Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Amie e a Criança da África
Amie e a Criança da África
Amie e a Criança da África
E-book414 páginas6 horas

Amie e a Criança da África

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

Amie e a Criança da África por Lucinda E Clarke
Um livro de ação e aventura em ritmo acelerado que se passa na África

Amie sai para encontrar a filha de criação que perdeu durante a guerra civil. Ela não sabe que vai enfrentar um grupo terrorista com conexões internacionais. Encontra velhos amigos e faz alguns novos, mas em quem ela poderá confiar? Um deles vai traí-la. Ela não dá ouvidos à advertência da curandeira e se arrepende amargamente.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento21 de jul. de 2021
ISBN9781667407494
Amie e a Criança da África

Leia mais títulos de Lucinda E Clarke

Relacionado a Amie e a Criança da África

Ebooks relacionados

Ficção de Ação e Aventura para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Amie e a Criança da África

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Amie e a Criança da África - Lucinda E Clarke

    Aos meus leitores

    .

    Este é o segundo livro da série Amie, ambientada na África, e vem na sequência de Amie - Uma Aventura na África. Eu sugeriria que fossem lidos em ordem, pois explicação em excesso, aqui nesta sequência, poderia debilitar  a trama do primeiro livro.

    'A Criança da África' pode reavivar memórias para aqueles que tenham deixado aquela terra encantadora, ou apresentar algumas de suas maravilhas ao leitor que nunca tenha viajado para lá. Este livro me deu a oportunidade de voltar ao Continente Sombrio, desde o conforto da minha casa na Espanha e me lembrar das pessoas, da vida selvagem, do pôr do sol de tirar o fôlego e dos vastos espaços abertos.

    Embora a história da Amie seja fruto da minha imaginação, muitas das cenas são reais e trazem à lembrança algumas das pessoas fascinantes e incríveis que conheci. Este livro é dedicado a elas, bem como aos amigos e leitores que me apoiaram e incentivaram a escrever mais sobre as aventuras da Amie. Em particular, gostaria de agradecer: Rod Craig, Zoe Marr, Patricia Steele, Kathryn Hearst, Nancy Utterson Lynch e Gabi Plumm.

    Revisão de textos para manuscritos PlummProof.

    Espero que continue gostando dos meus livros.

    Não posso agradecer o bastante ao meu longânimo marido por todo o seu amor, ajuda e incentivo, já que ele mais uma vez suportou as horas de solidão, nas quais estive grudada no meu laptop.

    Como já disse: Embora você possa deixar a África, uma parte da África nunca deixará você.

    Espanha 2021 ©

    Também por Lucinda E Clarke

    FICÇÃO

    A série da Amie:-

    Amie – Uma Aventura na África

    Amie Stolen Future

    Amie Cut for Life

    Amie Savage Safari

    Samantha (Amie backstories)

    Ben (Amie backstories)

    Série de Thrillers Psicológicos:

    A Year in the Life of Leah Brand

    A Year in the Life of Andrea Coe

    A Year in the Life of Diedre Flynn

    A Year in the Life of Belinda Brand

    MEMÓRIAS

    Walking over Eggshells

    Truth, Lies and Propaganda

    More Truth, Lies and Propaganda

    The very Worst riding School in the World

    HUMOR

    Unhappily Ever After

    Indices

    1  O ACAMPAMENTO NA MATA

    2  O RETORNO DE UM VELHO AMIGO

    3  EU VI A ANGELINA

    4  DEIXADA PARA TRÁS

    5  AMIE COMEÇA SUA VIAGEM

    6  ESPERANDO POR JONATHON

    7  UMA MORTE CRUEL

    8  UM REENCONTRO INESPERADO

    9  ATAQUE NO ORFANATO

    10  A HISTÓRIA DA SHALIMA

    11  A INCURSÃO NO ACAMPAMENTO

    12  CRUZANDO O RIO

    13  O PERSEGUIDOR

    14  SANTUÁRIO

    15  LEVANDO AO AR

    16  DEPOIS DO ACIDENTE

    17  INQUIETAÇÃO

    18  A CURANDEIRA

    19  A ZONA DE LANÇAMENTO

    20  CAPTURADA

    21  SOB GUARDA

    22  ÚLTIMOS DIAS

    SOBRE A AUTORA

    AMIE - UMA AVENTURA NA ÁFRICA PRÓLOGO

    1  O ACAMPAMENTO NA MATA

    O silêncio da noite foi quebrado pelo som de veículos se aproximando. Luzes brilhantes dividiram a noite, iluminando insetos voadores com seus feixes, enquanto os caminhões se aproximavam. Houve gritos animados e um motorista tocou sua buzina, o que imediatamente acordou todos no acampamento. Quem quer que estivesse de guarda mal teve tempo de gritar um alerta, enquanto os recém-chegados trovejavam em sua direção.

