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Estimulação Precoce e Assessoria: Discursos em Cena
Estimulação Precoce e Assessoria: Discursos em Cena
Estimulação Precoce e Assessoria: Discursos em Cena
E-book452 páginas7 horas

Estimulação Precoce e Assessoria: Discursos em Cena

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Sobre este e-book

Esse livro digital é fruto de um projeto desenvolvido no curso de Pós-Graduação de Estimulação Precoce em Assessoria, em 2018-2020, idealizado e coordenado pela pedagoga em educação especial e psicanalista Dorisnei Jornada da Rosa, e os colaboradores Profª Drª Maira F. Brauner e Prof. Me. Francisco D. dos Santos Jr. ambos com larga experiência na formação interdisciplinar. O objetivo do curso foi capacitar profissionais da saúde e da educação, a exercerem a função de assessor na mediação entre as pequenas crianças em sofrimento psíquico e com problemas em seu desenvolvimento, suas famílias, as equipes clínicas e educacionais e a própria instituição de educação infantil, a partir da lógica e ética da psicanálise. Essa proposição se constitui, num paradigma implicado em aprender e construir novas possibilidades de práticas na intervenção precoce, em especial, nas escolas infantis. Constituímos o profissional, Assessor em Estimulação Precoce para gestão e assessoria nas políticas público-privadas. O e-book é a síntese do processo formativo, organizado em 18 artigos em forma de estudos, análises e reflexões teórico-práticas. Boa leitura.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento18 de dez. de 2020
ISBN9786599008870
Estimulação Precoce e Assessoria: Discursos em Cena

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    Estimulação Precoce e Assessoria - Dorisnei Jornada da Rosa

    ESTIMULAÇÃO PRECOCE E ASSESSORIA:

    DISCURSOS EM CENA

    ORGANIZADORA: DORISNEI JORNADA DA ROSA

    2020

    Imagem

    AGRADECIMENTOS

    Nossos agradecimentos inicialmente se destinam aos Professores Francisco Dutra dos Santos Júnior, Édson Felix, Luiz Fernando Ribeiro Morais e à Faculdade Sogipa, pois foram esses atores que se aventuraram nessa aposta simbólica, de fundar o primeiro curso de Pós-Graduação de Estimulação Precoce e Assessoria do Brasil.

    Um agradecimento especial aos professores da Pós-graduação pela aposta na transmissão da Psicanálise junto ao campo da Assessoria em Estimulação Precoce. São eles: Adriana Coltro, Alíssia Dornelles, Ana Paula Stahlschmidt, Dani Laura Peruzzolo, Daniela Feijó, Fabiana Brum Spilimbergo, Francisco Dutra dos Santos Júnior, Gabriela Araújo, Joana Bohmgahren, Luciana Loureiro, Luciane Susin, Maria Helena Fontana, Maira Fabiana Brauner, Milena Silva e Patrícia Roveda. À Maira Fabiana Brauner nosso muito obrigada pela dedicação e olhar cuidadoso aos nossos escritos neste e-book.

    E, com muito carinho, um agradecimento especial às escolas infantis Somai, Integração dos Anjos, Vovó Ida e São Guilherme, que nos acolheram para a realização das práticas de assessorias, e tanto nos inspiraram nesta trajetória. Por fim, um muito obrigada, aos valentes alunos que se aventuraram nas aulas de sábados e domingos, cujos efeitos formativos estão registrados na modalidade dos artigos que compõem este e-book. Registros que retratam suas trajetórias, projetos e sonhos, amarrados borromeanamente aos diferentes temas trabalhados ao longo do curso. Registros de uma caminhada transformada em livro.

    Escrever é uma arte. Pois aqui estão os nossos artistas, que juntos deram asas a nossos devaneios e criações, confirmando os passos que fizemos nesta linda jornada de Assessoria, e no trabalho em Estimulação Precoce com os bebês, suas famílias e seus educadores. Dois anos de estudos, tropeços, alegrias, projetos e uma escrita final, com a qual presenteamos nossos leitores.

