Toques do griô: Memórias sobre contadores de histórias africanas
()
Sobre este e-book
Relacionado a Toques do griô
Ebooks relacionados
O preto que falava iídiche Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO sinal do pajé Nota: 5 de 5 estrelas5/5Negritude - Usos e sentidos Nota: 4 de 5 estrelas4/5O livro negro dos sentidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasObjetos da escravidão: Abordagens sobre a cultura material da escravidão e seu legado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPele silenciosa, pele sonora: A literatura indígena em destaque Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cultura em movimento: Matrizes africanas e ativismo negro no Brasil Nota: 2 de 5 estrelas2/5Centro de Cultura e Arte Negra - Cecan Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEnsinar História Afro-Brasileira e Indígena No Século XXI: A Diversidade em Debate Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPolíticas culturais e povos indígenas Nota: 5 de 5 estrelas5/5Africanidades e Brasilidades: Literaturas e Linguística Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDicionário escolar afro-brasileiro Nota: 3 de 5 estrelas3/5Desafios para uma Educação Quilombista no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDa Escrita à Oralidade na Encantaria do Terreiro da Turquia Nota: 5 de 5 estrelas5/5Nos Rastros de Sujeitos Diaspóricos: Narrativas sobre a Diáspora Africana no Ensino de História Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJongo e Memória Pós-Colonial uma Luta Quilombola Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Silenciamento da Cultura Africana, Afro-Brasileira e Indígena no Livro Didático de História Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPardos: A Visão das Pessoas Pardas pelo Estado Brasileiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPoesia Negra: Solano Trindade e Langston Hughes Nota: 5 de 5 estrelas5/5Negritude - Nova Edição: Usos e sentidos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMemórias ancoradas em corpos negros Nota: 0 de 5 estrelas0 notasEntre Brasil e África: Construindo conhecimentos e militância Nota: 0 de 5 estrelas0 notasControversas: Perspectivas de Mulheres em Cultura e Sociedade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDevir quilomba: antirracismo, afeto e política nas práticas de mulheres quilombolas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLadinos e crioulos: Estudos sobre o negro no Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMemórias da escravidão em mundos ibero-americanos: (Séculos XVI-XXI) Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAfrocentricidade: Uma abordagem epistemológica inovadora Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPensadores negros - Pensadoras negras: Brasil séculos XIX e XX Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNas águas desta baía há muito tempo: Contos da Guanabara Nota: 5 de 5 estrelas5/5Afrografias da Memória: O Reinado do Rosário no Jatobá Nota: 5 de 5 estrelas5/5
Lendas, mitos e fábulas para crianças para você
Lendas de Exu Nota: 5 de 5 estrelas5/5Cordelendas: Histórias indígenas em cordel Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFábulas de La Fontaine Nota: 5 de 5 estrelas5/5Infância na aldeia Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os doze trabalhos de Hércules Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMuriqui, o macaco feliz (com narração): Alegria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFábulas do mundo todo: Esopo, Leonardo da Vinci, Andersen, Tolstoi e muitos outros Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mitologia Grega em Textos: Uma Breve Síntese Para Quem Quer Aprender Mais Sobre Este Tema Nota: 5 de 5 estrelas5/5Espíritos de tormenta: As lâminas ancestrais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasBonequinha de Oxum Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Karaíba: Uma história do pré-Brasil Nota: 5 de 5 estrelas5/5O livro de ouro da mitologia: Histórias de deuses e heróis Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos da floresta Nota: 4 de 5 estrelas4/5Muriqui, o macaco feliz: Alegria Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJaxy Jaterê Nota: 0 de 5 estrelas0 notasVocê fala javanês? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO porquinho Sujão: Humildade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMitos, contos e lendas da América Latina e do Caribe Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFábulas fantásticas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO porquinho Sujão (com narração): Humildade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUma viagem à Grécia: Os jogos olímpicos e os deuses Nota: 5 de 5 estrelas5/5Contos fantásticos coreanos: feiticeiras, fantasmas e outras criaturas mágicas Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA origem do beija-flor: Guanãby Muru-Gáwa Nota: 0 de 5 estrelas0 notasQuem vai ajudar o lobo mau? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLili inventa o mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAfricanear Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA cura da terra Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCarcará, o soberano (com narração): Resistência Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA grande onda: Katsushika Hokusai Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAmigos do folclore brasileiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Avaliações de Toques do griô
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Toques do griô - Heloisa Pires Lima
Heloisa Pires Lima
Leila Leite Hernandez
Toques do Griô
Ilustrações de
Kaneaki Tada
À Malu, como sempre.
Vó Leila
Para meu pabum, o seu Chico, que sabia guardar verdades em sua guaiaca.
Heloisa Pires Lima
Toda a nossa gratidão a José Nicolau Gregorin Filho e Leila Bortolazzi
Quem fala semeia.
Quem escuta colhe.
