Aceno: coletânea transdisciplinar do CETRANS em SP - Brasil
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A propósito de ACENO
O título escolhido para esta coletânea – ACENO – tem o intuito de fazer um convite a nossos leitores para conhecer um pouco mais o fazer transdisciplinar do CETRANS, gerado desde sua fundação em 1998.
ACENO nos invoca, evoca, provoca e convoca a visitar espaços inusitados que oscilam entre o que é de foro interior e de foro exterior de nós mesmos. Em ACENO, o leitor poderá percorrer espaços de nossa produção que escolhemos aqui registrar sem identificar autoria, exceto para os textos referentes às expressões pessoais. Mas vale lembrar que todo esse conteúdo foi elaborado apenas por Membros CETRANS, participantes ativos da coordenação das cinco Unidades de Ação (UA) – Comunicação, Comunidade, Formação, Gestão e Publicação ou não. E serviu de apoio para o processo formativo implementado no CETRANS, tanto para atender diretamente seus membros como pessoas interessadas em Transdisciplinaridade – TD.
ACENO, publicação bianual, será veiculada em versão virtual e divulgada no site CETRANS: www.cetrans.com.br. Confiamos que o fluir destas leituras as configure de alguma maneira como uma referência para a exploração e clarificação do sentir, pensar e fazer TD. Como em todo aceno, sempre prevalece a incerteza, o mistério e o impulso para o viandante andarilho. Não seria diferente para a COLETÂNEA ACENO DO CETRANS.
OS EDITORES
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A propósito de ACENO
REFLEXÕES
Eros Primordial | Eros Teogônico
Êxtase Amoroso e Limite Extremo
Duas Autorrevelações Místicas
O Amor em O Banquete, de Platão
Perceval ou o Romance do Graal
O Amor no Banquete, de Dante
O Mito de Eros/Cupido e Psiquê
Herói e Heroína
ARTE * POÉTICA * PROSA
O Belo e o Bom
O Amor [Eros]
Saudades dos Teus Beijos
Torna-te Amante
Diotima
Ai Flores do Verde Pino
Do Banquete, de Dante Alighieri
A Profecia de Apolo no Golden Ass, de Apuleius
Os Sapatinhos Vermelhos
FLUXO FORMATIVO
Transdisciplinaridade?
Os Tsunamis Tecnológico-digitais, a Educação e as Redes de Aprendência
Dimensões do Pensamento
Projeto
VEREDAS DE AÇÃO
As mudanças demandam novos engajamentos
Sem alardear, mas sentindo
Fortalecendo o sentido da comunidade
Pragmatismo transdisciplinar?
Por que ocupar o espaço público?
Um jogo iniciático
LEGADO SAGRADO
O Símbolo e o Sagrado
Um passo que transforma
O MI e o MA
A Falcoaria
OLHAR CONTEMPORÂNEO
O virtual e o cotidiano
TD e Metateoria
Antecipação
VIANDANTE
Homo viator?
Sobre a melhor justificativa da Metafísica
Dois Modelos de Pensamento
Créditos
REFLEXÕES
Eros in Vivo • Erotismo e Êxtase
EROS PRIMORDIAL | EROS TEOGÔNICO
Março 2017
Que processo de transformação sofreram as forças fundamentais que deram origem ao que somos? Como concebemos o mundo? Como percebemos a vida? Muitas são as possibilidades de nos aproximarmos dessas questões. Sabemos, contudo, que a sociedade ocidental tem um pé na Grécia, e muito do que nos foi trazido, nos foi ensinado e que vivenciamos até hoje nasceu no que foi pensado lá. Para falar de Eros Teogônico, uma das maiores forças que movimentam o mundo, precisamos falar de Eros Primordial, a força cósmica de fecundação. Na mitologia grega, o processo de criação do mundo, sua gênese, tem muitas configurações. Aqui escolhemos aquela proposta por Hesíodo.
O quadro abaixo ajuda a ilustrar o que nos propomos a tratar:
Estágio Primordial: No início era o Caos – o Vazio Primordial, o Abismo, o Indiferenciado, o Mistério. O Caos é uma natureza de força tão descomunal que não consegue se organizar e funciona como um princípio originário que preside a separação. Ele é dotado de grande energia. Tudo o que provém do Caos são potências tenebrosas, forças de negação da vida e da ordem.
Depois veio Gaia/Terra, Tártaro/Habitação Profunda e Eros Primordial. Este, em oposição ao Caos, é um princípio cosmogônico, isto é, instaura a procriação por união de dois elementos separados e opostos, o masculino e o feminino.
