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O herói e a feiticeira
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O herói e a feiticeira
E-book236 páginas2 horas

O herói e a feiticeira

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Sobre este e-book

Uma deusa procurando vingança; um príncipe desejando recuperar seu reino; uma bela e poderosa mulher amando pela primeira vez; um carneiro coberto por uma pelagem dourada. A rainha do Olimpo, Jasão, Medéia e o Velocino de Ouro. A associação perfeita para desencadear uma das mais pungentes tragédias da literatura universal, na qual se mesclam aventura, paixão, perfídia e crime.Lia Neiva cria, com esses elementos, uma narrativa envolvente, a partir de seu vasto conhecimento da mitologia grega. O ilustrador Renato Alarcão acompanha, com seus belos desenhos, esta viagem pelo Olimpo....o amor nasce de uma atração involuntária que nosso livre-arbítrio transforma numa ação voluntária.
Octavio Paz
A dupla chama — Amor e Erotismo, p.38CASTIGO ou VINGANÇA? Como são tênues as linhas que os distinguem! A história mitológica que temos em mãos, com certeza, vai despertar no leitor questionamentos que envolvem a essência do comportamento do ser humano trágico.Em O herói e a feiticeira, a narração nos situa em tempos idos, e mostra-nos como as conseqüências do entrelaçar de desejos, intenções, sentimentos e ações são eternas. Emergem no cotidiano do povo, seja este povo dos primórdios da Hélade ou do século XXI, habitante de uma cidade qualquer.Na mitologia grega, o capricho dos deuses transforma seres humanos em simples joguetes na mão do destino. A narrativa nos fala de Hera, que, ofendida pela pouca reverência de um rei, serve-se do auxílio das Moiras para deflagrar uma cadeia de tragédias que nos faz indagar: até que ponto se perpetua um castigo ou se consagra uma vingança? A deusa, soberana máxima do Olimpo, sai de mãos limpas e se exime de responsabilidade, pois ao manipular homens e divindades, instigando neles os sentimentos de amor, vaidade, ambição, ciúme, orgulho e cólera, torna-os protagonistas dos acontecimentos e mentores das ações praticadas.
IdiomaPortuguês
EditoraNova Fronteira
Data de lançamento9 de abr. de 2014
ISBN9788520938485
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    O herói e a feiticeira - Lia Neiva

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    © by Lia Fonseca de Carvalho Neiva

    Direitos de edição da obra em língua portuguesa adqui­ridos pela E

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    . Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação etc., sem a permissão do detentor do copirraite.

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    Rio de Janeiro – RJ – Brasil

    Tel.: (21) 2131-1111 – Fax: (21) 2286-6755

    http://www.novafronteira.com.br

    e-mail: sac@novafronteira.com.br

    E

    DITOR RESPONSÁVEL

    Izabel Aleixo

    P

    RODUÇÃO EDITORIAL

    Daniele Cajueiro

    Ana Carolina Ribeiro

    R

    EVISÃO

    Guilherme Bernardo

    D

    IAGRAMAÇÃO

    Selênia Serviços

    I

    MPRESSÃO E ACABAMENTO

    Lis Gráfica e Editora

    CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte

    Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    ________________________________________

    N338h    Neiva, Lia

    1.ed.      O herói e a feiticeira / Lia Neiva ; – Rio de Janeiro : Nova Fronteira, 2007

    256p.; il.

    ISBN 978-85-209-3848-5

    1. Mitologia grega – Literatura juvenil. I. Título.

    CDD 028.5

    CDU 087.5

    SUMÁRIO

    Introdução

    I       Uma caçada diferente

    II       O forasteiro com um pé descalço

    III       O carneiro com a pelagem de ouro

    IV       A feiticeira da Cólquida

    V       A saga do Argo

    VI       Os mil olhos do mar

    VII       O encontro predestinado

    VIII       Um dia fatídico

    IX       A grande vingança

    X       O gosto de dor

    Glossário

    Legendas das ilustrações

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    INTRODUÇÃO

    Mitologia é um con­jun­to de mi­tos, e mi­tos são nar­ra­ti­vas anô­ni­mas, so­bre se­res e acon­te­ci­men­tos de ca­rá­ter fa­bu­lo­so, ti­das co­mo ver­da­des pe­los po­vos que as cria­ram, di­fe­ren­cian­do-se, por­tan­to, do que cha­ma­mos lendas.

