Escreva Textos Atraentes
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Escreva Textos Atraentes - Josias A de Andrade
Introdução
Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível.
Einstein
muitos são os que sonham publicar um livro, mas poucos são os que realmente conseguem. Nem todos têm a seu favor as facilidades, os recursos ou o nome que, por exemplo, tem Paulo Coelho, José Saramago, Dan Brown, J. R. R. Tolkien ou Stephenie Meyer apenas para citar os mais conhecidos e sempre presentes na mídia. É óbvio que estes escritores encontraram, cada um o seu um filão ao explorar temas como bruxas, vampiros, códigos secretos e outras fantasias a exemplo dos consagrados livros com o personagem Harry Potter.
Para os simples e sonhadores mortais até a inspiração, às vezes, é difícil, quando tantas outras necessidades básicas precisam ser satisfeitas. E mais do que inspiração, é preciso, para chegar lá, muita transpiração. Hoje, escrever virou um verdadeiro modismo, e diversos artifícios para isso foram criados. Para muitos, ter um livro na praça contando a sua história, muitas vezes, é até uma necessidade; para outros, a oportunidade de mostrar uma carreira bem-sucedida ou uma vida exemplar. Com relação ao primeiro exemplo, estou falando de alguém que tenha se metido em alguma encrenca e ficou malvisto perante a sociedade e deseja recuperar a imagem. Isto é comum no meio político, principalmente no Brasil. Em relação ao segundo exemplo, a pessoa deseja mostrar ao público seus grandes feitos, uma trajetória de sucesso e, muitas vezes seu papel na sociedade como personalidade de destaque. Em outras situações realmente há o desejo de escrever, mas falta talento, jeito, disposição e outros elementos que se somam para que a criação possa ser apreciada e que desperte o interesse de alguém. Neste caso entra em cena o ghost-writer, aquele indivíduo que escreve no anonimato e vende
o seu talento para outro. Da mesma forma que existe a barriga de aluguel, existe o escritor de aluguel, o ghost-writer. Quando a obra é escrita por um desses anônimos personagens, ninguém descobre, nem sob tortura chinesa quem foi o autor, principalmente quando se sabe que o pseudoautor
não tem competência para tal.
Apesar da dificuldade de ter um original avaliado por uma editora, outras facilidades surgiram hoje em dia possibilitando a publicação de pequenas tiragens, isto é, a publicação sob demanda. Neste caso há uma facilidade maior, pois as editoras publicam pequenas quantidades e os textos originais não ficam mofando nas gavetas de uma grande editora à espera da boa vontade de alguém que pouco interesse demonstrará pelo trabalho de um autor desconhecido. Para baratear ainda mais os custos, hoje há o sistema digital, que permite a impressão sem a geração de fotolito, um grande avanço, sem dúvida!
Além dos problemas e avanços mencionados acima, sem dúvida, há outros pontos a ser analisados quando o assunto é a publicação de um livro. Devemos pensar seriamente sobre o que escrever, pesquisar o que seria de interesse do público e, sobretudo, saber escrever. Aliás, saber escrever
é o tema central deste livro.
A finalidade deste livro é dar dicas preciosas àqueles que pretendem entrar para o mundo maravilhoso das letras e do faz de conta. Neste trabalho, que tem todas as características de um manual, o leitor não vai encontrar fórmulas mágicas, nem textos rebuscados, mas terá diante de seus olhos as informações básicas para criar personagens, elaborar cenários, desenvolver tipos e criar tramas envolventes, não importa o gênero.
Para obter o máximo rendimento desta leitura, leia atentamente cada capítulo na sequência em que aparece e, à medida que o fizer, coloque em prática os tópicos que forem assimilados.
Boa leitura e bons textos!
Josias A. de Andrade
1. Inspiração: tudo o que o autor precisa
No meio literário, inspiração é algo que se ouve repetidas vezes. Será que isso existe mesmo? Se de fato existe, o que vem a ser essa luz que abre os caminhos do autor? Na verdade, nem sempre neófitos ou veteranos têm a sorte de contar com o chamado estalo de Vieira
¹ e produzir, sem dificuldade, textos maravilhosos, repletos de tramas inteligentes e intrigantes.
