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Mitologia na Escola - Roteiro de Leitura dos Mitos
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E-book194 páginas1 hora

Mitologia na Escola - Roteiro de Leitura dos Mitos

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Sobre este e-book

Este livro vem a ser um precioso auxílio no ensino de mitologia nas escolas. Com relatos breves e claros sobre os textos mitológicos, a autora nos conduz à reflexão sobre a justiça, o amor, o trabalho, a vaidade, a ganância, o ódio e a vingança, explicitando arquétipos atemporais e revelando os princípios de sentimentos e conflitos universais que são inerentes a nós mesmos. Podemos, assim, aprender com a sabedoria dos antigos a nos orientar em nossas escolhas, pela ordem e a harmonia, em contraposição ao caos, contribuindo para a nossa felicidade a dos que nos rodeiam.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de set. de 2023
ISBN9788534952194
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    Mitologia na Escola - Roteiro de Leitura dos Mitos - Luciene Felix Lamy

    Contextualização

    Mito – Mitologia

    Os mitos são construções do imaginário humano. O homem elabora seus mitos para explicar e dar sentido à sua existência. Constroem modelos de vida e modelos de como viver . O mito é uma elementar forma de manifestação da linguagem avessa à forma tradicional da razão.

    Como dissemos, arquétipos (do grego, arché + typein = princípio que serve de modelo) são atemporais e universais. Na politeísta cultura grega, deuses e homens, imortais e mortais, interligados, são interdependentes.

    Segundo a especialista em Filosofia Antiga Prof.ª Dra. Rachel Gazolla, discípula do inesquecível Jean-Pierre Vernant, "o mito faz parte de nossa psyché. É um modo de ler o mundo, não é irracional, como querem alguns intérpretes. A palavra irracional, hoje, é extremamente pesada para explicar o pensamento mítico; afinal, ele é um pensamento bem estruturado, porém sem necessidade de provas, de argumentos. Seu valor de verdade não é aferido por sentenças, não se trata somente da linguagem, do lógos como discurso argumentativo, pois a psyché é bem mais extensa que a criação do pensar-dizer na forma sentencial".

    O mito não se subordina à mitologia, que é um cenário teatral. Não é meramente informativo, é formativo. Em todo mito, há uma ideia religiosa, de re-ligação. É uma terapia para as angústias, o que é natural em nós.

    E a principal característica do mito é sua inestoriabilidade, segundo o grande mitólogo e filósofo luso-brasileiro Eudoro de Sousa.

    Os mitos nos foram transmitidos pelos aedos, que eram os poetas-cantores (como os repentistas), nos legando registros do homem antigo. A linguagem, a fala é o que permite ao homem inventar nomes e simbolizar suas apreensões. E apreendemos!

    Nas páginas sequentes, temos a oportunidade de desfrutar da beleza e dos ensinamentos de alguns mitos greco-romanos que certamente irão enriquecer nossa alma.

    Capítulo 1

    O mito como fundamento da moral

    A psicologia moderna viu-se obrigada a fixar sua atenção nos mitos e constatar que eles contêm uma significação de ordem psíquica cujo alcance se revela profundo, atemporal.

    Encontramos, nos primevos relatos mitológicos, significações dos tipos cósmico, meteorológico e agrário, e, sobre esses últimos, os mitos remetem aos movimentos dos astros e a sua observável influência sobre fenômenos (estações anuais, tempestades, inundações etc.), que favoreciam ou não nossas condições de vida.

    Decisiva, essa criação mítica teve início quando as tribos nômades se fixaram e, reféns da regularidade (e previsibilidade) dos fenômenos cósmicos e meteorológicos que influíam nos ciclos agrícolas, garantiu-lhes sobrevivência.

    Sendo assim, a imaginação afetiva tornou-se função predominante na psique primitiva, incitando os antigos a tomar esses fenômenos cíclicos – ora benéficos, ora hostis – como forças ativas intencionais.

