Ao Filho das Estrelas: entre os céus e a Terra
De Fred Rocha
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Sobre este e-book
Fred Rocha
Romancista, contista e poeta, inspirado especialmente em obras clássicas. Nascido em 1985, em Niterói – RJ. Escrevi o romance de ficção 'S-4 e a Terra dos Sonhos', o romance juvenil 'Ao Filho das Estrelas', a seleção de contos 'd'Outros Rasgos', e a coletânea de sonetos 'Como Nasce um Poeta'. Tenho alguns projetos literários em andamento e, no momento, além de contos e poemas eventuais, trabalho em um romance.Até o momento, contemplado em quatro concursos literários. Integro quatro antologias, entre contos, poemas e afins. Tenho alguns textos publicados em blogs literários, como no conceituado 'Literatura sem fronteiras', então criado e editado pelo escritor Nilto Maciel (1945-2014), e na revista literária Subversa. (Até então sob o pseudônimo Rocha Oliveira).
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Ao Filho das Estrelas - Fred Rocha
Ao Filho das Estrelas
– entre os céus e a Terra –
Fred Rocha
Ao Filho das Estrelas
– entre os céus e a Terra –
Dedico este livro ao porvir da humanidade. Igualmente, a toda alma sensível, e tão mais àquela ainda bruta – carecendo lapidar-se ao coração.
Nota do Autor
Nasceu-me este livro sem a pretensão habitual do escritor. Sem aquela vontadezinha incontrolável
de só querer narrar o que lhe agrada; e, aliás, do modo que melhor lhe cabe ao gosto. Leitor de obras clássicas e afins, jamais me vi a escrever senão difícil
, – de um modo estudado e elegante –, seguindo a rigor a norma culta, e enchendo a língua de penduricalhos – de enfeites, assim como os das peruas... A elegância não está em maquiagens, em roupas caras e de grife, e nem sequer nas bijuterias; em verdade está nas joias da essência. Que a essência dos seres e das coisas se esconde assim como a pérola guardada no interior da concha de um molusco.
Certamente que me faria entender apenas pelos velhos
como eu, que gostam do passado e velharias. Mas nem todo mundo aprecia o mofo e tem as traças como fossem bichinhos de estimação... Nada contra o Bruxo do Cosme Velho
e nem sequer contra Camões, que por sinal são meus autores prediletos, e que sem dúvida alguma são dois GRANDES escritores. Mas se quero eu falar a uma criança, – em não podendo ser eu mesmo uma delas –, tenho que inclinar a minha coluna (esta, já em muito enferrujada), a lhe falar olhando bem nos olhos; de uma forma que ela compreenda bem e de modo a tocar seu coração.
Nasceu-me – repito – este livro, como nasce uma paixão arrebatadora. Mais que isso até: bem como nasce um amor incondicional, que não depende do gosto ou da escolha, mas que apenas nasce e faz-se eterno. Comecei a escrevê-lo, assim, sem jeito, como quem dá inda o seu primeiro beijo, e após treinar bastante em frente ao espelho... E aqui estão dois pontos cruciais: um espelho e o primeiro beijo. E por quê? Falemos deste e logo então daquele outro:
Quem nunca se sentiu apaixonado, e mesmo quando era uma criança? Nada se compara à emoção sentida quando no primeiro beijo... Que geralmente resulta, também, de um primeiro amor. As mãos frias e suadas, arrepios, aquele friozinho na barriga, um tremelique, borboletas voejando no estômago, e um formigamento em todo corpo. Ora, e um não sei quê de tudo junto e misturado! Depois de vencida a timidez, os lábios se encontram de mansinho, e ainda que bem desencontrados, se ganha o mundo
em alguns instantes!
Ah e nada se iguala a este beijo... Com sabor – dizemos – de morango, chocolate ou de baunilha... E que é (segundo nos parece) o MAIOR e o melhor, e ainda que não passe de um selinho... Mas para nós é a bitoca mais incrível jamais vista em novelas! E só maior que um primeiro beijo, são os primeiros beijos
que se dá nos lábios de quem se ama de verdade... Que todo beijo será sempre o primeiro, que pra quem ama amar é sempre um recomeço. Pois não se trata mais de um mero beijo, mas da comunhão entre duas almas que encontraram em seu par seu complemento.
E no que se refere ao espelho, é muito, muito simples; vejam bem: Vê-se nele a imagem de si próprio. E este livro é apenas um reflexo de um amor que se faz ver em suas páginas.
Fred Rocha
– Mensagem-I –
Filho meu, naquela noite escura e cintilante do ano 24.100, – do 4ª ciclo de nossa era presente –, estive "... a contemplar a vastidão celeste, e os astros e estrelas que a enfeitam, quais brilhantes cravejados em uma – infinda – infinita joia azul-turquesa". Eu estava embevecido – extasiado! E suspirava... Pois me encantava, sim, através dos olhos e do modo de sentir de outro ser.
E como? Eu explico: Assim como você agora o faz: por meio da leitura de um livro. Este arcaico e magnífico engenho que os homens inventaram há um tempão, e que há muito o tornaram desusado. Poderia eu fazê-lo, simplesmente, usando apenas a telepatia ou mesmo através de hologramas. Mas não seria o mesmo que um livro... Pois que nada se compara a estas coisas, que somente um livro proporciona: segurá-lo entre as mãos a bem senti-lo; mergulhar fundo, com sua imaginação, na imaginação do escritor; receber as impressões de u'a vida inteira, os registros de toda uma existência; sentir um aroma evolar por entre as páginas, como o olor dos tempos e das almas... Ah e achar uma surpresa em cada página!
