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Karol Wojtyla, um Excursus para uma Antropologia Integral – Antropologia e Contexto Atual
Karol Wojtyla, um Excursus para uma Antropologia Integral – Antropologia e Contexto Atual
Karol Wojtyla, um Excursus para uma Antropologia Integral – Antropologia e Contexto Atual
E-book359 páginas3 horas

Karol Wojtyla, um Excursus para uma Antropologia Integral – Antropologia e Contexto Atual

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Sobre este e-book

Existe atualmente uma certa convergência entre muitos pensadores de que perdemos o sentido do humano. Novamente é necessário reinterpretá-lo à luz do seu mistério, assim como ele se nos apresenta à razão, sem contudo negar ulteriores meios que temos à nossa disposição, como o são os dados da Revelação.
Karol Wojtyla, um excursus para uma antropologia integral – antropologia e contexto atual pretende apresentar de maneira didática os principais eventos históricos e certos princípios filosóficos que estariam na origem da atual crise antropológica, cuja raiz comum reside na perda da visão unitária e complexa do real, bem como na justaposição entre as realidades físicas e metafisicas que tiveram a sua origem com a modernidade. Por sua vez, viu-se na Fenomenologia de E. Husserl, especialmente como veio aplicada por E. Stein e K. Wojtyla nos estudos de antropologia, uma fecunda possibilidade de superação de tais limites epistemológicos, devolvendo um olhar realista e integral sobre a pessoa humana.
A inquieta busca de K. Wojtyla sobre verdade do homem veio condensada na sua obra Persona e atto, que foi o objeto principal dos estudos críticos apresentados nesta obra. K. Wojtyla, à luz da tradição tomista-aristotélica e seguindo o método fenomenológico, buscou compreender a estrutura da pessoa humana e os seus dinamismos. Para ele, a riqueza do mistério humano não se esgota nos seus constitutivos físicos e materiais, mas adentra-se pela sua vida interior, onde se revela a fecundidade da sua alma espiritual.
Compreender o homem é compreender a si mesmo, é redescobrir o nosso lugar no conjunto das coisas criadas, é redescobrir-nos numa relação verdadeiramente humana com os nossos semelhantes, é reaprendermos a olhar para o mistério divino que atravessa a realidade. K. Wojtyla evitou o cântico dos céticos que nega a verdade que reside na própria natureza humana e cuja negação conduz às mais variadas interpretações subjetivistas do problema humano e do valor moral das suas ações. Nesse sentido, seu pensamento pode ser um facho de luz seguro para os que buscam a verdade sobre o homem.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jul. de 2021
ISBN9786558202486
Karol Wojtyla, um Excursus para uma Antropologia Integral – Antropologia e Contexto Atual

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    Karol Wojtyla, um Excursus para uma Antropologia Integral – Antropologia e Contexto Atual - Marcos Cândido

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Alfredo Candido Neto e Aparecida Maria Candido

    In memoriam

    PREFÁCIO

    Enfrentar hoje o pensamento antropológico de Karol Wojtyla significa aceitar dialogar com os grandes desafios que a contemporaneidade coloca diante de nós. A nossa época, de fato, parece caracterizada por uma ampla e radicada crise do ser humano, sob tantos pontos de vista e em diferentes abordagens: o desafio bioético, bem como aquele moral, familiar, social, ecológico e econômico, parecem agigantar-se sobre a humanidade ferida do terceiro milênio, e exatamente por este motivo, faminta de pontos de referência, de valores estáveis sobre os quais possa estruturar suas escolhas e projetar à luz de uma fundamentada esperança.

    A prospectiva que nos propõe o interessante estudo do Pe. Marcos Candido parece nascer dessa preocupação pelo ser humano. O autor, de fato, afronta a análise da atualíssima antropologia integral de Wojtyla, não somente interessado em uma pesquisa de caráter ontológico-filosófico, mas também para oferecer um paradigma, um modelo de referência que, partindo da antropologia de Wojtyla, possa fazer florescer uma visão renovada do mistério do ser humano e da sua amplitude.