    Dorisnei Jornada da Rosa

    Psicóloga; Psicanalista; Terapeuta em Estimulação Precoce; Assessora de Inclusão; Sócia fundadora da Clínica em Tempo: Membro da APPOA; Mestre pelo PPG Psicanálise: Clínica e Cultura da UFRGS; Integrante  do projeto O impacto da metodologia IRDI na prevenção de risco psíquico em crianças que frequentam educação infantil no seu primeiro ano e meio de vida realizado em Porto Alegre em escolas infantis, coordenado por Ferrari & Silva, 2016-2019/UFRGS; Coordenadora e professora do Pós-Graduação em Estimulação Precoce e Assessoria na Faculdade de

    PREFÁCIO

    Esse livro digital, fruto de um projeto constituído de sonhos e desafios, tem uma protagonista: a pedagoga em educação especial e psicanalista Dorisnei Jornada da Rosa. Com uma trajetória de 30 anos na Estimulação Precoce, tornou possível manter acesa a chama do olhar para os pequenos. Seus atos iniciais estabeleceram marcas de rupturas e de avanços, quando, amparada pela Estimulação Precoce, campo de conhecimento exclusivamente da ordem clínica, propôs duas chaves de abertura: o lugar na Educação e o acesso ao público. Mas seu principal desafio foi operar essas duas dimensões no escopo da Psicanálise. Fez isso sem nenhuma dúvida dessas possibilidades; mesmo com soslaios, acreditou que poderia acontecer. A partir dessa ordem, fez surgir uma outra, a constituição de uma política pública em Estimulação Precoce. Possibilitou às famílias sem condições de prover serviços privados o acesso a um atendimento especializado de excelência. Dorisnei tornou possível um conceito universal de EP desde o comunicado à família no hospital até a notícia da inclusão escolar na Educação Infantil. A origem do conceito de assessoria em Educação Precoce, a qual iniciava com o apoio no hospital – para bebês com questões em seu desenvolvimento e suas famílias – propunha continuidade do serviço de atendimento terapêutico das Escolas Especiais, dando conta de um paradigma: o da Inclusão Escolar. Tornou possível o viés da psicanálise na atenção aos bebês com sofrimento psíquico na concepção da Assessoria, assim como cunhou o paradigma da Educação Precoce, possibilitando novas perspectivas sobre o olhar dos educadores aos bebês.

    Dorisnei, depois desse acúmulo, se junta ao campo da pesquisa, com mestrado em Psicologia (UFRGS), durante o qual aprofunda esses conceitos. A partir dessa etapa, a psicanalista e professora Dorisnei percebe e propõe-se a um novo desafio: a formação de um curso que venha a dar conta desses preceitos. Uma especialização em Estimulação Precoce e Assessoria, com o objetivo de formar profissionais com perfil, identidade e atuação, a partir do viés da psicanálise, na intervenção com crianças pequenas em sofrimento psíquico. Essa proposição não constituiu apenas mais um curso de especialização, mas sim uma ruptura de paradigmas que implicaria em aprender e construir a real possibilidade de novas práticas de intervenção precoce, contemplando novos lugares como berçários e escolas infantis. Trata-se da corporificação de um profissional com expertise para gestão e assessoria nas presentes e futuras políticas públicas. O resultado desse projeto culmina com a produção deste livro digital, organizado como uma síntese do processo formativo dos muitos profissionais que fizeram parte dessa especialização. Na leitura de cada artigo será possível enxergar os preceitos cuidadosamente propostos e conduzidos pela mão da mestra Dorisnei Jornada da Rosa. Boa leitura.

    Prof. Me. Francisco Dutra dos Santos Jr.

    Pedagogo em Educação Especial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Formado em Psicologia Escolar também pela PUCRS, e em Estimulação Precoce pela Faculdade Católica de Medicina de Porto Alegre. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutorando em Informática na Educação (PPGIE-UFRGS).

    APRESENTAÇÃO

    Este e-book, o qual tenho a honra de apresentar, é efeito de um exercício de transmissão operado durante o curso de Pós-Graduação de Estimulação Precoce e Assessoria (2018-2020), cuja organização e coordenação ficou a cargo da Psicanalista e Psicóloga Dorisnei Jornada da Rosa e do Professor Francisco Dutra dos Santos Junior. Minha satisfação diz respeito a não apenas ter tido o prazer de compor a equipe docente do curso, mas a testemunhar, por um lado, a dedicação na condução de todo o processo, desde suas elaborações iniciais até a finalização do curso em janeiro/2020. Por outro lado, a testemunhar o desejo e a aposta de Dorisnei na potência da escola de Educação Infantil e de seus educadores, ou como Dorisnei denomina, na potência de uma Educação Estruturante, quando sustentada pelo tripé: cuidar, educar e ensinar. A esses, ela ainda acrescenta o desejar e o prevenir, quando no acolhimento das pequenas crianças, pequenos sujeitos desejantes, que apresentem problemas em seu desenvolvimento e/ou riscos de sofrimentos psíquicos.