Mas aí estava o meu lamento, como fosse um planeta agonizante: sem um sol a lhe aquecer e iluminar. Pois que tudo que sentia, meu não era, – não de minha própria experiência –, mas a interpretação de outra espécie. Assim é que, aquela mesma comparação, citada ao início, tomei-a como por empréstimo a um de seus boníssimos poetas. Creio que o ensinem na escola, mas assim chamavam aos homens mais sensíveis. Hoje estão quase esquecidos. Mas, naquele tempo, – na época em que honravam os seus versos –, versejavam sua dor e encantamento, seus desejos e igualmente os dissabores, assim como sua angústia e alegria.
Ora, isto sempre me foi muito curioso! Este modo ímpar de aperceber o mundo: os sentimentos, sensações. Além do mais, expressá-los (de forma escrita ou verbal), e com uma beleza – tal ou qual – que tão-somente eu, dentre os meus, podia ver. E o mesmo se deu com a fé e a esperança; mas, porém, não mais do que se dava com o amor. Tanto ouvi falar de sentimentos, e este ainda hoje mais me intriga.
– Mensagem-II –
Dar-se-ia início a outra era. E não para nós, acartianos, mas no planeta das crianças
– por nós então apelidado; lá mesmo onde viviam os poetas, e ao qual o nominaram como Terra... Sim, filho; pois nem sempre eu fui um homem desta terra; e já é tempo de saber toda a verdade. Sei que não estais a compreender, mas vais me entendendo enquanto lês.
Nesta data, fui encarregado de u'a missão muito importante, bem como alguns de meus irmãos e companheiros. Por esta mesma missão, eu incursionaria no planeta (ainda primitivo e imaturo) auxiliando em seu progresso, sem, no entanto, interferir diretamente em suas escolhas. A Consciência e o Universo, – tanto quanto a Evolução –, primam pela Liberdade. Sem a qual, meu filho amado, um ser não fruiria a sua essência, pois que a essência do Ser é puro Amor – e o Amor é infinita expansão. Ah o Amor é como um sol dentro da gente, que nos aquece e ilumina dia e noite e forma mundos de vida ao seu redor.
No mais, dentre as minhas tarefas e afazeres, recolher uma e outra amostra biológica e transmitir a um indivíduo terráqueo alguns conhecimentos específicos (já a mim determinados previamente). Mas eu fui muito além do que devia, e em muito me arrisquei a me lançar em uma perigosa aventura; pois no fundo desejava algo mais...
– Mensagem-III –
Naquela noite eu dormi pouco – quase nada. Bem menos que o necessário ao meu descanso. Das quatro horas recomendadas, uma apenas. A ansiedade, já erradicada em nossa espécie, ainda me apanhava pelo pé. Ah e isto era um mistério até pra mim! maior meu entendedor a quem conheço. E sem falar no Sábio-mor e em Deus, é claro, que nos conhece e compreende a todos nós. Mas eu guardava comigo este segredo, e bem lá no fundo de meu peito, assim como quem guarda a própria vida ou vigia as portas da cidade. Não queria ser assim tão diferente, ser tratado como estranho
ou esquisito
, servir de estudo a cientistas, e nem ser zombado por alguém.
E, filho, isto desde quando eu era bem pequeno. Feito você, que agora é pequenino. Sim, eu já fui menino um dia! E quis ser grande, homem feito, e o mais depressa. Mas então me arrependi do meu desejo: feito homem, quis voltar à juventude; que ser grande é ser assim como a flor, que bela desabrocha e logo murcha. E logo há de crescer você também, e ser assim grandão feito papai. Mas não se apresse em envelhecer, filho querido, e aproveite com prazer a sua infância. Que nada é melhor que ser criança, que traz puro o coração e a mente aberta. Tudo é novo, encanto, sonho, aprendizado! Não há rancor, ódio, orgulho e nem maldade; e tudo mais que estraga o ser humano. Ser adulto não é brinquedo, meu filhinho... Estes são, – e ouça bem seu pai – e à parte as alegrias e os sucessos –, os melhores anos da sua vida...!
E bem sei que deve estar se perguntando, agora mesmo, ou se já não se indagou ainda há pouco; então lhe mato a curiosidade: o Sábio-mor, meu caro filho, era o homem mais sábio do meu povo. Creio eu que viva ainda hoje, pois muito vive como todo iluminado. Conheci-o certa vez, quando criança. Tão breve fora o encontro – a experiência – tanto quanto me é inesquecível. E guardo-a bem viva na memória, como fosse ontem ou mesmo agora: levado por meu mestre à sua presença, – juntamente com os demais alunos –, o ancião tocou-me a testa com carinho; e enquanto me afagava, me dizia (e sorria docemente a me falar): — "Sua alma é como águia em voo livre: quando ao longe avistares o teu ninho, saberás que lá estão os ares de tuas asas".
Ora, filho, mais confuso do que tu, fiquei eu mesmo! Não sabia ainda nem o que era águia, e jamais houvera visto uma voar. Passei uma grande parte da minha vida perguntando-me o que ele quis dizer quando a me falar estas palavras. Procurei aqui e ali, lá e acolá; e a resposta achei, enfim, na vida mesma...! Lede! lede e hás de entender isto e todo o resto.
– Mensagem-IV –
Mas falemos, pois, da minha missão.
O embarque se deu na hora marcada, e apesar do peso de mil sóis em minha cabeça e das minhas olheiras gigantescas.