    Não se trata aqui de celebrar então um grande filósofo e teólogo como de fato foi Wojtyla, mas de orientar o leitor com um instrumento crítico de profundidade teorética caracterizado por tantas possíveis aplicações, até uma visão integral da pessoa humana e da sua especificidade.

    Retornar ao homem então, quando o homem está em crise, parece ser por milênios um caminho importante, porque quando emergem as grandes interrogações sobre quem é o ser humano, tanto mais se busca oferecer respostas fundamentadas e, sobretudo, fieis à sua originalidade constitutiva.

    O pensamento antropológico de Wojtyla foi, então, caracterizado por essa preocupação pela pessoa. O adjetivo integral que o autor evidencia no título deste livro, é uma confirmação muito interessante. Integral, de fato, quer dizer que se leva em conta uma abordagem do ser humano como um todo, evitando reducionismos perigosos ou mutilações metafísicas, muito difundidos no nosso tempo, em virtude, sobretudo, de análises quantitativas do ser humano, mas sempre menos sensível aos aspectos ontológicos da pessoa.

    O estudo do autor afronta, então, temáticas muito atuais, que se atentam principalmente sobre a abordagem antropológica e que está na origem deste trabalho. Já o primeiro capítulo, de fato, introduz ao quadro complexo e estratificado das prospectivas antropológicas contemporâneas, colhendo suas especificidades e diferenças, mas é a partir do segundo capítulo em diante que aborda de maneira mais significativa a problemática mais ligada ao teólogo e filósofo Wojtyla, partindo antes de tudo de uma prospectiva particular, que é aquela estética e poética. Como se pode perceber, então, a atividade teorética wojtyliana, se nutria desde os anos da sua juventude, das contribuições da arte, da poesia em particular, e o aspecto da via pulchritudinis que caracterizou os estudos deste grande teólogo muito antes do seu magistério petrino, dão início à análise do autor, que recorda grandes obras da produção não apenas teorética, mas também artística de Wojtyla, que confirma o quanto a ruminatio e o amor que o jovem poeta tinha dedicado ao logos, teria depois na maturidade confirmado tal intuição. Para Wojtyla, a arte não é um entretenimento, mas experiência e presentificação da transcendência da vida humana, centelha de Deus na cotidianidade marcada pelo tempo. São estas premissas que fazem de Deus e da beleza não um divertimento ou um jogo, mas um caminho à verdade e à bondade. Nas passagens sucessivas, o autor afronta a herança scheleriana presente na prospectiva de Wojtyla, no entanto re-tematizada a partir também de alguns aspectos críticos da sua visão ética, para depois evidenciar significativamente a importante estrutura aristotélica-tomista que se encontra presente nos fundamentos antropológicos e personalistas da sua posição, colocados em diálogo com as solicitações da tradição fenomenológica, da qual Wojtyla foi devedor. Prosseguindo com o ensaio, é abordado aquela que constitui a questão mais emblemática da pesquisa: apresentar os fundamentos antropológicos da pessoa no sistema filosófico e teológico wojtyliano. A secular noção de pessoa, que partindo da prospectiva boeciana, se completa com as integrações que provém sobretudo da grande lição tomista, deixam emergir uma visão sempre mais inclusiva da integralidade do ser humano, evidenciando uma importante pista de pesquisa para o seu estatuto não somente ontológico, mas também ético, que para Wojtyla não são nunca níveis separados de abordagem, como demonstra amplamente uma das suas obras mais emblemáticas, Persona e atto. O ato, de fato, nunca se revela separado do ser humano, sendo ele o seu reflexo metafísico consequencial; portanto, um ato humano é sempre constitutivamente ligado ao perfil metafísico que faz da pessoa um ser dinâmico capaz de autodeterminação e de liberdade. O quarto e último capítulo deste ensaio, é aquele aplicativo aos desafios da contemporaneidade. São muitas as inspirações que emergem, a partir do dado da educação relacional, seja antes de tudo em nível familiar e, depois, evidentemente aplicado aquele social e político. Desse modo, uma retomada do valor do corpo vivente, do princípio já husserliano de Leib, que coloca o dado somático não num nível de mera objetividade e de reificação quantitativa do corpo, mas de vivências subjetivas e, portanto, nunca alienáveis como específico aspecto da pessoa, estão entre os vários interessantes pontos que da dimensão antropológica se movem integrando-se, com aquela teológica. De tudo isso, deriva então um texto muito interessante, ágil, que se inscreve de modo original entre a enorme quantidade de estudos sobre Wojtyla, pretendendo ser uma proposta concreta para o leitor do terceiro milênio, buscador apesar de tudo, de valores fundantes e peregrino do Absoluto, estrada e destino da viagem do Homo viator.