    Jonathon se contorceu para fora de seu saco de dormir e agarrou a mochila, que sempre estava ao lado dele, antes de colocar a Amie também de pé.

    Corra. Corra, ele sussurrou alto. Corra como você nunca correu antes. Parando apenas para pegar os sapatos, eles deixaram a barraca e partiram correndo para a escuridão.

    Amie não precisou ouvir duas vezes. Eles haviam sido descobertos e o único pensamento que ela teve foi seguir o mais longe e mais rápido que pudesse. Não deu tempo de pular nos dois caminhões, estacionados ao lado das barracas, a única chance deles era rumar para o outro lado do vale, a pé, e se esconder nas árvores, nas encostas mais baixas da cordilheira.

    Ela correu às cegas, tentando acompanhar o Jonathon. As pernas dele eram muito mais longas, tinha pouco mais de um metro e oitenta e ela era dezessete centímetros mais baixa, assim que ele se viu forçado a desacelerar para que ela acompanhasse seu ritmo. Ela não parou para pensar que poderia pisar em uma biúta noturna ou bater em um dos cupinzeiros menores que não podiam ver no escuro. Nem parou para pensar em todos os perigos existentes, longe da segurança do acampamento. Havia leões ali, hienas, búfalos, chacais, cães selvagens e elefantes. Qualquer coisa com que topassem poderia facilmente atacá-los.

    Assim que estavam do outro lado do leito largo e seco do rio, eles pararam para calçar os sapatos, os pés da Amie já estavam machucados e sangrando e ficaram ainda mais doloridos com os sapatos.

    Eles partiram novamente, correndo pela savana, sem se importar com o que estava na frente ou ao lado deles, nem mesmo parando para ver quem mais também estaria correndo. Só sabiam que a morte certa estava atrás deles. Galhos baixos batiam em seus rostos e pernas, e por duas vezes a Amy tropeçou em arbustos, enquanto tentava contornar a estranha acácia que se erguia na frente deles. O único golpe de sorte foi a lua. Estava brilhante o suficiente para lançar sombras profundas perto dos objetos maiores que estavam em seu caminho, mas não brilhante o suficiente para transformar o Jonathon e sua esposa em alvos fáceis demais.

    A respiração da Amie ficou irregular, seu peito parecia que iria explodir e ela engolia em seco.

    Eu, eu, não posso... ela suspirou. Mesmo o medo daquelas pessoas desconhecidas, que haviam se aproximado do acampamento na calada da noite, não era o suficiente para fazê-la correr mais longe. Ela não tinha ideia de quão longe haviam chegado, mas sabia que não poderia correr mais.

    Jonathon a ajudou a dar mais alguns passos e então a puxou para o chão, atrás de uma grande pedra. Eles se agacharam e ouviram, todos os sentidos alertas ao menor som possível, mas tudo o que podiam ouvir era o silêncio. Nem mesmo os sons habituais que esperavam, uma vez que o quente sol africano havia desaparecido abaixo do horizonte.

    Amie tentou respirar profundamente, para dentro e para fora, dentro e fora, até que seu coração desacelerou, então ela começou a tremer. Jonathon colocou os braços em volta dela e a segurou com força, enquanto ela se encostava nele. Pelo menos daquela vez ela não estava sozinha, mas o que iriam fazer, então?

    Amie acordou com um susto, banhada em suor. Estendeu o braço e sentiu o Jonathon, que dormia pacificamente ao lado dela. Estava em segurança, suas aterrorizantes aventuras acabaram. Então, qual seria a razão daqueles pesadelos? Ela nunca havia fugido de nenhum acampamento na mata, com ou sem o Jonathon. Quando esteve em apuros, antes, estava sozinha em sua longa e solitária luta pessoal pela sobrevivência. Será que aqueles novos sonhos eram uma visão psíquica do futuro?

