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A Última Fronteira
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E-book1.403 páginas13 horas

A Última Fronteira

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Sobre este e-book

Caros(as) Amigos(as), Esta é a Quarta Edição, Revisada e Expandida da Saga “A Última Fronteira”. Foi escrita como uma longa estrutura narrativa, uma referência a todos os acontecimentos que ocorrerão ao longo da Saga, a qual cobrirá um período de 10 mil anos a partir do nascimento de nossa atual Civilização tecnológica. O objetivo primordial desta Série, atualmente composta por 5 volumes, é traçar uma hipótese, baseada na História Alternativa, do que pode ter sido o passado mítico da humanidade, tendo por base as narrativas encontradas em textos milenares como os Vedas Hindus (Mahabharata, Ramaiana, Rigveda, Puranas,...), como a Epopéia de Gilgamex, o Kandiur Tibetano, as Estâncias de Dzian, os diálogos de Platão sobre Atlântida (Timeu e Crítias), as especulações sobre os continentes perdidos do Pacífico Central (Mú e as Tabuletas Naacal) e a própria Bíblia Hebraica, entre outros. Com base nestas diversas fontes e nos conhecimentos ortodoxos de Paleontologia, Arqueologia, Cosmologia, História e Tecnologia Militar, Pré e Proto História, estabeleci uma cronologia hipotética da evolução da vida no Planeta Terra e de como o nascimento de nossa espécie nela, eventualmente, se encaixaria. A “Última Fronteira” é um conto de ficção, mas é, também, uma especulação do que poderia ter sido nosso obscuro passado e sobre o que poderá, talvez, ser nosso ignoto futuro... Esta “História Alternativa” é contada através da vida de nossa bela e indomável heroína que terá um papel primordial no desenvolvimento da História Humana a partir dos primeiros contatos com civilizações e raças alienígenas que ocultam um segredo perdido nas brumas dos tempos... Durante milhares de anos a humanidade acreditou na existência de Deuses e Semideuses imortais. Vemos este mito presente em todas as civilizações antigas; Egípcios, Sumérios, Babilônios, Minuanos, Fenícios, Hebreus, Hindus... De onde surgiram esses mitos? Apenas do desejo humano de imortalidade? E de onde surgiu este conceito de “vida eterna” entre as populações primitivas? E se, numa época pregressa existiram, realmente, alguns indivíduos especiais cuja longevidade, cuja capacidade de auto-regeneração os elevou à categoria de “Deuses” entre os simples mortais? Ainda hoje, a expectativa média de vida humana mal atinge os 80 anos, isso em países desenvolvidos. Qualquer ser humano com 100 anos ou mais é considerado um caso especial, raríssimo, que dizer numa época, há 4 ou 5 mil anos atrás, quando esta mesma expectativa de vida mal atingia os 30 anos?! Imaginem essas populações primitivas convivendo que seres em aparência humanos, mas capazes de voar, donos de armas terríveis que podiam arrasar cidades inteiras num piscar de olhos, de máquinas que podiam fazer todo o trabalho pesado e que fendiam o espaço com facilidade, permanecendo vivos, geração após geração, entre os homens comuns... Não seriam estes seres, “eternos” considerados “Deuses”, Deuses das estrelas? Ou teriam sido, simplesmente, seres humanos de uma geração anterior, mais sábia, antiga e evoluída? Seriam eles frutos de uma civilização primerva que teriam conseguido ultrapassar a barreira do tempo? Mortais, mas extremamente longevos graças a um controle cuidadoso de sua saúde física e mental? Seriam privilegiados? “Deuses”? Ou apenas “Viajantes das Estrelas”, sujeitos à distorção espaço-temporal da Teoria da Relatividade?... Seriam estes possíveis Visitantes ou Viajantes das Estrelas nossos Deuses do Passado? Quem sabe... Mas... Esta é, apenas, uma estória de Ficção. Será... Leiam desta Série; Sirion-O Começo, Segredos Revelados, O Mestre e 2394 DEC - A Grande Guerra e Contos de um Passado Distante.. Conheçam o Guia para Jogos RPG da Série A Última Fronteira Leiam de Guilherme A D Pereira; Fora de Estrada, Coletânea de Artigos e Ensaios Volume-III e A Vida fora da Terra Todos publicados neste Clube de Autores
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de jul. de 2017
A Última Fronteira

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    A Última Fronteira - Adrian Akar

    A Última Fronteira

    Registro EDA 007486-1/6 Registro da Série EDA 46665 Adrian & Pat Akar

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    A Última Fronteira

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    A Última Fronteira

    Prefácio; GÊNESE:

    Há centenas de milhões de anos, no seio de um pequeno planeta localizado na borda

    externa de uma grande galáxia espiral, milhões de gerações de penosa evolução

    culminavam com o surgimento de um ser dotado de inteligência...

    Seus frios olhos reptilianos examinavam com atenta curiosidade o mundo de mares

    rasos e florestas luxuriantes onde ele e milhares de milhões de outros seres se

    debatiam numa feroz luta pela sobrevivência.

    Não era muito grande nem muito forte se comparado com a maioria de seus parentes

    que, por aquela época, já haviam atingido proporções gigantescas. Contudo, não seria

    pela força ou pela ferocidade que ele viria a se impor em seu mundo e sim através de

    sua rapidez de raciocínio e da habilidade de seus destros membros anteriores que não

    tardariam em revelar uma impressionante facilidade na manipulação de instrumentos.

    Assim, decorridos poucos milhões de anos, aquele pequeno ser, em seus parcos dois

    e meio metros, ver-se-ia senhor de seu planeta, estabelecendo sua hegemonia sobre

    os corpulentos e ferozes matadores e sobre os lerdos e estúpidos herbívoros que

    compartilhavam com ele seu nicho ecológico.

    O tempo passou e nosso ser evoluiu. Descobriu o fogo e a agricultura, construiu

    cidades, fez a guerra e criou impérios! Pesquisou as artes e as ciências, controlou o

    átomo e as forças da natureza, colonizando a totalidade da superfície de seu mundo e

    explorando os planetas próximos. Se não se lançou à conquista das estrelas foi mais

    por índole do que por falta de recursos. Era um feliz soberano de sua morada, senhor

    absoluto de toda a fauna e de toda a flora. Sem dúvida, tinha seus deuses, seus

    sonhos, medos e demônios!

    Em um determinado momento, sua tecnologia e sua ciência o habilitaram a brincar de

    Deus e ele se pôs a criar!...

    Num primeiro passo, manipulou espécies simples, trocou gens, aperfeiçoou culturas.

    Depois principiou a interferir nas formas mais superiores de vida, criando raças para

    lhe fornecer alimentos e diversão. Por fim, partiu em busca de seu projeto mais

    ambicioso, criar a inteligência!...

    Por essa época, existiam por todo o planeta pequenos animais de sangue quente que

    começavam a se constituir numa verdadeira praga, pois sua enorme proliferação fazia

    com que estivessem por toda parte. Os prejuízos eram imensos, principalmente à

    noite quando o metabolismo obrigava os Senhores da Terra a entrarem num estado

    de sono profundo, do qual só emergiam quando o astro-rei voltava a aquecer a

    atmosfera com seu calor e sua luz vivificantes!...

    O autor da idéia, jamais será conhecido. Talvez um visionário ou um cientista, um

    político à caça de votos ou um general em busca de glórias, quem sabe?...

    Pesquisas principiaram a ser feitas, seus resultados se somando pouco a pouco e,

    finalmente, um orgulhoso sábio pode anunciar haver descoberto a solução! Treinando

    e estimulando o desenvolvimento cerebral de certos monos antropóides, ele

    conseguira faze-los evoluir. Não muito, era verdade, mas o bastante para instruí-los no

    desempenho de tarefas simples como a de manterem afastados seus incômodos

    parentes menores durante o período de letargo de seus senhores!...

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    A Última Fronteira

    Sem dúvida, uma valiosa descoberta! O novo animal doméstico revelou-se

    extremamente útil, se bem que um tanto renitente em acatar ordens complexas. O

    principal inconveniente era seu insistente assédio às fêmeas da própria espécie,

    consequência das constantes mutações artificiais de que fora objeto e que tinham

    terminado por afetar, de forma irremediável, seu ciclo reprodutivo. Em vista desse

    pequeno problema, seus criadores se viram obrigados a inculcar-lhes determinados

    padrões de comportamento que, embora não muito naturais, ao menos impediam que

    uma praga de laboratório terminasse por substituir a praga que viera combater!...

    Em busca de uma solução, as experiências prosseguiram. Novos aperfeiçoamentos,

    procurando criar um ser mais destro e melhor domesticável e, com isso, tornando-o

    mais e mais inteligente.