    Cristiana Freni

    Sumário

    INTRODUÇÃO 15

    Capítulo I

    QUESTÕES FUNDAMENTAIS DA ANTROPOLOGIA NO SÉCULO XX 25

    1 Motivações da crise antropológica contemporânea: a crise da modernidade 25

    1.1 Justaposição entre filosofia e ciência e a dicotomização da realidade 25

    1.2 Dualismo entre res cogitans e res extensa 28

    1.2.1 Solipsismo da consciência 30

    1.3 A crise das concepções teleológicas e o advento do puro caso na evolução 33

    1.3.1 Considerações sobre o Princípio Antrópico 36

    2 Tendências antropológicas da atualidade 38

    2.1 Questões preliminares 38

    2.2 Pressupostos da antropologia materialista 39

    2.2.1 Materialismo marxista 41

    2.2.2 Materialismo humanista 43

    2.2.3 Materialismo do bem-estar econômico 46

    2.2.4 Materialismo psicanalítico 46

    2.3 Revolução feminista e a noção do homem fluido 48

    2.3.1 Ideologia de gênero 51

    3 Proposta fenomenológica 54

    3.1 Edith Stein e a espessura integral do ser humano 55

    3.2 A estrutura da pessoa humana: corpo, psique e espírito 57

    3.3 Mulher: natureza e graça 59

    Capítulo II

    MATRIZES HISTÓRICO-TEÓRICAS DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO DE KAROL WOJTYLA 65

    1 A importância da formação estética e da consciência crítica alimentada pela arte: Wojtyla dramaturgo e Wojtyla poeta 65