    Os re­la­tos mi­to­ló­gi­cos têm suas ações si­tua­das em épo­cas pri­mi­ti­vas ou re­mo­tas e fo­ram, a prin­cí­pio, trans­mi­ti­dos oral­men­te de uma ge­ra­ção à ou­tra com a fi­na­li­da­de de ex­pli­car ocor­rên­cias, emo­ções e fe­nô­me­nos fí­si­cos que, em ou­tro con­tex­to, não te­riam si­do compreendidos.

    Fazendo aflo­rar ar­qué­ti­pos co­muns a to­da a hu­ma­ni­da­de, mi­tos nas­ci­dos em di­fe­ren­tes cul­tu­ras e ci­vi­li­za­ções apre­sen­tam acen­tua­das se­me­lhan­ças. Há os que dis­cor­rem so­bre a cria­ção do cos­mo; os que des­cre­vem a ori­gem do ho­mem; os que re­ve­lam ta­bus, e os que tra­tam dos pra­ze­res e das fo­bias hu­ma­nas. Em qual­quer de­les, são os deu­ses que de­têm o po­der so­bre as pes­soas e o mun­do on­de elas ha­bi­tam. Complexas e nem sem­pre be­né­vo­las, as di­vin­da­des se dei­xam guiar por pai­xões e sen­ti­men­tos ex­tre­ma­dos co­mo o ciú­me, a ri­va­li­da­de, a ira, a trai­ção, a vin­gan­ça, for­ças que mo­vem os acon­te­ci­men­tos e as aven­tu­ras mi­to­ló­gi­cas, tal co­mo é mos­tra­do em O he­rói e a feiticeira.

    A mi­to­lo­gia gre­ga che­gou até nós atra­vés de pe­ças e de poe­mas épi­cos que, pro­du­zi­dos en­tre os sé­cu­los VIII e V a.C., de­ram for­ma de­fi­ni­ti­va aos re­la­tos orais an­te­rio­res. Neles, os deu­ses in­te­ra­gem com uma clas­se es­pe­cial de cria­tu­ra que, em­bo­ra de as­cen­dên­cia di­vi­na, per­ten­ce ao gê­ne­ro hu­ma­no: o he­rói, per­so­na­gem es­pan­to­so pre­des­ti­na­do a mor­rer tra­gi­ca­men­te, que apre­sen­ta, des­de o nas­ci­men­to, as ca­rac­te­rís­ti­cas que lhe per­mi­ti­rão exe­cu­tar fa­ça­nhas extraordinárias.

    O he­rói e a fei­ti­cei­ra tra­ta da as­so­cia­ção en­tre Jasão e Medéia, par­ce­ria que deu ori­gem a uma das mais pun­gen­tes tra­gé­dias da li­te­ra­tu­ra uni­ver­sal. Não é uma adap­ta­ção da obra de Eurípides; não re­cria o con­sa­gra­do mo­de­lo, e, sim, ofe­re­ce um ou­tro olhar à des­ven­tu­ra que en­vol­veu o pre­ten­den­te ao tro­no de Iolco e a prin­ce­sa do bár­ba­ro rei­no da Cólquida. É um tex­to que, sem mo­di­fi­car a es­sên­cia do mi­to en­fo­ca­do, usa de de­ta­lhes, cir­cuns­tân­cias e acon­te­ci­men­tos que não lhe são ine­ren­tes pa­ra, as­sim, cons­truir uma nar­ra­ti­va com ca­rá­ter próprio.

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    UMA CAÇADA

    DIFERENTE

    Foi em uma tar­de de ou­to­no, em um tem­po mui­to re­mo­to, quan­do o ho­mem atri­buía à ira ou à be­ne­vo­lên­cia dos deu­ses to­dos os acon­te­ci­men­tos que o en­vol­viam; quan­do ele acre­di­ta­va que as di­vin­da­des do Olimpo eram res­pon­sá­veis por qual­quer ocor­rên­cia na Terra; quan­do su­pu­nha que, por ca­pri­cho, elas cria­vam ou des­truíam tu­do o que lhes apra­zia; quan­do ele pen­sa­va ser ape­nas uma in­sig­ni­fi­can­te fo­lha ro­do­pian­do na tem­pes­ta­de das ex­tra­va­gân­cias di­vi­nas, que Jasão, o fi­lho de um rei des­tro­na­do de um pe­que­no rei­no da Tessália, se viu en­vol­vi­do em uma as­tu­cio­sa tra­ma en­gen­dra­da por uma deu­sa em bus­ca de vingança.