    Algumas vozes se ergueram em alerta, observando que a criatura, cuja proliferação

    continuava, apesar de todos os cuidados, espantosa, poderia terminar configurando-se

    uma real ameaça.

    Os interesses, contudo, eram muito altos e a população habituara-se demais à

    existência daqueles pequenos escravos para prescindir deles. Graças a isso e aos

    incentivos sempre crescentes, um orgulhoso pesquisador conseguiria exibir, ao cabo

    de anos de dedicação, um mamífero antropomorfo realmente dotado de consciência e

    razão!

    Um resultado assombroso, sem dúvida, mas que, no lugar dos louros almejados só lhe

    viria trazer transtornos e perseguições, pois seus pares, por inveja ou presciência,

    consideraram sua descoberta uma ameaça que deveria ser imediatamente

    erradicada!...

    Houve debates, protestos e, finalmente, o frustrado cientista recebeu o ultimato;

    destruir sua criação ou ser banido juntamente com ela do convívio dos demais seres

    civilizados...

    Recusando-se a acatar uma resolução que julgava arbitrária, ele partiu, levando

    consigo alguns dos casais mais promissores e uns poucos discípulos que desistiram

    de tudo para acompanhá-lo. Tomaram o rumo de um longínquo continente semi-

    selvagem e lá se estabeleceram. Tiveram o prazer de ver sua obra prosperar e

    multiplicar-se e, como seu período de vida era muito superior ao dos pequenos

    mamíferos, de assistir ao nascimento e à morte de gerações cada vez mais

    aperfeiçoadas. Não bastasse isso, sua longevidade transmitia aos humanos uma

    sensação de eternidade que, aliada a seus conhecimentos e tecnologia, não precisou

    de muito tempo para elevá-los à categoria de Deuses!

    Um dia, porém, outros Deuses os encontraram e o confronto fez-se inevitável!...

    Uma guerra total! Deuses e homens contra Demônios determinados a destruí-los!

    Guerra sem fronteiras, sem limites, a primeira grande conflagração nuclear assistida

    pela velha mãe Terra que culminaria com a extinção dos grandes impérios sáureos

    que haviam governado o planeta por mais de 50 milhões de anos!...

    A natureza convulsionada reagiu...

    Imensas marés magnéticas agitaram terras e oceanos, alterando radicalmente o

    planeta, tragando seres e civilizações e submergindo o mundo numa era de morte e

    trevas!...

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    A Última Fronteira

    Impossibilitados de continuar vivendo num planeta que as grandes conturbações

    geológicas haviam tornado hostil, os poucos Senhores sobreviventes partiram em

    busca de mundos menos inósptos, mas não antes de ensinarem a alguns humanos

    escolhidos os rudimentos de sua ciência, necessários à conservação de seus

    laboratórios e abrigos, caso fosse possível, um dia, regressarem! Depois, prometendo

    voltar, partiram...

    Abandonado à sua sorte numa terra que em nada recordava o antigo Éden, o ser

    humano ver-se-ia obrigado a usar seus próprios recursos para fazer frente às feras

    terríveis que as alterações cromossômicas oriundas da radiação haviam gerado.

    Pouco a pouco foi involuindo até sua condição mais bárbara, tão próximo dos animais

    de cujo seio fora um dia extraído, que à vista desarmada seria impossível distinguí-lo

    dos demais!...

    Somente em fins do quaternário, lograria o homem refazer os passos que o levariam

    novamente à civilização. Primeiro na Lemúria asiática, um império de quase 100 mil

    anos, e muito mais tarde, na Atlântida da lenda!

    À criatura, porém, faltava a lógica, o sangue frio de seu criador cuja lembrança se

    tornara pouco mais do que um amontoado de lendas confusas...

    Os antigos, sem sombra de dúvida, tinham razão. Uma espécie tão insólita, tão

    volúvel aos instintos, nunca poderia ter em suas mãos o poder das estrelas, pois

    jamais seria capaz de controlá-lo!

    Atlantes e Lemurianos um dia se defrontaram... Justificativas, havia muitas, no fundo,

    porém, tudo não passava da velha história de inveja e ambição; a civilização mais

    nova e empreendedora buscando espaços que a mais antiga relutava em ceder!...

    A guerra prosseguiu por séculos e séculos! Alastrou-se por todo o sistema solar e

    atingiu, mesmo, as colônias mais distantes em remotos rincões da galáxia!

    Os Atlantes triunfaram. Nada imprevisível, o triunfo do vigor, da ousadia da juventude

    sobre a hesitação e o enfado de uma civilização senil, pronta para o abate!...

    Efêmera vitória! O imenso poder das recém-descobertas armas magnéticas e

    gravitacionais iria produzir danos irreparáveis no delicado equilíbrio orbital do sistema

    solar!...

    Às convulsões telúricas, somar-se-iam as planetárias, acarretando a destruição do 5o

    planeta, a extinção da vida em Marte, a alteração da órbita de Vênus e o gigantesco

    bombardeio meteorítico que varreria o sistema de um pólo a outro e que provocaria a

    destruição do Império Atlante em meio às chamas e ao dilúvio que se seguiriam ao

    choque cataclísmico de um gigantesco asteróide desgovernado com a superfície

    terrestre!

    Dos Atlantes, apenas umas poucas colônias extraplanetárias lograriam escapar.

    Impossibilitados de continuar vivendo em seu próprio sistema, os sobreviventes

    emigrariam para regiões longínquas da galáxia onde reestabeleceriam seu império,

    dando-lhe, milênios mais tarde, proporções cósmicas!

    Na Terra agitada pelas revoluções geológicas do quintenário, os escassos grupos

    humanos sobreviventes degladiar-se-iam com a fome, a peste, o frio e a escuridão!

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    A Última Fronteira

    Apenas quinze mil anos mais tarde, a nova civilização que deles emergiria iria atingir,

    uma vez mais, as estrelas!...

    Berços de seus sonhos e de seus medos! Refúgio de seus longínquos ancestrais que

    sonhavam com o dia em que retornariam ao pequeno e resplandecente sol amarelo

    que muitos milênios antes assistira, impávido, ao alvorecer de sua epopéia! Com o dia

    em que reconquistariam a pálida Jóia Azul, Rá-Mú, A Senhora, a pátria-mãe

    Terra!...

    ----------XXX----------

    GADP-20/04/2016

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    A Última Fronteira

    PRÓLOGO...

    ==============================================================

    A praia de areia fina e amarelada formava uma longa língua de mais de 12 km que

    nascia aos pés dos contrafortes de uma portentosa cadeia de montanhas a qual se perdia

    no horizonte distante.

    Uma figura de aspecto frágil desceu as últimas rochas e atingiu a faixa de areia com um

    pequeno salto, fitando, por um momento, o espetáculo plácido das ondas criadas pela

    suave brisa matinal.

    O mar apresentava um tom verde claro e translúcido, indicando a superfície plana e rasa

    que se prolongava sob as ondas que varriam a língua de areia, deixando-a compacta e

    permitindo um caminhar sem esforço.

    Ela olhou ao redor e, satisfeita com o que viu ou deixou de ver, iniciou sua marcha...

    Voltou-se para as dunas baixas que morriam na praia e que formavam uma pequena

    barreira ao avanço do mar. Galgou-as e descortinou a paisagem de dunas, mangues e

    pequenas lagunas salobras que se estendiam a perder de vista, rumo aos contrafortes

    rochosos a se prolongarem em direção ao oeste.

    Sorrindo, a aparentemente frágil figura de mulher voltou à praia e iniciou sua

    caminhada, acompanhando o litoral que se estendia rumo ao sul. À distância, era

    possível se avistar um pequeno promontório que avançava oceano adentro e, para lá, ela

    se dirigiu, sem pressa...

    Vestia uma longa capa negra de tecido fino cujo capuz lhe cobria os cabelos, estes, tão

    negros quanto sua vestimenta. Seus pés, calçados em curtas sandálias de couro fino,

    eram pequenos, delicados e bem feitos, sua pele fina, bronzeada pelo sol resplandecente

    denunciava um corpo jovem e bem torneado que ocultava músculos rijos, forjados em

    longa atividade física. Seus olhos, de um azul profundo, eram argutos e denotavam uma

    longa experiência acumulada que, aparentemente, contrastava com seu corpo juvenil.

    Ela caminhava num ritmo compassado e lento, mas seguro, aproveitando a brisa fresca

    da manhã que agitava seu traje esvoaçante, deixando-a praticamente desnuda, pois

    apenas um diminuto conjunto de roupas íntimas, semelhantes a um biquini e

    igualmente negras, era tudo o que ela trajava por sob a capa, o que não parecia

    incomodá-la naquela paisagem absolutamente deserta.

