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Ni perdón, Nem esquecimento: ditadura militar na história e na literatura brasileira e argentina : relação entre ficção e história nas disciplinas de Literatura e História no ensino médio
Ni perdón, Nem esquecimento: ditadura militar na história e na literatura brasileira e argentina : relação entre ficção e história nas disciplinas de Literatura e História no ensino médio
Ni perdón, Nem esquecimento: ditadura militar na história e na literatura brasileira e argentina : relação entre ficção e história nas disciplinas de Literatura e História no ensino médio
E-book320 páginas3 horas

Ni perdón, Nem esquecimento: ditadura militar na história e na literatura brasileira e argentina : relação entre ficção e história nas disciplinas de Literatura e História no ensino médio

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Sobre este e-book

Ni perdón, Nem esquecimento: ditadura militar na história e na literatura brasileira e argentina, configurou-se em um estudo que abrangeu a disciplina de Literatura no Ensino Médio, na qual obra de ficção avulta-se como modelo por excelência da leitura, uma vez que, segundo Zilberman (1984), ela é: "[...] uma imagem simbólica do mundo que se deseja conhecer e ela nunca se dá de maneira completa e fechada. Pelo contrário, sua estrutura, marcada pelos vazios e pelo inacabamento das situações e figuras propostas, reclama a intervenção de um leitor, o qual preenche essas lacunas, dando vida ao mundo formulado pelo escritor.
Deste modo, à tarefa de deciframento se implanta outra: a de preenchimento, executada particularmente por cada leitor, imiscuindo suas vivências e imaginação. " (p. 19). Nesse ínterim, é possível estabelecer uma relação interdisciplinar entre os componentes curriculares de Literatura e de História, no Ensino Médio, cuja aproximação vem ao encontro das aprendizagens por parte dos educandos. Isso posto, corrobora-se que um dos diálogos mais consistentes que vêm se estabelecendo no campo teórico das ciências humanas é entre Literatura e História e, a partir da aproximação desses dois campos do saber, o literário e o histórico, os avanços teóricos e conceituais construídos propiciam outras perspectivas para representar a realidade. Desse modo, não se pode omitir, que tanto como o componente curricular de Literatura, o de História também condensa o imaginário social.
Assim, História e Literatura reconduzem o seu olhar sobre a história do país, por exemplo. A primeira enfoca as ocorrências históricas, enquanto a segunda, a partir da ficção, traz esses acontecimentos à luz do imaginário, da sensibilidade, da emoção. Assim, salienta-se que é de suma importância que existam trocas e compartilhamentos entre os conteúdos aplicados na escola nos diferentes componentes curriculares. Se isso acontecer, o estudante não estará aprendendo de forma fragmentada, mas sim relacionará suas aprendizagens e construirá o seu saber. Assim, acentua-se que as disciplinas de Literatura e de História, no Ensino Médio, poderão ser articuladas conjuntamente, cada uma expressando o seu olhar. Dessa forma, o presente estudo é de suma importância, uma vez que busca, alicerçado à literatura teórica, verificar como se registra no ambiente escolar, as aprendizagens de Literatura. A Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio (2016) salienta "Importa despertar no jovem o interesse pela leitura literária, possibilitar a descoberta de modos de ser tocado por um texto, escrito, às vezes, há tanto tempo, mas que evoca questões e novos olhares para o presente". (p. 508).
Nesse viés, a história presente na conjuntura da ditadura militar argentina e brasileira é contextualizada dentro de seu contexto histórico, e esse é apresentado na leitura literária, nas aulas de Literatura, trazendo as aproximações e diferenças desse mesmo tema, na história e na ficção. Uma vez que História e Literatura se aproximam, torna-se possível compreender a Literatura também por meio da História. Tanto a primeira quanto a segunda, não se estabelecem sem o contato com a sociedade, com a cultura e com a história.
Dessarte, a Literatura também pode dar préstimo aos estudos historiográficos, posto que a conexão e a logicidade do texto literário podem assistir o historiador para que ele perceba o que ainda não viu, de forma que a Literatura, graças a sua pluridiscursividade, possa trazer-lhe novos significados e interpretações ao seu objeto de pesquisa. Linda Rutsom (1991), por exemplo, menciona que "parece haver um novo desejo de pensar historicamente, é pensar crítica e contextualmente". (p. 121). Na contemporaneidade, já não é possível ignorar os fatos do passado histórico, sem pensar nas implicações destes para o presente histórico.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de jul. de 2021
ISBN9786525203447
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    Ni perdón, Nem esquecimento - Eva Accorsi

