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Sublimação e arte em Frida Kahlo: a angústia e a invasão do real no corpo
Sublimação e arte em Frida Kahlo: a angústia e a invasão do real no corpo
Sublimação e arte em Frida Kahlo: a angústia e a invasão do real no corpo
E-book219 páginas2 horas

Sublimação e arte em Frida Kahlo: a angústia e a invasão do real no corpo

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Sobre este e-book

Este livro é baseado na minha dissertação de Mestrado – A sublimação, o trauma e o corpo: Frida Kahlo – na qual fiz uma revisão de literatura nas obras de Sigmund Freud, Jacques Lacan, assim como nas biografias disponíveis sobre Frida Kahlo, articulando Psicanálise e Arte, sob a perspectiva do conceito de sublimação, entendida como um dos destinos da pulsão.
Tomei a história de vida e obra de Frida Kahlo para melhor compreensão do conceito de sublimação em sua relação com a arte. A obra de arte se articula em torno de um ponto de falta, o vazio, entendido por Lacan como a origem da criação, bem como também o lugar da mulher. Recorri às Fórmulas quânticas da sexuação para focalizar o campo do gozo e sua importância dentro do conceito da sublimação e do feminino, aplicando essa dimensão à obra de Frida Kahlo.
Palavras-chave: sublimação, arte, ex-nihilo, Frida Kahlo.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento30 de set. de 2021
ISBN9786525210353
Sublimação e arte em Frida Kahlo: a angústia e a invasão do real no corpo

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    Sublimação e arte em Frida Kahlo - Marli Miranda Bastos

    capaExpedienteRostoCréditos

    À minha mãe, pelas lembranças que ficaram em meu caminhar, in memória.

    À minha tia Betinha pela lembrança de sua elegância e beleza em minha tenra idade, in memória.

    À minha filha Renata, pelo seu carinho, fruto de um amor.

    À paciente que me inspirou em Frida Kahlo, in memória.

    AGRADECIMENTO

    Meu agradecimento carinhoso às minhas amigas queridas que me incentivaram e me apoiaram nesta longa caminhada. A minha filha pelo seu incentivo. Aos amigos do Moderado por embarcarem juntos no colorido de Frida Kahlo.

    SUMÁRIO

    Capa

    Folha de Rosto

    Créditos

    APRESENTAÇÃO

    INTRODUÇÃO

    CAPÍTULO I - FRIDA KAHLO: VIDA E OBRA

    1.1. HISTÓRIA DE VIDA

    1.2 VIDA AMOROSA

    1.3 A ARTE

    1.4 A POLÍTICA

    CAPÍTULO II - A SUBLIMAÇÃO

    2.1 O DESTINO POSSÍVEL DA PULSÃO

    2.2 A SUBLIMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    2.2.1 Desenvolvimento de Sublimação em toda Obra de Freud

    2.2.2 Contribuições de Lacan

    2.3 TRAUMA

    CAPÍTULO III - A MULHER E O AMOR

    3.1 A MULHER E O AMOR

    3.2 AS FÓRMULAS QUÂNTICAS DA SEXUAÇÃO

    CONCLUSÃO

    REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

    ANEXO I

    REFLEXÃO DE FRIDA KAHLO

    ANEXO II

    ENTREVISTA

    ANEXO III

    JARDIM CULTURAL FRIDA KAHLO (COYOACÁN, DF)

    PLACA DO JARDIM CULTURAL FRIDA KAHLO (COYOACÁN, DF)

    Landmarks

    Capa

    Folha de Rosto

    Página de Créditos

    Sumário

    Bibliografia

    APRESENTAÇÃO

    ... não fui capaz de responder, apesar de meus 30 anos de pesquisa da alma feminina: ‘O que quer uma mulher?’

    Sigmund Freud

    Onde não puderes amar não te demores

    Frida Kahlo

    Ao receber o convite da editora para a publicação deste livro muito me agradou. O livro baseia-se na minha dissertação de mestrado – A sublimação, o trauma, o corpo: Frida Kahlo – na qual objetivei articular Psicanálise e Arte, sob a perspectiva do conceito de Sublimação, entendida como um dos destinos da Pulsão.

    Há cerca de 22 anos tive o meu primeiro contato com a obra de Frida Kahlo e fiquei fascinada. Iniciei a pesquisa precisamente em 2000, após o atendimento de uma paciente em uma instituição hospitalar pois ao escutá-la, inspirei-me em Frida Kahlo. Contudo foi em 2003 que produzi e apresentei o primeiro trabalho por ocasião de uma jornada de psicanálise. Nesta jornada fiz uma pequena exposição de imagens da obra da artista e percebi que as pessoas olhavam para aquelas imagens e me perguntavam que artista era aquela com suas telas impactantes de um colorido forte, atraente e suas sobrancelhas enormes. Foi quando notei que poucas pessoas haviam ouvido falar em seu nome.