    1.1 La bottega dell’orefice: representação da vida e do Mistério divino 68

    1.2 A poesia como devoção à Palavra 70

    1.3 A arte: a serviço da Verdade e do homem 72

    1.4 O Evangelho e a arte 74

    1.5 O talento artístico vivido como dom 76

    2 Contribuições do pensamento de Max Scheler para o aprofundamento da

    antropologia wojtyliana 79

    2.1 Resistência à moderna fragmentação da totalidade da experiência humana 81

    2.2 A noção de aperfeiçoamento moral 83

    2.3 Mover para um valor 84

    2.4 O abandono da teoria de potência e ato 86

    3 A relevância da metafísica aristotélico-tomista para o estudo antropológico de Karol Wojtyla 89

    3.1 Princípios do personalismo tomista 90

    3.2 A definição de pessoa conforme Boécio 92

    3.3 A noção de actus humanus 93

    3.4 Operari sequitur esse 96

    3.5 A doutrina hilemórfica 97

    3.6 A questão da intersubjetividade 98

    3.7 Os fundamentos da norma moral 100

    Capítulo III

    FUNDAMENTOS DA ANTROPOLOGIA PERSONALISTA DE KAROL WOJTYLA 105

    1 A estrutura da pessoa se colhe a partir da experiência 105

    1.1 O homem faz experiência de si mesmo 108

    2 A pessoa se revela por meio do ato 109

    2.1 O suppositum: substrato existencial que permite a ação 112

    2.2 O suppositum e a consciência 114

    2.3 O valor moral do ato e a realização da pessoa 115

    2.4 O caráter transitivo e intransitivo do ato 117

    2.5 A transcendência da pessoa no ato e a dependência da verdade 118

    2.6 A potencialidade espiritual do homem 121

    3 A estrutura do dinamismo humano: o homem age e algo acontece no homem 123

    3.1 A operatividade e a subjetividade do homem 123

    3.2 Potentia e actus 125

    3.3 O valor moral do ato 126

    3.4 Actus humanus e consciência 128

    3.5 A consciência e o autoconhecimento 130

    3.6 Funções refletiva e reflexiva da consciência 132

    3.7 A autodeterminação como característica essencial da pessoa 133

    3.8 A vontade e o momento da liberdade no agir do homem 136

    4 A integração e a transcendência da pessoa na realização do ato 138

    4.1 A integração e os processos psicofísicos 139

    4.2 A integração e a dimensão somática 141

    4.3 A integração e a psique humana 144

    5 O homem age junto com os outros 148

    5.1 O bem comum 152

    6 Masculinidade e feminilidade em diálogo 153

    6.1 O amor conjugal 157

    Capítulo IV

    ATUALIDADE E APLICABILIDADE DA PROPOSTA ANTROPOLÓGICA DE KAROL WOJTYLA HOJE 159

    1 Desdobramentos da antropologia personalista de K. Wojtyla no âmbito da

    teologia católica 159

    1.1 O problema da responsabilidade pelo outro 159

    1.2 Cultura da não violência e da paz 162

    1.2.1 Via para a construção da paz 164

    1.3 Teologia do Corpo 168

    1.3.1 Antropologia Dual: antropologia equilibrada e a importância da

    dimensão feminina 171

    1.3.2 A sacralidade do corpo humano no ato da criação 173

    1.3.3 A Redenção como uma nova criação 176

    2 A ética e a crise dos fundamentos 178

    2.1 A ética do consenso como efeito da crise antropológica 180

    2.2 A ética do consenso como uma construção política 181

    2.3 Qual racionalidade, para qual modelo ético? 185

    2.4 A razão absoluta é um equívoco 188

    2.5 Moral substancial: entre o esfacelo e a perseverança 189

    2.6 O olhar católico sobre a razão humana 192

    2.6.1 A exigência de complementariedade entre fides e ratio 194

    2.7 A perspectiva personalista prevê o diálogo entre fé e razão 196

    3 Relevância do papel do intelectual e do filósofo no processo educativo 198

    3.1 Educar para a verdade 199

    3.2 Educar para os valores 201

    3.3 Educar para a totalidade 204

    3.3.1 Educação também como abertura religiosa 208

    CONCLUSÃO 211

    BIBLIOGRAFIA 219

    ÍNDICE ONOMÁSTICO 229

    ÍNDICE REMISSIVO 231

    INTRODUÇÃO

    No pensamento filosófico de K. Wojtyla, o estudo do homem ocupa uma posição central. Contudo, Persona e atto¹ é a obra que de modo particular condensa o empenho do filósofo em oferecer uma visão aprofundada e sistemática sobre a problemática antropológica, cujo intuito é colocar em evidência a complexa estrutura da pessoa e do seu dinamismo que se revela por meio do ato humano, como manifestação da sua dimensão de abertura e transcendência versus o outro, o mundo e Deus. A compreensão realista e complexa sobre o homem, alcançada por K. Wojtyla, é aquilo que neste nosso trabalho chamamos de antropologia integral.

    Existe um amplo consenso entre os estudiosos de que sucessivos eventos de caráter histórico-filosóficos, a partir da modernidade, tenham orientado na direção de uma grave crise antropológica, onde atualmente se verifica uma plural cacofonia hermenêutica, incapaz de delinear com clareza os contornos de uma autêntica imagem do homem. Em seus aspectos essenciais, o problema se resume numa polarização entre duas diferentes perspectivas filosóficas, que gravitam em torno das categorias de materialismo e idealismo e que culminaram na perda da perspectiva de totalidade da realidade.

    Para K. Wojtyla, a superação do dualismo em antropologia é algo que exige uma revisão dos princípios epistemológicos de caráter absolutista e que se efetiva por meio do encontro entre as contribuições oferecidas pela tradição tomista-aristotélica e a fenomenologia husserliana. Desse modo, empregando um vocabulário familiar a K. Wojtyla, trata-se de um recíproco enriquecimento entre a filosofia do ser e a filosofia da consciência, que colocou em evidência o aspecto da subjetividade humana.