    capaExpedienteRostoCréditos

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de Rosto

    Créditos

    1. INTRODUÇÃO

    2. LITERATURA NO ENSINO MÉDIO

    2.1. ORIENTAÇÕES LEGAIS

    2.2. REVISITANDO O PERCURSO HISTÓRICO DO ENSINO DA LITERATURA: EM BUSCA DA ARTICULAÇÃO ENTRE FICÇÃO E REALIDADE

    3. FICÇÃO E HISTÓRIA: AS FRONTEIRAS DO LITERÁRIO PODEM INCORPORAR O DADO HISTÓRICO

    3.1. LITERATURA, O OLHAR DA FICÇÃO

    3.2. O HOJE FUNDAMENTA-SE NA HISTÓRIA DO ONTEM

    3.3. FICÇÃO E HISTÓRIA: APROXIMAÇÕES

    4. A LEITURA NO ENSINO MÉDIO

    4.1. ANÁLISE DA LEITURA NO ENSINO MÉDIO

    4.2. RETRATO DOCENTE

    4.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA ENTREVISTA

    5. DITADURA NO BRASIL E NA ARGENTINA

    5.1. DITADURA NO BRASIL

    5.1.2. DITADURA NA LITERATURA BRASILEIRA

    5.2. DITADURA NA ARGENTINA

    5.1.2. DITADURA NA LITERATURA ARGENTINA

    6. PROPOSTA DE LEITURA DE TEXTOS

    6.1. METODOLOGIA

    6.2. A MANCHA DE LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

    6.2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA E CRITÉRIOS DE ESCOLHA

    6.2.2. ROTEIRO DE LEITURA

    6.3. ESA MUJER DE RODOLFO WALSH

    6.3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO DA OBRA E CRITÉRIOS DE ESCOLA

    6.3.2. ROTEIRO DE LEITURA

    6.3.3. RESULTADOS DA APLICAÇÃO DE ESA MUJER

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    ANEXOS

    Landmarks

    Capa

    Folha de Rosto

    Página de Créditos

    Sumário

    Bibliografia

    1. INTRODUÇÃO

    Com o advento da Internet, informações, pesquisas e curiosidades estão à disposição de qualquer pessoa com apenas um click. Esse meio, que disponibiliza o acesso a conteúdos de diferentes naturezas, inclusive os de caráter técnico, científico e histórico, também alimenta o processo ensino/aprendizagem nos bancos escolares, acarretando ao docente um árduo desafio no ofício de lecionar. Com isso, os discentes vêm refertos de questionamentos em relação à necessidade de ter de estudar isso ou aquilo, como por exemplo: Por que se estuda Literatura? Por que se torna importante saber do contexto histórico deste ou daquele período para, então, entender e compreender o presente?

    Diante dessa prática, buscou-se aclarar conceitos de História e Literatura, assim como elucidar o quão esses componentes curriculares dialogam, podendo, dessa forma, atenuar a resistência estipulada pelos estudantes em relação aos estudos literários, permitindo-os (re)significar¹ suas experiências e despertar, novamente, o desejo, a predileção e o bel-prazer para o ensino e a aprendizagem da Literatura.

    A esse desafio diligenciou-se a investigação, configurada nos componentes curriculares de Literatura e História, com o intento de pesquisar como um mesmo fato, a saber: a Ditadura Militar, é concebido nessas duas disciplinas escolares. Para abordar este assunto, a pesquisadora propõe o seguinte problema de pesquisa: Como dinamizar a relação interdisciplinar no âmbito da literatura de ficção e da história da ditadura civil militar brasileira e argentina?

    Em face à essa investigação, estabeleceu-se como objetivo geral, verificar se há a relação interdisciplinar entre os componentes curriculares de Literatura e de História, no Ensino Médio, e se essa aproximação vem ao encontro das aprendizagens por parte dos educandos.

