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Inconfidência Carnavalesca
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E-book337 páginas4 horas

Inconfidência Carnavalesca

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Sobre este e-book

Depois do violento trauma que o país vivenciou com o impeachment da ex-presidenta, Sra.D., e o desnudamento do processo que levou ao golpe, ficava cada vez mais evidente que aquelas "forças ocultas", que derrubaram o ex-presidente Jânio Quadros, estavam mais ativas do que nunca no Brasil. O legado que o embaixador estadunidense Lincoln Gordon deixou em como se organizar um golpe no país foi assimilado por vários simpatizantes do Big Brother, e agora estava sendo colocado em prática. Assim, muito claramente, antigos pensamentos que levaram a classe média às ruas para protestar na década de 1960, agora estavam revestidos de novas estampas para satisfazer seu conservadorismo kitsch. Zuenir Ventura disse que "1968 foi um ano que não terminou" e, muito provavelmente, 2018 se inicia com cara de que seguirá para além dos dozes meses tradicionais...
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de dez. de 2020
ISBN9786586178340
Inconfidência Carnavalesca

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    Inconfidência Carnavalesca - Renatho Costa

    CAPA_EPUB.jpg

    INCONFIDÊNCIA

    CARNAVALESCA

    RENATHO COSTA

    São Paulo, 2020

    soul-logo-mah-2_pb

    Título original em Português: Inconfidência Carnavalesca

    Copyright © 2020 by Renatho Costa

    Todos os direitos reservados: proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo eletrônico, especialmente por sistemas gráficos, assim como traduzida, sem autorização, por escrito, do autor. A violação dos Direitos do Autor é crime, mediante a Lei dos Direitos Autorais nº 9.610/98.

    Diretor Editorial: Peterson Magalhães

    Editor-chefe: Silvio Alexandre

    Assistente Editorial: Camile Chaves

    Revisão: Luisa Bruno - Revisão e Etc.

    Ilustração mestre-sala e porta-bandeira: Fabiano Cabral Pinto

    Diagramação e Capa: Regina Blandon Tubarão

    Comunicação com Autores: Chris Donizete

    Soul Editora

    Rua Conceição da Barra, 67 – Jardim São Paulo

    Sede própria – CEP 02039-030 – São Paulo - SP

    E-mail: publisher1@souleditora.com.br

    www.souleditora.com.br

    Telefone: (11) 2952-6092

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Ponto de Acesso – CRB)

    C837i

    Costa, Renatho

    Inconfidência Carnavalesca / Renatho Costa. - São Paulo, SP : Soul, 2020.

    322 p. ; 14cm x 21cm.

    ISBN: 978-65-86178-36-4 (Impresso)

    ISBN: 978-65-86178-34-0 (Digital)

    1. Política. 2. Impeachment. 3. Histórias políticas - Brasil. I. Título.

    2020-2228

    CDD 320

    CDU 32

    Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Política 320

    2. Política 32

    Para minha mãe, Sofia (in memoriam)

    Grândola, vila morena

    Terra da fraternidade

    O povo é quem mais ordena

    Dentro de ti, ó cidade

    Dentro de ti, ó cidade

    O povo é quem mais ordena

    Terra da fraternidade

    Grândola, vila morena

    Em cada esquina um amigo

    Em cada rosto igualdade

    Grândola, vila morena

    Terra da fraternidade

    Terra da fraternidade

    Grândola, vila morena

    Em cada rosto igualdade

    O povo é quem mais ordena

    À sombra duma azinheira

    Que já não sabia a idade

    Jurei ter por companheira

    Grândola a tua vontade

    Grândola a tua vontade

    Jurei ter por companheira

    À sombra duma azinheira

    Que já não sabia a idade

    (Zeca Afonso, Grândola, Vila Morena)