    Não portava armas ou qualquer tipo de bolsa, bagagem ou apetrechos de viagem, o que

    poderia ser uma atitude temerária para uma mulher solitária caminhando por aquele

    ermo e, embora a paisagem não desse sinais de vida animal, grandes ossadas corroídas

    pelo sol e pelo vento pareciam denunciar a existência de animais titânicos ocultos sob as

    ondas...

    Ela, porém, marchava resoluta em meio ao cenário desolado, parecendo absorta em seus

    próprios pensamentos e sem se dar conta dos perigos naturais que talvez estivessem à

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    A Última Fronteira

    sua espreita, ou, talvez, por algum motivo desconhecido, simplesmente não os

    temesse...

    Já caminhava há mais de duas horas e o promontório verdejante, contrastando com

    aquela paisagem árida, crescia, a cada momento, diante dela. Foi quando percebeu a

    pequena coluna de fumaça de se erguia da base do platô. Poderia ser um pequeno

    incêndio em arbustos, mas a estrutura pedregosa indicava, mais provavelmente,

    atividade inteligente.

    Ela sequer hesitou ou interrompeu sua marcha, apenas afivelou sua capa à cintura e

    prosseguiu. Mais uma meia hora, avistava uma pequena construção, um rústico abrigo

    rochoso do qual se desprendia a fumaça e diante do qual uma esplêndida figura humana

    parecia esperá-la, de pé...

    O homem vestia um traje muito semelhante ao dela, apenas branco com uma longa

    barra azul celeste no lugar do negro. Era musculoso e bem constituído, uma musculatura

    seca, forjada pelo trabalho do dia a dia.

    - Bom dia, irmã da Luz! - ele a saudou, descobrindo a cabeça em sinal de

    reconhecimento a uma Iniciada.

    - Bom dia irmão. - ela retrucou igualmente descobrindo-se e fazendo o gesto de benção

    ritual do grau mais elevado para o grau menor - Vive aqui?

    - Na aldeia ali adiante. - apontou para uma vila de pescadores, na qual já se podia

    detectar a azáfama dos barcos que voltavam com o produto do trabalho diário. A aldeia

    se espraiava por um semicírculo de uns dois quilômetros que beirava a continuação da

    praia, formando um remanso protegido entre o promontório e contrafortes baixos e

    verdejantes sobre os quais pastavam pequenos animais de criação.

    - Bonito lugar, tranquilo... - observou ela.

    - Nosso Templo fica numa povoação maior adiante. - respondeu ele à pergunta não

    formulada - São mais alguns dias de caminhada pelas trilhas dos contrafortes, mas, se

    desejar, os pescadores a levarão com prazer, irmã. Estava preparando o almoço quando

    a avistei do alto do promontório onde construí um pequeno abrigo para meditação.

    Como não sabia quem esperar, apenas aumentei a porção que preparava, espero que não

    se importe com a comida simples...

    - De modo algum irmão... É bom ter alguma comida quente depois da dieta de frutas

    silvestres com que venho me satisfazendo há algum tempo... – respondeu ela abrindo

    um sorriso doce e radiante.

    - Vem de muito longe, irmã?

    - De muito... Muito longe! – retrucou, ela, sem maiores detalhes.

    - Seu destino é o Templo?

    - Não, estou só de passagem, mas o visitarei antes de continuar minha jornada.

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    A Última Fronteira

    - Será um prazer guiá-la se assim o desejar, temos poucos visitantes neste nosso

    cantinho do mundo e recebermos uma MAGA de seu Grau é uma raridade! Como devo

    chamá-la, Senhora? - disse ele, pela primeira vez referindo-se respeitosamente ao cargo

    que o traje negro identificava.

    - Já respondi por muitos nomes, meu Sacerdote... – retrucou, ela, enigmática - Patrícia -

    A Imperatriz Guerreira, Harmina - A Poderosa Grã-Sacerdotisa, Yellanta - "A

    Abençoada, representante Viva de Halli... Hoje me conhecem como Izabella - A

    Peregrina"...

    - Senhora!... - exclamou o Jovem Sacerdote atônito, fazendo menção de ajoelhar-se,

    mas ela, gentilmente, o impediu.

    - Nós, Sacerdotes de Luz, somos todos iguais perante ELA, irmão. E como devo

    chamá-lo? - perguntou gentil exibindo um doce e cordial sorriso.

    - Meu Mestre no Templo me disse, quando de minha iniciação, que também já tive

    vários nomes em função de minhas várias vidas passadas, mas meu nome de sagração é

    Adâmer, minha irmã e Senhora!

    - Adâmer... Adâmer - O que espera - completou ela, parecendo refletir sobre o

    significado do nome - Bem, Adâmer, essa refeição tem um cheirinho bom! - disse com

    simplicidade, sentando-se no chão ao lado da fogueira - Se o convite ainda está de pé!...

    - Claro!... Senhora...

    - Apenas uma irmã cansada de uma longa caminhada, irmão Sacerdote. Me chame,

    apenas, Izabella.

    - Assim será se é sua vontade, irmã! - declarou ele com um sorriso franco.

    Tomaram sua refeição, pequenos peixes assados na brasa acompanhados de tenros

    legumes cozidos. Para sobremesa, saborosas frutas silvestres acompanhadas da água

    fresca e cristalina que brotava de uma pequena fonte ao lado da rústica habitação.

    - Gostaria de conhecer a Aldeia Senho... Desculpe, irmã Izabella?

    - Gostaria... Mas, antes, queria conhecer este promontório e sua vista.

    O jovem Sacerdote sorriu... Recolheu a parca louça para lavá-la, mas ela se adiantou,

    fazendo isso com destreza e rapidez.

    - Senhora!... Irmã Izabella... - corrigiu-se tímido.

    - É o mínimo que posso fazer, irmão, para retribuir-lhe a primeira refeição quente e tão

    saborosa em semanas.

    Ele cuidou do fogo, guardando algumas brasas para o anoitecer...

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    A Última Fronteira

    - É realmente calmo aqui... - ela observou.

    - Sim... Por isso escolhi este lugar para meditar e aprofundar-me em meus estudos. O

    povo é simples e dedicado à Deusa. Eu os oriento e cuido deles, pois sou hábil na arte

    de curar desde muito novo...

    - Um Sacerdote curandeiro! Não é comum vê-los tão longe dos Templos!...

    - Eu pedi a meu Mestre que me indicasse um local tranquilo onde pudesse meditar e ele

    me guiou até aqui.

    - E esses legumes, deliciosos?...

    - Tenho uma pequena horta no vale que divide o promontório. Os aldeões me trazem o

    produto de suas pescarias. Uma vez a cada mudança da Lua eles sacrificam algumas

    peças de seu gado para um banquete comunal que eu complemento caçando algumas

    aves lacustres que vivem nos baixios em grandes bandos. É a única época em que

    mudam sua dieta e é uma forma de agradecer o sustento que me proporcionam.

    - Uma troca justa... Amparo espiritual e médico por alimento. - ela ponderou - Há

    quanto tempo está aqui, Adâmer?

    - Dois verões, irmã, mas a cada 3 Luas volto ao Templo para buscar medicamentos e

    novos pergaminhos que estudo e devolver os já lidos sobre os quais dedico minha

    atenção.

    - Então você é um estudioso da Magia e das Ciências Antigas?

    - Sim... Mas ainda não sou um MAGO, apenas um estudante recém iniciado.

    - Bem... Quer me levar a conhecer seu retiro?

    - Decerto que sim, irmã. Depois, se desejar, eu a levarei à Aldeia onde poderemos

    conseguir que os pescadores a levem à vila do Templo.

    - Trataremos disso no momento apropriado, irmão. Agora, deixe-me conhecer este seu

    pequeno refúgio de paz. Talvez eu permaneça aqui por um tempo se isso não vier a

    interferir em sua concentração. Não desejo criar obstáculos a seus estudos...

    - Será uma honra e um prazer, irmã. – ele retrucou com um sorriso franco desprovido

    de qualquer malícia. Guiou-a pelas trilhas do promontório no topo do qual havia um

    abrigo de pedras como uma vigia de onde se descortinava toda a paisagem em derredor.

    Como ele descrevera, havia um vale abrigado e uma pequena enseada de areia no lado

    norte do promontório que terminava numa faixa de terra negra onde nascia uma

    pequena horta à sombra de árvores frutíferas de baixo porte.

    - Você as plantou?

