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A Estrela D'alva: o que a minha mãe me ensinou
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A Estrela D'alva: o que a minha mãe me ensinou
E-book253 páginas3 horas

A Estrela D'alva: o que a minha mãe me ensinou

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Sobre este e-book

Esta é a história de uma estrela nascida para amar. Assim são as sinopses das mães. Elas nascem para cuidar e brilhar em meio às adversidades, durante tempestades ou nas celebrações de sua constelação. Apresentadas como o amor maior, como a plenitude da generosidade, algumas vezes elas são retratadas com a perfeição inexistente em uma pessoa. As mães são pessoas, mulheres, ideias, criatividade, ocaso, indiferença, frieza, amor infinito, procura, desencontro e cura. Elas trazem e são a aurora. Elas fazem e são o brilho da existência. Elas moram, casam, vivem solitárias, formam famílias, morrem e nascem todo dia. Elas fazem o mundo inteiro que vive dentro da gente. Esta história, de algum modo, vive em cada um de nós. E sim, pode ser diferente para cada pessoa. Mas são também tão parecidas que deve ser verdade que todos nós somos irmãos. Então, com a permissão de todas as mães que vieram antes de nós, esta obra conta alguns dias escritos pelas palavras que o tempo não leva, pelas alegrias que o esquecimento não apaga, pelos silêncios que as palavras não calam, pela energia que nos invade e nos alimenta em nossas buscas pelo reconhecimento da nossa essência.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento28 de out. de 2021
ISBN9786589873303
A Estrela D'alva: o que a minha mãe me ensinou

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    A Estrela D'alva - Maria de Fátima Moreira Sampaio

    CAPÍTULO 1. AURORA

    S enhoras e senhores passageiros, estamos neste momento sobrevoando Cabo Verde a uma velocidade de cruzeiro de novecentos quilômetros por hora, a trinta e dois mil pés de altura... Depois das mais difíceis horas de voo aquela informação era a constatação de que em algumas situações o melhor a fazer é prosseguir e encontrar algum modo de sobreviver ao medo.

    Estávamos sobrevoando o oceano Atlântico, e todo o arrependimento do mundo chegava como em todas as outras vezes em que estou dentro de um avião. Bem, mas pensar que toda a minha trajetória de vida foi uma travessia difícil e, que até então sobrevivi, me enchia de esperanças de mais uma vez tudo terminar bem.

    O Sol começava a nascer e sua luz dourada iluminava os rostos de Maria Helena e Christine. Semblantes estes que eram a minha própria face diante da vida. Nada foi fácil até agora. Para dizer a verdade, sempre foi uma extraordinária jornada plena de muitas alegrias, porém, também de enormes dificuldades. Muitas lágrimas, situações de extremo estresse e outras que pensávamos não conseguir atravessar.

    Aquele oceano majestoso parecia tão inabalável quanto os nossos motivos para lutar e prosseguir em busca dos nossos sonhos durante toda a nossa vida.

    Meus pensamentos e recordações foram interrompidos pela voz da aeromoça, que oferecia o café da manhã. Ela parecia surgida das nuvens da realidade, com seu gestos precisos, velozes e suas palavras repetidas a cada assento na mesma inflexão, que faziam soar o alarme das manhãs nos despertando e nos lembrando que o tempo urge.

    Maria Helena e Christine olham para mim com um sorriso das deusas e dizem Bom dia, mainha linda!. Nesse inaugurar de um Sol tão lindo, todas as dúvidas se dissipam, todos os medos fogem e sucumbem ao encantamento de uma alvorada tão incrível.

    Nada, nada é mais espetacular do que acompanhar o Sol, levantar e nos reerguer para um novo e lindo dia, independente do que ele possa nos trazer. É sempre um presente e uma ressurreição, um novo explorar das riquezas diárias que a vida vem nos convidar para fazer.

    Bem, não é muito lindo nem tão poético quando é de dentro de um avião que testemunhamos tão nobre espetáculo. Pelo menos, para mim, não. Mas tudo bem. O medo de voar que sinto não é nenhum obstáculo para esse Sol rei que ilumina tudo e todos.