    Una mattina mi son’ svegliato

    O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

    Una mattina mi son’ svegliato

    E ho trovato l’invasor

    O partigiano, portami via

    O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

    O partigiano, portami via

    Ché mi sento di morir

    E se io muoio da partigiano

    O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

    E se io muoio da partigiano

    Tu mi devi seppellir

    E seppellire lassù in montagna

    O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

    E seppellire lassù in montagna

    Sotto l’ombra di un bel fior

    Tutte le genti che passeranno

    O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

    Tutte le genti che passeranno

    Mi diranno: Che bel fior

    E quest’ è il fiore del partigiano

    O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

    E quest’è il fiore del partigiano

    Morto per la libertà

    E quest’è il fiore del partigiano

    Morto per la libertà

    (Autor desconhecido, Bella Ciao)

    Sumário

    BRASIL

    BRASÍLIA | Sexta-feira, 13h06

    RIO DE JANEIRO | Sexta-feira, 22h37

    FLASHBACK

    BRASÍLIA | Sexta-feira, 22h43

    SÃO PAULO | Sábado, 01h03

    RIO DE JANEIRO | Sábado, 06h02

    SÃO PAULO | Sábado, 10h16

    BRASÍLIA | Sábado, 10h32

    RIO DE JANEIRO | Sábado, 16h22

    SÃO PAULO | Sábado, 19h01

    RIO DE JANEIRO | Sábado, 19h02

    BRASÍLIA | Sábado, 20h48

    SÃO PAULO | Sábado, 21h00

    RIO DE JANEIRO | Sábado, 23h21

    SALVADOR | Sábado, 23h44

    RIO DE JANEIRO | Domingo, 01h46

    SÃO PAULO | Domingo, 10h03

    BRASIL | Domingo, 12h02

    SÃO PAULO | Domingo, 14h44

    SÃO PAULO | Domingo, 16h31

    SÃO PAULO | Domingo, 18h32

    SÃO PAULO | Domingo, 19h43

    SÃO PAULO | Domingo, 19h57

    RIO DE JANEIRO | Domingo, 19h58

    RIO DE JANEIRO | Domingo, 21h38

    RIO DE JANEIRO | Domingo, 22h02

    SÃO PAULO | Segunda-feira, 02h49

    RIO DE JANEIRO | Segunda-feira, 05h49

    BRASÍLIA | Segunda-feira, 08h24

    RIO DE JANEIRO | Segunda-feira, 09h21

    RIO DE JANEIRO | Segunda-feira, 11h39

    RIO DE JANEIRO | Segunda-feira, 11h59

    APARECIDA | Segunda-feira, 13h37

    PETRÓPOLIS | Segunda-feira, 19h46

    RIO DE JANEIRO | Segunda-feira, 19h47

    RECIFE | Segunda-feira, 20h00

    PORTO ALEGRE, | Segunda-feira, 20h01

    RIO DE JANEIRO | Segunda-feira, 23h57

    BRASÍLIA | Segunda-feira, 23h59

    RIO DE JANEIRO | Terça-feira, 00h38

    RIO DE JANEIRO | Terça-feira, 00h39

    RIO DE JANEIRO | Terça-feira, 01h19

    RIO DE JANEIRO | Terça-feira, 02h39

    BRASÍLIA | Terça-feira, 04h54

    SALVADOR | Terça-feira, 5h16

    BRASIL | Terça-feira, 05h17

    BRASÍLIA | Terça-feira, 07h13

    RIO DE JANEIRO | Terça-feira, 08h00

    BRASÍLIA | Terça-feira, 10h00

    RIO DE JANEIRO | Quarta-feira, 16h21

    RIO DE JANEIRO | Quarta-feira, 15h44

    BRASIL

    No final de 2017, o importante intelectual brasileiro, Antônio Pessoa, lançou seu vigésimo sétimo livro com o provocativo título Alguma coisa precisa ser feita, senão.... Ele, e uma parcela substancial da população brasileira, pensava da mesma maneira, mas não sabia exatamente o que fazer para recuperar o país. Talvez não tivesse mesmo condições para se articular. A problematização sobre as condições que o país vivia era um dos grandes méritos da publicação de Pessoa, pois, sem rebuscamentos de linguagem, ou tentativas de pesar a mão em um ou outro tema, tudo ali era fato comprovado e... assustador. Ninguém tinha desnudado o país daquela maneira até então.

