Pedagogia para o outro: Ser educador-bacharel-"áltero" na educação superior
()
Sobre este e-book
Relacionado a Pedagogia para o outro
Ebooks relacionados
Ser "Bom Professor": As Contribuições da Didática na Formação Inicial Docente Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDesenvolvimento Profissional de Professores de Educação Infantil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMestres e Doutores na Corrida para Professores: Formação Pedagógica de Mestres e Doutores Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação e esperança: Documentando práticas pedagógicas transformadoras Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEducação em Múltiplos Olhares: Temas do Cotidiano Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA paixão de formar: Sobre o mundo psíquico do professor apaixonado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDo retrovisor ao para-brisa: a construção da subjetividade identitária do professor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDesafios da educação: Novas faces, novos olhares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFilosofia E Filosofia Da Educação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasInquietudes da Pedagogia Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOlhar pedagógico: A visão docente sobre como os alunos aprendem Nota: 0 de 5 estrelas0 notas. Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPROCESSO FORMATIVO DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA: SER FORMADOR E SER PROFESSOR SEM ÁLIBIS Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDesenvolvimento Profissional Docente em Tempos de Neoliberalismo: Fundamentos Teóricos e Pesquisa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNarrativas autobiográficas de professores: Quando nossas memórias contam nossa trajetória de formação Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPedagogia e Formação de Pedagogos no Distrito Federal: Reflexões Curriculares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPrática docente no Ensino Médio Integrado: revisitando seus princípios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre o real e o ideal: A imagem docente no contexto atual Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA leitura de textos filosóficos no ensino da filosofia no nível médio do sistema educacional brasileiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Estágio Supervisionado e o Professor de Geografia: Múltiplos Olhares Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSer Bom Professor: Desafios Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFormação Continuada De Professores Universitários Nota: 0 de 5 estrelas0 notasExperiências docentes na área interdisciplinar no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAvaliação Emancipatória e Gestão Democrática na Escola Pública Nota: 0 de 5 estrelas0 notasConversa com professores: Do fundamental à pós-graduação Nota: 0 de 5 estrelas0 notas"Relação com o Saber" de Jovens no Ensino Médio Modos de Aprender que se Encontram e se Confrontam Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTensões identitárias de professores de educação física Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAbordagem Histórico-Cultural: Um Olhar para a Formação de Professores e a Educação Especial Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Métodos e Materiais de Ensino para você
Didática Nota: 5 de 5 estrelas5/5Massagem Erótica Nota: 4 de 5 estrelas4/5Raciocínio lógico e matemática para concursos: Manual completo Nota: 5 de 5 estrelas5/54000 Palavras Mais Usadas Em Inglês Com Tradução E Pronúncia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Sexo Sem Limites - O Prazer Da Arte Sexual Nota: 4 de 5 estrelas4/5Mulheres Que Correm Com Os Lobos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAprender Inglês - Textos Paralelos - Histórias Simples (Inglês - Português) Blíngüe Nota: 4 de 5 estrelas4/5A arte de convencer: Tenha uma comunicação eficaz e crie mais oportunidades na vida Nota: 4 de 5 estrelas4/5Técnicas de Invasão: Aprenda as técnicas usadas por hackers em invasões reais Nota: 5 de 5 estrelas5/5Curso De Inglês Básico Nota: 5 de 5 estrelas5/5Manual do facilitador para dinâmicas de grupo Nota: 5 de 5 estrelas5/5Aprender Francês - Textos Paralelos (Português - Francês) Histórias Simples Nota: 4 de 5 estrelas4/5Ludicidade: jogos e brincadeiras de matemática para a educação infantil Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pedagogia do oprimido Nota: 4 de 5 estrelas4/5Piaget, Vigotski, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão Nota: 4 de 5 estrelas4/5Jogos e brincadeiras na educação infantil Nota: 5 de 5 estrelas5/5Jogos e Brincadeiras para o Desenvolvimento Infantil Nota: 3 de 5 estrelas3/5Ensine a criança a pensar: e pratique ações positivas com ela! Nota: 5 de 5 estrelas5/5Temperamentos Nota: 5 de 5 estrelas5/5Como se dar muito bem no ENEM: 1.800 questões comentadas Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Bíblia e a Gestão de Pessoas: Trabalhando Mentes e Corações Nota: 5 de 5 estrelas5/5BLOQUEIOS & VÍCIOS EMOCIONAIS: COMO VENCÊ-LOS? Nota: 5 de 5 estrelas5/5101 Erros mais comuns de português Nota: 4 de 5 estrelas4/5Como Escrever Bem: Projeto de Pesquisa e Artigo Científico Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cérebro Turbinado Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Avaliações de Pedagogia para o outro
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Pedagogia para o outro - Conceição de Maria Pinheiro Barros
(Uece).