    A aurora invade a casa aérea lembrando que há um novo amanhecer, acordando todos para a graça de mais um dia neste incrível espetáculo! Existem os passageiros impostores. Tenho certeza que são seres desalmados que já amanhecem lendo e muito calmos, como se estar em casa ou em uma aeronave não fizesse nenhuma diferença. Essas pessoas certamente são uma ameaça à humanidade!

    Quem sabe em uma necessidade eles sequer vão olhar de lado! Lá estão eles em suas poltronas: sem medo, sem fome, sem qualquer alteração perceptível. Sabe aqueles companheiros de viagem estátuas? Ficam lá, infalíveis! Em um determinado momento eles despertam, põem os óculos e permanecem imóveis olhando para o nada!

    Maria Helena olha o relógio e diz: Está mais perto do que longe, agora!. Christine pergunta como estou e se preocupa em ter dormido e me deixado sozinha acordada. Um amor lindo que se traduz em pequenos cuidados tão largos que alcançam todos os dias de uma vida e cobrem todas as incertezas. Sim, um amor assim, conquistado em cada dia e reformulado em todas as horas e em indizíveis verbos do ato de conviver.

    Esta viagem é mais do que um sonho realizado, é um desejo construído com amor, com esperança e muita cumplicidade. Ela começou há mais de 50 anos, quando nasci.

    Naquela manhã de 1 de abril, minha mãe me regalava a vida em uma pequena cidade do interior, em uma casa muito simples, decorada com um lago em seu entorno. Eu era a primeira filha. Chegava no outono de uma cidade que só conhecia seus próprios habitantes, resumidos a poucas dezenas de vizinhos. Nasci, e comigo desde sempre, nascia também minha grande vontade de percorrer as veredas, sem tempo ou idade, e meu incomensurável ímpeto de viver em todas as cores da sagacidade.

    Mas aqueles eram tempos de dificuldades. Meus pais se casaram com amor, mas sem bens que pudessem chamar de propriedades, tampouco que pudessem assegurar uma tranquilidade econômica. Meu pai um dia viu uma bela morena e na mais romântica decisão de sua vida resolveu com ela ficar. E ficou para sempre. Como em um conto de fadas, o desejo virou realidade e eles, ambos comprometidos com outras pessoas, puseram um ponto final em seus compromissos anteriores e se uniram até o fim de seus dias. Nada mal.

    Uma boa decisão para o coração, sem dúvida. Mas, ali também começava uma vida árdua. Só laços muito fortes sustentam e mantêm um relacionamento duradouro. Principalmente por tanto tempo.

    Meu pai era funcionário público, com apenas um ano de profissão e não tinha dinheiro para casar e muito menos para constituir família. Mas o que é uma dificuldade diante de um grande amor? Para vivê-lo é preciso estar disposto a fazer valer a pena todos os dias sem importar o esforço que isso demande. Um labor feito com muito afeto, admiração pelo outro e a vontade de estar sempre juntos que os uniu em uma vida de longa parceria de amor. Nascia assim aquela história.

    Para viver aquele enredo meu pai vendeu um ano de salário para poder montar a casa e realizar seu sonho romântico. Afinal, a bela era bela mesmo e ambos estavam predispostos a seguir em frente. Minha mãe, uma costureira que tinha habilidades impressionantes e ele além de funcionário público, tinha um pequeno comércio na sala de estar: uma bodega relativamente sortida para ajudar nas despesas de casa. Assim eles deram início à vida conjugal.

    Toda grande história de amor assim deve começar: coragem, decisão e muito coração. Essa foi a tríade mágica que marcou a vida deles em todas as ocasiões. Gente simples, mas de uma sofisticação afetuosa extraordinária. Havia neles o verbo viver em todos os sentidos. Tudo eles tornaram possível em suas vidas. Tudo voltado para a firme decisão de estarem juntos, apesar de todas as intempéries. De permanecerem unidos mesmo nos momentos de desalinho, de sofrimento, de perdas e angústia.