    Para pu­nir um mor­tal que ou­sa­ra ne­gli­gen­ciá-la, a ira­da di­vin­da­de, em vez de cas­ti­gá-lo va­len­do-se de seus po­de­res so­bre­na­tu­rais, pre­fe­riu ma­qui­nar uma in­trin­ca­da des­for­ra e uti­li­zar co­mo vin­ga­do­res o jo­vem Jasão e uma be­la fei­ti­cei­ra cha­ma­da Medéia, prin­ce­sa de um lon­gín­quo e de­so­la­do rei­no às mar­gens do mar Negro. Essa es­co­lha foi um re­quin­te, um apu­ro, uma ex­cen­tri­ci­da­de bem ao gos­to dos gran­des deu­ses que ha­bi­ta­vam o mon­te Olimpo. Tal de­ci­são, en­tre­tan­to, ge­rou uma his­tó­ria dra­má­ti­ca que fi­ca­ria pa­ra sem­pre gra­va­da na me­mó­ria dos homens.

    A pri­mei­ra pro­vi­dên­cia da deu­sa ofen­di­da foi re­cor­rer às Moiras, três im­pla­cá­veis ir­mãs res­pon­sá­veis pe­lo des­ti­no dos se­res hu­ma­nos. Habitando o rei­no de Hades, o deus do Mundo Subterrâneo, es­sas di­vin­da­des ti­nham por ta­re­fa te­cer o fio da vi­da hu­ma­na, co­lo­car ne­le o qui­nhão de tris­te­zas e de ale­grias que ca­bia a ca­da ho­mem e, no de­vi­do tem­po, cor­tá-lo, tra­zen­do a mor­te. A deu­sa pro­cu­rou Cloto, a Moira fian­dei­ra en­car­re­ga­da de ur­dir o cor­dão da vi­da, e pe­diu-lhe pa­ra en­tre­la­çar as exis­tên­cias de Jasão e de Medéia de mo­do a trans­for­mar os dois des­ti­nos em um só. A deu­sa sa­bia que, sem a in­ter­fe­rên­cia des­sa po­de­ro­sa cria­tu­ra, era pro­vá­vel que os seus elei­tos ja­mais se en­con­tras­sem, tor­nan­do, en­tão, im­pos­sí­vel o cas­ti­go que ela en­gen­dra­ra com tan­to prazer.

    Quem bus­ca­va vin­gan­ça era a deu­sa dos bra­ços bran­cos, a di­vi­na Hera, mu­lher do gran­de Zeus e rai­nha do Olimpo, o ina­ces­sí­vel mon­te que abri­ga­va as dei­da­des. Terrivelmente ran­co­ro­sa, ela era in­fle­xí­vel e não per­doa­va a me­nor ofen­sa, fos­se hu­ma­na ou divina.

    A ve­lha Cloto não ou­sou con­tra­riar a gran­dio­sa Hera e con­cor­dou em mo­di­fi­car os fa­dos já te­ci­dos pa­ra Jasão e Medéia. A deu­sa exultou:

    — Essa união é es­sen­cial pa­ra a mag­ní­fi­ca vin­gan­ça que te­nho em men­te! O im­pru­den­te mor­tal que me de­sa­fiou se­rá pu­ni­do sem se­quer per­ce­ber o que lhe es­tará acontecendo.

    Quando se de­ci­di­ra pe­lo prín­ci­pe sem rei­no e pe­la prin­ce­sa da Cólquida co­mo ins­tru­men­tos de sua des­for­ra, Hera atri­buiu-lhes fun­ções bem es­pe­cí­fi­cas: Jasão se­ria o de­fla­gra­dor dos acon­te­ci­men­tos, aque­le que cau­sa­ria o con­fli­to ne­ces­sá­rio pa­ra a exe­cu­ção de seu pla­no, e Medéia, a te­mi­da fei­ti­cei­ra, se trans­for­ma­ria no bra­ço vin­ga­dor que, en­fim, cas­ti­ga­ria o ho­mem que pre­ci­sa­va ser punido.