    O e-book é efeito e consequência de toda essa aposta. Nos 18 artigos que o compõem, deparamo-nos com dois eixos comuns: 1) a potência do cuidar, educar e ensinar da Educação Infantil, não apenas nos processos pedagógicos, mas, para muito além deles, no processo de constituição psíquica das crianças de 0 a 3 anos de idade; 2) a lógica e a ética da psicanálise freudo-lacaniana na sustentação da condição desejante dos educadores e, em especial, do assessor no acolhimento, na intervenção e na prevenção dos riscos de sofrimentos psíquicos nas pequenas crianças da Educação Infantil. Pequenos sujeitos desejantes, que não nascem prontos, mas, ao contrário, dependem de um outro semelhante e do Outro da cultura para constituírem-se como tal. Em todos os artigos, encontraremos conceitos que são fundamentais para a psicanálise, assim como para uma psicanálise em extensão. Ou seja, uma psicanálise para além do espaço privado do consultório. Uma psicanálise que opera sua ética na instituição escolar, na formação dos educadores, no trabalho dos assessores junto às famílias e a seus bebês, e nas equipes interdisciplinares.

    Os 18 artigos estão agrupados em quatro partes, as quais abordarei a seguir, de forma talvez não tão breve. Na parte I, intitulada Onde tudo começa..., encontramos 5 textos, dentre os quais, e na ordem que se apresentam, o de Patrícia P. da Silva, que traça um caminho sustentado por uma escrita poética, emocionante e delicada, encantando o leitor com as relações que estabelece entre o parir suas produções, seja como mãe, seja como educadora. Ambas precisam ser construídas, e não sem dor. Para tanto, nos revela a complexidade e a importância do olhar, da escuta e do desejo, numa aposta constante nas pequenas crianças como sujeitos desejantes. Rosicler S. Pires apresenta uma cuidadosa revisão bibliográfica para refletir sobre a importância das políticas públicas inclusivas, em especial, na Rede Municipal de Porto Alegre (RME/POA), envolvendo tanto os serviços de Educação Precoce (EP), quanto da Psicopedagogia Inicial (PI) e do Atendimento Educacional Especializado/Sala de Integração e Recursos (AEE/SIR). Pires salienta os principais marcos legais constituintes de tais políticas, como também os atores responsáveis pela instituição dos distintos campos da EP, da PI e do AEE/SIR, no município de Porto Alegre. Dentre esses atores, Dorisnei Jornada da Rosa e Francisco Dutra dos Santos Junior. Visibilidade, inclusão e escuta sensível, sustentados pela ética da psicanálise, são elementos destacados pela autora em defesa dos direitos de ir e vir para todos os sujeitos, cidadãos da pólis.

    Cristina Pereira dos Santos, propõe ao leitor uma questão relativa ao papel do educador, da coordenação pedagógica e da assessoria de inclusão EP/PI, no processo de desenvolvimento dos bebês e das pequenas crianças. Tomando como paradigma a Educação Estruturante, proposta por Rosa, Santos traça um paralelo entre os espaços que recebiam bebês e pequenas crianças, denominados creches, jardins de infância, até as atuais escolas de Educação Infantil e a importância da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, e da Constituição Federal de 1988, nesse movimento. Cuidar, educar, ensinar e prevenir, são eixos que perpassam suas reflexões.

    No texto de Taís S. Masschmann encontramos um profundo e cuidadoso relato de experiência no trabalho de assessoria a uma escola infantil, no acompanhamento a uma pequena criança em cujo desenvolvimento algo não andava bem. A autora reflete sobre o papel da escola infantil como coadjuvante na avaliação e na detecção precoce dos problemas instrumentais e/ou estruturais apresentados pelas pequenas crianças, bem como a função da assessoria na mediação entre escola, educadores, famílias e bebês. Seu relato percorre um caminho que vai desde os interrogantes iniciais até os encaminhamentos finais propostos pela assessoria. O texto de Marilene de F. P. dos Santos propõe um interessante paralelo entre o conceito de função paterna (como o terceiro elemento que interdita as relações de engolfamento entre a criança e seus cuidadores, tal como proposto pela psicanálise freudo-lacaniana) e a função do assessor. Esse, assim tomado como um terceiro elemento – ou seja, como função paterna – junto às instituições e suas equipes de educação infantil, às famílias e aos pequenos sujeitos que apresentem problemas em seu desenvolvimento ou riscos de sofrimento psíquico. Em relação ao assessor, destaca as funções do olhar e da escuta, tensionando os sujeitos aprendentes, ensinantes e desejantes, assim como suas funções e posições na Educação Infantil.

