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Do Samba à Bossa Nova: Inventando um País
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Do Samba à Bossa Nova: Inventando um País
E-book200 páginas2 horas

Do Samba à Bossa Nova: Inventando um País

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Sobre este e-book

A partir da leitura de canções significativas do samba e da bossa nova, em que foram observados tanto os aspectos literários quanto musicais, Do samba à bossa nova: inventando um país pretende discutir o nascimento da música popular urbana no Brasil e o seu percurso ao longo da primeira metade do século XX, até 1958, quando se dá eclosão do movimento bossa nova. Da dificuldade inicial de inserção do samba no ambiente cultural brasileiro à sua consagração como símbolo de nacionalidade, da estandardização do gênero à sua modernização com a bossa nova, o livro busca apresentar as transformações temáticas e musicais do samba e a participação da música popular na construção de uma identidade brasileira.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento12 de abr. de 2021
ISBN9786558206286
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    Pré-visualização do livro

    Do Samba à Bossa Nova - Pedro Bustamante Teixeira

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Para as minhas meninas Luanna, Lis e Iara.

    Agradecimentos

    Primeiramente quero agradecer o meu querido orientador, Gilvan Procópio Ribeiro, que me acompanhou nesta pesquisa com paciência, sabedoria e dedicação. Foi um prazer inenarrável conviver com ele tão de perto pelos dois anos de pesquisa. É ele quem assina o prefácio da primeira edição deste livro.

    Também agradeço a Alexandre Faria, meu primeiro orientador, que tive a honra de reencontrar na qualificação e na banca do mestrado e que me orientou novamente no doutorado; Júlio Diniz, que conheci na banca de mestrado e que, na mesma ocasião, me fez o convite para cursar uma disciplina sua na Pós da PUC e que, desde a banca, tornava-se uma grande referência para a minha vida como pesquisador.

    Por fim, quero agradecer muito minha família por todo apoio: meu pai, minha mãe; Luanna, minha companheira e as minhas filhas, Lis e Iara.

    e o coração que é soberano e que é senhor

    não cabe na escravidão

    não cabe no seu não

    não cabe em si de tanto sim

    é pura dança e sexo e glória e paira para além da história

    [...]

    e o povo negro entendeu que o grande vencedor

    se ergue além da dor.

    (Caetano Veloso, Milagres do Povo)

    Prefácio

    A minha proximidade com o trabalho de Pedro, ao mesmo tempo que facilita, dificulta muito a tarefa de falar sobre ele. Acompanhei, durante cerca de dois anos, a pesquisa que ele fez, minuciosa e, não raro, angustiante, pela ansiedade em obter resultados conclusivos. Esta talvez seja uma das características mais marcantes e determinantes de um trabalho acadêmico: sabemos onde queremos chegar, mas precisamos comprovar cada uma das afirmações que fazemos. E o novelo se desenrola muito lentamente.

    Pedro faz um levantamento exaustivo dos textos que trabalham com a canção brasileira ao longo do século XX, das origens do samba até sua recuperação com a bossa nova, passando por um exame arguto de cada um dos momentos em que a canção é apropriada ou recusada, em função de interesses variados, que vão da apropriação político-ideológica (leia-se o varguismo) à recusa estético-ideológica (leia-se o modernismo de Mário de Andrade e Villa-Lobos). Não raro, a apropriação e a recusa confluem, moldando um tipo de visão da música e das letras como expressão de uma dada perspectiva – sempre ideologicamente marcada – de identidade nacional. Abandonando o ritmo, a batida inicial do samba modelado nos quintais e terreiros do Rio de Janeiro, a canção brasileira assume uma feição apoteótica (vide Aquarela do Brasil) ou aparentemente internacional (vide a bolerização de nossa canção e a orquestração americanizada, que abafava o violão e praticamente suprimia a percussão).

    Pedro se detém analiticamente em cada um dos momentos significativos por que passa a canção brasileira no século XX até chegar ao momento em que se dá a recuperação do samba-samba original através da reinvenção feita por João Gilberto.

    O fato de esta pesquisa deter-se em João Gilberto está longe de esgotar o interesse e a intenção de Pedro de aventurar-se mais além. Na verdade, trata-se apenas do pontapé inicial de um projeto que tem um alcance bem maior. Afinal, grande parte da produção de canções e de modulações músico-vocais, na segunda metade do século XX passa, necessariamente, por João Gilberto (Chico Buarque, Caetano, Roberto Carlos dos anos 60, até Adriana Calcanhoto e outros tantos atualmente). Assim, podemos esperar muito mais do esforço de Pedro, que ainda renderá muito bons frutos.

    De resto, tenho que agradecer a Pedro a oportunidade e a responsabilidade que me ofereceu ao permitir-me acompanhá-lo em uma etapa de seu percurso. Aprendi muito com ele, músico competente, e nossa convivência foi extremamente gratificante. O verbo no passado pode supor que a convivência terminou. Longe disso! Ela continua! Agora sedimentada em outros patamares e selada por uma amizade que desejo que seja permanente.

    Deixemos agora que o leitor refaça por si mesmo – e tenho certeza que o fará com prazer – o caminho de Pedro. Boa viagem!

    Gilvan Procópio Ribeiro

    Professor da Faculdade de Letras

    Universidade Federal de Juiz de Fora

    Nota à segunda edição

    A história do samba

    a luta de classes os melhores passes de Pelé.

