A metamorfose
De Franz Kafka
3.5/5
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Sobre este e-book
Franz Kafka
Franz Kafka (1883-1924) was a primarily German-speaking Bohemian author, known for his impressive fusion of realism and fantasy in his work. Despite his commendable writing abilities, Kafka worked as a lawyer for most of his life and wrote in his free time. Though most of Kafka’s literary acclaim was gained postmortem, he earned a respected legacy and now is regarded as a major literary figure of the 20th century.
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A metamorfose - Franz Kafka
Esta é uma publicação Principis, selo exclusivo da Ciranda Cultural
© 2019 Ciranda Cultural Editora e Distribuidora Ltda.
Traduzido do original em alemão
A Metamorfose Die Verwandlung
Texto
Franz Kafka
Tradução
Luiz A. de Araújo
Diagramação
BR75 | Laura Arbex
Revisão
BR75 | Clarisse Cintra, João Sette Camara, Silvia Baisch e Silvia Rebello
Produção e projeto gráfico
Ciranda Cultural
Ebook
Jarbas C. Cerino
Imagens
Golden Shrimp/Shutterstock.com; Barandash Karandashich/Shutterstock.com; Morphart Creation/Shutterstock.com; mart/Shutterstock.com;
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
K11m Kafka, Franz
A metamorfose [recurso eletrônico] / Franz Kafka ; traduzido por Luiz A. de Araújo. - 2. ed. - Jandira, SP : Principis, 2020.
96 p. ; ePUB ; 5,1 MB. – (Literatura Clássica Mundial)
Tradução de: Die Verwandlung
Inclui índice. ISBN: 978-65-5552-125-2 (Ebook)
1. Literatura alemã. 2. Ficção. I. Araújo, Luiz A. de. II. Título. III. Série.
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
Índice para catálogo sistemático:
1. Literatura alemã : Ficção 833
2. Literatura alemã : Ficção 821.112.2-3
1a edição em 2020
www.cirandacultural.com.br
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Certa manhã, ao despertar de sonhos agitados, Gregor Samsa deu consigo na cama transformado num inseto monstruoso. Jazia de costas, umas costas duras feito couraça, e, erguendo um pouco a cabeça, viu sua barriga bojuda, marrom, dividida em segmentos envergados, sobre a qual a coberta estava prestes a escorregar e cair, e suas muitas patas, lamentavelmente finas para aquele corpo enorme, agitavam-se indefesas diante dos seus olhos.
O que aconteceu comigo?
– pensou ele. Não era um sonho. O quarto, um aposento humano comum e corrente, ainda que um tanto pequeno, mantinha-se tranquilamente entre suas quatro conhecidas paredes. Acima da mesa, na qual se espalhavam diversas amostras de tecido desembrulhadas, Samsa era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia que, pouco tempo antes, ele havia recortado de uma revista e enquadrado com uma bonita moldura dourada. Mostrava uma senhora que, de chapéu e estola de pele, estava sentada com o corpo aprumado e erguia para o observador um pesado regalo também de pele, no qual todo seu antebraço desaparecia.
Gregor dirigiu o olhar para a janela, o tempo nublado, ouvia-se o tamborilar das gotas de chuva na pingadeira, o encheu de melancolia.
E se eu dormisse um pouco mais e esquecesse todas as tolices?
– pensou, mas isso era totalmente impossível, pois ele tinha o hábito de dormir deitado do lado direito, e, no estado em que se encontrava, não conseguia se colocar em tal posição. Por mais que se esforçasse para ficar de lado, sempre voltava a rolar para a postura supina. Bem que tentou umas cem vezes, de olhos fechados para não ter de ver a agitação de suas patas, e só desistiu quando começou a sentir no flanco uma dor leve e surda que nunca havia sentido. Meu Deus
– pensou –, que profissão extenuante eu escolhi! Viajar dia após dia. Os aborrecimentos dos negócios são muito piores do que na própria sede da empresa, e, ainda por cima, me é imposta a maldição de tanto viajar, a amolação com as baldeações, a alimentação irregular e ruim, as relações humanas sempre cambiantes, nunca estáveis, nunca afetuosas. Ao diabo com tudo isso!
. Sentiu um ligeiro prurido na barriga; arrastou-se lentamente sobre as costas para mais perto da guarda da cama, a fim de levantar a cabeça com mais facilidade; encontrou o lugar da coceira, que estava salpicado de pontinhos brancos que ele não sabia explicar; e quis tocá-lo com uma das patas, mas a afastou imediatamente, pois o contato lhe deu calafrios.
Voltou a escorregar para a posição anterior. Acordar tão cedo
– pensou – emburrece muito a gente. O ser humano precisa dormir. Outros caixeiros-viajantes vivem como mulheres de harém. Por exemplo, quando eu volto ao hotel no final da manhã para anotar as encomendas, esses senhores ainda estão tomando café. Se tentasse fazer algo parecido com o meu chefe, eu seria escorraçado no ato. Aliás, quem sabe se isso não seria bom para mim? Se eu não me refreasse tanto por causa dos meus pais, já teria pedido demissão há muito tempo, já teria procurado o chefe e dito o que penso do fundo do coração. Era capaz de ele cair do balcão! Também é uma coisa bem esquisita ficar sentado no balcão e, lá de cima, falar com o empregado, que, além disso, tem de se aproximar muito por causa da surdez do chefe. Ora, eu ainda não perdi toda a esperança; assim que juntar o dinheiro para lhe pagar a dívida dos meus pais, coisa que ainda pode demorar uns cinco ou seis anos, palavra que faço isso. Então, será a grande ruptura. Mas, por ora, tenho de levantar, pois meu trem parte às cinco.
E olhou para o despertador que tiquetaqueava na cômoda. Santo Deus!
– pensou. Eram seis e meia, e os ponteiros avançavam com calma; inclusive já passava da meia hora, eram quase quinze para as sete. Acaso o despertador não havia tocado? Via-se da cama que ele estava corretamente ajustado para quatro horas: seguramente o despertador havia soado. Sim, mas