    Na parte II do livro, intitulada O lugar do bebê e da pequena criança: a linguagem, a estruturação psíquica, a função materna e o surgimento de um sujeito, são apresentados quatro textos. No primeiro, Caroline C. da Silva, sustentada por uma cuidadosa revisão bibliográfica, constrói uma linha do tempo para discutir o conceito de infância no Brasil e no mundo, em relação às diferentes formas de organização e relações familiares, até o século XVIII, destacando as transformações ocorridas nas relações das famílias com suas crianças. Conceitos como cuidar e educar permeiam suas reflexões, bem como o tensionamento entre os valores de vida e de morte em relação aos cuidados com bebês e pequenas crianças. A Roda dos Expostos, as Leis brasileiras de cuidados e proteção às crianças e aos adolescentes, e o conceito de função materna, são discutidos à luz da psicanálise freudo-lacaniana por Silva, nesse belo e denso texto.

    Ana Paula de C. Marques, desenvolve com muita delicadeza o tema da função materna, utilizando relatos de caso extraídos da experiência clínica em Estimulação Precoce (EP). Seu foco situa-se sobre os dispositivos de Suposição de Sujeito (SS), Estabelecimento da Demanda (ED), Função Paterna (FP) e Presença e Ausência (PA) como elementos centrais no encontro mãe-bebê e na construção de um enlace de amor. Nessa direção, as funções de tradução e de interpretação realizadas pelo agente da função materna são fundantes e estruturantes para a constituição de um futuro sujeito de desejo. Para a autora, quando algo desses dispositivos não opera no encontro mãe-bebê, se faz necessária a ajuda clínica do estimulador precoce para remontagem desses laços e dispositivos.

    Partindo de uma revisão bibliográfica e de algumas vinhetas clínicas, Sabrina K. N. D da Silva discute o surgimento da linguagem nas crianças que estão em pleno processo de constituição psíquica. Para tanto, reflete sobre as relações e diferenças entre o comunicar, o compreender e o ser compreendido, donde prosódia e manhês são entendidos como recursos discursivos, ou seja, a voz, o desejo e a musicalidade. Esses, através do estabelecimento do circuito pulsional na relação mãe-bebê, enlaçam o simbólico no real do corpo da criança, inscrevendo-a no universo simbólico da linguagem como ser falante e desejante. Também para Lisiane R. de Lima, o tema da prosódia e do manhês constituíram pontos de investimento e de reflexão. Lima parte de uma profunda e extensa revisão bibliográfica, circulando por diferentes autores do campo psicanalítico: Freud, Lacan, Winnicott (entre outros) para pensar as relações mãe-bebê. Circuito pulsional, função materna, grande outro (Outro) são elementos fundamentais da psicanálise, como também as operações de antecipação e de alienação, que a autora destaca para refletir sobre o processo de constituição psíquica de um bebê, na condição de um sujeito de desejo.

    A parte III, intitulada "O terapeuta em Estimulação Precoce e suas interlocuções interdisciplinares, compõe-se por quatro textos. A começar pelo de Bruna da S. Ferreira, que desenvolve a ideia do terapeuta único" como paradigmática do campo da Estimulação Precoce, no atendimento aos bebês de 0 a 3 anos de idade e seus pais. A autora parte de uma intensa revisão bibliográfica para destacar, sob uma perspectiva histórica, o surgimento do campo da Estimulação Precoce, bem como a especificidade do terapeuta único. Define o campo da EP de acordo com os pressupostos da psicanálise freudo-lacaniana, refletindo sobre seus principais conceitos: aspectos estruturais e instrumentais do desenvolvimento, circuito pulsional, o olhar, Fort-Da, o brincar, para citar alguns. Em meio à quantidade de diagnósticos, intervenções, suplências às quais uma criança é submetida, a autora faz uma importante interrogação: "[...] em que momento ela [a criança] é criança?". Questões relativas ao trabalho terapêutico da Estimulação Precoce também são discutidas no texto de Fernanda Momberger, destacando a intervenção do terapeuta em relação ao exercício das funções parentais. Partindo de uma perspectiva histórica, a autora apresenta a origem e tensiona a nomeação do campo da Estimulação Precoce, discutindo seus termos: estimulação e precoce. Para tanto, busca sustentação nos pressupostos teóricos do campo psicanalítico para refletir, com profundidade, a complexa e delicada função do estimulador precoce no processo de constituição do pequeno sujeito de desejo. Emprestar corpo, desejo e palavras até, pouco a pouco, os pais poderem retomar suas funções parentais no laço com seu bebê.