    O livro se tornou um best-seller, mas passou a ser criticado ferozmente pela Direita – a mesma que controlava o Estado e colocava em prática um processo de reversão de quase 15 anos de ganhos sociais. Essa década e meia se converteu num período memorável, pois, pela primeira vez na história, as classes menos privilegiadas conseguiram alcançar o direito à cidadania. No entanto, para muitos, apesar de os dados expostos no livro poderem ser facilmente confirmados, o momento de seu lançamento era entendido como preocupante. Nos bastidores do poder, dizia-se que Antônio Pessoa estava acendendo o pavio da dinamite. Complementavam dizendo que o livro era um inquestionável convite à revolução.

    Talvez até esses senhores do poder tivessem razão, pois, apesar de sequer a palavra revolução ser utilizada no livro, a maneira como é explicitada a estrutura do poder no Brasil e quem o detém, simplesmente apontava para a necessidade de criar algum mecanismo para revertê-lo. Antônio Pessoa assinalava que o ano de 2018 seria inflamável, de acordo com suas próprias palavras, mas ele não chegou a vivenciar o que aconteceria nesse ano, pois, em 07 de dezembro de 2017, um dia antes de viajar à Argélia para lançar a versão francesa de seu livro, ele foi encontrado morto em seu apartamento. Causa da morte: infarto fulminante.

    Não houve, na mídia tradicional, quem questionasse as circunstâncias de sua morte, no entanto, a família de Antônio alegava que ele nunca teve qualquer problema cardíaco e era uma pessoa que cuidava muito bem de sua saúde. Com 51 anos, não aparentava ter mais de 40. Apesar da pouca idade para alcançar o reconhecimento, era reverenciado por colegas devido à qualidade de suas obras e pela capacidade de se comunicar tanto com intelectuais, quanto com a população mais simples.

    Na mídia alternativa, a morte do intelectual era entendida como uma tentativa de calar qualquer um que tentasse reverter o processo político que estava em curso. Notoriamente, era uma mensagem clara de que não seriam aceitas críticas ou tentativas de difamação das lideranças políticas, e mais, que tudo seria feito para manter a ordem no país, como a Direita gostava de salientar.

    Antônio Pessoa não era o único contestador do regime que havia morrido recentemente no Brasil. Além de ministros que se opuseram indiretamente ao golpe em curso, muitas pessoas que poderiam implicar políticos, empresários e banqueiros na grande conspiração, que levou ao golpe legislativo-judiciário-midiático, vinham sofrendo as consequências. No estudo do jornalista Ricardo Peixoto, publicado em seu blog no início de dezembro, foram listados os nomes de mais de 100 pessoas que morreram a partir de 2013 e que estavam vinculadas à alguma falcatrua. Peixoto deixava entender que se tratava, evidentemente, de queima de arquivo, ou seja, a Direita, para se preservar, começou a matar não somente quem era contra sua maneira de pensar e agir, mas qualquer um que pudesse comprometê-la, mesmo quem tivesse ajudado a chegar ao poder. Alguns poderiam dizer que esse era o entendimento peculiar da Direita sobre cortar na própria carne!

    Frente à essa tensão, o Brasil, no início de 2018, apesar da pseudonormalidade de sua democracia, apresentava indícios de que algo aconteceria, seja para guinar definitivamente o país à Direita, ou restaurar a ordem política e social. Mesmo nos menores detalhes, e que pareciam até ingênuos, o caminho parecia sem volta. O país dos togados, como Pessoa destacava em outro de seus livros, não mais estava seguro por sua Constituição, pois, em 2017, ela sofreu tantas alterações, que até detalhes simplórios futuramente fariam diferença.

    Um dos aspectos que tinha sido alterado era a data para se iniciarem as campanhas. O STF entendeu, após ser consultado pelo partido do presidente que ocupava o cargo depois do golpe, que não haveria mais prazos para se iniciarem campanhas eleitorais e elas poderiam ser feitas normalmente pelo país a qualquer momento. O único prazo mantido foi para o tradicional horário eleitoral gratuito, conforme já dispunha a lei. A partir de então, se algum candidato quisesse comprar horários para dar entrevistas, ou se algum canal quisesse convidá-lo para falar de sua vida e projetos, segundo as novas diretrizes, não haveria problema. Para os ministros do STF, não estaria em jogo o poder econômico dos candidatos – afinal, nos Estados Unidos é assim –, tratava-se da democracia e o liberalismo em sua plenitude.