Diante do teu rosto tardio
: introdução
Diante do teu rosto tardio, solitário entre noites que também me transformam, algo se imobilizou que já outrora estivera conosco, intocado por pensamentos. (Celan, 1999, p. 109)
A expressão ressaltada no título desta introdução: Diante do teu rosto tardio
(Celan, 1999, p. 109) tem o intuito de remeter ao Rosto do educando – Outro³ do educador-bacharel áltero
(Eu). O termo áltero
foi elaborado para designar o educador na perspectiva da filosofia levinasiana. "Derivada da palavra alteridade do latim alter (outro), significa aquele que se preocupa com o outro" (Barros, 2017, p. 22). Considerando a importância de integrar na formação pedagógica para a docência universitária, questões sobre alteridade e responsabilidade ética, este livro apresenta os principais resultados obtidos por meio de um estudo doutoral em Educação, no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), na Universidade Estadual do Ceará (Uece) que teve como orientadora a Profa. Dra. Ana Maria Iorio Dias.
A pesquisa teve como fio condutor a atuação e a formação do educador-bacharel na perspectiva da filosofia levinasiana. Buscou analisar o discurso do docente-bacharel sobre sua atuação e formação, considerando a dimensão do educando enquanto Outro, na perspectiva da ética da alteridade radical. Na elaboração teórica, fundamentou-se na multirreferencialidade (Barbosa, 1998) partindo da ética da alteridade radical, teoria de Emmanuel Lévinas, filósofo francês, que defende a ética como filosofia primeira por meio da acolhida ao Outro em sua total alteridade de modo radical. No decorrer dos textos foi desenvolvido um diálogo entre a filosofia levinasiana e teorias da educação (Alves, 1980; Freire, 1996), por meio da multirreferencialidade, que possibilitou melhor compreensão acerca da teoria levinasiana situando o docente-bacharel como educador.
Metodologicamente, o estudo se caracterizou como pesquisa qualitativa, de abordagem fenomenológica, na perspectiva da bricolagem científica (Kincheloe; Berry, 2007), entretecendo teorias e métodos investigativos clássicos e contemporâneos. Foram realizadas investigação bibliográfica e pesquisa de campo. O universo da investigação foi composto por 37 docentes-bacharéis da Universidade Federal do Ceará (UFC). Recorreu-se à Análise Hermenêutica do Conteúdo e à Análise Compreensiva do Discurso para interpretar as informações.
Após a análise, afirmo que as ações de formação docente institucionais são alternativas para a preparação do educador-bacharel-áltero
. Foram delineados como fundamentos para a prática docente: responsabilidade, relação educador (Eu)-educando (Outro), alteridade radical e justiça, mediados pela ética. Com base nesses pilares, foram discutidos saberes docentes para a alteridade.
Os resultados sustentaram que para formar o educador-bacharel possibilitando a acolhida do educando como Outro, na perspectiva da ética da alteridade radical, é preciso desenvolver ações institucionais que colaborem para a constituição de saberes docentes para a alteridade, articulando-os em sua atuação de maneira intencional, levando-o a assumir a responsabilidade pelo educando, situado no centro do processo educativo, e a contribuir para o desenvolvimento de futuros profissionais responsáveis e éticos. Neste capítulo introdutório, apresento a contextualização do estudo, bem como o percurso teórico-metodológico da pesquisa desenvolvida.