    Aprendemos com Freud (1920), no texto Além do Princípio do Prazer que uma criança brinca ativamente do que sofre passivamente. Portanto, as crianças nunca brincam de qualquer coisa. Nathalli S. Dewes, em seu texto, possibilita ao leitor um mergulho na lógica do brincar e seus efeitos constitutivos e estruturantes sobre os processos de subjetivação do pequeno sujeito a advir. Destaca as funções do terapeuta em Estimulação Precoce, situando o brincar não como um simples recurso, mas como um dispositivo e um operador clínico no processo terapêutico das pequenas crianças. Através da descrição de diferentes brincadeiras, constrói uma consistente rede teórica entre os pressupostos freudo-lacanianos e os jogos constituintes do sujeito para refletir os efeitos do brincar sobre o processo de constituição psíquica dos pequenos sujeitos da Estimulação Precoce.

    O manhês e seus efeitos na subjetividade do bebê, foi o tema elencado também por Liane F. da Silva para a construção de seu texto. Para tanto, a autora busca, em um recorte clínico sobre as relações estabelecidas entre uma jovem mãe e seu bebê, os elementos para sua reflexão. Sustentada por pressupostos da psicanálise, a autora destaca a prosódia na voz materna e seus efeitos de encantamento sobre o bebê, produzindo os enlaces necessários na relação mãe-bebê, para a efetividade do processo de constituição psíquica e de subjetivação nos pequenos sujeitos a advir.

    Na quarta e última parte do e-book, intitulada As perguntas dos especialistas e sua articulação com a psicanálise: isto é possível? encontramos cinco trabalhos, cujos temas circulam pela importância, necessidade e centralidade do trabalho interdisciplinar no campo da Estimulação Precoce. Aline Furlanetto constrói uma importante interrogação sobre a especificidade do trabalho da fisioterapia em uma equipe de Estimulação Precoce. Para tanto, faz uma cuidadosa pesquisa bibliográfica, tensionando os conceitos da fisioterapia clássica e sua técnica com os pressupostos da psicanálise, numa tentativa de fazer furo em um saber constituído acerca da relação organismo biológico X corpo subjetivado. Em suas reflexões, a autora oferece um importante testemunho dos efeitos do curso sobre sua formação como fisioterapeuta, quando deixa transparecer que não se trata de negar a especificidade da fisioterapia, ao contrário, é deixá-la ser atravessada pelo desejo inconsciente e pela ética da psicanálise, tomando o pequeno sujeito da estimulação precoce não como um corpo a ser consertado, mas como o corpo de um sujeito de desejo.

    Maureen Koch apresenta uma importante reflexão, relativa à existência ou não de interlocução entre a fisioterapia e a psicanálise, no campo da Estimulação Precoce. Trata-se de uma pesquisa caracterizada como revisão integrativa, na qual procura articular esses dois grandes campos de atuação. Para tanto, buscou artigos científicos dos últimos 10 anos, cujo resultado indica que, apesar de todos os 15 artigos encontrados destacarem o quanto a fisioterapia considera como importante o trabalho com os pais e o bebê na cena terapêutica, apenas dois deles fizeram articulação com a psicanálise, tratando não apenas a patologia e as disfunções orgânicas do bebê, mas reconhecendo a dimensão do inconsciente e entendendo esse bebê como um sujeito de desejo. Conclui a autora que ainda há um caminho grande a ser percorrido para uma efetiva articulação entre a fisioterapia e a psicanálise, estabelecendo uma necessária e verdadeira interdisciplinaridade no trabalho com os pequenos sujeitos desejantes da Estimulação Precoce.

    A fonoaudiologia no campo da Estimulação Precoce é discutida no texto de Mayara A. Szortika. Partindo de uma linha do tempo, a autora indica a fonoaudiologia como um campo ainda muito recente no Brasil. Introduzida pelo campo da medicina como profilaxia aos erros de linguagem apresentados pelos estudantes, sua aproximação com a psicanálise toma forma a partir da proposição lacaniana, na qual o inconsciente é estruturado como uma linguagem, ou seja, o inconsciente é causa da linguagem. Assim, linguística, linguagem e fala, discursos e desejos inconscientes. Desejos que inscrevem o bebê como sujeito no campo da linguagem e linguagem que antecede o nascimento do bebê são os elementos refletidos por Szortika nesse importante e consistente trabalho. Assim enlaça, numa própria interdisciplinaridade, a Fonoaudiologia e a Psicanálise ao campo da Estimulação Precoce especialmente no trabalho com o infans, aquele que ainda não fala, mas que já existe na linguagem.

