Vitrines e coleções: quando a moda encontra o museu
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Vitrines e coleções - Christine Ferreira Azzi
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Copyright© desta edição Memória Visual
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É proibida a reprodução total e parcial, por quaisquer meios,
sem a expressa anuência da editora.
Produção editorial
Memória Visual
Editora assistente
Mariana Arcuri
Revisão
Halime Musser
Capa, projeto gráfico e diagramação
Adriana Cataldo e Priscila Andrade
Zellig | www.zellig.com.br
Produção de ebook
S2 Books
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A997v
Azzi, Christine Ferreira
Vitrines e coleções : quando a moda encontra o museu / Christine Ferreira Azzi. - Rio de Janeiro : Memória Visual, 2010.
-(Moda de bolso : 1)
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-89617-90-1
1. Moda - Exposições. 2. Museus de arte. 3. Moda e arte. 4. Trajes - História. I. Título. II. Série.
10-2213.
CDD: 646.404
CDU: 646.42:069:7
14.05.10 19.05.10
019112
Rua São Clemente 300 – Botafogo
22260-000 – Rio de Janeiro – RJ
Tel.: 21-2537-8786
editora@memoriavisual.com.br
www.memoriavisual.com.br
Sumário
Capa
Folha de rosto
Créditos
Introdução
Um pouco de história: as coleções e os museus
Coleção de museu, coleção de moda
Uma breve reflexão sobre a história da moda
A moda e a arte de Maria Antonieta
A Revolução Francesa, os museus e a moda
O nascimento dos museus de moda
Pensar a moda no museu: questões que dão pano para manga
Pequeno guia dos museus de moda
Referências bibliográficas
Introdução
A moda impõe o rito segundo o qual a mercadoria se torna um fetiche, um objeto a ser adorado (...)
. [1] A afirmação de Walter Benjamin, retirada de um fragmento de sua grande obra Passagens, põe em cena a relação entre moda e objeto. Quando pensamos em objetos de adoração, a ideia nos remete simultaneamente a diversos sentidos: objetos auráticos, objetos de culto, objetos em exposição, objetos de arte. Objetos, enfim, que provocam e despertam admiração e desejo. O que todos têm em comum é o lugar ideal ao qual se destinam, um espaço consagrado ao saber e ao sagrado. Pense no museu. O problema é que a concepção tradicional de museu o define como um guardião do passado, dos costumes; justamente o contrário do que se entende como moda, compreendida como um sistema dinâmico, até mesmo instável, ligado ao presente, às mudanças constantes e à indústria de consumo. Sendo assim, surge a questão: moda e museu, uma relação possível?
Tradicionalmente, a crítica de arte questiona o estudo da moda como arte ou mesmo como campo filosófico. No entanto, como afirma a filósofa Marie-José Mondzain, a moda não é, à primeira vista, o que se poderia chamar de objeto da tradição filosófica. Mas, na verdade, todo objeto pode se tornar filosófico, quando se encontra uma forma de interrogá-lo a partir de sua história e de seus sentidos (...)
. [2] A moda, por sua aparente banalidade, sempre se colocou distante dos campos de estudo. Vê-la como discurso e como objeto de pesquisa é uma questão que vem sendo construída de maneira lenta, mas firme. Está na hora de olhar a roupa como matriz, elemento fundador, e, não mais, como acessório; é o momento de prestar atenção nessa frivolidade essencial
, [3] expressão irônica e irresistível utilizada pelo sociólogo Frédéric Monneyron.
O museu, esse espaço sagrado de imagens dialéticas, consagrado à fruição do saber e do conhecimento com a mediação da obra de arte, há algumas décadas abriu suas portas ao vestuário. Eis ali, exposto no Metropolitan Museum, com o mesmo prestígio da vitrine que apresenta o Arlequim, de Pablo Picasso, o imponente vestido império característico do século XIX. No Victoria and Albert Museum, um dos mais tradicionais da Inglaterra, o sapato plataforma de Vivienne Westwood convive harmoniosamente com a clássica coleção de esculturas de Auguste Rodin. Diante desses objetos, o olhar crítico se reveste de curiosidade: vontade de estender a mão, tocar a tela, o pano, sentir as cores, a suavidade da pintura/costura/escultura. Porém, ao contemplar o vestido ou o sapato, o espectador também revive outras ocasiões, quando tanto vislumbrou e admirou peças de vestuário em vitrines de loja, e cria uma empatia imediata. Objetos-fetiche, objetos-mercadoria? E objetos museológicos também não são fetiches, objetos a ser adorados pelos visitantes, admirados, interrogados e criticados?
A intenção deste texto não é reconstruir a história da moda, ou mesmo a história dos museus, ainda que não se possa abrir mão de certas informações históricas; mas, tão somente, investigar o encontro entre esses dois espaços produtores de sentidos: a moda e o museu. As questões apresentadas são abertas e, muitas vezes, não possuem respostas objetivas.
É importante observar que, ao construir uma trajetória dos museus de moda, optou-se por priorizar os museus dedicados exclusivamente ao tema, ainda que seja notório o fato de que alguns importantes museus de arte possuem, também, um expressivo acervo de indumentária.
Penso que o interessante reside justamente na discussão, a fim de refletir sobre a interação, por vezes conflitante, entre os dois lugares. O tema, que nunca se esgota, põe em cena um paradoxo que somente é possível neste diálogo: quando a moda adentra o espaço museal, ela se despe do efêmero e se eterniza.
Um pouco de história: as coleções e os museus
Muito antes do grande evento de 1789, que mudou, entre outras coisas, a concepção de monumento e de instituições a serviço da memória, a origem da noção de museu está presente na criação de coleções e templos. Analisar a história dos museus é investigar a história do colecionismo, prática que move o ser humano desde a Antiguidade Clássica. Na trajetória da humanidade, a ação de colecionar se inscreve tanto de maneira positiva quanto negativa, [4] tendo, às vezes, fins mais políticos do que culturais. O historiador Krzysztof Pomian define coleção como:
(...) qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público. [5]
É importante ressaltar que, para o autor, se entende por olhar do público qualquer tipo de olhar, o que inclui, nesse grupo, as coleções particulares, além das exposições e dos museus públicos e privados. Porém, o autor reconhece que sua definição é limitada e meramente descritiva, pois exclui, por exemplo, os objetos não expostos ao olhar, tais como tesouros escondidos.
Tanto Françoise Choay quanto a historiadora Marlene Suano, em