico é o que o salva de ser uma atividade totalmente submissa e traiçoeira. Toda a sociedade vive sob a nuvem de notícias que é abastecida diariamente pela imprensa, pelas redes sociais, mas também pelos informes das corporações e pelos três poderes republicanos e que formam essa atmosfera, o continuum mediático que pesa diariamente sobre nós. Um continuum de ar que em certos momentos é tão pesado que mal conseguimos respirar...

    Pois é isso que define hoje mais claramente a ação da imprensa e das diversas formas de jornalismo. A alimentação desse monstruoso campo abstrato que sinaliza vez por outra nuvens negras de crise, não raro abastecidas pela própria imprensa, interessada em cegar as pessoas e impor-se totalitariamente como uma única voz, um único deus, inibindo todas as manifestações opostas, especialmente as que a denunciam, fazendo com que o livre pensador – aquele que duvida, questiona, atreve-se – sinta-se um desvairado, um alucinado, um demente.

    A imprensa pode ocupar inteiramente o continuo mediático, como, no passado, o fizeram os regimes absolutistas, fechando todos os poros, e com isso inviabilizar a comunicação. O estado estalinista e o estado fascista sufocaram qualquer espécie de comunicabilidade, assassinaram o vivo, estrangularam o movimento, impuseram a morte como ideal.

    A diferença entre o mero informar e o comunicar está aí. É a mesma diferença entre o permanecer e o mudar, entre a estagnação e o salto, entre o morto e o vivo. E é essa a única pesquisa que justifica a investigação da qualidade da comunicação no jornalismo. Karenine Cunha foi a primeira pesquisadora que assumiu para si a responsabilidade de levar a cabo a tentativa de estudar o jornalismo, apoiada na Nova Teoria da Comunicação, e, com isso, dar início a uma nova forma de pesquisar o jornalismo, possivelmente a única que avalie seu poder de transformação.

    Exatamente porque estuda o jornalismo no quadro da construção de uma atmosfera na sociedade que tem condições de transcender a mera recepção passiva e fazer as pessoas realmente pensar. O jornalismo diário é construído de forma a manter tudo como está, sua função de alarme é mais para evocar intervenções conservadoras do que de mudança. Por isso, é um instrumento de sustentação do status quo.

    Mas, como todos os veículos tecnológicos ou sociais são ambíguos, também ele pode ter sua função invertida e efetivamente quebrar o invólucro de indiferença e cegueira das pessoas, e infiltrar outros modos de pensar seu mundo e sua realidade; exercer esse papel de Poseidon, violentando estruturas engessadas, abrindo fenda para o Acontecimento, como diz Karenine Cunha.

    É certo que sua pesquisa não é tão simples e fácil como são as pesquisas atuais de jornalismo. Mas essas, exatamente por isso, não produzem nada de novo, repetem indefinidamente os velhos modelos e jargões. O campo acadêmico dos estudos de jornalismo está minado. É preciso fazê-lo explodir, e é isso que faz, de forma pioneira, o trabalho de Karenine Cunha.

    Oxalá seu exemplo seja seguido e novos pesquisadores façam adesão a este formato, que é revolucionário em sua natureza, pois investiga em profundidade a real atuação da imprensa enquanto veículo de comunicação – e o que, afinal de contas, ela promove, senão a eternização das aspirações conservadoras da sociedade ou uma verdadeira abertura de horizontes para as pessoas que nela vivem? Apenas o instrumento de que ela faz uso tem condições de fazer essa avaliação e afirmar, de forma academicamente rigorosa, os resultados de sua pesquisa.

    Evidentemente se exige trabalho, empenho e dedicação para realizar o que Karenine Cunha fez neste trabalho. É preciso acompanhar o maior número possível de reverberações mediáticas – na imprensa, na internet, nas redes sociais; em suma, em todos os veículos possíveis – o clima, a atmosfera, o volume e o peso dessa nuvem, mas, acima de tudo, o quanto ela consegue intervir na consciência das pessoas mudando maneiras de ver, considerar, respeitar o diferente, o novo, aquilo que nunca teve chance de se manifestar.

    Os movimentos desestabilizadores do continuum são aqueles que mudam a sociedade, introduzindo novos olhares, novas interpretações, outras luzes para mentes abertas. O jornalismo pode fazer isso, pode invadir o continuum e mexer com o que estava estagnado. E o pesquisador observa esse fenômeno, colhe dados de todas suas manifestações, avalia o que está assistindo e tem condições, finalmente, de descrever o que aconteceu e seu poder de reposicionar as mentes e as ações das pessoas.

    Talvez seja isso que salve o jornalismo, talvez seja isso que salve as pesquisas sobre o jornalismo. Sob o comando das tecnologias digitais, tudo na sociedade transforma-se com muita rapidez; a cada momento novos gadgets e softwares são lançados no mercado e equipamentos substituem-se em velocidade alucinante. E o pensamento não acompanha esse ritmo. Menos ainda o pensamento acadêmico. É hora de emparelharmo-nos a esse ritmo e rever nossa pesquisas e investigações tradicionais que já perderam o pé da história. Karenine Cunha está aí dando o chute inicial. Cabe continuar e avançar esse tipo de investigação, que, por sua própria definição, é dinâmica, continuamente mutante, sempre capaz de renovação permanente. Trata-se de saber, de tempo em tempo perder-se, para depois se reencontrar, como dizia Nietzsche, aqui reverberado, com muita propriedade, por Karenine Cunha.

    Ciro Marcondes Filho

    Professor Titular da Escola de Comunicações e

    Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP)

    APRESENTAÇÃO

    Este livro insere-se na pioneira proposta teórica e epistemológica do Filocom (Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação) da ECA/USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) nos últimos 15 anos, denominada Nova Teoria da Comunicação ou Teoria do Acontecimento Comunicacional. Trata-se do primeiro estudo do jornalismo com essa fundamentação teórica. Da mesma forma, é o pioneiro ao utilizar a proposição metodológica organizada por esse instrumental teórico nos estudos do jornalismo.

    O livro aborda a utilização do procedimento metapórico de pesquisa em um estudo da comunicação ontológica no jornalismo. Procedimento metapórico porque vem de metáporo, baseado no Princípio da Razão Durante, o momento de realização do Acontecimento Comunicacional e da deflagração da comunicabilidade – conceitos fundamentais da Nova Teoria da Comunicação.

    O jornalismo é abordado como um desdobramento da comunicabilidade, podendo ser informação ou comunicação. Em uma realidade de excesso de dados, o jornalismo parece quase sempre ser informação, quando ultrapassa

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