    Em 2002 houve o lançamento do filme americano Frida do diretor Julie Taymor estrelado por Salma Hayek e Alfred Molina, o qual ajudou a popularizar a artista que entrou em cartaz no Brasil no ano seguinte; muito embora outros filmes sobre Frida já existissem no México.

    Ao longo desses anos, à medida que eu pesquisava fui sendo cada vez mais atraída pela obra pictórica desta artista, aprofundando o estudo à luz da psicanálise. Em 2006 iniciei o mestrado dando um contorno acadêmico à pesquisa, foi quando senti necessidade de um conhecimento mais profundo viajando em 2007 até o México para o desenvolvimento da pesquisa, até porque ainda não existia no Brasil vasta literatura sobre Frida Kahlo, e encontrei apenas o livro o qual me foi apresentado em 1999 e alguns trabalhos na internet.

    É digno de acrescentar a emoção que senti em estar no Museu Casa Azul, palco das maiores vivências de Frida Kahlo. Sua presença, embora ausente, é forte. Assisti no museu, uma palestra com os restauradores dos objetos íntimos de Frida Kahlo, momento também de grande emoção tanto por parte dos restauradores quanto da plateia, pois era a primeira vez que tais objetos tornavam-se públicos.

    Após minha volta do México, entrevistei¹ no Consulado do México a professora de História pela Universidade Federal Fluminense, Cecy Monroy, mexicana, radicada no Brasil desde criança, estudiosa do muralismo mexicano que muito acrescentou ao meu conhecimento sobre o contexto artístico e cultural no qual Frida Kahlo foi inserida.

    Em março de 2001 me hospedei na casa de amigos no Espírito Santo e eis que o meu amigo estava de viagem à trabalho ao México. Apresentei-lhe Frida Kahlo contando o pouco que conhecia de sua história e obra, sugeri que fosse conhecer o Museu Casa Azul. Ele foi e me presenteou com o livro que norteou toda a minha pesquisa até a viagem ao México quando tive a oportunidade de ter conhecimento de vasta literatura sobre a artista, sua obra e sua cultura.

    No decorrer desses anos é muito difícil não falar de Frida Kahlo, pois constantemente me deparo com algo relacionado a sua pintura, uma exposição, um convite para uma entrevista, um minicurso, uma curiosidade de alguém querendo saber o que a psicanálise tem a dizer sobre sua obra, enfim estou sempre voltando a Frida Kahlo, assim como agora.

    Espero poder trazer uma contribuição para o estudo da psicanálise no âmbito da arte, uma vez que o artista precede o psicanalista, pois o artista com sua obra nos traz uma grande aprendizagem e eu particularmente gosto muito dessa articulação.

    Procurei traçar a história de vida de Frida Kahlo em seu contexto familiar, estudantil, amoroso, artístico e político.

    Na Psicanálise, trago uma pesquisa sobre a Sublimação em Freud e as contribuições de Lacan que me levaram a articular o feminino e a sublimação. O enigma da mulher, não se encontra na própria mulher, mas no feminino que é uma posição possível tanto no homem quanto na mulher, indica que a feminilidade constitui um problema para toda a sexualidade.

    A sublimação se refere ao campo da saúde, dirá Freud (1909, p. 178) e que o dom de curar pode estar literalmente nas mãos de um artista. Creio que o dom da arte já se encontrava em Frida Kahlo, emergindo em plena flor da adolescência para que pudesse aplacar a angústia da invasão do real no corpo e na alma.


    1 A entrevista consta no Anexo II.

    INTRODUÇÃO

    Criando pude ficar são, e criar foi o que me salvou.

    Heine

    A arte existe porque a vida não basta²

    Ferreira Gullar

    A ideia de fazer um estudo articulando a história de vida e obra de Frida Kahlo com a psicanálise surgiu de uma experiência clínica em uma instituição hospitalar. Alguns pacientes, quando escutados, transformam a dor do trauma em energia para direcionar suas vidas, conseguindo fazer uma retificação subjetiva, viabilizando, assim, o processo de reabilitação e permitindo emergir o desejo.

    Frida Kahlo significa em seus quadros a dor interna, tematizando-os, um a um com os acontecimentos de sua vida, exprimindo sentimentos, mostrando a dor de existir e realizando associações preciosas na linguagem do ‘dar a ver’.

