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O Choro reinventa a roda:: 150 anos de uma utopia musical
O Choro reinventa a roda:: 150 anos de uma utopia musical
O Choro reinventa a roda:: 150 anos de uma utopia musical
E-book209 páginas2 horas

O Choro reinventa a roda:: 150 anos de uma utopia musical

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Sobre este e-book

A Editora Contracorrente tem a satisfação de anunciar a publicação de mais uma obra de seu Selo Dissonante: O Choro reinventa a roda: 150 anos de uma utopia musical, do músico e professor Henrique Cazes.

A partir de sua própria experiência como músico, de suas investigações acadêmicas, da audição e do fichamento das mais de 180 horas das rodas de choro que ocorreram na casa do arquiteto Alfredo Britto entre 1980 e 2015 e de entrevistas com chorões e frequentadores habituais desses encontros, Henrique Cazes convida o leitor a mergulhar a fundo nesse universo, a fim de compreender o que agrega e vem fascinando músicos de diferentes gerações em torno dessa experiência há 150 anos.

Para o autor, a "experiência tão complexa chamada roda de choro" é "um discreto ritual construído por sons e olhares. Um encontro de músicos onde convivem competição e cumplicidade, amadorismo e profissionalismo, melodia memorizada e improviso, animação e sensibilidade, diversão e prática musical objetiva".

Além de um texto precioso – rigoroso e acessível ao mesmo tempo, como somente a boa música pode ser –, a obra ainda conta com as expressivas imagens registradas por Marília Figueiredo, num encontro impactante entre música, palavra e fotografia, o que enriquece ainda mais as suas páginas.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento27 de jun. de 2023
ISBN9786553960985
O Choro reinventa a roda:: 150 anos de uma utopia musical

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    O Choro reinventa a roda: - Henrique Cazes

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    Copyright © EDITORA CONTRACORRENTE

    Alameda Itu, 852 | 1º andar |

    CEP 01421 002

    www.loja-editoracontracorrente.com.br

    contato@editoracontracorrente.com.br

    EDITOR DO SELO DISSONANTE

    João Camarero

    EDITORES

    Camila Almeida Janela Valim

    Gustavo Marinho de Carvalho

    Rafael Valim

    Walfrido Warde

    Silvio Almeida

    EQUIPE EDITORIAL

    COORDENAÇÃO DE PROJETO: Juliana Daglio

    PREPARAÇÃO DE TEXTO E REVISÃO: Amanda Dorth

    REVISÃO TÉCNICA: Ayla Cardoso e Douglas Magalhães

    DIAGRAMAÇÃO: Gisely Fernandes

    CAPA: Maikon Nery

    DIAGRAMAÇÃO DAS FOTOS: Haroldo Cazes

    CONVERSÃO PARA EBOOK: Cumbuca Studio

    EQUIPE DE APOIO

    Fabiana Celli

    Carla Vasconcelos

    Valéria Pucci

    Regina Gomes

    Nathalia Oliveira

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Cazes, Henrique

    O choro reinventa a roda / Henrique Cazes. -- 1. ed. -- São Paulo : Editora Contracorrente, 2023.

    e-ISBN 978-65-5396-098-5

    ISBN 978-65-5396-097-8

    1. Choro (Música) - Brasil - História 2. Cultura brasileira 3. Estilo musical 4. Música popular brasileira 5. Música popular brasileira - História I. Título

    23-149190

    782.421640981

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Choro : Música popular brasileira

    782.421640981

    Aline Graziele Benitez - Bibliotecária - CRB-1/3129

    @editoracontracorrente

    Editora Contracorrente

    @ContraEditora

    Músico para tocar na roda tem que gostar de tocar que nem garçom, servindo os outros.

    ZÉ DA VELHA

    AGRADECIMENTOS

    Alfredo Britto in memorian e filhos.

    Regina Meirelles, Maria Alice Volpe e Gustavo Chiesa pelas valiosas sugestões.