    A partir dessa apuração, surge a curiosidade científica de entender os resultados alcançados e, com a finalidade de especificar os objetivos da faina, descreve-se os 4 itens que serão explorados com maior profundidade: analisar como a Base Comum Curricular do Ensino Médio articula a Literatura como componente curricular; verificar como o componente curricular de Literatura é inserido no ambiente escolar, nas aulas do Ensino Médio; reconhecer a existência da interdisciplinaridade entre as disciplinas de Literatura e de História no Ensino Médio; e elaborar dois roteiros de leitura, um com um conto argentino e outro com um conto brasileiro.

    Na busca de respostas aos objetivos mencionados, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, a partir da qual construiu-se um referencial teórico, o qual corrobora a interdisciplinaridade como possibilidade de enriquecimento tanto para o ensino de História como para o de Literatura.

    Assim, após toda a conceituação realizada diante do tema A Ditadura Militar na literatura e na história argentina e brasileira, escolheram-se dois contos, Esa Mujer (argentino) e A Mancha (brasileiro), para conversarem, na prática, com o conteúdo já contextualizado.

    Dessarte, este labor apresenta, primeiramente, quais são as orientações legais do ensino da Literatura para o Ensino Médio, ancorado na BNCC² (Base Nacional Comum Curricular), que esboça um projeto de estudo estruturado em torno de componentes curriculares obrigatórios, divididos em áreas de conhecimento, dentre as quais, destaca-se a Área da Linguagem, composta, também, pelo componente curricular de Língua Portuguesa, no qual a Literatura se insere.

    Dentro dessa ampla Área da Linguagem, foram concebidos campos de atuação, definidos em torno da ideia de prática, não sendo apenas teórica, mas também pragmática, em que um dos objetivos gerais diz respeito ao aprendizado de Literatura aliada à leitura e análise de textos.

    Com base em tais definições, mencionadas na BNCC, o estudante de Literatura, no Ensino Médio, não deve, apenas, ter contato com a literatura a partir de definições de escolas literárias ou de leituras de textos literários propriamente ditos, mas também com alguma forma de crítica literária. Isto é, a literatura não deve ser aprendida apenas com conceitos e teorias, mas, sim, como um agente de conhecimento sobre o mundo, sobre o homem, sobre a história da humanidade, a sua transformação e, por que não, a sua re(significação).

    A Base Nacional Comum Curricular para o Ensino Médio, em suas orientações, menciona que

    Neste campo, trata-se, principalmente, de levar os estudantes a ampliar seu repertório de leituras e selecionar obras significativas para si, conseguindo apreender os níveis de leitura presentes nos textos e os discursos subjacentes de seus autores. Ao engajar-se mais criticamente, os jovens podem atualizar os sentidos das obras, [...]. Trata-se, portanto, além da apropriação para si, de desfrutar também dos modos de execução das obras, que ocorre com a ajuda de procedimentos de análise linguística e semiótica. A prática da leitura literária, assim como de outras linguagens, deve ser capaz também de resgatar a historicidade dos textos: produção, circulação e recepção das obras literárias, em um entrecruzamento de diálogos (entre obras, leitores, tempos históricos) e em seus movimentos de manutenção da tradição e de ruptura, suas tensões entre códigos estéticos e seus modos de apreensão da realidade. Espera-se que os leitores/fruidores possam também reconhecer na arte formas de crítica cultural e política, uma vez que toda obra expressa, inevitavelmente, uma visão de mundo e uma forma de conhecimento, por meio de sua construção estética. (BNCC, 2018, p. 513).

    Na sequência, o presente estudo apresenta o percurso histórico da Literatura em nosso país, que, embora tardia, sobre o comando dos jesuítas, concretizou-se durante o Brasil Colonial; contudo, foi no Brasil Império que o componente curricular de Literatura, acoplado à disciplina de Língua Portuguesa, foi inserido como disciplina escolar, o que perdura até os dias atuais.