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    A Última Fronteira

    - Na maior parte foi meu Mestre que viveu aqui antes de mim. Eu apenas as conservo e

    levo-lhe algumas frutas quando retorno ao Templo. Ele sente falta...

    - Que gentil, Adâmer! - observou ela - Um discípulo dedicado é uma benção!

    Ele sorriu e curvou-se agradecido.

    - Vista linda! - exclamou - O que há na ponta do promontório?

    - Ruínas... O povo local as evita. Alguns dizem que são sagradas, outros amaldiçoadas,

    restos de guerras antigas...

    - Já esteve lá?

    - Sim... Parecem as fundações de um antigo forte, mas não há referências a ele nos

    registros do Templo e meu Mestre também nada soube me informar. Tudo o que se nota

    é que são muito antigas e feitas com uma técnica que não é dominada nos dias de hoje.

    - Leve-me lá!

    Deixando para trás a horta e o pomar, eles seguiram a trilha até a segunda parte do

    promontório, chegando às ruínas após uma rápida caminhada.

    - Aqui... - disse Adâmer apontando.

    Izabella se adiantou para que ele não percebesse as lágrimas que lhe brotavam dos

    olhos azuis e escorriam pela linda face...

    - Voltei! – sussurrou ela, triste e docemente, para si mesma - Agora devo prosseguir e

    recomeçar!...

    ----------XXX----------

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    A Última Fronteira

    PARTE-I; O Começo:

    ==============================================================

    Meu nome é Patrícia Allison, hoje, completo 2.100 anos pela forma como se mede o

    passar do tempo em meu planeta natal, a TERRA.

    Para os nobres da Casa Imperial de Torgaydesin, isso representa a meia idade,

    embora, graças aos milagres da engenharia genética, reservados a muito poucos

    privilegiados, eu possua a aparência física de uma jovem de 15 anos!...

    Será com esta aparência que, um dia, irei falecer, se de causas naturais, o que, no

    Império, é, de forma eufemística, denominado A Grande Caminhada!

    Isso, caso não venha a morrer antes em uma das violentas guerras como tantas de que já

    participei, muitas das quais mal me lembro, sempre ao lado de meu esposo e Senhor,

    meu amigo, meu amante, razão da minha vida, ou que a ele me una, voluntariamente,

    quando de seu descanso final, juntos, na Pira Ritual, para que nossas cinzas repousem

    unidas por toda a eternidade, nos Montes Iluminados!...

    Não partiria desta vida com qualquer arrependimento, mesmo que fosse hoje, agora!

    Afinal, para uma terraran, com uma expectativa de vida natural de pouco mais de 120

    anos, sujeitos a uma paulatina e irreversível degenerescência, vivi muito além de

    qualquer expectativa.

    Disse que meu nome é Patrícia Allison, na verdade, nasci Patrícia Peary McCoist

    Allison, no ano de 2267, calendário Oficial da Terra.

    Tive uma origem privilegiada, no seio de uma família abastada, conhecida e importante,

    ainda que, como meu Avô Materno, Lord, Patrick Henry Peary McCoist, de quem

    herdei meu nome, sempre tenha sido uma pessoa extremamente simples.

    Tive a oportunidade de estudar nos melhores colégios e universidades. Graduei-me em

    Cosmologia aos 19 anos e aos 24 obtive meu PhD em Simulação de Sistemas, minha

    Tese foi sobre a criação de um método seguro para a localização de Pontes Einstein-

    Rosen; uma pequenina gênia como costumava dizer meu avô orgulhoso.

    Servi, então, na Força Integrada de Defesa e Espaço da Federação Terrestre por quase 3

    anos, uma obrigação de todo cidadão ao final de sua formação, porém, algo muito

    incomum entre os de minha classe social que podiam escapar, com facilidade, do

    serviço, mas eu achei que era meu dever para com uma sociedade que me abençoara

    com tantas benesses...

    Conheci o horror e a estupidez da guerra e, pela primeira vez, tive contato com meu

    adorado Senhor, o então príncipe Dorbay Ti Torgaydesin, herdeiro do Trono Imperial, o

    Hirkull do Trono de Cristal"!

    Hoje, igualmente, fazem 3 anos que ele assumiu o trono e, desta forma, me tornei sua

    Imperatriz, Lady Patricia Peary McCoist Alison Ti Castamir Ti Torgaydesin,

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    A Última Fronteira

    Hirkullesa, Senhora do Alto Archontiá, Duquesa por Direito de Castamir e Duquesa-

    de-Guerra de Thikchis, Lady Protetora dos Domínios do Braço de Orion, que incluem

    meu próprio planeta natal, a TERRA.

    Nosso encontro foi, para mim, algo casual, destino, é o que se poderia chamar de,

    KARAL ou Karma segundo os Defensores da Fé, os Sacerdotes da Luz, poder

    religioso dominante no Império.

    Meu primeiro contato com Império se deu quando estava iniciando meu PhD. Havia

    uma chance de conseguir uma Bolsa de Estudos num dos maiores centros de pesquisa

    do Império, voltado para a área de estudo e análise de locais favoráveis à implantação

    de Pontes Eisntein-Rosen. Para isso eu tinha que dominar o Galático, como era

    conhecida, por nós, a Língua Oficial do Império. Não foi algo propriamente difícil. Eu

    herdara de minha mãe a facilidade para aprender idiomas, da mesma forma que herdara

    o espírito aventureiro e temerário de meu avô. Ao final de meu PhD eu já era fluente, o

    que me permitia uma boa perspectiva de obter a sonhada Bolsa de Estudos!

    Se eu conseguisse a bolsa pretendida, poderia tornar-me uma Maga das Ciências do

    Império, o que me abriria enormes possibilidades.

    Por essa época, meu avô começou a sentir sua saúde debilitar-se e resolveu que chegara

    a hora de por seus negócios em dia, como costumava dizer. Passou as empresas à

    administração de minha mãe e de seus dois irmãos e assegurou o futuro dos netos até a

    geração seguinte. A mim, além de condições de vida muito confortáveis, deixou-me,

    também, sua amada RESERVA de preservação da vida selvagem na costa ocidental

    da antiga Austrália onde eu costumava passar os verões de criança e adolescente.

    De todos os seus netos, fui, sempre, sua predileta, pois nossos gostos e sonhos se

    identificavam. Com ele aprendi o respeito pela natureza, mas, também, a viver nela e

    sobreviver de seus frutos. Aprendi com ele a caçar, pescar, mergulhar, escalar

    montanhas e a me defender. Meu avô era um mestre na velha arte Samurai e, hoje,

    posso afirmar que devi minha vida a seus ensinamentos por mais de uma vez!...

    Mas, até agora, falei, falei e não disse nada (Risos), diriam vocês. Pois, afinal, como me

    tornei sua amada Saydina, a Preciosa aos olhos do Senhor, a predileta de meu amado

    Senhor, título pelo qual ele me trata, com imenso carinho, até hoje?

    Como em tantos romances, para mim, começou por uma série de felizes coincidências:

    Eu tinha acabado de completar 26 anos pelo tempo da Terra. Tinha retornado havia

    pouco mais de 6 meses da frente de batalha na qual me distinguira e quase morrera!...

    O General Albert Ian McDougall, meu comandante, aprovara minha promoção ao posto

    de Major da Força, após minha recuperação, e me agregara a seu Estado-Maior, para,

    nas suas próprias palavras, evitar que nossa querida Pimentinha terminasse indo pelos

    ares e nosso Grupo de Exércitos perdesse uma única intérprete, fluente, de Galático.

    O apelido de pimentinha veio de meu espírito temerário (que quase me matou!...) e do

    fato de eu ser muito baixinha para a média das mulheres que serviam na Força. Eu mal e

    mal chegava a 1,65m enquanto a maioria tinha de 1,75m para cima...

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    A Última Fronteira

    Por outro lado, sou uma mulher muito bem proporcionada e bonita, (Metida...) não o

    fosse, não teria atraído a atenção de um príncipe com um harém, na época, composto

    por mais de 1000 mulheres de invejável beleza, vindas de todos os cantos do império!

    Mais de mil concubinas, meu Deus! Como ele dava conta? Foi o que perguntei logo no

    início de nosso relacionamento. Ele, a princípio, não gostou muito e emburrou, mas, em

    seguida, deu uma imensa gargalhada e sussurrou em meu ouvido aquelas mentirinhas

    afetuosas que os homens contam à mulher amada e que nós, espertamente, fingimos

    acreditar! (Risos).