    Era, então, essa imaginação afetiva que, personificando a phýsis (natureza) como divindades que se empenhavam em favorecer ou prejudicar (a aurora, a chuva fecundante e o despontar da primavera, por exemplo), os recebia como dádivas dos deuses, aos quais consagrava gratidão ou apelos.

    No entanto, se os mitos não passassem de imaginação afetiva, fruto de preocupações utilitárias, seu sentido oculto seria tão somente – como atesta o estudioso Paul Diel – alegorias infantis em conformidade com o entendimento rudimentar de uma psique primitiva. E o interesse nessas fábulas seria unicamente de ordem histórica, uma vez que toda essa ingenuidade deu origem às criações artísticas que documentam hábitos e costumes ao longo da evolução humana.

    Em alusão aos conflitos humanos, a psicologia reconhece os combates míticos como pano de fundo. No entanto, trata-se de uma forma de interpretação sutil, tal qual a própria natureza dos mitos.

    Sem dúvida, os movimentos dos astros (ciclos solares e lunares), representados enquanto luta entre divindades benéficas e maléficas, não têm somente consequências de ordem utilitária, como dissemos acima. Isso porque a imensidão desses fenômenos contrasta (e ultrapassa) a breve duração de vida humana para que a alma primitiva tivesse condições de evitar colocar-se a questão essencial que visa ao mistério da existência: De onde vem o mandato que faz com que o ser humano seja chamado a viver no meio dessa imensidão que o apavora e que, no entanto, o acalenta? E o que lhe sucede depois de sua morte?.

    Ao longo da vida, a súplica dirigida a toda natureza divinizada ganha sentido somente se o próprio homem, por seu trabalho e disciplina, ou seja, através da ação consciente e dirigida, consegue preencher as condições específicas que podem tornar útil a fertilização do solo e a criação de seus rebanhos.

    E assim, mostrando-se dignos do favorecimento concedido pelos deuses, denominados imortais (cuja instância preside a vida humana de geração em geração), os mortais alcançaram esse intento, a saber, o de uma subsistência satisfatória.

    É sabido que, à época do desabrochar das culturas agrárias, a psique humana evoluiu em direção a uma complexidade muito mais ampla do que o mero primitivismo alegórico do cosmos: "A imaginação não é somente afetiva e divagadora, mas também é expressiva e simbolizadora, assim, tornamo-nos capazes de criar símbolos, que são imagens de significação precisa, tendo por objetivo exprimir o destino do homem".

    A partir disso, dessa imaginação que expressa e simboliza conferindo às imagens significações precisas, abre-se à psique a contemplação do plano metafísico, e à atividade e à ação humana o plano moral, pois incluído nessa simbolização está o próprio homem, com suas aspirações (desejos, vontades) e seu destino.

    Considerando que a aspiração do homem e a benevolência da natureza divinizada (como outrora imaginamos Zeus ou Athena, por exemplo) fundem-se numa mesmíssima sublime e nobre intenção, portanto, comum (realizando desse modo seu encontro no interior de um mesmo plano simbólico), o homem, ao purificar sua aspiração (almejando a justiça, por exemplo), pode atingir o ideal representado pela divindade.

    O destemido herói é, simbolicamente, elevado ao status de divindade; e o símbolo divindade, por sua vez, pode tomar a forma humana e vir a visitar os mortais.

    Por correspondência: As divindades, que antes representavam forças (imutáveis, eternas, imortais, ideais) astrais, transformaram-se na imagem idealizada da alma humana e de suas qualidades. Os mitos que relatam as aventuras dessas divindades humanizadas ultrapassam em muito as antigas alegorias relativas à sobrevivência, mas permanecem, entretanto, codeterminados pelo quadro da antiga significação cósmica ou meteorológica ao qual pertenciam inicialmente, afirma o estudioso.