    Assim, com essa novidade e outras que gradualmente foram revelando sua razão de ser, o Brasil entrou em 2018 com uma campanha eleitoral em curso. Não se parecia com nenhuma das anteriores, nem mesmo com a eleição de 2014, considerada a mais polarizada da história e que elegeu a presidenta que sofreu o golpe em 2016.

    Depois do violento trauma que o país vivenciou com o impeachment da ex-presidenta, Sra. D., e o desnudamento do processo que levou ao golpe, ficava cada vez mais evidente que aquelas forças ocultas, que derrubaram o ex-presidente Jânio Quadros, estavam mais ativas do que nunca no Brasil. O legado que o embaixador estadunidense Lincoln Gordon deixou em como se organizar um golpe no país foi assimilado por vários simpatizantes do Big Brother, e agora estava sendo colocado em prática. Assim, muito claramente, antigos pensamentos que levaram a classe média às ruas para protestar na década de 1960, agora estavam revestidos de novas estampas para satisfazer seu conservadorismo kitsch.

    Zuenir Ventura disse que 1968 foi um ano que não terminou e, muito provavelmente, 2018 se inicia com cara de que seguirá para além dos dozes meses tradicionais...

    BRASÍLIA | Sexta-feira, 13h06

    O general e Ministro da Defesa, João Santiago Pires, está reunido em seu gabinete com os também generais, Hermeto Bacal e Lauro Nascimento e Silva. Todos estavam fora de Brasília para aproveitar o feriado de carnaval, mas depois dos recentes acontecimentos pós-debate eleitoral de quinta-feira, a reunião se tornou inevitável para o futuro do país e deles próprios.

    Além do caos pós-debate, o plano dos militares não está transcorrendo como pretendiam e mesmo utilizando meios altamente questionáveis, as últimas pesquisas de opinião de voto apontam que o candidato Luís Varella continua como o preferido da população e tem 59% das intenções de voto, contra 8% do candidato apoiado pelos conservadores de Direita, Mário Cândido Alves, ou simplesmente MCA.

    Santiago Pires, pressentindo a cobrança que viria de seus pares, caso não consiga eleger aquele que foi escolhido por ele mesmo para ser o novo presidente do Brasil, começa a reunião como se estivesse em um tribunal, querendo saber quem são os culpados.

    — Por que esse candidato conseguiu esses 59%? Certamente, não pode ser devido ao debate de ontem! – grita o general.

    Bacal, que fora encarregado por Santiago Pires de mudar as pesquisas, defende-se:

    — A situação é a seguinte: fiz o que pude para diminuir esse índice, porém, mais do que isso seria impossível! Na verdade, ele conseguiu 71% das intenções de voto e o nosso candidato não chega a 3%. Não tinha como alterar ainda mais as pesquisas, elas foram manipuladas ao máximo. Os canais de TV também estão fazendo tudo que é possível, mas depois que o escândalo do Judiciário veio à tona, ninguém mais acredita nesses julgamentos. Até o STF foi desmascarado!

    — Não pode ser isso, todo mundo já sabia que essas operações e esses julgamentos eram uma brincadeira de faz-de-conta. Ninguém acreditava na imparcialidade de tudo isso. Eu quero as razões verdadeiras para esse indivíduo conseguir uma quantidade tão grande de intenções de voto! Não vamos deixar ele chegar ao poder novamente, ele destruiu o que tem sido regra desde o descobrimento do Brasil. Alguém tem de impedir essa eleição! – grita, desesperado, Santiago Pires.

    Diante da situação, Nascimento e Silva decide se posicionar, pois, havia sido encarregado da construção da imagem do candidato apoiado pelos militares.