    Assim, a descoberta do eu pessoal pela fenomenologia, alcançada por meio da redução eidética, completaria a ideia de pessoa, conforme a metafísica tradicional, agora colhida por meio da dinamicidade do ser. Essa reelaboração dos ensinamentos tomistas à luz das contribuições fenomenológicas foi resultado da genialidade de K. Wojtyla, pois, ao seu tempo, tal realidade não era muito evidente, uma vez que tais sistemas filosóficos eram vistos como absolutamente diferentes².

    Como temos acenado, este nosso trabalho se circunscreve no âmbito da antropologia filosófica e tem por objetivo a análise e a interpretação crítica da perspectiva antropológica personalista desenvolvida por K. Wojtyla, que intenciona propor uma visão integral da pessoa que se revela por meio do ato. Desse modo, é importante responder se e em que medida a antropologia de K. Wojtyla realizou esse seu propósito, colocando-se para além dos limites e condicionamentos ideológicos que na contemporaneidade têm maximizado o problema humano.

    Neste trabalho, empregamos antes de tudo o método de investigação bibliográfica, que se baseia no uso de certas técnicas de consulta e que permite o início de uma investigação que visa identificar e aceder aos documentos que contêm as informações que correspondem ao objeto da pesquisa em questão. Desse modo, procuramos inicialmente fazer um levantamento bibliográfico das obras e artigos escritos por K. Wojtyla sobre a questão antropológica, a ética e a arte, que são as nossas fontes primárias. Em seguida, tratamos de identificar nomes competentes no estudo sobre o filósofo – tais como R. Buttiglione, T. Styczeń, G. Reale³ e outros – que nos auxiliassem a precisar uma adequada linha interpretativa para o conjunto das obras levantadas. A necessidade também de contextualizar a problemática antropológica levantada por K. Wojtyla no contexto da cultura contemporânea nos conduziu, primeiramente, a uma abordagem crítica de tipo histórico-filosófica – conforme veremos no primeiro capítulo –, da qual emergirão as principais correntes de pensamento com as quais, de qualquer maneira, confrontou-se a visão wojtyliana. Por fim, é necessário evidenciar que a reconstrução da antropologia wojtyliana será caracterizada sobretudo por uma descrição de tipo fenomenológica, segundo as típicas linhas metodológicas seguidas pelo próprio K. Wojtyla.

    Dada a fecundidade do pensamento antropológico de K. Wojtyla para as questões antropológicas e teológicas da atualidade, procuramos no último capítulo desenvolver um estudo sobre as perspectivas de aplicabilidade do pensamento do nosso autor, sobretudo ligadas a temas como a cultura da paz e da não violência, da responsabilidade para com o outro etc. Também identificamos em Engelhardt Jr. um importante interlocutor capaz de contribuir para uma maior precisão do alcance e da relevância da proposta antropológica e ética de K. Wojtyla no debate filosófico contemporâneo. Por fim, dado que todas as fontes primárias e secundárias deste trabalho são de origem estrangeira e, portanto, não utilizamos textos escritos na nossa língua portuguesa, é importante evidenciar que todas as traduções presentes neste trabalho são nossas.

    Estrutura geral do trabalho

    No primeiro capítulo deste trabalho, dado que as investigações de K. Wojtyla sobre o problema humano se desenvolveram na perspectiva de uma rigorosa atenção aos desafios culturais, com a pretensão de serem uma resposta para a atual crise humanística, consideramos ser necessário apresentar um quadro das mais importantes abordagens no estudo do homem que historicamente se configuraram a partir da modernidade e cujos postulados se encontram presentes na esfera da crítica wojtyliana. Assim, apresentaremos um quadro geral das várias correntes que conduziram ao atual estado de crise antropológica, bem como das principais tendências que mais recentemente se constituíram no âmbito da antropologia, com destaque para a ideologia de gênero, que se configura como uma síntese de várias precedentes visões reducionistas sobre o homem. De modo particular, no final deste capítulo também evidenciaremos a perspectiva antropológica proposta pela filósofa alemã E. Stein, dada a sua grande proximidade teórica e praxeológica com os princípios adotados por K. Wojtyla.