    Para unir as sor­tes de Jasão e de Medéia bas­ta­ria, a Cloto, des­man­char al­gu­mas la­ça­das nos fios da­que­las vi­das e subs­ti­tuí-las por ou­tras. Algo ex­tre­ma­men­te fá­cil pa­ra a fian­dei­ra da exis­tên­cia. Entretanto, as­sim co­mo acon­te­ce­ra com a rai­nha do Olimpo, ela quis usar de re­quin­tes e de­ci­diu-se por uma tra­ma en­ga­no­sa­men­te sim­ples; uma su­ces­são de fa­tos que, li­ga­dos de for­ma su­til, ine­xo­ra­vel­men­te, le­va­riam ao cas­ti­go de­se­ja­do pe­la deu­sa.

    No to­po da mon­ta­nha sa­gra­da, em seu pa­lá­cio de nu­vens e ar, Hera acom­pa­nha­va aten­ta­men­te o tra­ba­lho da Moira e fe­li­ci­tou-a pe­la en­ge­nho­si­da­de da­que­la teia de apa­rên­cia tão ino­cen­te. Nunca a ve­lha cria­tu­ra ur­di­ra com tan­to es­me­ro. A des­for­ra olím­pi­ca se­ria exemplar.

    Enquanto Cloto te­cia, Hera di­ri­giu seu pen­sa­men­to pa­ra os seus dois elei­tos. Medéia, a fi­lha de Hécate — ve­lha di­vin­da­de da noi­te e se­nho­ra das as­som­bra­ções —, her­da­ra de sua ter­rí­vel mãe o gos­to pe­las coi­sas ne­fan­das e não he­si­ta­ria em se­guir o no­vo ca­mi­nho que lhe es­ta­va sen­do pre­pa­ra­do. E quan­to a Jasão? Deuses não se en­ga­nam; er­rar é con­tra a sua na­tu­re­za, e a di­vi­na in­tui­ção de Hera lhe as­si­na­la­ra que o jo­vem prín­ci­pe sem rei­no era o par ideal pa­ra con­tra­ce­nar com a be­la fei­ti­cei­ra. Ele era per­fei­to pa­ra mo­ti­var a fi­lha de Hécate a con­su­mar a su­bli­me vin­gan­ça. Satisfeita com a sua es­co­lha, a deu­sa vol­tou seus olhos pa­ra o pas­sa­do e pou­sou-os no rei­no de Iolco, a ter­ra de Jasão. Atentamente, re­viu a tra­je­tó­ria de vi­da do seu elei­to, acom­pa­nhan­do, pas­so a pas­so, to­do o seu de­sen­ro­lar. Viu seu pai, o rei, ser des­tro­na­do pe­lo meio-ir­mão Pélias. Viu que pa­ra sal­var o fi­lho pe­que­no, ele o en­tre­ga­ra aos cui­da­dos de Quirão, um cen­tau­ro na­da mons­truo­so e bem di­fe­ren­te dos ou­tros de sua ra­ça, um ser bon­do­so e ins­truí­do, um mé­di­co que co­nhe­cia as pro­prie­da­des te­ra­pêu­ti­cas de to­das as plan­tas e que se de­li­cia­va com a mú­si­ca e a poe­sia. Viu o me­ni­no cres­cer sob os seus cui­da­dos, re­ce­ben­do con­se­lhos e en­si­na­men­tos so­bre as coi­sas da paz e da guer­ra. Viu quan­do ele se tor­nou um jo­vem be­lo e in­te­li­gen­te, do­no de uma for­ça ex­traor­di­ná­ria. Ouviu quan­do o cen­tau­ro lhe disse:

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    — Já és um ho­mem, Jasão. Deves dei­xar a mi­nha com­pa­nhia e se­guir pe­lo mun­do pro­cu­ran­do o teu des­ti­no. Farias bem em ir vi­si­tar Iolco, o rei­no de teu tio, e re­cla­mar tu­do o que te é devido.

    Testemunhou o mo­men­to em que o jo­vem par­ti­ra do mon­te Pélion e ini­cia­ra uma vi­da de aven­tu­ras em com­pa­nhia de três bons amigos.