    Todavia, no momento atual, o ensino da Literatura não se concretiza de forma fragmentada, pontuado sob a forma de escolas literárias, mas sim, acredita, que a leitura literária, de forma crítica e reflexiva, é o meio mais apropriado para a concepção das aprendizagens literárias, e que proporciona ao estudante conhecimentos sobre o mundo, sobre o homem e sobre a sua história. Zilberman reitera que

    A natureza eminentemente histórica da Literatura, se manifesta durante o processo de recepção e efeito de uma obra, isto é, quando essa se mostra apta à leitura. A relação dialógica entre leitor e texto – este é o fato primordial da história da literatura, e não o rol elaborado depois de concluídos os eventos artísticos de um período. A possibilidade de a obra se atualizar com o resultado da leitura é o sintoma de que está viva; porém, como as leituras diferem em cada época, a obra mostra-se mutável, contrária à sua fixação numa essência sempre igual e alheia ao tempo. (1989, p. 33).

    Sob esse aspecto, apresenta-se, no terceiro capítulo, uma reflexão entre a ficção e a história. Entretanto, destaca-se que essa análise não coloca dados ficcionais e históricos como adversários, antagonistas ou oponentes, mas, sim, como suscetíveis de realizarem a leitura de um fato sob diferentes ângulos, a visão do fato, do dado histórico, do tempo, do espaço, do momento político, social e econômico daquele objeto de estudo, bem como a visão do fazer artístico desses mesmos fatos, reproduzidos no texto literário.

    Zilberman (1989) menciona que Jauss compreende que entre a história e a literatura também há um conhecimento estético e um conhecimento histórico, ao afirmar que

    Tanto no conhecimento estético, quanto no conhecimento histórico, o intervalo da Literatura e o da História pode ser ultrapassado, quando a história da literatura não se limitar a descrever de novo o processo da história geral através do espelho de suas obras e descobrir, no curso da evolução literária, em seu sentido próprio, aquela função educativa e social, que correspondia à Literatura quando esta concorria com as artes e poderes sociais para emancipar o homem de suas ataduras naturais, religiosas e sociais. (ZILBERMAN, 1989, p. 39).

    Nessa perspectiva, enfatiza-se que toda a historicidade construída em um determinado tempo e espaço, apresentada na disciplina de História, também pode ser abordada no componente curricular de Literatura. Na medida em que a Estética da Recepção³ permite que o leitor construa a (re)significação do texto por meio da leitura, do entendimento, da compreensão e da interpretação daquilo que o texto diz e como diz.

    Ainda neste capítulo, abordam-se as aproximações existentes entre a ficção e a história, considerando-se que tanto uma quanto a outra são narrativas que se alicerçam na construção de um fato, ou na reconstrução desse. Aliado a isso, essas diegeses se baseiam em elementos fictícios ou não; bem como na idealização de uma maior aproximação do leitor, ou não; ou, apresentam uma estrutura de maior jogo do autor, ou não. Desse modo, esses dois tipos de narrativas contêm ora aproximações em relação a fatos históricos, políticos sociais, econômicos, por exemplo, ora distanciamentos entre esses mesmos fatos. Essa inter-relação existente entre a história e a ficção não se configura como separação, divisão ou ruptura, mas sim como uma ramificação que propicia relações, diálogos, isto é, promove uma re(significação) dos conhecimentos que a história proporciona, os quais transitam pela literatura a partir das fronteiras imaginárias e simbólicas. Com efeito, Pesavento defende:

    É claro que tanto a História quanto a Literatura têm métodos e existências diferenciadas [...]. Mas se o historiador, na sua busca de construção de um conhecimento sobre o mundo, quer resgatar as sensibilidades de uma outra época, a maneira como os homens representavam a si próprios e à realidade, como não recorrer ao texto literário, que lhe poderá dar indícios dos sentimentos, das emoções, das maneiras de falar, dos códigos de conduta partilhados, da gestualidade e das ações sociais de um outro tempo? E, no caso, a Literatura, como pode deixar de se voltar, também, para o resgate da narrativa histórica que, reconstruindo o passado ou inventando o futuro, persegue a verdade como projeto intelectual, revelando com isto a historicização das formas de uma escritura que busca dar ordem ao mundo? Parece que as duas narrativas se empenham neste esforço de capturar a vida, reapresentar o real e, mesmo que as suas estratégias de argumentação possam diferir, um diálogo ou um cruzamento de olhares entre os domínios das duas musas pode ser, além de gratificante, esclarecedor. (2000, p. 7-8).