    — Creio que os índices da pesquisa não são nosso maior problema agora. Tu assististe ao debate ontem? Estás acompanhando o que está acontecendo no país desde então? Aquele idiota nunca poderia ter revelado o acordo que fizemos com as igrejas. Tamo lascado, desculpem a linguagem, mas foi o que aconteceu! Por mais que o Brasil tenha um povo crente, ele não estava preparado para esse tipo de acordo. Depois disso, perdemos o controle de tudo.

    — Mas como você foi deixar aquele idiota revelar esse acordo?! Você sabia que se isso acontecesse, poderia causar problemas pra nossa campanha. Ninguém disse isso pra ele? – reclama Santiago Pires.

    — Bah, isso aconteceu num debate que eu não estava presente. Tchê, debate pré-carnaval, quem imaginaria que pudesse acontecer alguma coisa? E mais, que alguém estivesse assistindo! Mas a verdade é que, mesmo que eu estivesse lá, não daria para impedir. Durante o debate no Rio de Janeiro, como o MCA viu que havia uma grande presença de católicos e evangélicos, achou que, se revelasse nosso acordo, conseguiria pressionar os demais candidatos. E ele falou tudo, não escondeu nada, as o resultado foi inverso, muitos católicos ficaram revoltados e acabou gerando protestos por todo Brasil contra o MCA e contra a Igreja Católica. Também me parece que setores das igrejas evangélicas não gostaram do tipo de acordo, porque não se sabe se lhes vai ser útil, como vem sendo na prefeitura do Rio de Janeiro. A situação está tão confusa, que já ouvi dizer que existe até alguns grupos extremistas querendo a expulsão de todas as igrejas do país. Minha assessoria já localizou grupos no Facebook que pregam o laicismo extremo: quem tem religião, tem de cair fora do Brasil – conclui Nascimento e Silva.

    — A culpa é sua, eu deixei bem claro que se isso caísse nos ouvidos da opinião pública, poderia causar problemas sérios. Nem sei se é um acordo viável! Onde já se viu criar um Ministério da Religião e da Família? E prometeram criar uma Justiça Religiosa no país com direito a julgar os infiéis e até aplicar penas que constam no Velho Testamento! Isso foi uma imprudência daqueles ordinários do Congresso que intermediaram a negociação! – revolta-se Santiago Pires.

    — E nossa situação financeira vai piorar daqui pra frente – comenta Bacal. – Depois do debate, os investidores das igrejas já disseram que vão parar de fornecer dinheiro para a campanha do MCA. Como os recursos dos Estados Unidos não chegaram na totalidade, quem estava financiando quase que completamente a campanha eram os religiosos. Eu não sei o que vamos fazer a partir de agora!

    Santiago Pires não consegue conter sua revolta e joga tudo que estava em cima da mesa no chão, depois para e tenta encontrar uma saída para esse imbróglio.

    — Vocês já tentaram entrar em contato com o Bispo?

    — Santiago, você está completamente desatualizado do que aconteceu nessas últimas 12 horas, não é possível! Ele sofreu um atentado logo depois da revelação do MCA e agora está internado em situação gravíssima num hospital do Rio de Janeiro. O substituto dele, o bispo Farina Brandão, ainda de madrugada, entrou em contato com o Papa e ele se comprometeu a fazer um pronunciamento ainda hoje contra qualquer um que tenha participado desse acordo espúrio – comenta Bacal.

    — Caralho! O Papa nunca poderia ficar sabendo desse acordo, o Bispo tinha deixado isso bem claro! – diz, indignado. É o Papa Francisco, ele nunca ia concordar com esse tipo de envolvimento da igreja. Vocês sabem muito bem que o Bispo só aceitou porque tinha a garantia que assumiria o Ministério e implantaria a sua inquisição aqui no Brasil. Ele queria limpar a Igreja de comunistas vestidos de batina! – completa Santiago Pires.

    — Tchê, meus assessores já alertaram que esse novo bispo é um sensacionalista e está pleiteando um cargo no Vaticano, por isso que contou tudo ao Papa. Com toda certeza, atacou nosso Bispo e a gente também – comenta Nascimento e Silva.

    — E nosso homem em São Paulo, já disse alguma coisa? – pergunta Santiago Pires.