De mim para o Outro
: primeiras palavras
Eu não sou eu nem sou o outro. Sou qualquer coisa de intermédio: Pilar da ponte de tédio. Que vai de mim para o Outro. (Sá-Carneiro, 1914-1915)
Sigo, assim, em busca do educando como Outro do educador. O Outro que me incomoda, me inquieta, me invoca e, ao mesmo tempo, fundamenta o meu Eu. O Outro que me ajuda a me (re)encontrar ao sair de mim mesma em direção ao seu encontro. Este trabalho insere-se nos estudos sobre o bacharel que atua na docência universitária, tendo como eixo estruturante a concepção de educador (Freire, 1987, 1996; Alves, 1980, 1994, 2004, entre outros) e a ética da alteridade radical⁴ (Lévinas, 1980, 1982, 1988, 2002, 2005, 2010, 2012) a qual considera a valorização do Outro em primeiro lugar de maneira extrema.
Inicialmente, quero fazer uma reflexão para não parecer que minha proposta peca por ingenuidade. Tenho consciência de que propor debates considerando o Outro como mais importante do que o Eu em nossa sociedade é um desafio. Vivemos em um ambiente no qual o que impera é exatamente o oposto: a valorização do Eu. A sociedade contemporânea é marcada pelo egocentrismo; apregoa-se uma filosofia de individualidade. Sobre esse assunto, Libâneo (2003, p. 7), faz a seguinte reflexão:
No campo ético, também ocorrem mudanças preocupantes. A padronização de hábitos de consumo e de gostos vai levando a uma vida moral também descartável. O individualismo e o egoísmo estão se acentuando. Valem mais os interesses pragmáticos e imediatos dos indivíduos do que princípios, valores, atitudes voltadas para a vida coletiva, para a solidariedade, para o respeito à vida.
Perde-se a cada dia a consideração pelo próximo, numa guerra
constante para se conquistar espaço. Essa disputa
pode ser percebida em distintas esferas sociais, seja na política com seus escândalos de corrupção; nas comunidades menos privilegiadas com o aumento crescente de jovens – e até crianças – inserindo-se no mundo do crime e das drogas; nas organizações públicas e privadas nas quais impera a competitividade, e até mesmo na instituição familiar, por meio da ausência de amor entre as pessoas.
Com efeito, como falar de valorização do Outro? Como discutir opções, neste caso, de ações institucionais de formação docente, que se fundamentem na inversão de valores, destacando o Outro como mais importante que o Eu? Tenho discernimento de que me arrisco em adentrar esse campo, mas guardo, também, a convicção de que a sociedade clama por um retorno da ética! E acredito que a Universidade, por meio da pesquisa científica, pode contribuir para oferecer respostas a esse clamor. Penso que, se cada um fizer a sua parte nesse resgate, por menor que seja a colaboração, certamente isso estabelecerá o diferente. É por esse motivo que, mesmo ciente da realidade ora ressaltada, ouso buscar subsídios para o debate acerca da necessidade de valorização do educando (Outro) e, quem sabe, deixar minha contribuição para possíveis transformações.
Esclareço, ainda, que, em momento algum, pretendi escrever um monólogo. Ao contrário, tencionei conversar sobre a trajetória de bacharéis em direção ao professorado e à sua constituição como educador na perspectiva levinasiana. Almejei o desenvolvimento de um texto que possuísse, também, elementos estéticos e poéticos capazes de provocar novos sentimentos no leitor e emoções que muitas vezes não se apresentam explicitamente nos textos de pesquisas científicas. Por isso, busco inspiração em versos e poesias. A utilização de poesias no decorrer do texto fundamenta-se no princípio da bricolagem científica⁵ estratégias narratológicas
, a qual permite o uso de gêneros literários.
Tive o intuito de discutir ideias, produzir conhecimentos e apontar outros caminhos, conversando com teóricos e docentes na busca constante de compreensão sobre como um profissional que buscou graduação específica para uma determinada área do mundo do trabalho e dos negócios, tais como: Administração, Economia, Contabilidade, Secretariado Executivo, entre outras áreas pode se tornar um educador no sentido levinasiano.
O estudo fundamenta-se na bricolagem científica, a qual considera que
todas as observações do mundo são moldadas, consciente ou inconscientemente, pela teoria social [...]. Como a teoria é um artefato cultural e linguístico, a interpretação do objeto de sua observação é inseparável da dinâmica histórica que a moldou. (Kincheloe, 2007, p. 16)
Na perspectiva da bricolagem, neste trabalho, o diálogo é constituído com origem em analogias, teorias e informações empíricas.