    O objetivo daquele trabalho, portanto, foi articular a história de vida e obra de Frida Kahlo como um caso clínico, capturado na literatura disponível, a conceitos da teoria psicanalítica, freudiana e lacaniana, de forma que viabilizem a compreensão do processo de emergência do sujeito portador de deficiência física, servindo como base teórica a programas de reabilitação.

    Ao iniciar esse percurso não vislumbrava o rumo que a pesquisa iria tomar. Tinha em mente pesquisar as vicissitudes da sublimação para melhor compreender o processo de criação, porém foi no desenrolar do tempo, na experiência sobre as questões trazidas nos fragmentos de vida da artista, que meu olhar se voltou para o feminino ao me debruçar sobre sua obra, diante do excesso em sua produção, em suas escolhas, em sua própria história. Articular o feminino e a sublimação na psicanálise passou a se constituir em uma estratégia de investigação teórica que parecia viabilizar uma melhor compreensão do tema.

    Nesse percurso sobre a feminilidade, propunha-se a dialética sobre a célebre questão formulada por Freud – O que quer uma mulher? (Was Will das Weib)? – (FREUD, 1925 p. 274), de que ordem era o desejo daquela artista para mover sua vida? A demanda de Frida Kahlo parece emergir em sua frase: tenho sido amada, amada, amada, não o suficiente (JAMÍS, 1995, p. 254), uma queixa que remete diretamente ao estudo sobre a http://pepsic.bvs-psi.org.br/../img/revistas/cogito/v8/v8a05f1.jpg Mulher e o amor.

    O amor e a mulher têm se constituído como questões instigantes e enigmáticas sempre atualizadas. O sujeito está em permanente busca de algo que preencha o vazio e a angústia, revelando na expectativa de encontrar, por via do amor, a resposta para a felicidade. A posição feminina está permanentemente referida ao amor, por isso é perseverante na utopia do parceiro que essencialmente preencha o vazio. Ela, por ter afinidade com a falta, condenada ao desencontro, é puro desejo. Frida Kahlo, na busca desenfreada de amor, segue na direção em que seu desejo aponta, seduzindo e conquistando parceiros amorosos, à maneira ‘donjuanesca’.

    O feminino apresenta-se como furo interrogador, tanto para homens, quanto para mulheres, sugerindo novos caminhos à teoria e à clínica frente às demandas atuais. O enigma da mulher, assim, não se encontra na própria mulher, mas no feminino que, é uma posição possível tanto no homem quanto na mulher, indica que a feminilidade constitui um problema para toda a sexualidade.

    Dessa dimensão foi possível olhar a sublimação pelo viés do ex nihil Dessa dimensão foi possível olhar a sublimação pelo viés do ex nihilo, do nada, pois a mulher, por ela ser não-toda, tem um ‘pé’ fincado fora do simbólico, como a sublimação, fora do significante, no ex nihilo. Isso porque não há um significante que a nomeie, uma vez que a mulher não existe, a mulher existe uma a uma. A Mulher – o conjunto, o significante – não há, porque existe a marca da falta. E nos ensina Lacan que é sempre por identificação à mulher que a sublimação produz aparência de criação (LACAN, 1966-7, aula de 1º de março de 1967). É sempre pelo dom do amor feminino, enquanto criando o objeto evanescente. É pela falta, é o lado não-toda que faz enigma. O feminino se aproxima da sublimação pelo fato da mulher estar na posição do inominável, pela inexistência do significante na relação entre os sexos.

    O excesso de feminilidade na obra de Frida Kahlo causa estranheza, que por sua vez causa a sublimação. E, pois, o efeito do estranho, do Unheimlich³, da obra de Frida Kahlo sobre o espectador é o que confere o estatuto de sublimação.


    2 Em entrevista no Sesc Rio de Janeiro in bing.com/videos.

    3 Algo que é familiar e agradável e que deveria ter permanecido oculto, mas veio à luz. (FREUD, 1919, p.258)

    CAPÍTULO I - FRIDA KAHLO: VIDA E OBRA

    1.1. HISTÓRIA DE VIDA

    Magdalena Carmem Frieda Kahlo y Calderón nasceu em Coyoacán, México, no dia 06 de julho de 1907, em sua casa, chamada por ela de Casa Azul, hoje Museu Frida Kahlo. Nessa mesma casa, construída em 1904 por seus pais, aconteceram três fatos marcantes na história da artista: seu nascimento, seu casamento e sua morte, em 13 de julho de 1954.

