O Urso Polar e o Papai Noel
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O Urso Polar e o Papai Noel - Elberton Freire
1
Era véspera de natal e essa data sempre me trazia lembranças dos meus pais. Eu tive uma infância que julgava ser diferente da maioria das outras crianças.
Vivia grande parte da minha vida em lugares frios, sempre em busca de algo que eu não compreendia. Não sabia muito bem, só sabia que, na época, eu acreditava que meus pais tinham um trabalho diferente dos outros pais.
Hoje entendo que eles eram pesquisadores científicos e biólogos. Eu quase sempre os acompanhava em expedições por lugares um tanto inóspitos.
Naquela época não existia muita tecnologia voltada ao entretenimento. Nada de jogos eletrônicos. A minha diversão era basicamente brincar com coisas simples. Meu pai sempre me ensinava a construir coisas usando o que tivesse disponível no momento. Logo comecei a fabricar meus brinquedos usando pedaços de madeira, ferro velho ou qualquer outra coisa que me servisse para esse propósito. Enquanto outras crianças tinham brinquedos caros, eu dispunha somente daquilo que eu mesmo fazia. Mesmo que eu não tivesse muitos amigos, porque me mudava com frequência, eu era um garoto feliz.
Depois de adulto e com um filho de sete anos, tornei-me a pessoa que sou por causa dos meus pais. Eles foram meus melhores amigos, meus professores, enfim, tudo para mim.
Meu filho Bernard, um menino inteligente, mas como a maioria das crianças da idade dele, não dava o devido valor às coisas.
Até certa idade, eu não me preocupava em lhe dar presentes caros, apenas coisas simples. Os brinquedos, sempre que possível, eram feitos por mim, tal como era na minha infância, pois eu estava obstinado a fazer com ele o que meu pai fazia comigo. Porém, sua mãe e seus outros parentes insistiam em comprar brinquedos que custavam pequenas fortunas, embora fossem descartáveis. Logo ele deixava meus presentes de lado e se vislumbrava com tudo que ganhava das outras pessoas. E eu ainda ficava sob a mira de olhares de reprovação dos outros que achavam que eu era sovina o suficiente para não querer comprar um presente para o próprio filho. No entanto, o que eu sempre quis mesmo foi mostrar para ele o real valor de tudo na vida.
Bernard, com sete anos completos, veio para perto de mim. Eu estava enfeitando uma árvore de natal na sala de casa. Tinha vários objetos e enfeites espalhados pelo chão. Ele se aproximou com cuidado para não quebrar nada e parou ao meu lado.
— Pai, não acredito em Papai Noel. Sei que é o senhor que faz os brinquedos para mim.
— Por que não acredita no Papai Noel? — Questionei, olhando-o.
— Ah, pai — falou, revirando os olhos. — Não sou criancinha mais. Tenho sete anos. E eu sei que os presentes que eu ganho não são do Papai Noel, são o senhor e a mamãe que me dão.
— Hum, entendo. Realmente, somos nós que deixamos os presentes a você.
— Eu sabia — comentou ele, triunfante.
— Mas, sabe... O Papai Noel existe, sim.
— Eu não acredito.
— Pois acredite, eu estive em sua casa secreta e o conheci.
— Conheceu? — Indagou, desconfiado. — Onde é a casa dele, então?
— Ele mora na Finlândia. — Bernard me olhou com carinha de dúvida. Obviamente ele não fazia ideia de que lugar eu estava falando. — A Finlândia fica num lugar muito frio e coberto de neve.
— É no polo norte?
— Não exatamente, mas não é tão looonge de lá — respondi.
Ele pensou um pouco a respeito, mas ainda queria manter sua opinião sobre a existência do bom velhinho.
— Se ele existe mesmo, então por que é o senhor que deixa meus presentes e não ele?
— Bom, isso é porque inventaram um monte de lendas dizendo que ele dá presentes, montado em um trenó voador cheio de renas mágicas. Mas as pessoas entenderam tudo errado. Ele apenas ajuda a quem precisa e tem bom coração.
Meu filho pareceu cogitar a ideia, saiu do meu lado para sentar-se no sofá e perguntou:
— E como o senhor conheceu o Papai Noel?
— Essa é uma longa história, que aconteceu quando eu ainda era criança. Na verdade, eu tinha a sua idade. — Ele fixou os olhos em mim, esperando que eu contasse. — Você quer que eu conte?
Bernard assentiu com um sorriso tímido.
— Bom, então chega pra lá — falei me sentando ao lado dele.
♦ ♦ ♦
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O ano era 1980, eu tinha sete anos e fui viajar com meus pais. Eles diziam que eu ia viajar de férias, mas eu sabia que a viagem deles era a trabalho.
"Qual será o próximo lugar frio que vamos dessa vez?" Pensei.
Eu não entendia muito bem o que eles faziam, só sabia que eles estudavam plantas e animais e, de preferência, de lugares gelados. Os ursos eram os preferidos deles e, acho que os meus também. Eu gostava dos de pelos brancos. Meu pai costumava a falar que eles só eram brancos porque viviam na neve, mas que, na verdade, por baixo, a pele era marrom. Eu