    A relação deles foi amor, maior do que a mesmice da unidade de uma só pessoa que deseja viver com a outra. Maior que os sonhos que ficam para trás quando a felicidade do outro é mais importante. Melhor do que apenas a própria luz, quando há outra pessoa para se fazer feliz e iluminar com a vida que juntos podem levar.

    Esse sempre foi o mote do poema que eles escreveram. Não uma história qualquer de resignação ou abnegação. Mas uma complexa estrutura matrimonial que sempre privilegiou a família, os filhos — em primeira mão — e o bem estar de todos. Tanto foi seu trabalho que mesmo quando a dor ou a incompreensão tomou conta de alguns momentos, um indulto do universo já estava pronto para eles, como uma compensação por uma parceria tão fiel e forte. Mesmo com todos os problemas que uma convivência implica eles foram capazes de erigir uma sólida relação por muitas décadas onde cada um queria que o outro durasse para sempre.

    CAPÍTULO 2. LIBÉLULA

    Entre o barulho e o silêncio sempre prefiro o barulho. Mesmo dentro da aeronave existem momentos que lembram uma casa, quase um lar, digamos assim, por incrível que pareça. Isso acontece quando a movimentação recomeça na aeronave. O cheiro de comida anuncia a passagem dos fiéis escudeiros do recreio e como uma mesa aérea degustamos da companhia daqueles ocupantes das demais poltronas, que aparentam uma irritante tranquilidade no ar, e, por alguns instantes, o tempo e as lembranças desembarcaram na mesa da sala de jantar da minha infância.

    Já se asseou Adalberto? Não me enrola e venha logo que seu pai já está chegando! A corrida para o banheiro era imediata para que estivesse à mesa antes do meu pai entrar em casa. Não era medo. Era respeito, a graça de estarmos juntos a cada duas semanas quando ele retornava do seu trabalho. Ser funcionário público na época era seguro, mas tinha lá seus desafios. Nossa família vivia alugando casas, ganhando estradas, recomeçando em novas escolas e a adaptação era apenas o tempo de chegar e encontrar a nova rotina que se iniciava.

    A minha mãe reclamava dos móveis que quebravam em cima dos caminhões que transportavam nossas coisas de cidade em cidade. Não dá tempo comprar nada que já temos que mudar, e lá vamos nós de novo com os cacos na cabeça! brincava e reclamava, ao falar das nossas constantes novas moradas.

    Mas no final tudo se ajeitava. Uma nova casa pra organizar, um grupo para os filhos estudarem e um banheiro dentro de casa. Sim, o banheiro dentro de casa era fundamental, porque nem todas as casas tinham esse luxo sob o telhado. Costumava ser no quintal, no final do quintal. Houve um tempo, quando eu era criança, que isso me aterrorizava. E já que meu pai viajava sempre e ficávamos muito tempo sem ele, essa era uma necessidade básica para que não precisássemos ir para o quintal no meio da noite.

    As noites nunca foram meu turno predileto. Era sinal de escuridão, pouca movimentação e principalmente silêncio. Esse sim, quase sempre sinalizando algo, que de tão sombrio não poderia aparecer, e na minha cabeça muito perturbador ao ponto de soar como os acordes primeiros de notícias ruins. Era como se algo tivesse que ser escondido sob o manto da surdez que a boca cerrava em ânsia de anonimato.

    Mas quando meu pai estava em casa havia uma sensação de proteção no ar. Nunca esqueci desse sentimento de ter certeza que nada nos faria mal quando papai retornava do trabalho. Eu dormia muito melhor, podíamos fazer brincadeiras sem a preocupação de entrar logo para dentro de casa, pois do canto dele, assistindo televisão, sabíamos que estava prestando atenção ao que fazíamos o tempo todo.

    Quando meu pai se balançava em sua cadeira de assistir televisão, sem tirar seu cochilo depois do almoço, era um presságio de algo desagradável no ar. Muito desagradável. Ele ficava sério, entrava e saia pela porta da frente, como se esperasse a solução do suposto problema chegar. E lá estava ele: o silêncio que todos escutavam. Minha mãe na máquina de costura, fazendo moldes de alguma nova roupa para coser durante a tarde em afrisia, permitia que o barulho do volante do pedal da máquina criasse um som inconfundível, que parecia querer decifrar os pensamentos do meu inquieto pai.