Não importa a definição que se dê à palavra, o que se percebe é que para redigir bons textos é necessária muita transpiração mesmo! Sem trabalho árduo e disciplinado de forma constante não se vai muito longe. O escritor moderno precisa pesquisar meticulosamente e com precisão sobre o que escreve e extrair a essência do assunto. Deve permanecer muitas horas diante de um computador para adquirir a prática necessária ao ato de escrever, já que parte considerável dos redatores de hoje utiliza essa ferramenta para facilitar o trabalho de forma limpa, eficaz e produtiva. Os escritores de novela, por exemplo, escrevem dezenas de páginas diariamente, e para isso o trabalho seria muito cansativo e pouco produtivo se fosse feito manualmente. Deletar uma frase é mais prático do que apagar ou riscar, quando se muda um texto.
É necessário buscar a perfeição por meio de uma insatisfação sem fim, ter um aguçado e implacável senso de ridículo e reescrever sempre. É preciso escrever, tornar a escrever, cortar, acrescentar, modificar, tornar a escrever tudo outra vez e assim por diante, quantas vezes achar oportuno ou necessário, num exaustivo processo que só termina quando a autocrítica — que deve sempre acompanhar quem se aventure nesse instável pântano da criação — der o veredicto de relativa excelência.
A propósito desse processo de trabalho que respeita a inteligência do leitor e preserva quem escreve dos riscos do fiasco, Autran Dourado observa: Não gosto da palavra inspiração, pelo que ela tem de mistifório, preferindo a ela a expressão ‘ideia súbita’. Esse meu desgosto chega a tal ponto, que quando estou escrevendo com muita fluência e facilidade, paro, certo de que alguma coisa de errado está acontecendo
.
Se houver dúvida sobre a qualidade ou a pertinência de um texto, é melhor consultar quem tenha senso crítico aguçado. E quanto mais exigente esta pessoa for, melhor será. Muitas recomendações são mais do que óbvias para quem tem a pretensão e a necessidade de escrever bem. Assim, erros de grafia, de concordância, de regência, de crase ou qualquer outro tipo de agressão às normas da gramática e do idioma são inconcebíveis e imperdoáveis. Hoje, em face das mudanças na ortografia, impostas pelo novo acordo ortográfico, é fundamental que o candidato a escritor tenha pleno conhecimento destas alterações e as aplique de maneira correta.
Em qualquer texto, a clareza é essencial. Muitos procuram mostrar erudição, escrevendo de forma pomposa, empolada, pedante, cheia de jargões técnicos e expressões que não são de uso comum. Cuidado, pois escrever dessa maneira só serve para espantar os leitores. Erudição é simplicidade, muito diferente de infantilidade. É preciso que o escritor conheça o assunto sobre o qual escreve e ainda assim esteja muito atento, desconfiando sempre. Uma sugestão é que todas as informações sejam pesquisadas e checadas. Para muitos leitores um erro pode passar sem ser notado, mas outros, ao descobrir uma falha, não perdoam. Isso que acabei de dizer não depende de inspiração, mas são condições para chegar a um bom texto. Uma boa cultura geral ajuda muito e o resultado o leitor agradece.
Um ponto é essencial para que se possa pelo menos pretender escrever bem: ler, muito, farta e incansavelmente. Um bom escritor é, antes de tudo, um excelente leitor. Segundo André Malraux²o artista não é aquele que cria, é aquele que sente
. Sensibilidade, portanto, é fundamental para que se estabeleça empatia, entendimento e cumplicidade entre quem escreve e quem lê.
Há, também, descrições que se fazem desnecessárias, por serem redundantes e nada acrescentarem ao texto. Muitas ideias, às vezes, se constituem no mínimo, em perda de tempo e de esforço por sua ineficácia, banalidade ou pelo conteúdo destrutivo que encerram. Portanto, atenção, cuidado, bom senso, conhecimento e muita transpiração são ingredientes ideais para se chegar a um bom texto.