    Fazia apenas alguns anos que a Amie se encontrava morando em um subúrbio perto de Londres, recém-casada e com futuro já planejado. Ela se lembrou do dia em que o Jonathon anunciou do nada que haviam lhe oferecido um trabalho na África.

    Mudar-se para Togodo tinha sido um choque, mas não muito depois de se estabelecer, a guerra civil estourou e a Amie foi pega bem no meio dela. Eventualmente, encontrou seu marido novamente e eles ficaram com o Dirk e a Helen, em seu acampamento temporário na selva, desde então. Ninguém sabia quanto tempo eles teriam que sobreviver ali, antes que as diferenças de governo fossem resolvidas, e a vida pudesse voltar ao normal.

    Amie se sentia segura no acampamento do Dirk. Ele havia se criado naquele continente e sabia mais sobre suas plantas e animais que a maioria dos africanos. Ela havia se apaixonado pela África e estava ansiosa para aprender tudo o que pudesse sobre sua terra recém-adotada, mas a sobrevivência era primordial e para comer eles precisavam matar.

    Amie ficou imóvel enquanto observava o cudo pastando pacificamente em um pequeno tufo de grama. Mesmo depois de semanas de prática, ela descobriu que aquela era a parte mais difícil de todas, permanecer bem quieta. Isso nunca pareceu incomodar o povo africano; eles pareciam bastante relaxados, agachados e permanecendo imóveis por horas a fio. Amie tinha visto as mulheres da cidade sentadas na calçada, as pernas esticadas na frente delas, imóveis, enquanto olhavam para o espaço. Ela descobriu que era quase impossível se sentar assim, mesmo por um curto período de tempo, e mesmo se ela se sentisse confortável para começar, depois de um tempo, alguma parte dela começaria a inchar e doer. Ao contrário de Jefri, nascido e criado na África, ela não conseguia se agachar. Não era uma posição que ela já tivesse usado, então, escolhia se ajoelhar. Naquele agora, seu joelho esquerdo estava dolorido, como a pressão de uma grande pedra pressionando sua rótula. Tinha certeza de que havia escovado o chão antes de se ajoelhar, mas a dor estava piorando.

    Para tirar as coisas de sua mente, ela se concentrou em um besouro rola-bosta, enquanto ele passava com dificuldade, rolando uma bola de esterco muito maior do que ele mesmo. Ficava fascinada com o fato de aquelas criaturinhas sempre andarem em marcha à ré, as patas traseiras agarrando sua bola de esterco, a cabeça baixa e empurrando para trás com as pernas. Eles não têm ideia de quais obstáculos iriam encontrar, refletiu Amie, balançou a cabeça e sorriu.

    De repente, alertado por seu leve movimento, o cudo sentiu o perigo. Sua cabeça se ergueu, suas orelhas girando rapidamente para captar o menor som. Ele ficou imóvel por vários segundos, antes de decidir que era seguro.

    Amie deu um suspiro de alívio. Jefri ficaria totalmente desgostoso com ela se assustasse o antílope e o fizesse sair de seu alcance. Ele pensaria que era mais um exemplo de quanto aqueles recém-chegados teriam que aprender sobre a vida no mato. Ela ficou surpresa por não sentir mais nenhuma pressão no joelho, pensar em outras coisas tinha ajudado, no entanto, olhando para o Jefri, ela viu que ele não havia perdido a concentração por um instante.

    O cudo abaixou a cabeça novamente e Jefri disparou a flecha que perfurou seu pescoço. O tempo parou. O animal saltou e correu cerca de meio quilômetro, antes de tropeçar, levantar-se, correr mais alguns passos e finalmente cair de joelhos.

    Eles seguiram o rastro de sangue e as trilhas de poeira até onde o animal estava deitado de lado, e Jefri rapidamente tirou o animal de sua miséria cortando sua garganta com a faca que tirou do bolso. Enquanto o ajudava a reunir algumas pedras grandes para cobrir a carcaça, Amie se perguntava se algum dia se acostumaria a ver um animal tão lindo morrer.

    Ela sabia que na noite seguinte, e por algumas noites depois disso, todos teriam carne para comer e, sim, ela apreciaria também aquele rico sabor, bem como ganharia forças, porém, cada vez que acompanhava Jefri ou Kahlib para caçar, uma pequena parte dela esperava que eles não encontrassem caça alguma e não houvesse necessidade de matar nada.