1ª fase do Universo: Do Caos surgem dois seres: Nix, representação do escuro – a deusa da noite, e Érebo/Escuridão Profunda. Eles nascem de uma desorganização absoluta.
Nix/Noite se une a Érebo e dessa união amorosa através da ação de Eros Primordial surgem:
Éter: a luminosidade celeste – masculino
Hémera/Dia: a luz – feminino
Nix/Noite procria por cissiparidade (autogeração por bipartição): Moro, Tânatos, Hipno, Momo, Hespérides, Moiras, Queres, Nêmeses, Gueras (Velhice), Éris (Discórdia), que são forças da debilitação, da penúria, da dor, do esquecimento, do enfraquecimento, da desordem, do tormento, do engano, da desaparição e da morte.
A Terra/Gaia dá origem ao Céu Estrelado/Urano, às Altas Montanhas e depois ao Mar Infértil/ Pontos. Esses são princípios de substancialização das essências, sementes da Criação ainda não manifestadas.
Na concepção grega, a Criação do Mundo tem três grandes princípios que darão origem a tudo o que existe e que podem ser assim representados:
1ª geração divina: Eros, sendo o desejo primordial, insta o desejo de Gaia (atributo feminino) por Urano, o Céu (atributo masculino), e dessa união sagrada nasce a primeira geração divina:
Titãs: Oceano, Ceos, Crío, Hiperíon, Jápeto e Crono
Titânidas: Teia, Reia, Mnemósina, Febe, Tétis e Têmis
Ciclopes e Hecatonquiros.
A 2ª geração divina surge da união de Reia e Crono que, instado pela mãe, Gaia, que queria se vingar de Urano por tomar os seus filhos e jogá-los no Tártaro, castra o pai. Os testículos e as gotas de sangue de Urano caem na terra, o que dá origem às Erínias, aos Gigantes e às ninfas dos Freixos, e da parte que caiu no mar surge então, em uma concha, a deusa Afrodite: ela vem do mundo ctônico, do mundo subterrâneo, e nasce de um ato violento. Reia, a inteligência, e Crono, o que devora a beleza, se unem e têm seis filhos, os deuses olímpicos: Héstia, Deméter, Hera, Hades, Posídon e Zeus. Este, instado pela avó Gaia e pela mãe Reia, exila o pai Crono, que engolia os filhos por medo de ser destronado. Zeus é o filho que, além de destronar o pai, salva os irmãos e com eles divide o poder:
Hades fica com o Tártaro, as regiões mais profundas da terra;
Posídon governa os mares;
Zeus fica com a terra e o Olimpo.
Para as irmãs, Zeus designa os atributos do mundo feminino, que fica assim dividido:
Hera, a deusa do casamento, tem como âmbito proteger a união estável entre deuses e deusas e homens e mulheres;
Héstia, a deusa da lareira, tem como âmbito a proteção do lar, mantendo sempre aceso o fogo no centro da casa;
Deméter, a deusa do cereal, tem como âmbito manter a alimentação na Terra sempre equilibrada.
Zeus é a inteligência que ordena o mundo. É ele que vai dar atributos aos outros deuses, além de dar origem a muitos deles, seus filhos e filhas, que constituem a 3ª geração divina. Essa ordenação depende do controle de forças ctônicas, isto é, de Eros Primordial, Afrodite, Tânatos e as Moiras:
Tânatos é aprisionado nas profundezas da terra, e suas três irmãs, filhas de Nix – as Moiras – as quais Zeus não controlava, permanecem na Terra e são as senhoras do destino de deuses e homens.
Eros Primordial: Deméter descobre que ele retornava a sua morada todos os dias e joga-o no Tânatos: morre o desejo primordial, mas fica o fogo que não pode ser apagado.
Afrodite: vem do mundo ctônico e é incontrolável, mas é astutamente controlada pelos parceiros que encontra no caminho.
Zeus resolve um problema das forças ctônicas, lutando contra elas, mas cria outro: como lidar com esse fogo que não é mais primordial, mas é perene e indestrutível. Para tal, Zeus age ao:
deixar este fogo se manifestar através de Eros Teogônico, que é filho de Afrodite e Ares, que flecha igualmente deuses, heróis e mortais com flechas do desejo. Assim, através da união de duas forças opostas − a beleza/amor e a guerra − nasce um deus contraditório, que carrega as mesmas características de Eros Primordial que foi jogado no Tânatos. Ele faz parte da 3ª geração dos deuses;
controlar Afrodite, casando-a com Hefestos, o deus