2. Crie personagens
O trabalho de um escritor pode ser comparado às ações desenvolvidas pelos jogadores do The Sims, um videogame muito popular entre os adolescentes por meio do qual criam pessoas, casas, ruas, cidades, lagos, florestas, um mundo enfim, graças aos recursos da informática a um simples movimento no mouse ou a um toque em uma tecla. Como se brincassem de Deus, os jogadores enchem a tela com suas criações as mais originais, ou nem tanto, o que depende da imaginação de cada um. Por analogia, pode-se dizer que esse jogo é a versão tecnológica de um jogo praticado séculos atrás, isto é, a arte de escrever, praticada pelo escritor. A diferença é que o escritor usa caneta, papel, imaginação e as palavras para compor suas ideias; e o jogador do videogame citado usa a tela do computador, o mouse e sua imaginação para compor as histórias conforme os cenários que cria.
Os escritores sempre se divertiram e divertiram os leitores enchendo páginas e páginas em branco de conflitos, encontros e desencontros, loucas paixões, toda sorte de cenários e, mais que tudo isso, de criações espetaculares, o ingrediente principal de todas as ações: os personagens. E ao falar desta classe tão presente ao longo dos séculos é impossível não lembrar de William Shakespeare, Dante Alighieri, Victor Hugo, Miguel de Cervantes, Eça de Queirós, Machado de Assis, Érico Veríssimo, Gabriel García Márquez e tantos outros.
Contudo, ser o onipotente que dá vida a personagens e fazer o papel de senhor do destino de cada um numa história que será compartilhada por muitos leitores é bem mais excitante do que ser um simples criador de cenários e personagens num jogo eletrônico. O papel de Deus
, enfim, se faz real na cabeça do escritor ou de quem se aventure ao mundo do faz de conta.
O escritor, ao contrário dos jogadores do limitado The Sims, cria o mundo que deseja segundo seu próprio gosto, manipula seus personagens como marionetes e atende à vontade do espectador, como ocorre com as novelas globais. Ele não se limita aos poucos recursos do videogame, mesmo porque os personagens do jogo são limitados, definidos apenas por características físicas, enquanto que os seus são criados com múltiplas variações que envolvem uma gama imensa de características individuais que podem ir de gênios a psicopatas. Assim, se o propósito é brincar de Deus, a brincadeira será muito mais agradável se você representar o papel de um escritor, ainda que enfrente muitos desafios.
Quando bem construídos e capazes de inspirar o leitor a completar, na sua imaginação, o trabalho do seu criador, os personagens chegam bem perto da realidade, pelo menos durante a leitura.
O que é personagem
A palavra personagem origina-se do latim persona e chegou até nós pela língua francesa personnage. Aí surgiu um problema, pois no francês a palavra é masculina, dessa forma diríamos o personagem
, em português. Mas a forma a personagem
também vingou por aqui e é amplamente aceita coexistindo ambas as formas sem conflito. Mas este não é o detalhe mais relevante e sim o personagem em si.
Dan Brown³, ao iniciar os escritos de O Código Da Vinci, certamente tinha a intenção de escrever um romance de ação e mistério que envolvesse um suposto casamento de Jesus, uma trama combatida pela Igreja Católica, e cujas chaves cifradas estivessem ocultas nas obras do pintor Leonardo Da Vinci. Seria uma trama que num romance comercial e esquemático teria começo, meio e fim sem maiores problemas.
A quem Dan Brown teve de recorrer para fazer essa trama andar e obter um desfecho satisfatório? Sem dúvida, podemos dizer que foi graças a personagens que desempenhassem seus papéis nos acontecimentos da ação de seu livro. Portanto, partindo de uma ideia-mestra é possível brincar de Deus e começar a criar personagens e situações que levem o leitor a pensar, mas para isso é preciso ter maior domínio do assunto que o leitor, ou seja, o escritor tem o domínio