    Deo Rian, Sergio Prata e Leonardo Miranda pela ajuda na identificação do repertório.

    Todos os músicos entrevistados e que responderam ao questionário.

    Pedro Cazes e Leonardo Cazes.

    Dedicado aos nossos netinhos Bernardo e Manuela.

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO

    CAPÍTULO I

    A RODA DE CHORO ATRAVÉS DOS TEMPOS

    1.1 Dos pioneiros à Era do Rádio 1870-1932

    1.2 A fase defensiva 1932-1980

    CAPÍTULO II

    AS RODAS DE CHORO DA CASA DE ALFREDO BRITTO 1980-2015

    2.1 Preâmbulos e surgimento

    2.2 Fixação e representatividade

    2.3 As rodas de 1981, 1987, 1995, 2000 e 2010: modelos e mudanças

    2.4 Rodas extras e Choro das Flores

    2.5 Passagem do tempo e um momento marcante

    RODAS DE CHORO NA CASA DE ALFREDO BRITTO

    CAPÍTULO III

    PENSANDO A RODA DE CHORO

    3.1 Como tradição

    3.2 Como sistema de dádivas

    CAPÍTULO IV

    O QUE ROLA NA RODA DE CHORO

    4.1 Solistas e acompanhadores

    4.2 A visão dos músicos

    4.3 A visão do público que assiste

    4.4 Repertório

    4.5 Improviso

    CAPÍTULO V

    UMA UTOPIA MUSICAL

    5.1 Deslocamentos da roda e coletivo Choro na Rua

    5.2 Considerações finais – saideira

    DESLOCAMENTOS DA RODA

    COLETIVO CHORO NA RUA

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    ANEXO

    INTRODUÇÃO

    Um discreto ritual construído por sons e olhares. Um encontro de músicos onde convivem competição e cumplicidade, amadorismo e profissionalismo, melodia memorizada e improviso, animação e sensibilidade, diversão e prática musical objetiva. Essa experiência tão complexa chamada roda de choro é o tema deste livro, e a necessidade de estudar a fundo esse tipo de encontro nasceu ao escrever o livro Choro: do quintal ao Municipal (1998), em que apenas um capítulo é dedicado ao tema. Fiquei muito insatisfeito com o capítulo A roda de choro ontem e hoje e comecei a pensar em como poderia pesquisar a roda em profundidade. Onze anos depois, em 2009, ao fazer a seleção para o Mestrado na Escola de Música da UFRJ, propus o projeto de pesquisa Os chorões e a roda: ambiência, repertório e práticas musicais na roda de choro, ponto de partida deste livro.

    De imediato, ficou claro para mim que era necessário esclarecer exatamente os contornos do objeto roda de choro, visto que o termo tem sido usado para dar nome a coisas bem diferentes. Dentro e fora do Brasil a expressão nomeou e nomeia eventos variados envolvendo o choro: revistas, programas de rádio e conjuntos e/ou núcleos de músicos dedicados ao choro, como, por exemplo, o Roda de Choro de Lisboa. Então, para começarmos a desembaralhar essa superposição de significados, penso que o melhor é conceituar choro e, a partir desse conceito, encontrar uma definição precisa da roda de choro.

    No posfácio da 5º edição do Choro: do quintal ao Municipal (2021), comemorativa dos 150 anos do choro, propus uma definição atualizada e distribuída em 4 pontos. No século XXI, choro é:

    um acervo de composições;

    um conjunto de características rítmicas e fraseológicas, um estilo;

    um gênero musical que teve sua forma definida por Pixinguinha;

    uma prática musical que combina memorização de repertório e improviso.ática musical que combina memorização de repertó

    A roda de choro seria então um dos espaços onde ocorre essa prática musical, com características muito peculiares.