    Os últimos dois textos fazem referência ao trabalho da Estimulação Precoce junto ao bebê prematuro. Maristela R. Garcia interroga-se sobre a importância da preservação das relações mãe-bebê no interior das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatais. A autora parte de uma acurada pesquisa bibliográfica e de fragmentos de casos para pensar os cuidados oferecidos nas UTIs, bem como o amparo legal oferecido às crianças e suas famílias para que as mães possam estar com seus bebês prematuros durante o tempo de internação no hospital. Vários estudos destacam a importância da presença das mães nas UTIs em relação ao tempo de recuperação e de alta dos pequenos bebês. No entanto, nem todos os hospitais oferecem esse cuidado. Na leitura do texto de Garcia, podemos refletir se o problema maior está nos nascimentos prematuros ou nas separações prematuras, uma vez que tais separações inviabilizam ou dificultam a construção dos laços entre a mãe e seu bebê, interferindo no processo de constituição psíquica dos pequenos bebês que nascem antes do tempo. Nesse contexto, destaca a especificidade do trabalho da Estimulação Precoce em Unidades de Tratamento Intensivo neonatais. E para finalizar, Nátali C. D. Pfluck centra seu interesse no acompanhamento de bebês prematuros pelos serviços de Atenção Básica, tal como preconizado pela políticas públicas do Sistema Único de Saúde/SUS, com o objetivo de averiguar quais as estratégias e instrumentos utilizados pelo sistema para monitoramento e avaliação de problemas do desenvolvimento, em especial de riscos psíquicos em bebês prematuros. Sua rigorosa pesquisa, caracterizada como uma revisão sistemática de literatura, indica, por um lado, a precariedade e a escassez de pesquisas científicas sobre o monitoramento do desenvolvimento e os instrumentos para detecção de riscos psíquicos em prematuros, sendo que a Caderneta de Saúde da Criança/CSC ainda permanece como o instrumento mais referido para registro de dados referentes ao desenvolvimento infantil na Atenção Básica. Por outro lado, aponta a necessidade de ações de educação e formação permanente aos profissionais da saúde que atendem a primeira infância.

    Bem, sem mais delongas, esperamos que essas leituras não fechem certezas, mas relancem, a cada um dos leitores, novas trajetórias, novas interrogações, situando nossos pequenos sujeitos da Estimulação Precoce como os protagonistas das cenas e de nossos investimentos.

    A todos e todas, uma boa leitura.

    Maira Fabiana Brauner

    Psicóloga. Psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA). Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Psicomotricista. Assessora de Educação e Coordenadora da Clínica em Tempo. Email: mfbrauner@gmail.com

    SUMÁRIO

    AGRADECIMENTOS

    PREFÁCIO

    APRESENTAÇÃO

    INTRODUÇÃO

    PARTE I - ASSESSORIA EM ESTIMULAÇÃO PRECOCE: ONDE TUDO COMEÇA

    O OLHAR PEDAGÓGICO E O OLHAR SUBJETIVO NO TRABALHO COM AS PEQUENAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

    Patrícia Paiva da Silva

    Maira Fabiana Brauner

    A EDUCAÇÃO PRECOCE, A PSICOPEDAGOGIA INICIAL E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO COMO ESPAÇOS DE ESCUTA

    Rosicler Schultze Pires

    Francisco Dutra dos Santos Junior

    A POTÊNCIA INTERDISCIPLINAR E A FUNÇÃO ESTRUTURANTE DA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA OS BEBÊS.

    Cristina Pereira dos Santos

    Dorisnei Jornada da Rosa

    A CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE SOFRIMENTO PSÍQUICO NO AMBIENTE ESCOLAR E O PAPEL DA ASSESSORIA EM ESTIMULAÇÃO PRECOCE: Um relato de experiência

    Taís Schwanck Masschmann

    Dani Laura Peruzzolo

    ASSESSORIA: importância e desafios na mediação com a equipe interdisciplinar

    Marilene de Fátima Pacheco dos Santos

    Maira Fabiana Brauner

    PARTE II - O LUGAR DO BEBÊ E DA CRIANÇA PEQUENA: A LINGUAGEM, A ESTRUTURAÇÃO PSÍQUICA, A FUNÇÃO MATERNA E O SURGIMENTO DE UM SUJEITO

    O LUGAR SOCIAL DA CRIANÇA NAS RELAÇÕES FAMILIARES E A FUNÇÃO MATERNA NO CONTEXTO HISTÓRICO.