    Sou, pois, um tipinho mignon, mas com aquele corpo que provoca um tremendo

    torcicolo nos homens quando vêem uma mulher como eu de biquíni em uma praia

    (Metida! Risos) e, apenas para deixar a observação, no Império, as mulheres, aliás,

    todos, costumam ir à praia como Deus os pôs no mundo!(Risos). Tenho um rosto

    bonito, um sorriso meigo, dengoso, daqueles que fazem dos homens mais poderosos,

    nossos escravos... Meus cabelos são negros como a mais escura das noites, meus olhos

    azuis, claros, cristalinos, como um céu de outono, uma combinação rara na Terra e mais

    ainda nos planetas do Império. Talvez tenha sido isso o que lhe chamou a atenção em

    nosso primeiro encontro. Ele diz que foi minha fluência em Galático... É ruim! Ele me

    comia com os olhos! Não sabia se olhava para meu rosto ou para meu corpo, meus

    olhos, meus peitinhos (que sempre foram pequenos, mas empinadinhos), minha

    bundinha redondinha, meu narizinho arrebitado (muitos Risos). Tá... Sob esse aspecto,

    homens são sempre homens, não importa se Ricos ou Pobres, Nobres ou Plebeus!

    Mas... O fato é que ele me desejou, me amou, honrou e protegeu desde o primeiro dia

    em que, por ele, me apaixonei! Ele me escolheu para o posto mais alto que uma mulher

    pode ocupar no Império, mas, a verdade, é que eu seria sua, mesmo como a mais

    humilde de suas concubinas!... Nesse ponto, sou tão vulnerável e BURRINHA como

    qualquer mulher apaixonada!...

    Mas chega de falar sobre mim! Como disse antes, completei 2100 anos! Sou uma

    mulher madura e é hora de transcrever para a posteridade aquilo que foram nossas

    vidas, as aventuras, lutas, os riscos que corremos, as vitórias que colhemos, os filhos e

    filhas que geramos, frutos de nosso amor e que irão perpetuar a Dinastia Torgaydesin!...

    Então, comecemos pelo começo, Terra, ano 2293...

    Havia pouco mais de 130 anos que o Império nos descobrira, ou, se preferirem,

    redescobrira.

    Por essa época, nós, terrestres ou terrarans como o povo do Império gosta,

    pejorativamente, de nos chamar, engatinhávamos na conquista de um lugar no espaço.

    Após as primeiras viagens À LUA, vivêramos uma estagnação de mais de 100 anos! Só

    em 2050 conseguimos chegar a Marte e só 10 anos depois começamos a terraformá-lo.

    Só em 2076 iniciou-se sua colonização.

    Só conseguimos atingir o Sistema Solar mais próximo em 2097, às vésperas do 2o

    Século do 3o Milênio, isso graças à descoberta da impulsão MAM, mas, mesmo assim, a

    perspectiva de uma viagem interestelar era de décadas, séculos em hibernação ou em

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    A Última Fronteira

    gigantescas naves capazes de reproduzir a gravidade e permitir colheitas e criação de

    gado, mas sujeitas a todo tipo de risco, quase tão precárias quanto as caravelas dos

    descobrimentos do Século-XVI.

    Com o contato com o Império, tivemos o acesso ao uso dos Portais, na realidade, as

    tão teorizadas Pontes Einstein-Rosen e a Galáxia, por fim, se abriu para nós!

    Assim, teve início o Êxodo de uma Terra superpovoada para a conquista de novas

    fronteiras, mas, com as novas fronteiras, vieram os novos perigos...

    Descobrimos que existiam outras raças, não-humanas, inteligentes e tecnologicamente

    adiantadas e, como a experiência comprovou a teoria, raças tecnologicamente

    adiantadas nada tinham de benevolentes como alguns crentes dos UFOs tinham

    advogado no passado. Raças evoluídas tecnologicamente, via de regra, eram

    PREDADORES como nós!

    Quase nos demos mal... E teria sido assim, não fossem nossos números impressionantes

    (mais de 20 Bilhões à época) e o apoio Militar e Logístico do Império. No fim,

    ganhamos nosso espaço, mas pagamos um terrível, inimaginável preço em sangue!

    Foi quando ficou clara uma realidade da qual muitos desconfiavam ao longo de

    Séculos, uma realidade da qual Grupos Ocultistas vinham, de muito, guardando o

    segredo; a Terra já fora uma colônia do distante e imenso Império. A humanidade

    não nascera em nosso planeta, em nosso pálido pontinho azul, como Carl Sagan o

    definira uma vez.

    Fora a necessidade de sobrevivência num mundo violento e selvagem que nos fizera

    involuir em todos os aspectos ao longo de milênios de abandono. De modo especial, a

    média de vida de um terraran e de seus descendentes, mal passava de 120 anos,

    enquanto um cidadão comum do Império tinha uma vida média de 400 a 500 anos

    saudáveis e a Alta Nobreza podia viver por milênios!

    Nosso Êxodo, auxiliado pelo Império, salvou a Terra e nossa humanidade da extinção.

    Espalhamos, como eu disse, 20 Bilhões de almas pelo espaço. Mais de 2 Bilhões se

    perderam nas terríveis guerras dos primeiros 100 anos! Mas... A Terra e Marte

    recuperaram seu equilíbrio ecológico. Hoje, na Terra, vivem confortavelmente 2

    Bilhões de habitantes e, em Marte, cerca de pouco mais de 1 Bilhão. Números

    compatíveis com um Ecossitema recuperado.

    Formamos os novos pioneiros, os novos desbravadores do Império, que, com nosso

    sangue, conquistamos e colonizamos mais de 300 planetas neste curto espaço de tempo.

    O Império nos forneceu os meios para vencer, de forma instantânea, incomensuráveis

    distâncias, nós lhe pagamos ao expandir suas fronteiras e ao abastecê-lo com novas

    riquezas...

    Na verdade, a imensa maioria dos terrarans jamais visitou um planeta do interior do

    Império. Pouquíssimos conhecem de perto o Planeta Natal da humanidade. Eu, como

    Princesa Consorte do Hirkull e, hoje, Imperatriz, sou uma das poucas entre estes

    privilegiados. Por isso, considero que esta narrativa se investe de suma importância,

    para que as Gerações do Futuro conheçam a VERDADE!...

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    A Última Fronteira

    É natural que minha entronização no mundo imperial não tenha sido das mais fáceis.

    Afinal, no começo, eu não passava de uma selvagenzinha exótica que meu Senhor

    desencavara nas fronteiras dos confins do Império. Eu não conhecia a história e os

    costumes milenares que regiam os relacionamentos da nobreza do Alto Archontiá.

    Mas... Eu estava disposta a qualquer sacrifício para ficar com meu amado e ser feliz

    com ele! Não... Não é exagero. Por uma vez eu sacrifiquei minha própria vida para

    isso!...

    Sim, porque este corpo que habito não é meu corpo original, mas um CLONE para o

    qual minha mente e minhas memórias foram transplantadas. Isso ocorreu há mais de

    2000 anos! Mesmo no Império, a muito poucos é concedida tal benesse, tal regalia. Ao

    longo de meu tempo de vida, só a Lorde Vastin, conselheiro do Imperador Tayjin pai de

    meu amado. Este direito me foi concedido pelo próprio Imperador e, durante 15 anos

    um novo corpo foi preparado na Casa da Vida a partir de minhas células de DNA.

    Durante estes 15 anos esperamos, aguardando que este corpo atingisse sua plenitude e a

    transferência de memória pudesse ser completada!

    O momento mais emocionante foi quando o Imperador, em pessoa, me retirou da

    Câmara de Memória e me entregou ao meu amado, ordenando que todo o Império de

    Ajoelhasse diante de mim, sua Salvadora. Eu não era mais a terraran que roubara o

    coração do Príncipe, era a Grande Senhora do Archontiá, Lady Patrícia Ti Torgaydesin,

    Duquesa Ti Castamir por direito e mãe dos herdeiros do Trono de Cristal, a guerreira

    que salvara o Império, derrotando seu maior inimigo! Foi um momento de pura

    sublimação!

    Quando ascendemos ao Trono, há pouco mais de 3 anos, meu amado Senhor parou de

    comandar suas tropas diretamente e eu de acompanhá-lo nas batalhas. Foi um alívio

    para ambos. Agora, são nossos filhos mais velhos os encarregados de manterem a paz

    nos domínios e, embora, como mãe, isso seja um motivo de preocupação, aceito que é a

    vida e a obrigação deles para com seus súditos e protegidos, assim como, antes, foi

    nossa.