    Mas o silêncio tem a sua fala. Tem o momento que fica eternizado na memória como o som de um calendário que não se cala, que não vai embora. Ele não morre. Ele passa também sem fazer estrondo ou gritaria, apenas fazendo as honras das horas de cada dia.

    Meu pai gostava de se deitar no chão depois do almoço. Gostava do frio que ele proporcionava. Seu ronco alto parecia cantoria, anunciando que tinha um pai a zelar por todos nós. A minha mãe achava engraçado e quando o ronco fazia aquele barulho enorme todos caíamos na risada. Ele acordava, olhava para nós e perguntava: O que foi? e voltava a dormir sem esperar qualquer resposta.

    Em muitas ocasiões via a minha mãe calada e seu silêncio também nunca era bom. Alguma coisa ruim pairava no ar e o som que se espalhava pela casa era de perigo. Quando ela estava assim eu fazia as tarefas da escola, o dever de casa, perto dela e de vez em quando lançava-lhe um olhar tentando ouvir o que estava por trás daquele barulho que calava as suas palavras.

    Quando isso acontecia eu sentia medo. Ficava atordoada imaginando coisas que eu não queria acreditar que pudessem estar acontecendo. Havia uma certa preservação, um cuidado em não misturar assuntos de adultos com as crianças. Até mesmo quando eu era adolescente os problemas estruturais familiares eram resolvidos entre eles.

    Creio que as mães são como as crianças, que parecem cheias de vida e saúde quanto mais elas brincam, correm, conversam e assim se divertem. O coração assustado parece se recolher do meio da velocidade, da algazarra, das cantigas de roda e das histórias engraçadas para organizar planos, defesas e encontrar as melhores soluções.

    Lembro de uma vez que vi meu pai e minha mãe conversando baixinho no quintal, sentados em duas pedras enormes que havia perto da porta dos fundos e quando fui me aproximando eles calaram. Recordo que fiquei com muito receio deles se separarem. Achei, na minha fantasia, que minha mãe estava dizendo ao meu pai que ia embora porque ele não deixava ela estudar.

    Nesta época ela havia manifestado a vontade de voltar aos bancos escolares e ele não gostou. Aí, pronto! Fiquei dias pensando nisso e toda vez que minha mãe ia ao mercado comprar alguma coisa eu pedia para ir com ela, porque eu pensava que assim evitaria que ela fugisse. Que coisa! A cabeça de uma criança é um mundo cheio de inventividade!

    Dias depois descobri que o motivo da conversa no quintal era sobre a mudança de residência. Eles só estavam conversando sobre isso e decidindo para onde ir. E eu fiquei com o coração na mão durante dias gastando muita adrenalina!

    É verdade, nem tudo era bom. Nem poderia ser. Algumas vezes as batalhas foram tão grandes e exaustivas que parecíamos estar mortos após a queda. Mas um sopro de existência e valentia outra vez chegava e nos reerguia para um novo acordar e revigorar as forças do corpo e da alma. Novamente o arrojo nos envolvia e de pé, outra vez, se avistava a fortaleza de novas ideias, novos horizontes para nos recompor naquela casa e isso não nos permitia desanimar: era a intensa vontade de viver e permanecer juntos que nos levava adiante.

    Essa era a imagem construída em meu coração daquele lugar que eu gostava de estar na infância. Nas raras vezes em que ia na casa de alguma colega da escola para fazer trabalho escolar, costumava olhar ao redor e pensar: na minha casa é muito melhor! Gostava de fazer esse tipo de comparação, que era como um bálsamo para mim. Me trazia conforto e paz pensar que o meu lar era um lugar onde eu gostava de estar.