    — Está em completo silêncio. Tentamos entrar em contato com ele, mas dizem que está em retiro nesse feriado. Ele deve estar apavorado. Se souberem que ele faz parte do acordo, vão desmoralizar a história de vida dele. Ele sabia que correria sério risco se esse acordo vasasse antes da vitória. Ele aceitou o acordo porque tinha relações muito próximas com alguns segmentos evangélicos que concordaram com a criação do ministério, mas agora parece que tudo se perdeu. Ele tem de ficar atento, porque pode ter o mesmo fim que o Bispo – complementa, preocupado, Bacal.

    Santiago Pires não consegue pensar em algo diante dos problemas que se avolumam, então para, vira-se para a janela e fica olhando para Brasília na expectativa de que surja alguma solução para a crise que se pronuncia ainda mais severa. O desespero em sua face e de seus companheiros é evidente. Eles não conseguem esconder deles próprios a marca da derrota. O que há pouco seria uma eleição tranquila, agora estava para se transformar num golpe contra os militares e a tradicional sociedade brasileira.

    Os problemas de Santiago Pires não param por aí! Com a provável derrota do candidato dos militares, cabeças teriam que rolar para que as Forças Armadas não ficassem desmoralizadas e, com toda certeza, o primeiro nome da lista seria o seu, o grande articulador e encarregado de eleger o tal candidato... custe o que custar!

    Com a falta de soluções, Santiago Pires passa a acusar os outros generais pela derrota. A princípio os dois se sujeitam às acusações e até assumem a responsabilidade pelas falhas, mas, em seguida, percebem que a situação se apresenta tão caótica que Santiago Pires não tem mais o mesmo poder de antes. Também, se participaram dessa grande articulação, foi porque estavam lutando pela mesma causa. Agora tudo mudaria, teriam que assumir a culpa juntos e não um jogando para o outro a responsabilidade pela derrota.

    Depois de muita discussão e nada resolvido, Santiago Pires volta ao início da conversa, tentando encontrar a falha deles.

    — Tudo bem – fala calmamente –, não adianta ficarmos acusando uns aos outros, temos que encontrar o ponto onde nos perdemos e partirmos daí.

    — Isso nós sabemos – diz Nascimento e Silva. – O erro foi o MCA ter revelado o acordo secreto com os religiosos. Se isso não tivesse acontecido, pelo menos, ainda estaríamos no páreo e teríamos como mexer nas urnas. Agora ninguém mais vai estar do nosso lado.

    — E dá pra fazer alguma coisa pra desmentir o que ele disse, ou mesmo interromper a divulgação? – pergunta Santiago Pires.

    — Difícil dizer. Nós tivemos um pouco de sorte, pois o debate ocorreu na quinta-feira, véspera de carnaval. A mídia vai começar a divulgar hoje com mais força, mas tem os desfiles e o povo não está muito preocupado com política. Só que aqueles que ficaram sabendo da declaração, se revoltaram duramente. Veja o caso do atentado contra o Bispo! Foi a primeira vítima! Só não sei precisar de onde veio, ninguém assumiu ainda. Essas declarações não atingiram o povão ainda porque a TV está conosco e o debate foi editado para os jornais de hoje de manhã e agora na hora do almoço, mas já tá na internet, na íntegra, pra quem quiser ver. Essa tática de edição não funciona tão bem quanto nas décadas de 80 e 90. A Mídia Ninja, o Brasil 247, e mesmo aquele filho da puta do Amorim devem ter interrompido as férias para fazer vídeos sobre o debate – diz Bacal.

    — Então a notícia ainda está somente com esses vermelhos! – alegra-se Santiago Pires.

    — Vai se espalhar, mas a bomba vai explodir mesmo depois do carnaval, quando voltarmos a viver o espírito das eleições. Pra nossa felicidade, o que está preocupando o Brasil agora é como vai ser o desfile da Bem-Te-Vi. Não se fala em outra coisa e dizem que o Pedrinho vai revolucionar o carnaval – esclarece Bacal.

    — Bem-Te-Vi!!! Bem coisa de brasileiro medíocre!

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