    (Caetano Veloso – Os meninos dançam)

    Um país novo foi inventado com o samba, um país novo foi inventado no carnaval. A bossa nova reafirmou a alegria do samba, estabelecendo uma nova era para a Música Popular Brasileira, mas não se sustentou, enquanto movimento, por muito tempo no Brasil. Caetano Veloso é quem diz: o Brasil ainda há de merecer a bossa nova. Na atual conjuntura, em que o Brazil parece devorar o Brasil, só nos resta lutar, dentro da baleia, para que isso ainda seja possível um dia.

    A bossa nova, que renovou o samba e toda uma tradição da canção brasileira, foi muito além do Brasil sem jamais deixá-lo. Nenhum movimento artístico brasileiro foi tão longe sem se desgastar no tempo. João Gilberto, que faleceu aos 88 anos em 2019, ainda trazia consigo o mistério da bossa nova e continua atraindo a atenção das sensibilidades artísticas mundo afora.

    Mas João há muito estava sumido. Boa parte de sua vida, viveu em reclusão total. Pontualmente se mostrava, mas logo voltava para o claustro. Recentemente, não pôde realizar os concertos planejados para comemorar os seus 80 anos, e se isolou de vez. Seu último disco lançado, o ao vivo João Gilberto in Tokio (2004), é o último registro formal de sua busca. Posteriormente, apenas alguns registros disponibilizado nas redes sociais por sua filha Bebel Gilberto; entre esses um em que aparece de pijama ensaiando Garota de Ipanema com sua filha mais nova. No violão o desenvolvimento ulterior da harmonia de uma das canções mais conhecidas do mundo, lançada no álbum mais vendido da História do Jazz, Getz/Gilberto, em 1964, o que revela que, apesar da repetição aparente, tudo é movimento em João Gilberto. A procura da bossa nova é infinita.

    João tentou até os seus último dias obter os originais de seus três primeiros discos: Chega de Saudade (1959), O amor, o sorriso e a flor (1960) e João Gilberto (1961). A trilogia, que também faz parte da discografia de Tom Jobim, e é tida como a essência perdida da bossa nova. Esses discos continuam fora de catálogo, e as canções de uma obra coesa, pensada em cada detalhe, tin tin por tin tin, dispersam-se pela web em variadas coletâneas, para arrepio da História da Discografia Brasileira. Não por acaso, esses discos que não foram lançados em CD e não podem ser devidamente ouvidos nos aplicativos de música, valem ouro nas lojas de discos especializadas.

    O livro Do samba à bossa nova : inventando um país se origina da minha dissertação de mestrado, que escrevi com a orientação generosa do professor Gilvan Procópio Ribeiro. No mestrado tentava entender a história do samba e a eclosão da bossa nova. Se por um lado, o samba construira os moldes da canção brasileira, por outro, a bossa nova renovava toda a tradição do Cancioneiro Nacional. Assim, o livro é o percurso de um estudante que, diante de uma questão, a história do samba – a qual não sabia reponder –, começava a se tornar pesquisador.

    Reler este texto, quase 10 anos depois da conclusão do mestrado e cinco anos depois de sua publicação em livro, é se reencontrar com um outro tempo da pesquisa, um outro tempo do país. É se reencontrar com uma perspectiva que parece não fazer o menor sentido agora. Respeitei, no entanto, a pesquisa e o pesquisador em formação. Por vezes, ajeitei o texto, mas sempre no intuito de esclarecer o pensamento de então. Sim, deu vontade de reparar alguns equívocos e de reparar ausências sentidas na banca de mestrado, especialmente, pelo professor Júlio Diniz.

    Diniz sentiu, com razão, certo desleixo com a cantora Carmen Miranda e com Dorival Caymmi. Parecia-me preciso para o desenvolvimento da narrativa, no entanto, ressaltar o lado pitoresco de Carmen Miranda, a imagem de Brasil que ela representava no exterior, e assim, acabei por deixar de lado a sua contribuição enorme na modernização do canto do samba no Brasil. Quanto a Caymmi, se nos valermos da sua discografia, se verá que, após ter realizado uma obra mitológica como Canções Praieiras (1954), rendia-se ao sucesso fácil do samba-canção, em sua roupagem mais mainstream, deixando o próximo passo do samba ainda por vir. Caymmi é o elo perdido entre o samba do Recôncavo Baiano, o samba do Rio de Janeiro e a bossa nova. Diniz lembrou do uso recorrente de acordes com sétima maior aumentada, uma novidade no samba que era inserida naturalmente por Caymmi sem causar espanto a ninguém.

    Todavia há uma intransigência em João Gilberto sem a qual não haveria bossa nova e, sem a qual, certamente, a sua música não teria ido tão longe e não teria permanecido forte por tanto tempo. A intransigência que João Gilberto sustentou por toda vida fez com que a bossa nova se mantivesse sempre viva e coesa na sua voz e em suas mãos. O país inventado pelo samba e reafirmado com a bossa nova, com o Tropicalismo e com a MPB agoniza. O verde-oliva das fardas militares substitui o verde fulgurante das matas que queimam em um enorme Brasil. Precisamos, tal qual João Gilberto, ser intransigentes para garantirmos que o Brasil, país do samba, do baião e da bossa nova, não se torne outra vez o país da saudade, da tristeza e da melancolia.

    O autor

    Apresentação

    Do samba à bossa nova: uma invenção de Brasil é o percurso de um músico amador e estudante da área de Literatura Brasileira que se esforça para reparar o equívoco de não se incluir nos Estudos Literários Brasileiros, o cancioneiro da música popular brasileira.

    Depois de uma monografia em que se verificou possível, a partir de uma metodologia criada no Brasil por Luiz Tatit, e reverberada por José Miguel Wisnik, tratar

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