Museus de Lisboa
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Sobre este e-book
Covadonga Valdaliso
Covadonga Valdaliso é doutora em História Medieval e investigadora integrada no Centro de História da Universidade de Lisboa. Em paralelo a atividades no âmbito científico ou académico, tem desenvolvido variados trabalhos de divulgação.
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Museus de Lisboa - Covadonga Valdaliso
Proémio
Um leopardo passeou, há vinte ou trinta mil anos, pelas terras de Porto de Mós. Deve ter sido um animal solitário e territorial, um carnívoro predador que percorria diariamente grandes distâncias. Depois de morrer, talvez por uma queda acidental, no Algar da Manga Larga, o seu corpo foi arrastado pelas águas para o fundo de uma gruta e permaneceu ali durante vários milénios. A Sociedade Portuguesa de Espeleologia começou a explorar o algar no ano de 1975. Tendo os restos sido confundidos com os de um cão, a sua verdadeira identidade só foi revelada em 2003, altura em que se decidiu recolhê-los e estudá-los. Os resultados do estudo, publicados em 2006, revelaram que o leopardo de Porto de Mós foi uma fêmea adulta, larga, robusta, com focinho curto e um aspeto similar ao dos leopardos-das-neves. Os investigadores entregaram a parcial ossatura ao Museu Geológico, que a preserva numa vitrina com forma de paralelepípedo, cuidadosamente colocada sobre um fundo arroxeado, junto com uma tabela descritiva e um pequeno mapa que indica o lugar da descoberta.
A vitrina faz parte de uma sequência que divide a sala em dois corredores. O visitante caminha por eles como quem percorre um filme estático em que cada fotograma é uma cena independente: vários hominídeos extintos, as sobras de um jantar mesolítico, um pedaço de dólmen. Cada um contém uma história singular e, portanto, desperta uma curiosidade diferente. Nesta vitrina, o que surpreende é descobrir que o atual distrito de Leiria foi um habitat da Panthera pardus. Porém, se bem se pensa, é mais estranho o destino desta felina do Plistoceno, designada, muito depois da sua morte, com um nome epiceno. Uns anos em liberdade, vários milénios numa gruta e, desde há pouco mais de uma década, um repouso aparentemente definitivo numa caixa de vidro, exposta para ser observada.
A entrada no museu é gratuita nas manhãs dos primeiros sábados de cada mês, mas no dia da minha visita há apenas uma outra pessoa a percorrer as salas, e o leopardo de Porto de Mós não parece atrair a sua atenção. Talvez porque não foi destacado como uma das 27 maravilhas do museu, entre as quais se encontram o meteorito Monte das Fortes, o fémur do dinossauro da Lourinhã, a volframite da Panasqueira, o esqueleto de um cão que conviveu com uma família de Concheiros de Muge ou o impressionante crânio do crocodilo que morou perto de Lisboa, em Chelas, há doze milhões de anos. Deve ter sido difícil, para quem selecionou as peças, decidir quais seriam realçadas das muitas que formam este gigantesco armazém de tesouros do passado, que em parte parece um centro de estudo e em parte um gabinete de curiosidades. Também deve ter pensado que as dimensões do acervo requeriam algum tipo de destaque.
Embora a escolha facilite a visita e simplifique a leitura da coleção, o museu como conjunto tem todo o protagonismo. O enorme comprimento das salas, com armários sucessivos a cada lado mostrando milhares de peças arrumadas em sacos; as vitrinas formando corredores; o chão de madeira a ranger; as palmeiras no jardim, do outro lado das janelas; a sensação de que aqui se tem preservado o aspeto e o espírito dos museus do século XIX, e de que as peças incorporadas recentemente, «novas» por instantes, mesmo se têm milhares de anos, se integram num universo centenário desde que atravessam a porta. Por isto tudo, no Museu Geológico fazem-se muitas viagens no tempo. Numa sala, Portugal antes do Homem. Numa perpendicular, o Portugal posterior. Num quarto escuro, minerais e objetos utilizados por cientistas de outras épocas. Na pequena entrada, fotografias desses estudiosos e restos de descobertas passadas. A multiplicidade leva a que tudo — desde a escada móvel até as inúmeras estantes, as múltiplas tabelas, os ossos e mais ossos, as pedras, os fósseis, os objetos, as pinturas primitivas — seja visto como uma unidade. De facto, os olhos não se cansam de ver porque parece que estão a observar sempre o mesmo objeto, um único