    Caroline Carvalho da Silva

    Ana Paula Melchiors Stahlschmidt

    FUNÇÃO MATERNA: sempre um enlace de amor.

    Ana Paula da Conceição Marques

    Luciana Leiria Loureiro

    O SURGIMENTO DA LINGUAGEM EM MEIO AO DESENVOLVIMENTO CONSTITUINTE DO SUJEITO

    Sabrina Krohm Nunes Duarte da Silva

    Luciana Leiria Loureiro

    O MANHÊS ENQUANTO PROSÓDIA CONSTITUINTE NA ESTRUTURAÇÃO PSÍQUICA DO BEBÊ.

    Lisiane Rosa de Lima

    Ana Paula Melchiors Stahlschmidt

    PARTE III - AS PERGUNTAS DOS ESPECIALISTAS E SUA ARTICULAÇÃO COM A PSICANÁLISE: ISTO É POSSÍVEL?

    O TERAPEUTA ÚNICO EM ESTIMULAÇÃO PRECOCE.

    Bruna da Silva Ferreira

    Luciane Susin

    O TRABALHO TERAPÊUTICO EM ESTIMULAÇÃO PRECOCE: pais e terapeuta na constituição do sujeito.

    Fernanda Momberger

    Luciane Susin

    ESTIMULAÇÃO PRECOCE – Que brincar é esse? Um enfoque sobre os jogos constituintes do sujeito.

    Nathalli Schwartzhaupt Dewes

    Maira Fabiana Brauner

    O MANHÊS: um enlace fundador na subjetividade do bebê

    Liane Felipe da Silva

    Dorisnei Jornada da Rosa

    COMO É O TRABALHO DA FISIOTERAPIA EM UMA EQUIPE DE ESTIMULAÇÃO PRECOCE

    Aline Furlanetto

    Maira Fabiana Brauner

    A ESTIMULAÇÃO PRECOCE COMO PROPOSTA INTERDISCIPLINAR PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL: há a interlocução da Fisioterapia com a Psicanálise?

    Maureen Koch

    Joana Martins Costa Bohmgahren

    ESTIMULAÇÃO DE LINGUAGEM NA CLÍNICA FONOAUDIOLÓGICA: instrumental ou estrutural?.

    Mayara Almeida Szortika

    Daniela Feijó

    A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO MÃE-BEBÊ DENTRO DA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL.

    Maristela Rodrigues Garcia

    Milena da Rosa Silva

    IDENTIFICAÇÃO DE RISCO PSÍQUICO EM BEBÊS PREMATUROS ACOMPANHADOS NA ATENÇÃO BÁSICA: revisão sistemática de literatura.

    Nátali Carina Dolvitsch Pfluck

    Dani Laura Peruzzolo

    INTRODUÇÃO

    O que é um bebê ou uma criança pequena com problemas em seu desenvolvimento ou sofrimentos psíquicos?

    De que ele necessita para ser sujeito?

    Necessário o desejo do Outro Primordial e do laço com seus cuidadores primordiais...

    Laço este que requer encantamento e cuidado.

    Acrescento: Ele também requer enlaçamento com seus educadores.

    E seus educadores?

    Necessitam que o escutem:  para tal, há de vir o Assessor  EP/PI.

    Isto é interdisciplinaridade

    Este é um dos caminhos simbólicos a se percorrer e ofertar na construção do devir subjetivo de um bebê.

    O laço com o Outro.

    Será esta a chamada educação estruturante?

    Dorisnei Jornada da Rosa

    Na nossa realidade atual, deparamo-nos com as perguntas: os educadores fazem parte da constituição psíquica de um bebê? Será que eles podem produzir um trabalho educativo enlaçando cuidar, desejar e educar com aqueles que apresentam problemas em seu desenvolvimento e desconexões psíquicas? E quem os ajudará nessa tarefa de estruturação, a fim de incluir os bebês com questões em seu desenvolvimento no laço educativo e no coletivo de berçários e maternais?

    Este livro digital é efeito de uma jornada e da transmissão de um trabalho com alunos do primeiro curso de Pós-Graduação em nível de especialização em Estimulação Precoce e Assessoria da Faculdade SOGIPA (2018-2019). Esse curso traduz a realização de um sonho do professor Francisco Dutra e meu, ao entendermos que a prática pública - da assessoria EP/PI/SMED (Serviço de Educação Precoce e Psicopedagogia Inicial da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre) – realizada em Porto Alegre de 1990-2020 poderia ser levada ao âmbito privado das APAES (Associação de Pais e amigos dos excepcionais), Centros de Estimulação Precoce e equipes de Estimulação Precoce no Brasil todo. Considero que ao sermos terapeutas em Estimulação Precoce, seja no âmbito privado ou público, a assessoria aos profissionais da educação infantil tem de ser um dos enlaces no trabalho interdisciplinar (MARIOTTO, 2009) realizado nas escolas.