    O encadeamento seguinte traz a análise da Leitura no Ensino Médio. Para tanto, foi realizada uma pesquisa com discentes e docentes acerca da sua percepção sobre o componente curricular de Literatura na Educação Básica. Mediante uma entrevista, investigou-se se os sujeitos entrevistados leem, como escolhem suas obras, que tipo de obra e autor estão em sua preferência e se esses percebem a interdisciplinaridade existente entre as disciplinas de História e Literatura.

    O capítulo subsequente aborda o período ditatorial do Brasil e da Argentina, contextualizando-o em cada um dos países supracitados. Além disso, faz-se a análise de três obras literárias brasileiras e de três obras literárias argentinas que manifestam, em sua narrativa, o contexto histórico da ditadura militar de seu país. Posteriormente, apresenta-se dois roteiros de estudo para as primeiras séries do Ensino Médio: um deles contempla um conto da literatura brasileira, A Mancha, de Luis Fernando Veríssimo, e, o outro, um conto da literatura argentina, Esa Mujer, de Rodolfo Walsh.


    1 Ressignificar é um verbo transitivo que caracteriza a ação de atribuir um novo significado a algo ou alguém. Ele está relacionado com o processo de ressignificação, um método da neurolinguística que faz com que as pessoas possam dar novos significados a acontecimentos da vida, a partir da sua mudança na percepção do mundo.

    2 BNCC: A Medida Provisória nº 748/2016 foi sancionada pelo presidente da República, Michel Temer, em fevereiro de 2017. O texto passou por 567 emendas de deputados e senadores, o que resultou na mudança de temas polêmicos e flexibilizou um pouco a reforma do Ensino Médio. Foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação em 04 de dezembro de 2018 e encontra-se em revisão no Mistério de Educação.

    3 A Estética da Recepção ou Teoria da Recepção propõe uma reformulação da historiografia literária e da interpretação textual, procurando romper com o exclusivismo da teoria de produção e representação da estética tradicional, pois considera a Literatura enquanto produção, recepção e comunicação, ou seja, uma relação dinâmica entre autor, obra e leitor (JAUSS, 1981).

    2. LITERATURA NO ENSINO MÉDIO

    Ao definir a Literatura no percurso do Ensino Médio, tem-se, inicialmente, a especificidade do discurso literário, já vistos nas etapas de ensino anteriores; contudo, a proposta de ensino da Literatura no Ensino Médio visa uma concepção mais abrangente, considerando a relatividade do conceito de Literatura, constituído a partir do estudo da história da literatura, rigidamente contextualizado em períodos literários, autores e obras de cânones, referentes a determinadas erudições.

    Todavia, a disciplina de Literatura, no Ensino Médio, exige, antes de tudo, que o estudante já tenha uma compreensão responsiva⁴ sobre o discurso lido ou falado, visto que, nesta etapa de ensino, os alunos mostram ou deveriam mostrar um posicionamento crítico diante do mundo, ao passo que eles estão mais autônomos e com capacidade de abstração e reflexão. Dessa forma, consolidam e aprofundam as diversas habilidades e competências que construíram durante a sua vida acadêmica.

    Assim, compreende-se que à instituição escola cabe a função de não só facilitar a aprendizagem do falar, do ouvir e do escrever, como também do ler, do interpretar, do compreender, do significar e do (re)significar. A obra literária, nesse âmbito, tem extrema relevância, uma vez que ela é o centro das aulas de Literatura. Desse modo, considera-se que a leitura literária é a esfera do desenvolvimento de leitores, pois constitui a base da reflexão, uma vez que o leitor buscará em seu campo subjetivo, preencher as entrelinhas deixadas pelo autor na construção do texto.

    Nessa direção, este capítulo visa verificar como o ensino de Literatura é abordado pela legislação que rege o Ensino Médio no Brasil e revisita o percurso histórico do ensino de Literatura no país.

    2.1. ORIENTAÇÕES LEGAIS

    Com a finalidade de averiguar quais são as orientações legais para o ensino de Literatura no Ensino Médio, uma incursão na Base Nacional Comum Curricular mostra que a disciplina deve dar ênfase à leitura de textos literários, no intuito de promover uma melhor relação com o mundo por parte do aluno.