    Era uma esperança irreal. Na verdade, era um pensamento estúpido. Não sobrava muita vegetação perto do acampamento para alimentar a todos e, se desenterrassem tudo que havia perto das barracas, não sobraria nada para crescer novamente. Do jeito que estava, eles então deveriam viajar cada vez mais longe, a cada dia, para colher frutos, folhas e raízes de que tanto precisavam para sobreviver. Houve até mesmo alguma conversa sobre seguir em frente, se as chuvas não chegassem logo, e eles seriam forçados a se refugiar na mata ao sul.

    Também havia perigos nisso, já que a maior parte das terras era reivindicada por um grupo tribal ou outro e, se invadissem o território de propriedade alheia, seu abrigo seria destruído e isso levaria ao conflito. Eles não estavam em posição de se defender, apesar das poucas armas que possuíam no acampamento.

    Amie deu uma última olhada no cudo caído. O brilho já estava desaparecendo de sua pelagem, e seus olhos estavam vidrados. As moscas haviam chegado e se banqueteavam ao redor do ferimento, bem como se rastejavam para dentro do nariz e da boca do animal morto. Ela sussurrou uma oração silenciosa, agradecendo ao cudo por fornecer vida para ela e sua nova tribo e, recomendando sua alma, se é que tivesse uma, ao céu. Havia aprendido que os bosquímanos, ou Sans, habitantes originais da África, sempre oravam por suas mortes e ela os admirava muito por isso.

    Jefri voltaria com um dos outros homens para arrastar a carcaça, antes que eles a amarrassem, tirassem o couro e preparassem a carne.

    Como seria a vida para o animal? Amie se perguntava, enquanto voltavam para o acampamento. Será que estava constantemente alerta para o perigo? Será que havia se preocupado com ruídos estranhos e movimentos nos arbustos? Será que alguma vez relaxou, mesmo durante o sono? Nós nos tornamos assim, ela percebeu surpresa. Eles próprios estavam sempre vigilantes, cientes de que olhos desconhecidos os poderiam estar observando, mesmo ali, naquele exato momento. Mas os únicos sons vinham de uma trupe barulhenta de macacos vervet, em uma grande acácia, do outro lado da ravina.

    De volta ao acampamento, Amie se jogou no saco de dormir e fechou os olhos. Quem teria pensado que ficar parada por tanto tempo, esperando e assistindo, poderia ser tão exaustivo? O sol também não ajudou, batendo na terra seca e empoeirada. Aquilo havia minado sua energia, fez com que suasse desconfortavelmente e a incitou a se enroscar e dormir.

    Mas a Amie não conseguia dormir, havia algo incomodando no fundo de sua mente, e não tão fundo, na verdade. Ela havia tentado falar com o Jonathon várias vezes, para fazer a pergunta que estava louca para que fosse respondida. Ele continuava não levando a sério, desviando suas palavras, mudando de assunto ou dava a ela uma resposta tão ridícula que ela sabia que ele estava evitando dizer a verdade. Lembrou-se exatamente de suas palavras, quando se encontraram novamente após a guerra civil ter destruído suas vidas.

    Mas como eu poderia ficar em Togodo? Eles me acusaram de ser uma espiã!

    Uma espiã?! Então, eles pegaram o peixe errado, não é mesmo? E, então, Jonathon Fish, 'peixe' em inglês, deu uma risada.

    O que será que ele quis dizer? Será que seu marido era um espião? Será que realmente estava trabalhando para algum serviço secreto, além de tentar construir uma usina de dessalinização, em Apatu, a capital? Aquilo tudo seria apenas uma história de cobertura? E se fosse, será que ela fazia parte dessa história de cobertura? Ou teria sido apenas uma piadinha boba? Será que o Jonathon estava apenas brincando com ela? Se ele negasse que havia alguma verdade em sua declaração, como será que ela poderia ter certeza? Os espiões provavelmente eram ensinados a mentir, de forma convincente, já em sua primeira semana de treinamento.