    Geramos, ao longo destes anos, 123 filhos e filhas... Pode parecer uma prole

    descomunal para um terraran, mas isso se deu ao longo de 2100 anos, não se

    esqueçam. Sob esse aspecto, é até muito pouco e, como a gravidez das mulheres nobres

    é interrompida no início do terceiro mês e o feto transplantado para uma incubadora na

    qual seu corpo é preparado para sua longa e saudável vida, a gravidez não sacrifica as

    mulheres da nobreza. Na realidade, os fetos poderiam ser gerados direto nos úteros

    artificiais, mas poucas são as nobres que abrem mão de sentirem seus filhos crescendo

    dentro delas, é a tradição.

    De todos os nossos filhos, os que mais conviveram comigo foram Yerullam, meu

    primogênito e duas das meninas, Alice a quem dei o nome de minha falecida irmã e

    Harmina, a única que nasceu com meus olhos azuis e negros cabelos, e meu tipo físico,

    uma mulher deslumbrante (Sou metida, mesmo)!

    Ah! Temos 362 netos e 45 bisnetos e a família ainda está crescendo! (Risos).

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    A Última Fronteira

    Na verdade, as mulheres da Alta Nobreza Imperial são criadas para o amor e para o

    sexo. Isso não é uma obrigação, é uma tendência, uma tradição.

    Existem muitas que abraçam uma carreira militar, se integrando às Amazonas Reais,

    outras preferem seguir a carreira da ciência, entrando para os Colégios Sacerdotais e

    tornando-se Magas devotadas ao estudo das ciências Físicas, Biológicas e Naturais.

    Quanto à religião, existe a Oficial, o Sacerdócio da Luz que lembra um pouco o

    Catarismo, mas com conotações muito mais místicas. De resto, há credos para todos os

    tipos e gostos. A liberdade religiosa é total e o fanatismo não é admitido e, inclusive,

    reprimido com extrema violência.

    No Império, os casamentos são regidos por diversos tipos de união:

    A União de Livre Consenso em que as partes decidem ficar juntas por puro prazer

    sexual enquanto lhes interessar. Não há compromisso ou obrigação de fidelidade e o elo

    pode ser rompido por qualquer das partes a qualquer tempo. É muito comum entre

    jovens e casais homossexuais.

    A União Estável em que um casal que queira ter filhos se une por um contrato no qual

    o homem se obriga ao sustento da casa, tendo que provar que pode fazê-lo, e a mulher

    se compromete à fidelidade durante o tempo em que durar o contrato e os filhos

    estiverem sendo gerados. Normalmente estes contratos duram de 5 a 10 anos, mas

    existem os mais curtos quando o único desejo é ter um filho. Terminado o contrato e

    não havendo interesse de uma das partes no sustento e criação das crianças, o Império

    assume sua guarda e, caso a mãe não possa sustentar-se, lhe garante uma pensão. Este é

    o tipo de união estável mais comum entre os plebeus.

    Existe, ainda, a União de Compromisso, muito comum na Baixa Nobreza por

    envolver transmissão de Títulos e Bens. Não tem prazos de validade estabelecidos, mas

    podem ser encerrados por qualquer das partes sendo que os bens constituídos durante a

    relação são partilhados e os bens de raiz permanecem com cada cônjuge. A guarda das

    filhas é da mãe e a dos filhos, do pai.

    Por fim, existe a União por Shandias ou Ti Shandias, o maior e mais formal

    compromisso de união do Império, quase sempre utilizado na Alta Nobreza cujas

    Damas são preparadas, desde a mais tenra idade para abraçar este compromisso. É algo

    muito sério, pois é um elo para toda a vida e as vidas na Alta Nobreza são longas. Um

    elo que não pode ser rompido, guerras fratricidas se iniciaram assim e o castigo para a

    infidelidade feminina é monstruoso, tanto para a esposa infiel quanto para seu(s)

    amante(s). Por isso, é muito comum casais Nobres, jovens, se unirem primeiro por uma

    União de Compromisso.

    Na União Ti Shandias, o casal, perante a assembléia Imperial e o corpo dos

    Sacerdotes e Sacerdotisas da Luz, a mais antiga e poderosa casta sacerdotal do

    Império, juram devotar suas vidas um ao outro.

    Para a mulher, como já citei, isso representa a castidade por toda a vida, significa

    pertencer e dedicar-se a um único homem, ser-lhe fiel e submissa à sua vontade.

    Significa que ela, de própria vontade e plena consciência irá renunciar à sua Liberdade,

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    anulando sua vontade por amor e se tornando uma Kory, uma protegida, uma

    intocável, digna de um respeito quase santificado.

    O mais curioso é que as Korys, normalmente mulheres de extrema beleza, usam

    vestes que mal lhes cobrem a nudez, exíguas tangas de tecidos diáfanos e caríssimos,

    muitas vezes meros tapa-sexos, adornadas de jóias sem preço e cercadas de Damas de

    Companhia, camareiras e servos. Na realidade, faz parte do ritual que elas exibam seus

    corpos perfeitos para o Orgulho de seus Senhores e a inveja dos demais, pois tocar

    numa Kory sem sua permissão é assinar uma sentença de morte!

    A cerimônia é quase mágica. Chama-se Korital. Nela o casal, despido e despojado de

    qualquer adorno, entra na Fonte Sagrada e, na presença dos Sacerdotes da Luz, são

    imersos na Chama Sagrada, dentro da qual não se pode trair a verdade sob pena de

    se ser consumido em agonia, assim reza a tradição. Ali juram seu amor e sua devoção

    eternos. Não há volta. É uma união que não pode ser desfeita, como já coloquei.

    O espetáculo é midiático e, dependendo da importância dos noivos, transmitido a todo o

    Império.

    Foi assim que me uni ao meu amado Senhor, há quase 2100 anos, e de sua Saydina, sua

    predileta, passei a ser sua Kory, sua esposa Ti Shandias, sua Hirkullesa, esposa

    jurada, genitora de seus filhos legítimos que o sucederão no Trono de Cristal.

    É um ritual complexo e compreende além do banho e do juramento sob a "Chama de

    Halli, a marcação da Kory" a fogo...

    No Império, quando uma jovem de Alta Casta completa sua maioridade aos 15 anos, ela

    recebe a marca de sua família, de seu Clã, a fogo, na anca esquerda, o que a coloca sob

    a proteção de seu Clã por toda a vida.

    Se, um dia, ela decidir unir-se pelas Shandias, nesse dia é marcada na anca direita com o

    Brasão de seu Senhor que, deste momento em diante, assume sua guarda, cabendo-lhe

    zelar por seu sustento, sua honra e o sustento dos filhos e filhas que gerarem juntos.

    A cerimônia do Korital não impõe castidade ao marido, normalmente nobres

    possuidores de vastos haréns, mas somente as Korys podem circular livremente fora

    deles e tem suas dependências pessoais nos Castelos de seus Senhores. Da mesma

    forma, elas têm direito a suas comitivas pessoais de Damas e Servos e a sua própria

    escolta armada, normalmente de seu próprio clã.

    Como fui criada na Terra, eu não tinha a marca de minha família. Mas quando os

    Estudos Heráldicos e de DNA provaram minha ascendência da casa Ti Castamir, eu

    recebi ambas as marcas quando de minha sagração como Kory jurada.

    Não é tão doloroso quanto parece, somos preparadas com óleos e drogas que amortecem

    a maior parte da dor e a emoção do momento é tanta que a própria adrenalina parece

    que nos anestesia.

    Se eu não fosse nobre de ascendência, eu receberia, no Korital, a marca de meu Senhor

    nas duas ancas. Toda Kory as exibe com imenso orgulho, ciente de seu Poder e da

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    A Última Fronteira

    Honra que lhe é concedida, visíveis no imenso respeito com que são tratadas em

    qualquer ambiente por onde circulem.

    No encerramento do Korital, o casal recebe as Shandias. O homem uma no pulso

    esquerdo, a mulher duas, unidas por uma fina e longa corrente de platina, símbolo de

    sua submissão, trazendo, cada uma delas, a marca das casas que se unem. As Shandias

    são abertas por uma chave que pode ficar em poder do Senhor ou ser dada por este à sua

    Kory em um cordão de fina platina que ela levará sempre ao pescoço, símbolo da

    confiança que lhe é depositada por seu Senhor, algo que Dorbay fez comigo de

    imediato, o que me tocou profundamente, pois não é o procedimento comum. Há

    sempre uma única Kory para um único Senhor!

    Bem, como disse antes, vivi muitas aventuras ao lado de meu amado Senhor, afinal,

    meu avô me deu o adestramento de um Samurai e eu recebi, na Força Terrestre,

    treinamento militar. Além disso, sempre gostamos de caçar juntos e de desbravar novos

    mundos...