    Prevista no Plano Nacional de Educação (PNE), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) começou a ser construída em 2015, seguindo um processo conduzido pelo Ministério da Educação (MEC), pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). De 2015 a 2017, três versões da BNCC foram elaboradas. A última versão foi aprovada pelo CNE em dezembro de 2017, sendo homologado o texto referente às etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, em janeiro de 2018, quando passou a ter valor em todo o país. Em razão da reforma do Ensino Médio, as discussões sobre a Base Nacional Comum Curricular dessa etapa de ensino foram adiadas para 2018.

    Todavia, no início do período letivo de 2018, a BNCC para o Ensino Médio, em sua terceira versão, passava por debates entre seus conselheiros e por audiências públicas, oportunizando a contribuição da sociedade para sua construção. Contudo, ainda neste primeiro semestre, em abril de 2018, sua versão final, proposta pelo Ministério da Educação (MEC), foi entregue ao CNE. Uma vez aprovada, a BNCC⁵ deve ser implantada até 2020 em todas as escolas públicas e privadas do país.

    Assim, alterações em relação às diretrizes do novo Ensino Médio e sua real efetivação levará, ainda, alguns anos para chegar às salas de aula.

    As escolas brasileiras que comportam a última etapa da Educação Básica articulam-se de forma a cumprirem com os programas vigentes na BNCC já existentes para o Ensino Médio e preparam-se para estarem de acordo ao novo modelo de BNCC.

    Hoje, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no Ensino Médio, compromete-se em oferecer ao estudante alternativas que superem as possíveis fragmentações dos conhecimentos adquiridos e tornem a aprendizagem uma tarefa prazerosa e significativa. O Ensino Médio, definido como a etapa conclusiva da Educação Básica, na Lei 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB (Brasil, 1996), recebe um complemento da própria LDB (Brasil, 2012) no que diz respeito à caracterização do estudante deste nível de ensino, considerando-o de forma heterogênea, multifacetado aos acontecimentos sociais e culturais.

    O Ensino Médio compõe uma juventude que está em constante transformação, sendo, também, participante ativa do seu processo de formação, característica que contribui para o desenvolvimento da sua autonomia e criticidade. Com efeito, esse sujeito que integra o Ensino Médio estrutura-se a partir da sua história e da dos demais grupos sociais com os quais convive.

    À escola cabe o desafio de superar as limitações de ensino, que habitualmente se fazem presente no Ensino Médio, como a preparação para a universidade e a profissionalização. A ela compete garantir aos estudantes uma formação que venha ao encontro de suas vivências, oferecendo-lhes possibilidades e oportunidades de realização pessoal, assim como uma aprendizagem significativa e efetiva para a sua participação ativa na sociedade. A 2ª versão da BNCC atribuí que

    Isso implica que, em lugar de pretender que jovens apenas aprendam o que já sabemos, o mundo lhes seja apresentado como problema em aberto quanto aos seus aspectos sociais, produtivos, ambientais e culturais. Desse modo, eles podem se perceber convocados a assumir responsabilidades para equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores, valorizando o esforço dos que os precederam e abrindo-se criativamente para o novo. (2016, p. 489).

    A partir do disposto na BNCC 2016, compreende-se que o Ensino Médio não é uma etapa escolar independente das anteriores, mas sim, que as complementa. Nessa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais propõem uma recomendação mais ostensiva ao estudante do Ensino Médio, compostas pelas seguintes estruturas: trabalho, ciências, tecnologia e cultura. Junto com essa estrutura, as Diretrizes Curriculares Nacionais corroboram quatro eixos de formação para o Ensino Médio, a saber: Eixo 1 – Pensamento crítico e projeto de vida; Eixo 2 – Intervenção no mundo natural e social; Eixo 3 – Letramento e capacidade de aprender; Eixo 4 – Solidariedade e sociabilidade. Ao engrenar esses eixos transversais à educação, revigora-se a participação ativa e autônoma do estudante, que precisa estar no papel de protagonista em relação aos desafios que lhes são apresentados, sejam esses em relação à sua vida pessoal, às questões sociais, ao seu processo de letramento literário, aos compromissos associados com a coletividade, aos processos de construção de sua identidade, pautada em apreciações éticas

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