Para me acompanhar neste diálogo, escolhi a realização de analogias por meio da poesia. A sensibilidade que revigora a alma humana me inspirou para o desenvolvimento desta pesquisa, sem, no entanto, fugir ao rigor científico necessário à investigação. Convido o leitor ao desafio da imaginação, por meio da leitura deste texto, buscando entender os trechos citados em relação ao assunto que está sendo abordado, permeando-o com os seus sentimentos e interpretações. Feitas essas ponderações, prossigo esta introdução.
Desenvolvo uma discussão sobre os desafios do profissional bacharel que atua na docência universitária, buscando situá-lo como educador, à luz da filosofia levinasiana. A discussão acerca do professor como educador é suscitada por Alves (1980), ao ponderar que educador pode ser confundido com professor, assim como jequitibás com eucaliptos, e ao alertar para a noção de que não dá tudo no mesmo! Em suas palavras:
Uma vez cortada a floresta virgem, tudo muda. É bem verdade que é possível plantar eucaliptos, essa raça sem-vergonha que cresce depressa, para substituir as velhas árvores seculares que ninguém viu nascer nem plantou [...]. Que me entendam a analogia. Pode ser que educadores sejam confundidos com professores, da mesma forma como se pode dizer: jequitibá e eucalipto, não é tudo árvore, madeira? No final, não dá tudo no mesmo? (Alves, 1980, p. 12)
Nessa direção, Alves (1980) propõe uma distinção entre ser professor e ser educador. Na sua compreensão, o educador possui uma estória
a ser contada e habita em um mundo de relacionamentos que fazem um elo com os estudantes, os quais, por sua vez, possuem identidades e a própria estória
. A educação deve acontecer neste espaço que não se vê, mas é estipulado a dois. Por outro lado, o professor é habitante
[...] de um mundo diferente, onde o educador
pouco importa, pois o que interessa é um crédito
cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. (Alves, 1980, p. 12)
É com base nessa reflexão que inicio a apresentação da temática desta investigação, indagando: profissionais bacharéis em uma área específica podem ser considerados como profissionais educadores? E, ainda, educadores na perspectiva de valorização do Outro? Como formar o educador para a valorização do educando enquanto Outro?
A discussão ora desenvolvida parte da ideia de que não há exigência de formação pedagógica para a docência universitária. Nesse entendimento, profissionais das diversas áreas tornam-se docentes na Universidade sem o domínio de conhecimentos pedagógicos. Os docentes universitários oriundos de cursos da modalidade bacharelado não possuem esses conhecimentos, pois sua formação é voltada para o ingresso no mundo do trabalho e não na educação. Segundo Barros e Dias (2016, p. 65), a [...] ideia de que o docente bacharel necessita de conhecimentos pedagógicos é consenso entre os pesquisadores. O que se faz necessário aprofundar é a busca por possíveis soluções para essa problemática.
Além das lacunas relacionadas à ausência de preparação para a docência na educação superior, outro desafio que está no cerne das questões discutidas nesta investigação diz respeito à relação com o Outro, neste caso, o educando, considerando-se a importância da relação educador-educando. O cuidado com essa relação foi ressaltado por Freire (1987), quando discutiu a Pedagogia do oprimido, na qual o professor pode emergir como opressor e o aluno como oprimido, e defendeu a concepção de uma pedagogia para a liberdade, capaz de promover a abertura para outros horizontes fundamentados na diversidade cultural de cada um.
A atuação do educador, independentemente da maneira como lida com as diversas situações emergentes na sua relação com o educando, deixa cicatrizes as quais, provavelmente, o acompanharão por toda a vida. A esse respeito, Freire (1996, p. 73) argumenta:
O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca.
Em vista disso, compreendo que a formação pedagógica e, mais especificamente, para a educação superior, deve se preocupar com a relação entre o educador e o educando. Desenvolvo esta reflexão a partir da preocupação de uma relação com o Outro em sua alteridade, tendo como base a filosofia levinasiana, a qual consiste em respeitar o Outro como diferente e que deve permanecer em sua total