    Embora minha formação tenha sido em ciências Exatas, sempre fui uma apaixonada por

    história e venho, durante todos estes anos, compilando e escrevendo textos e trabalhos

    sobre a verdadeira história da Terra e de sua Colonização, uma revisão da história

    clássica da Federação que, um dia, pretendo publicar.

    No Império, sou, hoje, reconhecida como uma Maga das Ciências, uma estudiosa e

    pesquisadora conhecida e respeitada, algo não muito comum em um povo no qual a

    maioria das mulheres são objetos de prazer ou mães devotadas, ainda que não de todo

    incomum nas classes mais altas da Nobreza do Archontiá. Yasmella, irmã de meu

    Senhor se dedica a estudos Planetários e creio que minha filha Alice lhe seguirá os

    passos. Por outro lado, Harmina tem o sangue dos desbravadores da Casta Castamir!

    Bom, isso encerra esta apresentação, em linhas gerais, da sociedade Imperial. É hora de

    narrar, em detalhes, o que foi minha vida junto a meu amado Senhor ao longo destes

    2100 anos.

    Como descrevi, rapidamente, logo no início deste relato, conheci meu amado Senhor em

    uma de suas primeiras visitas à Terra, na época em que estava sendo negociada a adesão

    da Federação a um pacto de ajuda mútua com o Império. Na verdade, a idéia era tornar

    a Federação um Protetorado do Império.

    Como Duque-de-Guerra, ele se interessou em conhecer a forma de Guerrear da

    Federação, momento que o General McDougall, habilmente, utilizou para gerar um

    contato próximo e já que poucos dominavam a língua imperial, o Galático como eu, o

    serviço de intérprete coube a mim.

    Não sei se foi só isso. O velho McDougall era uma raposa e tinha plena consciência do

    efeito de uma mulher bonita sobre os homens, em especial sobre guerreiros. A equipe de

    cicerones preparada para o Príncipe era, além dos Oficiais de Alta Patente, composta

    por belas jovens escolhidas a dedo. O General ordenara o Uniforme de Gala que era um

    conjunto elegante de couro negro, colante, com botas de montaria também negras,

    camisa branca com as insígnias prateadas na gola, uma jaqueta de couro curta e bem

    talhada. Completando o conjunto, um Correame tradicional estilo Sam Browne no qual

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    A Última Fronteira

    se ajustava o coldre de uma automática 7.62 com um pente de 15 tiros, obviamente

    vazio por questões de segurança.

    Eu estava atrasada, na realidade, estava um tanto irritada; detestava ser usada como um

    manequim, como uma bonequinha de luxo, mas ordens são ordens, de modo que

    estacionei o jipe de serviço e voei escada acima em direção ao elevador que já fechava

    as portas...

    - Segurem esse troço! - gritei.

    No último momento, uma mão forte parou a porta e eu pude me jogar dentro do

    elevador. Só quando parei para tomar fôlego, foi que vi que estava à sós com uma

    comitiva de guerreiros imperiais, Oficiais de Alta Patente, além o homem que segurara

    a porta do elevador que devia ser alguma autoridade civil do Império, provavelmente

    um embaixador, já que usava trajes da Federação.

    Os guerreiros imperiais eram verdadeiros gigantes, alguns, sem dúvida, com mais de 2

    metros, sarados e bombados como frequentadores de academia.

    Vestiam saiotes de tecido grosso no estilo romano, ombreiras de Prata, Ouro e Platina

    que identificavam seus postos. A indumentária era composta, ainda, por grossos

    correames de couro dos quais pendiam enormes cimitarras de batalha, punhais e armas

    laser. Sandálias de estilo romano com longas grevas metálicas completavam a

    indumentária, além de anéis cravejados de pedras preciosas e longos colares de ouro e

    pedrarias. Pareciam joalherias ambulantes...

    Eram quatro, mais o homem que me segurara a porta. Procurei não encarar ninguém e

    ser discreta. Os guerreiros imperiais costumavam demonstrar uma sensualidade

    ostensiva que me inibia. Para eles as mulheres terrarans eram encaradas como simples

    objetos de prazer e, apesar de ser treinada em artes marciais e trazer, no bolso, uma

    pequena arma de choque tinha plena consciência de minhas chances com aquelas

    feras. O melhor era ficar quietinha e escapulir na primeira parada.

    Mas os quatro se mantiveram em indiferente silêncio. Apenas o homem que me ajudara

    a entrar no elevador dirigiu-se a mim, espantosamente, na língua franca da Federação,

    fluentemente, embora com perceptível sotaque:

    - É da Força, milady?

    Achei estranho o tratamento respeitoso, normalmente destinado às Damas da Alta

    Nobreza imperial e, por um momento, achei que ele estava debochando de mim, mas

    seu sorriso era franco e gentil, assim, retruquei, procurando ser o mais natural possível:

    - Sim, meu Senhor! - respondi em puro Galático, o que provocou uma surpresa geral -

    Sou Major das Forças Especiais da Federação, adida ao Estado-Maior do General

    McDougall. Sou a intérprete oficial para a recepção de sua Alteza, o Príncipe Dorbay.

    Os senhores são da Comitiva imperial? - Eu nunca me interessara por fofocas de Corte e

    não me lembrava da aparência do Príncipe.

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    A Última Fronteira

    - Fala o Galático muito bem, milady... - Observou o homem com o sorriso encantador

    de um menino travesso. - (Como é jovem!) – pensei. Então, recordei que a aparência

    física nada significava entre os membros da Alta Nobreza do Império que podiam viver

    milhares de anos!...

    - Obrigada, Senhor, é muito gentil de sua parte.

    - Respondendo à sua pergunta, sim, somos da Comitiva. Estamos tratando dos detalhes

    finais da recepção.

    Naquele momento, não percebi os sorrisos contidos dos demais ocupantes do elevador...

    - O Príncipe tem interesse em conhecer suas Tropas Especialistas, vejo por suas

    insígnias que, milady pertence a este grupo de elite, ou estou enganado?

    Corei como um tomate antes de conseguir reagir...

    - Lutei na campanha de Sirion, meu Senhor. Fui ferida em combate e retirada,

    provisoriamente, do serviço ativo enquanto completo minha recuperação. Fui

    reconstruída em um Centro de Recuperação do Império pelo que devo ser grata ou

    estaria, hoje, presa a uma cadeira de rodas ou a uma cama por toda vida!

    -Ora!... Então temos entre nós uma Guerreira além de uma perfeita intérprete! Eu

    reconheci a insígnia que porta sobre seu bolso esquerdo, milady, heráldica militar

    terraran é um de meus passatempos. O tratamento que recebeu só é concedido,

    mesmo no Império, a soldados muito especiais que se distinguem pela coragem e

    bravura acima do dever, meus parabéns, milady!

    Eu me sentia cada vez mais embaraçada, já não sabia se ele estava flertando comigo ou

    pilheriando, mas não conseguia tirar meus olhos daqueles olhos de um verde profundo.

    - É muito delicado de sua parte, Senhor, mas não sou Oficial de carreira, estou apenas

    servindo meu período probatório de 3 anos e volto daqui a 6 meses à minha atividade

    civil...

    O sorriso dele era, realmente, cativante. Era um homem de quase 2 metros, mais muito

    bem proporcionado. Não um brutamontes mamudo como os outros. A barba ruiva como

    fogo era bem aparada, os cabelos longos presos num rabo de cavalo por uma tiara de

    brilhantes... - (Um Nobre!) - pensei...

    - Sou Físico-Química, Senhor. Fiz Pós-Doutorado no estudo de Pontes Eisntein-Rosen e

    pretendo tentar uma bolsa para completar meus estudos sobre Pontes Cósmicas na

    Academia Imperial.

    - Ora!- exclamou, piscando o olho para os demais - Então temos não só uma heroína de

    Sirion entre nós, mas uma Maga das Ciências! Com sua fluência em Galático, pode

    ter certeza de que a vaga já é sua, milady!

    - Tomara que esteja certo Senhor... - respondi sincera.

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    A Última Fronteira

    Eu me sentia cada vez mais constrangida. Quisera passar despercebida e, agora, era o

    centro das atenções dos cinco homens! Felizmente, o elevador parou no meu andar e

    pude me despedir, sentindo o sangue pulsando, o rosto queimando, a ponto de explodir!

    Pude ouvir os risos e gracejos enquanto a porta do elevador se fechava, mas eu estava

    muito apressada e atrasada para prestar atenção, provavelmente, as pilhérias masculinas

    de sempre!...

    Voei pelo corredor, cruzando com vários Oficiais, prestando e respondendo às

    continências. O ambiente era um formigueiro, bem diferente do dia a dia. Entrei no

    gabinete do General e dei de cara com o Coronel Robertson que me saudou secamente,

    olhando o relógio. Eu não gostava de Robertson, no início de minha transferência ele

    me assediara sem sucesso, agora, não largava do meu pé. Não fosse meu relacionamento

    com o General, eu já teria tido problemas...