(provérbio malinqué)
Três são as verdades: a minha verdade, a tua verdade e a Verdade.
Hassane Kouyaté
Sumário
1.ª corda. Escutem o vento!
2.ª corda. Escutem as línguas!
3.ª corda. Escutem os ferros em brasa!
4.ª corda. Escutem o balafom!
5.ª corda. Escutem o dia a dia na aldeia dos griôs!
6.ª corda. Escutem o conto!
7.ª corda. Escutem o rugido do Leão!
8.ª corda. Escutem! Lá vem a corte do griô!
9.ª corda. Escutem o som do milharal!
10.ª corda. Escutem o arco no exílio!
11.ª corda. Escutem a palavra do griô!
12.ª corda. Escutem o segredo!
13.ª corda. Escutem o segundo rugido do Leão!
14.ª corda. Escutem a guerra de bocas!
15.ª corda. Escutem as griotes!
16.ª corda. Escutem a noiva!
17.ª corda. Escutem a batalha de Kirina!
18.ª corda. Escutem o islã à beira do rio Níger!
19.ª corda. Escutem a aliança sendo moldada!
20.ª corda. Escutem o griô que veio para a América!
21.ª corda. Escutem a kora!
De palavra em palavra
Glossário
Créditos
1.ª corda
Escutem o vento!
— Eu estava lá para a travessia do rio onde escorria o ouro mais puro. Não duvidem! As palavras que eu sopro são cheias de segredos. Um para cada ouvido. Escutem com atenção. Foi entre a savana e a floresta que tudo aconteceu. Eu vi o exército de 100 mil homens. O negro e o amarelo do estandarte flamejavam como labaredas atiçadas pelos ares que insistiam em trazer os odores da batalha. Eu estava ali, a serviço do Grande Mansa, anotando tudo em minha memória. Nada me escapava. Eu segui a flecha que perfurou a arrogância. Eu acompanhei cada pulsar dos músculos férreos do chefe de guerra que disputava o comando dos homens com a própria morte. Eu vi. Não duvidem!
Sempre foi assim. Desde os tempos imemoriais são eles que sabem laçar ouvintes com maestria. Conhecem como prender os olhos de toda a gente com apenas alguns gestos e como amarrar seu corpo com fios de histórias. Entre os vivos que conheci, o melhor de todos era o pai de meu pai. Eu ainda ouço sua voz modulando cantos mágicos. Ele cantava e tocava seu instrumento horas e horas debaixo dos baobás até os sons ficarem borrados, como o horizonte quando encosta o dia na noite. Os fluidos da voz apenas passavam pela garganta, pois saíam de uma alma profunda, de um tempo muito distante e carregado por uma emoção que jamais seria decifrada. Eles sabiam como ninguém condensar as histórias para depois espalhá-las entre o povo do Mandem.
Foi o pai de meu pai quem me ensinou não ser suficiente apenas aprender as histórias para depois contá-las. Que não bastava tão somente reviver cada guerreiro, cada atmosfera para demonstrar a astúcia, a coragem, a honra e o poder dos soberanos ou como batia o coração do povo. Era preciso fazer com que permanecessem vivas na memória das novas gerações.
2.ª corda
Escutem as línguas!
— Diéli!
O assunto rendia, e o Grande Hassane parecia mesmo muito sabido para aquele grupo de ouvintes. Ele explicava e tentava puxar com os olhos alguma pergunta de sua plateia, para logo recomeçar a exibir sua vasta sapiência:
— Ninguém no antigo Mali chamava o diéli de griô. Hoje é que todo mundo chama o diéli de griô. O povo bambara, mais ao norte, ou aqueles que falam a língua wolof, mais ao sul, chamavam seus griôs de gewalos. Digo que eles existem por toda a região, mas recebem nomes diferentes, dependendo da sociedade que os alimentou. Mas escutem a história da palavra griô
. É a que eu vou contar agora. Poucos a conhecem. Eu trago o passado. O tempo dos antigos viajantes estrangeiros que passaram por estas terras. Chamava a atenção aquela figura imponente sempre ao lado do soberano. Logo perguntavam quem era ele. O estrangeiro deu-lhe nomes diferentes. Cada um traduziu do seu jeito. Alguns árabes, quando chegaram por aqui, chamaram os griôs de dougas.
Pâté Kouyaté também era um griô presente entre os ouvintes do diéli Hassane Sumano. A diferença entre eles não estava na idade e sim no fato de Hassane haver estudado na França. Só agora ele regressara ao Mali para continuar sua iniciação. Pâté já tinha uns cinco anos de iniciado. Os dois, entretanto, sabem que ser um Sumano ou um Kouyaté significa pertencer a uma linhagem secular de descendentes de griôs. Todo griô tem sua iniciação.
Hassane gostava de explicar a diferença entre as palavras diéli e griô e encontrou em Pâté um ouvido e uma boca que não