    A noção de irredutibilidade do homem à matéria e a uma visão determinística dos processos psíquicos de tipo físico-químicos, segundo os cânones da física experimental, permitiu a E. Stein, segundo o método fenomenológico, colher o ser humano na sua tridimensionalidade como corpo-alma-espírito, ou seja, o homem é uma realidade que ultrapassa o homem e, se quisermos conhecê-lo, é necessário avançar para além da sua constituição factual. Do mesmo modo, os estudos de E. Stein sobre a natureza da mulher coincidem em níveis de grande profundidade com uma seção particular do pensamento filosófico de K. Wojtyla, maiormente explicitada na Teologia do corpo⁴.

    No segundo capítulo, desenvolveremos um estudo sobre aquelas que consideramos as matrizes fundamentais que fomentaram a problematização e a investigação intelectual do filósofo sobre a questão antropológica: a sua formação artística, o diálogo com a ética de M. Scheler e a metafísica tomista-aristotélica. Desse modo, no que se refere à formação artística, veremos que K. Wojtyla, desde a sua juventude, revelou uma grande sensibilidade para com a arte, de modo particular como dramaturgo e poeta. Uma autêntica criação artística era entendida por ele como um momento privilegiado de irrupção da verdade e da beleza no mundo, em que o artista, por meio do material da sua arte, é capaz de dar-lhes forma concreta, como resultado de uma contemplação. Do mesmo modo, o artista presta um elevado serviço à humanidade quando traduz os difíceis e elevados conceitos das ciências humanas ou divinas por meio de uma linguagem que não é imediatamente direta à razão, mas que se orienta primeiramente à sensibilidade do homem por meio de um ato do coração. Portanto, o artista cumpre uma missão social e ética na medida em que não somente aproxima a Verdade e a Beleza dos homens, mas também transforma a sua arte numa via educativa, sobretudo quando ela suscita no homem o anseio por encontrar-se com Aquele que é a fonte de toda beleza, numa linguagem agostiniana, com a Beleza Infinita.

    O estudo realizado por K. Wojtyla sobre a ética scheleriana, com o objetivo de avaliar as possibilidades de construir uma ética cristã sobre as bases do sistema de Scheler, foi uma importante etapa na elaboração da sua antropologia personalista. A evidenciação do caráter experiencial do ato ético, conforme a fenomenologia de Scheler, que buscava superar os limites da ética kantiana e recolocar a moral no horizonte das vivências concretas humanas, contribuiu para que K. Wojtyla recuperasse e reelaborasse a questão da dimensão do aperfeiçoamento moral conforme os postulados ensinados pela ética tomista, que se estruturava sobretudo a partir das categorias de potência e ato, conforme a filosofia do ser. A reelaboração dos princípios éticos no contexto da sua antropologia personalista permitiu a K. Wojtyla superar os limites e a justaposição entre o empirismo e o racionalismo no campo ético, herdados da filosofia moderna.

    Por sua vez, como veremos, a filosofia tomista é o grande núcleo sobre o qual orbita efetivamente o pensamento de K. Wojtyla. Assim, foi a partir da tradição cristã que remonta à patrística e que definiu o homem como pessoa, até chegar à formulação de Boécio, persona est rationalis naturae individua substantia, e que foi reassumida e reinterpretada por Santo Tomás, que K. Wojtyla estruturou a sua antropologia personalista à luz do princípio fenomenológico do retorno às coisas mesmas.

    A noção tomista de actus humanus tornou-se, para K. Wojtyla, a via de acesso para o conhecimento da subjetividade do homem, capaz de colocar em evidência a dimensão da consciência humana, com todas as potencialidades que se ligam a ela, sem a qual o homem não poderia ser colhido na sua densidade antropológica. Podemos dizer que a expressão "a pessoa se revela por meio do ato", empregada frequentemente por K. Wojtyla, é o núcleo que reassume e sintetiza todo o seu pensamento antropológico.