    Segundo Zamora em seu livro El pincel de la angustia – Frida (1987), a primeira menção ao povo pré-hispânico da cidade natal de Frida Kahlo, Coyoacán data da época que o México-Tenochtitlan (1325) acabava de fundar-se. Conta que no ano Pedernal de 1322 o bruxo Tezcatlipoca, que residia em Chalco, foi induzido pelo bruxo sacerdote Quetzalcanauhtli (Pato Precioso) a abandonar Chalco e marchar para Coyoacán. Em Coyoacán, terra quente residia a maga, a sábia, a irmã maior Chalchiuhtlicue (Saia Preciosa). Jejuou com água morna e assim propiciou a chegada dos chalcos. Cinco anos depois os chalcos vieram a Coyoacán implorar que o diabo Tezcatlipoca voltasse com eles.

    E assim, o diabo ou o deus Tezcatlipoca foi o primeiro estrangeiro que preferiu permanecer e criar raízes em Coyoacán, depois houve uma legião deles. E entre deuses e demônios chegou a Coyoacán Frida Kahlo que desde pequena era muito ‘endiabrada’, segundo Herrera: pedalava sua bicicleta como um demônio ao redor do jardim Centenário. (HERRERA, 1984 p.26) Inclusive seu pai ao conceder o pedido de casamento a Diego Rivera teria lhe avisado que ela era um demônio. (Op. cit., 84)

    Frida Kahlo, nome pelo qual é conhecida, a terceira das quatro filhas do casal, Wilhelm Kahlo, que adotou posteriormente o nome de Guillermo Kahlo, e Matilde Calderón y González. Suas irmãs são Matilde, Adriana, Cristina. Após o nascimento de Adriana, a mãe teve um menino que morreu poucos dias após o parto, acometido de pneumonia. (ZAMORA, 1987, p.117) Maria Luisa e Margarida são as meias-irmãs, filhas do primeiro casamento de seu pai, com uma mulher mexicana, que morreu ao dar à luz a sua segunda filha.

    Guillermo Kahlo, filho de Jakob Kahlo, joalheiro e comerciante de artigos fotográficos, nasceu em Baden-Baden, na Alemanha, de família judia, emigrou para o México, aos 19 anos, tornando-se fotógrafo profissional. Foi considerado o primeiro fotógrafo oficial do patrimônio cultural do México. Especialista em fotos de paisagens, edifícios, interiores, fábricas etc. Como destaca Zamora:

    [...] de vez em quando fazia retratos de algum membro do governo, embora afirmasse que não gostava de fotografar pessoas, porque não desejava melhorar o que Deus havia criado. (ZAMORA,1987, p.10)

    Guillermo Kahlo é descrito como um homem culto e em seu estúdio fotográfico havia uma pequena biblioteca, selecionada com muita atenção. Os livros principais eram em alemão e incluíam obras de Schiller e Goethe, assim como numerosos volumes de filosofia. Havia, em seu escritório, numa posição de destaque, um quadro do seu herói pessoal – Arthur Schopenhauer. (HERRERA, 1984, p.29) Cultivava o hábito de sentar-se ao piano e tocar Beethoven e Johann Strauss.

    Herrera (1984) destaca que, como pai, o Sr. Kahlo, não cultivava uma relação íntima com as filhas, atribuindo atenção apenas à sua preferida: Frida. Era muito carinhoso e depositava nessa filha as expectativas de um futuro profissional, estimulando-a no desenvolvimento do espírito intelectual e aventureiro. Ela costumava acompanhá-lo em seus passeios, como pintor amador, pelas zonas campestres locais e era sua confidente. Quando atingiu à idade suficiente, seu pai compartilhou seu interesse na arqueologia e na arte do México. Ele também ensinou a filha a usar a máquina fotográfica, a revelar, retocar e colorir fotografias, experiências que viriam a ser muito úteis para a sua carreira de pintora. Kahlo descreve seu pai como: cordial, carinhoso, sossegado, diligente e corajoso. Ele, por sua vez, a considerava a mais inteligente das filhas e a que mais se parecia com ele. (KETTENMANN, 1994, p.10)

    Matilde Calderón y González, nasceu em Oaxaca, criada no cristianismo e dedicada ao lar. Seu pai também fora um fotógrafo de descendência indígena da cidade de Morelia. Matilde fora namorada de um alemão, que se suicidou na sua frente. Segundo Herrera (1984, p.19), quando Kahlo estava com apenas 11 anos, sua mãe contou-lhe sobre o namorado morto, mostrando-lhe as cartas que ainda guardava e afirmando que este homem vivia sempre em sua memória. Grimberg acrescenta:

    Mas o casamento de Calderón-Kahlo deveria ser infeliz. Mathilde

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