    Em um momento, Amie acreditava que estava sendo totalmente irracional, imaginando algo do nada. No próximo, sua reação instintiva dizia a ela que havia pelo menos alguma verdade no que ele havia disse. Ela sentia que algo não estava certo; e ela precisaria saber, não é mesmo? Ali eles viviam da terra, no meio do nada, em um país que recentemente havia se envolvido em uma guerra civil. Ela só havia sobrevivido por um triz e não tinha certeza se ainda a estavam procurando. Parecia estar cooperando com o lado perdedor.

    Jonathon e Dirk estavam trabalhando no Land Rover, havia dias, tentando consertar algum problema, então ela teria que esperar ainda mais para pegá-lo de jeito e enchê-lo de perguntas.

    Amie, você está aí? Helen apareceu na porta de sua barraca.

    Oh, sim, Amie se sentou e esfregou os olhos.

    Você está OK? Está se sentindo mal ou algo assim? Helen parecia preocupada, poderia ser um desastre se algum deles precisasse de assistência médica.

    Não, não, estou bem, só um pouco cansada. O Jefri lhe disse que nós, ou melhor, ele matou um cudo?

    Sim, as boas notícias correm rápido. Ele levou o Kahlib para ir buscá-lo. Não passaremos fome por alguns dias. Helen fez uma pausa. Tem certeza de que está tudo bem? Ela perguntou, novamente.

    Não, quero dizer, sim. Estou bem, de verdade. Amie tinha uma sensação horrível de que estava sendo desleal com o Jonathon; mas será que a Helen sabia de algo que pudesse deixar escapar? Valeria a pena tentar qualquer coisa, caso contrário ela se preocuparia até que Amie realmente estivesse doente.

    Helen, posso lhe fazer uma pergunta? Amie indicou para que a Helen se sentasse no tronco que servia improvisadamente de penteadeira, cadeira, escrivaninha e banquinho, na pequena barraca.

    Sim, claro que pode querida. Percebi que algo a está incomodando, mas não queria perguntar.

    Isso era tão típico da Helen, ela nunca se intrometeria, nunca bisbilhotaria. No entanto, ela também era a mais... que palavra a descreveria melhor? Serena?! Sim, era isso. Helen era a pessoa mais serena que a Amie havia conhecido. Também havia crescido na Inglaterra, mas depois de conhecer o Dirk e casar com ele, mudou-se para ajudar a administrar seu pequeno parque de safari, vários quilômetros ao sul de Apatu, capital de Togodo. Tinha dito à Amie que nunca iria morar em nenhum outro lugar e nem sequer desfrutava das viagens regulares à capital para estocar suprimentos essenciais. A África rural havia conquistado seu coração e, em mais de dez anos, nunca havia sentido arrependimento. Nada parecia perturbá-la; nada nunca foi um problema e seu copo sempre estava cheio mais da metade. Seria o resultado de viver a vida simples nas profundezas da mata africana, entre a vida selvagem, longe da cidade grande, de seu materialismo e de todos os seus problemas? Fosse o que fosse, a Helen era alguém com quem você poderia conversar e em quem confiar. Correu seus dedos pelo cabelo curto e castanhos, então, seus olhos verdes se focaram em Amie, esperando pacientemente para ouvir o que teria a dizer.

    Ainda assim, Amie se mostrava relutante em expressar seus medos, soaria estúpida. Helen a acharia paranóica, mesmo que não desse uma opinião.

    Houve uma longa pausa, interrompida por Helen. Você está infeliz, aqui? Ela perguntou, gentilmente.

    Não, não é isso, respondeu Amie, olhando para o chão. Gosto de estar aqui, foram os melhores três meses da minha vida. Se você me perguntasse há alguns anos se eu estaria contente em viver da terra, em algum lugar no meio do nada, eu teria tido uma crise histérica. Estou surpresa com o quanto eu mudei, é algo inacreditável. Tive uma educação tão convencional, nos arredores de Londres, segui o caminho que se esperava, tive a minha vida planejada e, então, tudo acabou tão diferente.

    Você passou por muita coisa, disse Helen suavemente, estendendo-se para apertar a mão da Amie. Essas experiências a levaram a um novo patamar, tanto física quanto mentalmente. Você nunca poderá voltar a ser quem era. Você sabe disso, não é mesmo?

    Sim, eu sei. Mudei um pouco mais além da percepção. Até mesmo uma viagem para casa, na Inglaterra, mostrou-me como eu não me encaixo mais com as pessoas, com as quais convivi toda a minha vida. E isso foi antes mesmo da guerra civil ter começado.