    - Entre, Major, o General a espera! Trânsito ruim? - indagou irônico.

    - Horrível Senhor!...

    Entrei... - (Vou tomar um tremendo pito!) - pensei, Mas a ante sala estava lotada de

    Oficiais Generais e Políticos!

    - Patrícia, querida! - exclamou o General informalmente - Já estávamos ficando

    preocupados! - acrescentou zombeteiro.

    Pronto! Corei de novo como um tomate, algo que nunca conseguia evitar quando ficava

    constrangida e que sempre parecia deliciar os homens à minha volta...

    - Me desculpe Senhor, eu... O elevador... Subi com parte da Comitiva imperial e...

    - Ótimo! - exclamou ele sorridente - Estou certo de que já fez as honras da casa no mais

    puro Galático. Por isso a destaquei para esta missão! Senhores, esta é a Major Allison,

    neta de nosso saudoso Lord Peary McCoist e perita no maldito idioma do Império que

    não consigo dominar direito! Devem lembra-se dela e de sua atuação na campanha de

    Sirion...

    Fui cumprimentada por vários Oficiais e Autoridades, todos conheciam a história:

    Eu comandara um esquadrão de reconhecimento mecanizado. Oito veículos leves de

    lagartas, projetados para traslado aerotransportado. A blindagem era um composto

    metalo-cerâmico, resistente, mas de forma alguma indestrutível. O armamento,

    metralhadoras pesadas tipo gattling mísseis antitanque e canhões de tiro rápido. No

    total, 32 homens e mulheres, sendo que três de meus sub-oficiais eram profissionais

    veteranos, os resto de nós, conscritos, cumprindo seu estágio na Força...

    Fizemos contato com o inimigo em uma funda e estreita ravina que, se ultrapassada,

    permitiria ao inimigo flanquear nossas forças e nos fincamos ali.

    O combate prosseguiu por intermináveis 46 horas! O inimigo interferia em nossas

    comunicações, mas consegui enviar a cabo Janette para comunicar nossa situação...

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    A Última Fronteira

    Primeiro um Drone nos sobrevoou, mas foi abatido. Depois chegou o apoio aéreo,

    infelizmente, dos dois lados, e, enquanto eles se engalfinhavam no céu, nós nos

    matávamos em terra!

    Quando o reforço, finalmente, chegou, éramos 8 sobreviventes, todos feridos com maior

    ou menor gravidade, lutando nos dois últimos carros que restavam em operação!

    Não me lembro do que se sucedeu... Eu sangrava muito, havia sido atingida nas costas e

    tinha as pernas paralisadas! Estava fraca e tonta, e tiveram que me tirar à força do posto

    de tiro a que me agarrava! Mas... Lembro dos rostos consternados!...

    Passei 3 meses em um hospital militar, depois num Centro de Cura do Império,

    reaprendendo a andar. Minha coluna fora esfacelada por um tiro e minha mão esquerda,

    arrancada a dentadas por um inimigo, ambas reconstruídas pela engenharia genética do

    Império.

    Ganhei uma fina, quase imperceptível cicatriz na face esquerda, à altura da orelha,

    lembrança de um Oficial inimigo que mandei pelos ares! Ela poderia ter sido removida

    inteiramente, mas a médica que me assistiu no Centro de Cura do Império, tomou meu

    rosto e disse simplesmente:

    - Você é muito jovem e tem um rosto muito bonito para ser deformado por uma cicatriz,

    mas deixei esta linha que só você saberá onde encontrar para que se lembre de sua

    coragem em batalha, Capitã Allison.- foi assim que fiquei sabendo que fora

    promovida...

    Três dias depois, o General McDougall, em pessoa, nos visitou. Reuniu-nos no

    refeitório e, pela primeira vez, encontrei os demais sobreviventes, 3 mulheres e 4

    homens, incluindo 2 de meus sargentos veteranos...

    Fisicamente estávamos bem. A cirurgia genética do Império, realmente, operava

    milagres! Um tratamento, normalmente, destinado à Alta Nobreza, mas, às vezes, dado

    a plebeus que se destacavam por bravura em combate!

    As cicatrizes internas, estas ficaram. Éramos um grupo jovem e unido. Aquele "espírito

    de corpo" que só quem vive numa força militar sabe compreender...

    Nesse dia, soube, também, que Janette, a quem eu mandara com a mensagem de

    socorro, morrera quando tentara retornar num dos primeiros helicópteros de transporte...

    O General tomou a palavra e explicou o que significara nossa resistência e sacrifício.

    Salváramos a Federação de uma derrota avassaladora, por isso o esforço para salvar

    nossas vidas e nos recuperar, não éramos mais, apenas, cidadãos, nos tornáramos

    símbolos de uma resistência a um invasor cruel! Por isso, o Conselho de Governo

    Unificado decidira condecorar, a todos, com a mais alta honraria militar da Federação e

    promover todos, mais uma vez, depois do que seríamos destinados, como instrutores, a

    diversos centros de treinamento. Na verdade, uma medida eficaz para pulverizar-nos e

    evitar que os sobreviventes pudessem ser aniquilados se continuassem juntos,

    combatendo como uma unidade. Não se matam símbolos em uma guerra!...

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    A Última Fronteira

    Meu carro comando, que sobrevivera, foi recuperado e transformado em monumento na

    entrada da Academia da Força, cabendo a mim conduzi-lo a seu pedestal no dia da

    cerimônia de condecoração, marcada para a semana seguinte, mais um símbolo dos

    feitos daquele dia...

    Na data da cerimônia, formamos no pátio da Academia. Estavam presentes as maiores

    autoridades militares e civis, o próprio Primeiro Ministro veio, em pessoa, nos

    condecorar. Compareceu, até, uma delegação oficial do Império!...

    Também estavam presentes, pais, parentes e amigos. Meu pai, minha mãe, meu irmão

    mais velho que começava a administrar os negócios da família e minhas duas irmãs,

    Paula, a caçula, e Alice, do meio, já casada. Veio, também, para minha alegria, meu avô

    que já não estava bem de saúde àquela época, e que, eu não sabia, fora irmão de armas

    do General McDougall. Meu avô, com seu jeitão despojado e brincalhão, acenou para

    mim da tribuna. Ele trazia consigo um longo estojo de veludo que, no meio da confusão,

    nem percebi do que se tratava.

    Veio a cerimônia, as condecorações, os cumprimentos... Fui obrigada a fazer um

    pequeno discurso de agradecimento à Federação e ao Império por nosso tratamento. Foi

    curto, emocionado, muito aplaudido no final. Havia repórteres, Mídia, um circo!...

    Findo o discurso, eu ainda vermelha como sempre, a um gesto do General, meu avô se

    aproximou. Velho político e empresário, cobra criadíssima, tomou o microfone e falou

    do orgulho que sentia da neta que lhe seguira os passos e não se furtara a suas

    obrigações como cidadã. Não era comum que pessoas abastadas, filhas de famílias

    influentes servissem. Meus pais haviam se oposto, meu irmão dissera na minha cara que

    eu era uma idiota, minhas irmãs me chamaram de tola idealista, mas eu achei que era

    minha obrigação...

    Quebrando o protocolo, ele me abraçou como a uma criancinha travessa e me beijou na

    testa. Então, abriu o estojo de onde retirou uma espada samurai, uma Katana. Sopesou-a

    e a estendeu a mim.

    - Minha querida netinha - começou cerimonioso - Quando você era criança e eu

    comecei a lhe ensinar a arte, eu lhe disse que, se fosse merecedora, um dia ela poderia

    ser sua. Querida Patrícia, este dia chegou!...

    Engoli em seco, quando ele, com um gesto preciso, fruto de décadas de prática,

    desembainhou a espada de cabo negro com símbolos na antiga língua japonesa gravados

    em prata.

    - Esta é Sairento Shi! A Morte Silente... Que recebi de meu mestre há 50 anos e que,

    antes dele, passou de mestre a discípulo por gerações, por mais de mil anos! Somente os

    guerreiros puros que colocam o bem e a vida de seus protegidos acima da sua tem o

    direito de portá-la! Você, minha pequena netinha, se provou digna desta honra, deste

    compromisso e deste fardo! Ela é sua agora. É sua obrigação, um dia, escolher seu ou

    sua sucessora e treiná-los na arte de seu uso!

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    A Última Fronteira

    Meu avô fez um pequeno corte cerimonial no dedo esquerdo e deixou que o

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