    O ato é o momento da atualização do ser, cujo momento fundamental da sua existência fora definido como suppositum por Santo Tomás. Esse aspecto dinâmico do ser é capaz de revelar a dimensão de abertura intencional da pessoa e de autoteleologia versus um certo bem, que caracteriza a sua dimensão de transcendência. Desse modo, o agir pressupõe a existência do ser, conforme indica o adágio clássico operari sequitur esse.

    Como veremos também, o personalismo tomista se radica na noção de participação do ser à existência de Deus, e o homem criado por Deus tem a sua natureza racional como o fundamento da sua vida moral, uma vez que, graças à racionalidade, ele não apenas é capaz de elaborar conceitos e juízos, mas pode viver a exigência interior de conhecer a verdade sobre o bem. Assim, a sua ação moral é entendida como uma extensão do seu ser, e a fundação realista da norma moral tomista tem a sua origem na própria existência do ser humano. Na medida em que o homem age segundo a norma moral do bem, conforme o princípio da racionalidade e da liberdade, ele participa da vida divina, capaz de imitar a Deus, como Bem Supremo e modelo.

    No terceiro capítulo, apresentaremos uma análise geral dos fundamentos da antropologia personalista de K. Wojtyla, revelados a partir da experiência que o homem faz de si mesmo e que é capaz de revelá-lo como sujeito e objeto da experiência e da ação. Conforme o método fenomenológico, K. Wojtyla, partindo daquilo que é mais exterior no homem, busca penetrar cognoscitivamente a essência humana até chegar àquele núcleo singularíssimo da pessoa que fora definido como eu pessoal. Assim, a análise do ato, que coloca em evidência a estrutura da operatividade humana, revela no seu reverso a dimensão da subjetividade, pois cada ato humano possui simultaneamente um valor transitivo e intransitivo, que se realiza como que a partir de um desdobrar-se do eu.

    O ato considerado como actus humanus e interpretado a partir da noção de devir permitiu a K. Wojtyla inserir a ideia de aperfeiçoamento moral no estudo da pessoa, como via para a sua autorrealização. O ato é sempre ato consciente na medida em que corresponde à estrutura o homem age, sendo esta a qualidade que por excelência distingue o homem dos outros seres criados. Graças à consciência, como propriedade intrínseca da pessoa, o homem pode viver e agir de maneira consciente, decidindo e determinando-se moralmente, na medida em que realiza um ato moralmente bom ou mau.

    Como veremos no pensamento de K. Wojtyla, a antropologia e a ética são duas áreas do conhecimento humano que se intersectam em níveis de grande profundidade, uma vez que ambas têm suas raízes no estudo do homem. Desse modo, a experiência de transcendência da pessoa, que caracteriza todo o dinamismo humano, revela-se como uma tendência do homem para um valor ou para a verdade. A dúplice dependência do eu e da verdade é, como demonstraremos, o elemento que permite ao homem viver a experiência da liberdade espiritual, como dependência do eu e independência das coisas. Assim, quanto mais o homem reconhece a verdade do bem e age seguindo a faculdade da livre vontade, mais ele sente potencializado em si o dever para com este bem, que será crucial no momento da decisão e da escolha pelo indivíduo, ou seja, quando efetivamente ele vivencia a sua autodeterminação.

    O homem que vive a experiência da transcendência do eu na ação experimenta, ao mesmo tempo, a integração desses processos dinâmicos na estrutura da sua subjetividade quando estes vêm refletidos pela consciência. Assim, no dinamismo humano, a integração revela-se como um momento fundamental, pois é quando todo o conteúdo das experiências do sujeito passa a ser integrado ao eu pessoal. Também as potencialidades somáticas e psíquicas, na medida em que participam do ato humano, são integradas ao eu pessoal, adquirindo um nível superior de natureza pessoal, apesar de que por princípio esses dinamismos normalmente são considerados sempre como pertencentes à estrutura algo acontece no homem.

    Outro aspecto importante sublinhado pela antropologia personalista de K. Wojtyla refere-se à dimensão da intersubjetividade. O homem é um ser que vive e age junto com os outros, formando coletividades ou comunidades quando está presente o princípio de participação. A participação, entendida na perspectiva de cooperação,

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