    Você tem sido tão incrivelmente corajosa, Helen sorriu. Não tenho certeza se teria lidado tão bem com isso quanto você.

    Bobagem, Amie disse com firmeza, você teria lidado muito melhor, e também não teria feito coisas estúpidas como comer plantas venenosas.

    Helen sorriu, Você dificilmente poderia ser culpada por isso. Você ainda tem pesadelos com a guerra?

    Não, não mais. Amie considerou que aquilo não era realmente uma mentira, já que seus pesadelos então não tinham nada que ver com a guerra.

    Mas algo a está deixando infeliz, Helen persistiu.

    Amie permaneceu sentada, em silêncio, por vários minutos. Como será que poderia fazer a pergunta premente?

    Você não precisa... Helen começou a dizer, mas a Amie a interrompeu.

    Não sei como dizer e você vai pensar que não estou sendo muito sensata, mas...

    Eu nunca julgo, minha querida. Se algo a incomoda e se eu puder ajudar...

    Acho que o Jonathon é um espião! Amie deixou escapar. Então, ficou em silêncio e prendeu a respiração.

    Helen permaneceu imóvel e sem dizer nada.

    Pronto, agora sim eu sei que você acha que perdi o juízo. Eu não queria deixar escapar assim,Amie falou tão rápido, que tropeçou nas palavras; ela estava com medo da reação da Helen. Houve uma pausa tão longa que, eventualmente, quando ergueu os olhos, a mulher mais velha estava olhando pela abertura da tenda. Ela finalmente se virou para a Amie e olhou em seus grandes olhos cinzentos.

    Não vou mentir para você, disse ela, mas às vezes a informação não pode ser dada por exatamente não ser sua. Acho que, se você quiser saber a resposta, deve perguntar ao Jonathon. Ele é o único que pode lhe dizer.

    Para a Amie, aquilo não lhe dizia nada. Helen não debochou dela, não sugeriu que fosse estúpida, nem que estava imaginando coisas. Então, talvez ela tivesse motivos para se preocupar. Mesmo que a Helen soubesse de algo, ela não iria compartilhar o que sabia. Amie decidiu mudar o rumo da prosa.

    Não podemos ficar aqui, para sempre, não é mesmo? Ela perguntou.

    Não, não acho que possamos, embora eu não tenha ideia de para onde iríamos. Nós nos arranjamos muito bem nos últimos três meses, mas isso não pode durar para sempre. Agora, isso é algo com que me preocupo, disse Helen. Mais cedo ou mais tarde, alguém vai topar com o nosso pequeno acampamento e perguntar por que estamos todos vivendo aqui na mata. Dirk enviou um dos garotos de volta, na semana passada, para ver se havia sobrado alguma coisa do Parque Nkhandla, e depois seguir para Apatu e sondar o terreno.

    Jumbo?!

    Sim. Kahlib disse que ele estará de volta, mais tarde, ainda hoje.

    Como ele poderia saber disso? Perguntou Amie, surpresa.

    Eu não faço ideia. Depois de anos na África, seu povo nunca deixa de me surpreender. Às vezes, eles 'sabem,' mas não me pergunte como. Venha, vamos completar o abastecimento de água e mostrar que somos úteis. Agora, que o sol está se pondo, está bem mais frio.

    Amie se levantou e, quando saíram da tenda, viram Kahlib e Jefri se aproximando do acampamento, arrastando o cudo de volta, em uma maca improvisada.

    Foi mais tarde naquela noite, enquanto todos estavam sentados ao redor da fogueira, quando Jumbo apareceu saindo das sombras. Sem fazer barulho algum, ele se agachou ao lado do Dirk, como se só tivesse ido comprar um pão de forma na mercearia da esquina. Houve um murmurinho de saudações, mas ele comeria e beberia antes de contar suas novidades.

    O parque, ele disse a eles, ainda estava desabitado, mas algumas partes dele haviam sido desmanteladas e o sapê do teto roubado dos quiosques. A bomba d'água estava totalmente quebrada, sem conserto, e diversos pássaros haviam se mudado para o local. Parecia exatamente o mesmo do qual a Amie se lembrava de sua última visita.