    Evento indispensável em todas as fases da história do choro, por suas múltiplas funções nos campos da prática musical (aprendizado e memorização de repertório, improvisação etc.), do lazer de músicos amadores e de profissionais, muitas vezes ocupados com outros tipos de música, a roda resulta em constante reforço da identidade de um certo grupo de músicos – os chorões. A intenção, desde o primeiro momento, foi avançar nos aspectos subjetivos que dizem respeito a relação entre o músico e a construção de uma experiência de interpretação compartilhada e de que maneira as interações psicossociais, ou seja, a ambiência, determina e influencia diretamente o repertório e as práticas musicais.

    Dentre as opções de prática do choro chamadas de roda, não tenho dúvida que o encontro doméstico é onde ocorre uma experiência mais rica, tanto em termos musicais quanto sociais. Não há compromisso com o tempo cronológico (hora para começar, hora para parar), nem uma hierarquia que determine quem vai tocar ou o que vai ser tocado. Tudo é negociado informalmente. Cada músico que chega procura seu lugar na roda, sem que ninguém lhe faça qualquer determinação. Mas não bastava, para o estudo de caso proposto, que uma determinada roda de choro fosse tipicamente doméstica. Era necessário que fosse representativa de um determinado ambiente e que fosse documentada, pelo menos em áudio, para que os aspectos musicais pudessem ser aferidos com precisão. Felizmente eu conhecia e frequentava, desde os anos 1980, as rodas de choro na casa do arquiteto Alfredo Britto. Esses encontros ocorreram ininterruptamente no primeiro sábado de cada ano entre 1980 e 2015 e eram ao mesmo tempo tipicamente domésticas, representativas e aferíveis. Representativas porque o anfitrião sempre juntou gerações diversas, facções mais tradicionais ou mais progressistas, enfim, uma amostra da variedade de visões estéticas no universo dos chorões cariocas. Não sendo um músico, Alfredo, como anfitrião, sempre dedicou a todos os convidados a mesma atenção e simpatia. Aferíveis porque tiveram registro em áudio, disciplinadamente captado e organizado em acervo pelo próprio Alfredo. Esse acervo, de aproximadamente cento e oitenta horas de gravações, foi integralmente digitalizado e constitui a base para a verificação de mudanças ocorridas na ambiência da roda, com consequências diretas nos campos de práticas musicais e repertório.

    Além da audição e fichamento das rodas gravadas, a pesquisa incluiu uma série de entrevistas com chorões que acumularam grande experiência em rodas de choro e também questionários destinados a músicos e frequentadores habituais das rodas na casa de Alfredo Britto. Essa prospecção nos aspectos mais subjetivos da convivência na roda de choro mostrou-se surpreendente e reveladora, apontando para a capacidade do evento em agregar visões de mundo e da música, por vezes, diametralmente opostas.

    Definido o objeto e a abordagem, é preciso esclarecer a minha posição como observador do choro e da roda de choro. No livro Choro: do quintal ao Municipal e em vários outros escritos que incluem artigos acadêmicos, encartes de discos, textos para a imprensa e para o catálogo sobre música popular brasileira da Cité de la Musique (Paris, 2005), sempre chamei a atenção para a qualidade de elaboração do repertório, o virtuosismo dos intérpretes e tratei o choro como algo vivo e em constante transformação. E exercitei constantemente minha capacidade de deslocamento, desenvolvida ao longo de muitos anos de treinamento e reflexão. Insider como músico, como cultor do choro, como curtidor de roda de choro e outsider como alguém que observa e critica e que produz conteúdo, desde aulas e palestras até programas de rádio e lives para Internet.