    Denomino Educação Estruturante (ROSA, 2019) o trabalho de assessoria que um terapeuta em Estimulação Precoce deve realizar junto aos educadores da educação infantil ao singularizar o olhar para o bebê e suas questões estruturais e instrumentais (CORIAT; JERUSALINSKY, 1999). Na minha prática de 25 anos de assessoria EP/PI/SMED, deparei-me com questões relativas à prevenção - enquanto intervenção na construção, retorno pulsional e aberturas do campo da constituição de um sujeito. Porém, não como algo de prevenir patologias, mas sim de intervir, junto à educação infantil e às equipes de saúde, no devir de um bebê que apresentasse questões em seu desenvolvimento.

    Para tal, o paradigma da Educação Estruturante (ROSA, 2019) ajudou a singularizar o olhar e a intervenção com bebês que necessitem desse trabalho. A aposta é que, aos poucos, o bebê possa estar incluído no desejo não-anônimo do educador. Assim, acreditamos que poderá abrir-se aí um caminho de retorno pulsional e retomada de desenvolvimento desse bebê. Nesse caminho, este curso de Pós-Graduação e seus professores propuseram que o assessorar, educar e cuidar fossem tomados como faces moebianas (MARIOTTO, 2009) no trabalho educativo e terapêutico da formação de terapeutas e assessores em Estimulação Precoce.

    Nesse sentido, convido-os a lerem estes escritos, produzidos pelos alunos da Pós-Graduação a partir de suas próprias e singulares leituras e projeções frente ao que lhes foi transmitido como importante para suas práticas e atuações nos campos da Assessoria, relativo ao trabalho terapêutico da Estimulação Precoce junto aos bebês e seus cuidadores. Trabalho esse sustentado pela ética da Psicanálise na aposta de um devir dos pequenos sujeitos desejantes da Educação Infantil.

    Dorisnei Jornada da Rosa

    Psicóloga. Psicanalista, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA). Terapeuta em Estimulação Precoce, Assessora de Educação e Coordenadora da Clínica em Tempo. E-mail: dorisneijornada@yahoo.com.br.

    PARTE I - ASSESSORIA EM ESTIMULAÇÃO PRECOCE: ONDE TUDO COMEÇA...

    O OLHAR PEDAGÓGICO E O OLHAR SUBJETIVO NO TRABALHO COM AS PEQUENAS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

    Patrícia Paiva da Silva ¹

    Maira Fabiana Brauner ²

    RESUMO

    O presente estudo parte de uma pesquisa bibliográfica articulada ao relato de experiência como professora da Educação Infantil. Tem por objetivo abordar a importância da interlocução do olhar pedagógico e do olhar subjetivo dos educadores para com as pequenas crianças da Educação Infantil. Debruçando-se sobre as reflexões de diferentes autores que discorrem sob o viés da teoria psicanalítica que serviu como pilar para o desenvolvimento e desdobramento do trabalho na Estimulação Precoce ao qual o curso se propôs. Tendo em vista que esta etapa da Educação se dedica ao atendimento de crianças em sua mais tenra idade, faz-se necessário lançar sobre elas um olhar cuidadoso e respeitoso, pois são pequenos sujeitos em formação. Concluiu-se que o olhar pedagógico e o olhar subjetivo constituem interfaces essenciais ao trabalho com as pequenas crianças da Educação Infantil, local no qual, se cuida educando e se educa cuidando, desta forma contribuindo para que estas pequenas crianças construam memórias felizes do local no qual passarão boa parte da sua infância.

    PALAVRAS-CHAVE: Olhar pedagógico; Olhar subjetivo; Educação Infantil; Pequenas crianças.

    ABSTRACT

    This study is based on a bibliographic research linked to the experience report as a teacher of Early Childhood Education. It aims to address the importance of interlocuting the pedagogical view and the subjective view of educators towards small children in Early Childhood Education. Focusing on the reflections of different authors who discuss under the bias of psychoanalytic theory that served as a pillar for the development and unfolding of the work in Early Stimulation to which the course proposed. Bearing in mind that this stage of Education is dedicated to the care of children at their youngest age, it is necessary to give them a careful and respectful look, as they are small subjects in training. It was concluded that the pedagogical look and the subjective look are essential interfaces to the work with the small children of Early Childhood

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