    A vida em Apatu continuava como antes, mas, embora o novo governo estivesse firmemente no comando, muitas pessoas não haviam gostado das mudanças impostas. Aqueles que trabalharam para o último governo tinham perdido seus empregos, e apenas alguns tiveram a sorte de manter suas casas e até mesmo suas vidas. Havia muitos rumores de descontentamento, mas ninguém parecia preparado para fazer nada a respeito. Provavelmente continuaria naquela situação por algum tempo, até que os antigos apoiadores do governo se sentissem fortes o suficiente e reunissem armamentos suficientes para se rebelarem em retaliação. E assim, todo o ciclo recomeçaria.

    Havia algum estrangeiro nas ruas? Perguntou Dirk.

    Sim, chefe, um ou dois, todos vestidos com ternos elegantes, com maletas de aparência importante. Podem ter vindo fazer negócios com o novo governo, respondeu Jumbo.

    Deveríamos ir dar uma olhada, Jonathon comentou com o Charles, que concordou com um balançar de cabeça.

    Alguma mulher branca? Perguntou Helen.

    Não, Sra. Helen, nenhuma que eu tenha visto.

    Parece que as coisas tiveram um pouco de avanço, nos últimos meses, disse Dirk, voltando ao normal, quero dizer, normal para a África! Todos riram.

    Amie passou os dedos pelo cabelo curto e claro e deu uma boa olhada no seu grupo de amigos. À sua esquerda estava o Jonathon, seu marido. Da mesma forma que ela, ele então estava profundamente bronzeado e seu cabelo louro estava quase branco, descolorido pelo sol, um contraste marcante com seus olhos azuis.

    Ao lado dele estava o Charles, um de seus amigos dos dias em que levavam uma vida despreocupada em Apatu. Era outro expatriado da Inglaterra e a Amie estava fazendo compras com a Kate, esposa dele, quando caíram as primeiras bombas. Charles e Jonathon estavam no último avião, depois que a guerra civil estourou, mas havia acompanhado o Jonathon quando de sua volta para procurar pela Amie. Ela nunca teve certeza do motivo pelo qual ele havia regressado, mas quando o perguntou, ele apenas sorriu e disse que o Jonathon precisava de alguém para segurar sua mão, no avião. Mais do que isso, ele não disse, mesmo quando ela o pressionou por mais informações. Será que ele ainda esperava que a Kate tivesse sobrevivido, de alguma forma? Não, tinha certeza de que ele havia acreditado quando ela descreveu como viu uma de suas melhores amigas ser esmagada até a morte, embora tivesse relutado em entrar em qualquer detalhe gráfico.

    Charles era uma pessoa agradável para se ter por perto. Não ficaria deslocado em um ringue de boxe de pesos pesados; era alto, sólido e todo musculoso. Tinha mais força que dois homens juntos, mas era sempre muito gentil. Amie uma vez o viu pegar cuidadosamente um camaleão e colocá-lo fora do caminho, quando o bichinho havia se aproximado muito da área da cozinha. Ele era fácil de lidar e estava sempre pronto para acalmar as coisas se houvesse algum argumento entre qualquer um dos outros. Ainda assim, a Amie sentia a tristeza alojada em seu interior. Mesmo que o Jonathon tivesse mais de um metro e oitenta, seu corpo esguio o fazia parecer pequenino ao lado do Charles.

    Ali estavam o Dirk e sua esposa Helen. Haviam sido forçados a deixar o Parque de Safari Nkhandla e viver na mata com seus funcionários, todos vindos do extremo norte e pertencentes à tribo Luebos. Era uma das duas tribos menores, menos guerreiras que os M’untus, a tribo então no poder, após derrubar a tribo Kawa, que era a maior e mais inteligente de todas as tribos.

    A família do Dirk estava na África havia mais de trezentos anos, um dos primeiros colonos brancos a deixar a Europa e ganhar a vida com o cultivo de terras virgens. Quando criança, ele corria livremente pelas planícies, aprendendo tudo o que podia sobre os animais e plantas nativos. Além dos anos em que esteve no internato, ele esteve ali naquelas terras toda a sua vida.