    Historicamente, a relação entre amadorismo e profissionalismo no universo do choro é bem dinâmica e flexível. Em seu primeiro depoimento ao Museu da Imagem e do Som – MIS, Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho, 1897-1973) afirma: meu pai não era profissional, mas de vez em quando fazia uns bailes.¹ Jacob do Bandolim (1918-1969) sempre reiterava que nunca dependeu da música para sobreviver e definia o chorão como um músico que não faz questão de ser remunerado, mas não dispensa onde toca um bom prato ou um gostoso trago,² mas anotava disciplinadamente em seu arquivo, cada cachê recebido relativo a suas participações em programas de rádio. E assim é até os dias de hoje, com os chorões amadores sendo remunerados em bares e casas noturnas e tendo registro profissional na Ordem dos Músicos do Brasil. Por outro lado, quando um profissional vai a uma roda de choro doméstica, ele está em atividade necessariamente amadorística e sem remuneração. Entrevistando e transcrevendo entrevistas de chorões mais velhos, emergiu uma terminologia própria, ou seja, em vez de profissionais e amadores, os que vivem de música e os que não vivem de música. A importância na interação desses dois grupos nos trará a compreensão do quão importante a roda de choro foi para que essa musicalidade se espalhasse e se desenvolvesse com os olhos na cultura musical europeia e os pés no chão do terreiro. Se, como o título anuncia, o choro reinventa a roda, perceberemos que a roda reinventa o choro, num processo dinâmico que dá fruto em muitos campos, desde a preservação de repertório até a experimentação com o improviso.

    Ao longo das próximas páginas mergulharemos fundo no ambiente da roda de choro em texto e com as expressivas imagens clicadas por Marília de Figueiredo e avançaremos para compreender o que atrai, o que agrega, o que fascinou e fascina músicos de várias gerações que se encontram na roda de choro há 150 anos.


    1 Pixinguinha, 1966, depoimento ao MIS.

    2 Jacob do Bandolim, 1967, depoimento ao MIS.

    CAPÍTULO I A RODA DE CHORO ATRAVÉS DOS TEMPOS

    1.1 Dos pioneiros à Era do Rádio 1870-1932

    Os primeiros tempos da roda de choro não foram tema de muitas narrativas, fora o sempre citado livro de Alexandre Gonçalves Pinto O Choro, recentemente analisado em profundidade pela tese de doutorado intitulada O baú do Animal, de autoria do bandolinista, chorão e etnomusicólogo Pedro Aragão. No que diz respeito ao clima dos encontros entre os praticantes do choro, o livro dá muitas informações, que ajudam a compreender os aspectos de interação social, mas nas questões de prática musical e de avaliação técnica de músicos, sempre achei as descrições e o juízo de valor incutido nas palavras de Gonçalves Pinto, pouco confiável. Vou exemplificar com alguns detalhes musicais relacionados a figuras das quais possuímos outras referências.

    Falando de Alfredo da Rocha Vianna, o pai de Pixinguinha, Gonçalves Pinto o equipara a flautistas como Viriato Figueira (1851-1882) e Pedro Galdino (1862-1922), instrumentistas e compositores de boa reputação:

    Melodioso flauta que podia se comparar com os acima descriptos [Viriato e Pedro Galdino]. Tocava de primeira vista, a principio, na sua flauta amarella, de cinco chaves e ultimamente em uma, de novo systema.³

    Pixinguinha, em seu depoimento ao MIS, descreve o pai como um flautista que levava três cadernos para tocar três ou quatro choros. Mais adiante Hermínio Bello de Carvalho lhe pergunta se seu pai era compositor e Pixinguinha responde: Não, mas uma vez ele fez uma valsinha. Ora, há uma diferença enorme entre uma impressão e outra, tendendo eu a crer mais, até pela proximidade e convívio, fora o preparo musical, no filho de Alfredo Vianna.

    Em questões de práticas musicais também aparecem descrições pouco verossímeis, como a que fala de um flautista afamado e exigente chamado Videira.

    Era muito respeitado, pelos acompanhadores, e tinha um defeito, se qualquer dos instrumentos desse uma nota fóra da musica, em qualquer passagem, parava a flauta, o que era uma decepção para os convidados, e então logo perguntava ao que errou. O senhor sabe tocar? O que respondia o interpellado, toco pouco, e a minha pratica é quasi nenhuma, e depois

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