    Certa vez eu tinha uma redação para fazer em casa, o chamado dever de casa, em que a professora pediu para escrever uma história com a palavra libélula. Eu não sabia o que era. A ideia era pesquisar e escrever algo em cuja temática tivesse essa palavra. Encontrei o significado no dicionário onde dizia que a palavra simbolizava transformação e iluminação e que era o emblema nacional do Japão, que simbolizava alegria e renascimento, também representando a deusa da criatividade dos Maias. Eu não sabia o que eram os Maias, mas quando li sobre os demais significados eu pensei logo: essa é nossa família!

    A escola sempre foi prioridade em nossas vidas. Como meu pai era transferido constantemente em seu trabalho isso representava a maior preocupação deles. Cada nova cidade, uma nova turma de coleguinhas para conquistar no grupo. Coleguinhas que jamais conquistei e motivo também para que eu perdesse um ano escolar. Assim aconteceu: o sino estava prestes a tocar para encerrar a aula quando uns coleguinhas combinaram uma lição especial para mim. Isso mesmo! Eu ia apanhar! Então eu pedi para ir ao banheiro. Como a professora não permitiu, eu bati em retirada, até hoje! Nunca mais voltei naquela escola!

    E sabe o que é mais incrível? A minha mãe me apoiou totalmente. Acho que ela percebeu que os coleguinhas não estavam brincando e não quis arriscar. A lição de casa desse acontecimento que ficou é a proteção. Logo ela que tinha como absoluta prioridade os estudos dos filhos não contou conversa e preferiu que eu perdesse o ano escolar a ser submetida a esse tipo de agressão.

    Talvez hoje essa questão seja óbvia na resolução, mas naquela época isso não era um motivo assim tão grave para tirar um filho da escola. Mas a minha mãe e meu pai eram intransigentes quando se tratava do bem estar dos filhos.

    Uma proteção que se fez raiz em meu coração e construiu a mãe que sou.

    Lições como essas são aprendidas e guardadas para sempre no desenho da face da edificação da pessoa que nos tornamos. Como mãe, eu trouxe comigo uma instrução como tesouro maior. O cuidado, guardião do zelo, foi a constante de uma educação simples e oferecida com muito amor.

    Eles diziam que os estudos eram o mais importante que eles poderiam nos dar em vida. Na verdade, eles eram os benefícios mais valorosos que tínhamos. Diziam que o conhecimento ninguém retira de nós! Lição frondosa e fecunda que me enriqueceu, ajudando-me a ser uma mãe melhor em todos os dias da maternidade.

    CAPÍTULO 3. CORAÇÃO DE CETIM

    Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Sempre achei essa frase confusa, contraditória. Primeiro porque se você está no paraíso não há como sofrer, lógico! E depois isso seria uma condenação para todas aquelas que elegem a maternidade para suas vidas. É uma decisão e uma missão difícil, sim. Diria mesmo que é uma missão sagrada e provavelmente a que mais exige de nós.

    Exige tudo: paciência, força, discernimento, responsabilidade e acima de tudo um amor infinito.

    Todas as vezes que lembro da minha mãe, as lembranças vêm acompanhadas dessas características descritas acima. Mas há um traço fundamental que une tudo o que uma boa mãe precisa para que a maternidade não seja um padecer e sim uma alegria no viver: a imensidão da capacidade de envolvimento que esse laço constrói.

    Amar, proteger, amar, saber quais são as necessidades dos filhos, amar, saber oferecer os limites no momento certo, amar, compreender a linha sinuosa do desenvolvimento de um ser que saiu de dentro do seu corpo e se prolongará eternamente em sua alma, amar sem nem mesmo saber que se ama tanto e a tal ponto que podemos abrir mão da nossa própria vida e dos nossos sonhos para que um filho seja feliz.

    Creio ser absolutamente improvável uma mãe ser realmente feliz se seus olhos e seu coração não sentirem a felicidade, antes de tudo, no rosto dos seus benditos filhos. Falo de uma boa mãe, claro. Aquela que o colo, a palavra, o olhar, o sorriso, são os melhores lugares para estar.

    Desde a mais remota lembrança que posso ter da minha mãe, não há como desvincular a sua vida de como ela pensava, planejava e construía um tempo que ela chamava de futuro dessa menina para mim.

    Um empenho constante, mesmo que

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