    Assim, por exemplo, Zeus lança o raio, o que é, no plano da significação meteorológica, uma simples alegoria. Essa alegoria torna-se um simbolismo ao incorporar uma significação de alcance psicológico: Zeus torna-se o símbolo do espírito, e o raio por ele lançado passa a simbolizar o esclarecimento do espírito humano, o pensamento iluminador (a intuição), imaginado como enviado pela divindade.

    Convém atentar ao fato de que a significação simbólica que substitui o sentido alegórico é de ordem psicológica pelo fato de que sustenta a atividade intencional das divindades antropomorfizadas.

    Visto que as intenções simbólicas das divindades se apresentam tão somente como a projeção das intenções reais do homem, cria-se uma corrente de obrigações entre o homem real e o símbolo divindade, amalgamando criador e criatura.

    O homem se encontra, em função do efeito de retração de sua própria projeção idealizante, como que "convidado a participar (através de seu combate heroico) da luta travada pelas divindades benevolentes para alcançar tanto seu bem-estar quanto seus ideais, explicitados nos virtuosos atributos conferidos ao divino".

    Sendo assim, as antigas fabulações referentes à luta da natureza (estações do ano, Sol, lua e demais cortejos a favorecer ou não o florescimento), que são divindades antropomorfizadas, só existem em função do homem e de suas necessidades.

    Porém, essas necessidades, por estarem de acordo com as intenções ideais cujo símbolo é a divindade, não concernem mais somente às utilidades exteriores da vida, a saber, a mera sobrevivência física. Elas se referem, cada vez mais, a uma satisfação essencial cara a todos nós: a disciplina na ação unida à harmonia dos desejos, que acompanha a orientação sensata da vida.

    Essa satisfação essencial, enfim, a felicidade, dádiva última da divindade, realiza-se através da ação que promove a atividade utilitária, mas também se encontra determinada pelas intenções (purificadas ou desordenadas), pelos desejos secretos, diante dos quais a divindade se torna (simbolicamente) o juiz e o distribuidor da recompensa e do castigo.

    Uma vez que as intenções desordenadas desencadeiam a hostilidade dos homens entre si – imperfeitos, reais e mortais –, produzindo os males terrestres, a purificação das intenções é imposta ao homem pela divindade tal qual ele a enxerga simbolicamente: perfeita, ideal, imortal.

    Conscientes ou não, a psique que aspira ao ideal de virtude – a do herói, por exemplo – deve combater as intenções impuras que, em última análise, são representadas por males, mazelas e monstros a serem vencidos.

    Assim, a representação mítica, que, na origem primeva, detinha-se basicamente na garantia da vida, termina por exprimir conflitos intrapsíquicos da alma humana. Que conflitos são esses e como ultrapassá-los é do que trataremos nos trechos que seguem.

    Como um anjo caído, fiz questão de esquecer que mentir para si mesmo é sempre a pior mentira (Quase sem querer, Legião urbana).

    No texto acima, discorremos sobre de que modo o homem primitivo estabeleceu uma relação entre os movimentos dos astros e os fenômenos meteorológicos e como, através de uma das funções predominantes da psique – a imaginação afetiva –, formou o sentido alegórico da natureza (physis), tomando-a como forças ativas intencionais a atuar propositalmente, ora o favorecendo, ora o prejudicando.

    Compreender e submeter-se a esses fenômenos exteriores garantiu-lhe sobrevivência física. No entanto, diferente do visível cortejo dos astros pela abóbada celeste e de seus relativamente previsíveis efeitos na natureza, o que motiva as ações humanas – e aqui adentramos o terreno interno da psique – não é de tão fácil percepção sensorial (através dos sentidos).

    Do ponto de vista psíquico, afirmar a possibilidade de prevermos um impasse ou conflito em nossa consciência significa admitir que, mesmo no homem primitivo, já existia uma espécie de observação íntima, de conversa com "seus

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