    As vi­sões eram as­se­gu­ra­do­ras, e a di­vin­da­de con­gra­tu­lou-se por ter es­co­lhi­do Jasão, mas, in­tri­ga­da por tan­ta per­fei­ção, re­sol­veu tes­tá-lo, ela pró­pria. Examinando aten­ta­men­te a tra­ma de Cloto, a deu­sa dos bra­ços bran­cos es­co­lheu co­mo e quan­do co­lo­cá-lo à prova.

    Ao op­tar por uma ur­di­du­ra apa­ren­te­men­te ino­fen­si­va que não le­van­tas­se sus­pei­tas, nem pre­nun­cias­se sua fi­na­li­da­de, a Moira co­me­çou por tra­mar ape­nas uma ca­ça­da a ja­va­lis bra­vios. A fian­dei­ra do des­ti­no reu­niu Jasão e seus ami­gos Alfeu, Lineu e Tirão em uma lou­ca e di­ver­ti­da ca­val­ga­da ao bos­que on­de vi­viam as feras.

    Entusiasmada com o apu­ro da Moira, a mu­lher de Zeus tra­tou de fa­zer sur­gir o ce­ná­rio per­fei­to pa­ra o de­sen­ro­lar dos acon­te­ci­men­tos que es­ta­vam sen­do tran­ça­dos. Então, con­vo­cou o gi­gan­te Briareu, fi­lho do Céu e da Terra, um mons­tro de cem bra­ços e cin­qüen­ta ca­be­ças, e or­de­nou-lhe que im­preg­nas­se o ar com a umi­da­de de seu há­li­to, crian­do uma bru­ma pa­ra pe­ne­trar o lo­cal da ma­tan­ça e di­fi­cul­tar a vi­são dos ca­ça­do­res. A né­voa, as­sim for­ma­da, es­quar­te­jou a pai­sa­gem, dei­xan­do vi­sí­veis só al­guns tre­chos da ma­ta. Em se­gui­da, ela cha­mou Bóreas, o fu­rio­so Vento Norte, e man­dou que so­pras­se, sem tré­gua, o seu mau hu­mor cor­tan­te e ge­la­do. Pronto! A ce­na es­ta­va per­fei­ta. O dis­pa­rar de­sen­frea­do das mon­ta­rias em di­re­ção à mo­ra­da dos ja­va­lis ini­ciou o dra­ma. Satisfeita, a deu­sa dos bra­ços bran­cos re­fu­giou-se na Ásia Menor pa­ra acom­pa­nhar, do al­to do mon­te Ida, to­das as eta­pas da di­vi­na des­for­ra. A ro­da do des­ti­no já gi­ra­va, e os de­dos da ve­lha Cloto já ur­diam em seu tear. A de­se­ja­da vin­gan­ça iria, im­pla­ca­vel­men­te, se cumprir.

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    Entre ri­sos e gri­tos de ale­gria, Jasão e seus três ami­gos des­mon­ta­ram de seus fo­go­sos ca­va­los bem na en­tra­da do bos­que. Caçar ja­va­lis era pe­ri­go­so e, por is­so mes­mo, ex­ci­tan­te. Os ma­chos che­gam a pe­sar du­zen­tos qui­los e são ter­ri­vel­men­te agres­si­vos quan­do acua­dos; seus ca­ni­nos cur­va­dos pa­ra fo­ra são tão afia­dos quan­to uma lâ­mi­na e, jun­ta­men­te com as duas pre­sas do ma­xi­lar in­fe­rior, for­mam uma ar­ma le­tal. Mas is­so não in­ti­mi­da­va nos­sos ca­ça­do­res. Eles eram jo­vens e se acha­vam imu­nes a qual­quer ris­co. Tinham a ju­ven­tu­de co­mo um es­cu­do. Sentiam-se se­gu­ros e poderosos.

    Bóreas con­ti­nua­va a ru­gir, ba­lan­çan­do fu­rio­sa­men­te as ra­ma­gens e di­fi­cul­tan­do a co­mu­ni­ca­ção en­tre os qua­tro, que mal po­diam se ou­vir. Mas es­se de­ta­lhe tam­bém não lhes pa­re­cia im­por­tan­te. Que o vio­len­to fi­lho de Eos bra­das­se a sua irritação!

    A ale­gria não di­mi­nuiu mes­mo quan­do os ca­ça­do­res pe­ne­tra­ram no es­pes­so ne­voei­ro cria­do pe­lo

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