    Os últimos seis membros do acampamento eram todos ex-funcionários do parque: Kahlib, Jefri, Jumbo, Reibos, Kaluhah e Sampson. Onze de nós ao todo, Amie pensou, morando perto do alojamento de hóspedes mais distante, nas terras do Dirk. Ela imaginou que usariam a construção para morar, mas o Dirk insistia em que deveriam dormir nas barracas que ele havia resgatado quando da fuga. Eles conseguiram resgatar utensílios de cozinha, caixas de fósforos, sacos de dormir e quaisquer outras coisas úteis para a sobrevivência no ambiente selvagem. Com apenas um Land Rover para usar, foram forçados a deixar o resto para trás, uma vez que tudo tinha que caber dentro ou sobre o veículo. Enquanto a Helen dirigia, todos os homens caminhavam, deixando mais espaço para os suprimentos e equipamentos. Naquele agora, mesmo se eles voltassem, não haveria mais nada, e vários de seus suprimentos vitais estavam com os níveis perigosamente baixos. A sorte grande havia sido o segundo Land Rover e as provisões extras que a equipe de filmagem havia deixado quando a Amie se reuniu com o Jonathon. Mas mesmo esses essenciais adicionais já estavam quase esgotados.

    Todos os africanos tradicionais nas áreas rurais usam alguns produtos da cidade, Helen comentou com a Amie, um dia. Dirk pode ter vivido aqui toda a sua vida, mas mesmo assim ainda misturávamos o velho e o novo. Não importa aonde você vá, sempre levará a sua cultura, suas preferências alimentares e sua religião com você.

    Os pensamentos de Amie se voltaram para a Inglaterra e os grupos de imigrantes que havia visto. Mesmo que alguns estivessem em seu país de adoção por mais de duas gerações, eles ainda se apegavam a muitos dos costumes de seus países de origem. Os habitantes locais podem reclamar sobre os recém-chegados não estarem integrados, mas o quanto nós nos integramos, ela se perguntava. Este grupo mais do que representa tal conjuntura, ela imaginou, mas então se lembrou das palavras da Helen, ‘não podemos ficar aqui, para sempre’.

    Amie estava perto o suficiente para ouvir o Charles sussurrar algo para o Jonathon.

    Acho que já é hora de voltarmos a cruzar a fronteira com Ruanga. Deveríamos visitar os Robbins, em Umeru."

    Helen também tinha ouvido. Vou lhes passar uma lista de compras, ela exclamou. Precisamos de mais shampoo e sabonete e alguns baldes novos e...

    Ôa! Jonathon sorriu, Não estávamos exatamente planejando uma viagem de compras; não é mesmo, Charles? Vendo o rosto abatido da Helen, ele acrescentou: Mas vamos ver o que podemos fazer. E, sim, há muitas coisas de que precisamos, estava só provocando.

    Posso ir, também? Perguntou Amie. A ideia de ver a Alice Robbins novamente, e tomar um banho quente ou apropriado, bem como um pouco de civilização era muito interessante.

    Jonathon pensou por um momento e então balançou a cabeça. Acho melhor que não, teremos que cruzar a fronteira à noite e pode ser perigoso. Eu ficaria mais feliz se você ficasse aqui, com segurança, no acampamento.

    Amie ficou amargamente desapontada. Mordeu o lábio e não disse mais nada. Ela se perguntou se seria possível persuadir o Jonathon mais tarde, quando estivessem sozinhos. Tentaria o que fosse possível para fazê-lo mudar de ideia. Mas mesmo que ele se recusasse a levá-la junto, ela estava determinada a arrancar a verdade dele, antes que partisse.

    2  O RETORNO DE UM VELHO AMIGO

    Sua chance veio no dia seguinte, quando eles saíram do acampamento para pegar lenha. Cada incursão significava andar cada vez mais longe, pois já haviam exaurido a área próxima ao acampamento.

    Vendo uma pedra mais baixa e plana e, depois de olhar ao redor em busca de sinais de perigo, Amie pegou a mão do Jonathon e praticamente o puxou para sentar ao lado dela, na rocha quente.

    Não consigo mais viver com isso, Jonathon, disse a ele. Prometi a mim mesma que não falaria sobre isso, mas é algo mais forte, então eu preciso saber.

    Precisa saber o quê? Ele perguntou. Havia alguma hesitação em sua voz, como se ele pudesse adivinhar o que estava por vir.

    Aquela observação que você fez, sobre ser um espião. Preciso saber se é verdade. E, não, não me ignore, acrescentou ela

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1